•Capítulo Quatro•
Eu adorava aquela época do ano, o verão. Há três anos atrás, eu ganhei em primeiro lugar um campeonato de surf na cidade, mas naquele mesmo verão, sofri um acidente que me traumatizou. Depois disso, nunca mais encostei em uma prancha.
"Tem certeza que não quer voltar a surfar, Owen? Você é tão bom nisso!" Wendy fala enquanto observamos alguns caras surfando.
"Eu... não acho que conseguiria."
"Qual é? Já se passaram três anos."
"Três anos do dia em que eu vi minha morte, Wendy! Não é tão simples, ok? Eu tenho pesadelo com isso todas as noites." Falo de forma grossa sem perceber.
"Me desculpa, ok? Mas é que poxa! É difícil aceitar que você tem um talento tão grande dentro de você e não pode usufruir dele."
Um talento e uma paixão.
Mas não. Eu não consigo mais.
"Quem sabe um dia, Wendy. Quem sabe um dia!"
Ela respira fundo e encara o oceano. Eram 9 horas da manhã e o sol já estava muito forte, nos deixando quase cegos.
"Você nunca me contou a visão que você teve quando pensou que iria morrer. Só disse que foi algo tenebroso."
Engulo seco, sentindo arrepios em meu corpo ao lembrar daquele maldito dia.
"Eu prefiro não falar, Wendy. Não gosto de verbalizar essas coisas, sabe?"
Tudo o que eu conseguia pensar naqueles meus últimos segundos de vida... era que eu não podia deixá-la. Não podia deixar Wendy sozinha. Seu rosto, seus olhos, seu sorriso... eram as únicas coisas que eu conseguia ver.
Mas ela não podia nem sonhar com isso.
"Okay, eu estou sendo chata!" Ela admite, me fazendo rir. "Eu vou entrar na água. Estou derretendo nesse calor! Você vem?"
A loira tira a blusa branca e o shorts jeans, ficando apenas com o seu maiô azul claro, exatamente da cor dos seus olhos.
"Vai indo na frente! Eu já vou!"
Sem falar nada, a loira saí correndo adentrando no mar, em seguida começa a nadar. Após um tempo a observando, tiro a camisa e entro também.
Eu estava pensando seriamente em não entrar, o vento estava bem gelado, mas não resisti em vê-la lá dentro.
"Essa água está congelando!" Reclamo me aproximando dela.
"Não tá não! Está maravilhosa!"
"Isso é porquê você tem um coração de gelo, Wendy Miller!" Ela se faz de surpresa e joga água na minha cara.
"Vá se ferrar, Owen!"
"Vai você!" Pego ela no colo, fazendo-a gritar. "Me dê um bom motivo para não te jogar na água."
"Um bom motivo?" Ela questiona nervosa, em meio a risadas enquanto tenta se soltar.
"O tempo está passando, Wendy! Tic tac tic tac!"
"Porquê eu sou o serzinho mais importante da sua vida!" Gargalho.
"Realmente você é, Wendy, mas não é um bom motivo, pois é exatamente por isso que vou te jogar!" Sem pensar duas vezes, a jogo com tudo na água, fazendo-a dar três cambalhotas e parar na areia por contas das ondas.
Admito, fiquei com medo de ter machucado ela, mas logo ela se levanta dando risada da própria desgraça.
"Eu vou matar você! Matar você, Owen!"
Assim que saímos do mar, vejo o Alex, treinador da equipe de surf, caminhando até nós.
"Scott!" Ele exclama. No time, todos me chamavam pelo meu sobrenome. "Como você cresceu! Está mais forte! Mudou muito nesses três anos." Sorrio sem graça e o encaro.
"Que bom, né?"
"Claro que sim. E vem cá, garotão! Por que não volta a surfar com a gente? O time está precisando de uma estrela como você!" O velho questiona sorrindo e Wendy me encara, me deixando completamente pressionado.
"Eu... parei com o surf, Alex!" Engulo seco em dar essa resposta. No fundo, eu queria voltar, só não sabia se iria conseguir.
"Mas nunca é tarde para voltar! Eu me ofereço para pagar todos os treinos, uniforme e tudo. Só volte a fazer parte da equipe, Scott! Pense na proposta com carinho!" O velho fica esperando uma resposta imediata, o que me deixa totalmente sem graça.
"Pode deixar que eu vou pensar!"
"Ótimo! Até mais garoto! Tchau, menina!" Wendy apenas sorri e o Alex saí, correndinho como sempre. Logo nós voltamos a caminhar até a saída da praia.
"Ele praticamente implorou a sua volta, Owen! Vai pagar tudo para você!"
"Não é questão de dinheiro, Wendy! Vê se entende!" Falo grosso, já irritado com toda a situação.
"O que eu entendo é que essa é a sua paixão." A loira grita parando na minha frente, colocando o seu indicador no meu peito. "Você era mais feliz quando surfava, Owen. Você sofreu um acidente, eu sei, mas está na hora de esquecer isso. Você ama o surf e eu sei que no fundo... Você quer voltar! Então deixa esse passado pra trás! Se arrisca!"
"Eu te odeio por me conhecer tanto, Wendy Miller!" Bufo e então ela se aproxima, ficando a centímetros de mim.
"Promete que vai pelo menos pensar? Por mim." Engulo seco. Se eu prometesse por ela, eu teria de cumprir. Wendy sempre levou essas promessas muito a sério.
"Tá bom, eu prometo!" Ela abre um sorriso e me abraça forte. "Só você mesmo, Miller!"
Assim que a deixei em casa, segui até a biblioteca da cidade. Tinha que devolver o livro que estava lendo, pois a leitura não me prendeu. Eu sou assim, adoro ler, mas se a leitura não me prende o suficiente, não passo do capítulo três.
Após devolver o livro para a linda estagiária que trabalhava no local, que no caso era a mesma garota que eu havia me envolvido na última festa que eu fui, saio andando, indo em direção ao fastfood, que não era muito longe dali.
Estava tão distraído encarando o chão, pensando se eu deveria ou não voltar a surfar, que me trombo com uma garota, derrubando todo seu material.
Sem olhá-la e cem por cento envergonhado, me abaixo para ajuda-la a juntar.
"Me desculpe! Eu não tinha te visto!" Admito, catando as milhares de caneta no chão.
"Tudo bem, Owen!" Me surpreendo ao ouvir meu nome e só então percebo que essa garota, era a Madison.
Essa situação, além de me deixar muito constrangido, faz meu coração acelerar.
"Obrigada por me ajudar a juntar!" A morena solta uma leve risada me encarando.
"Desculpa de novo." Sorrio de leve. "Segunda vez na mesma semana que nos encontramos assim, hein? Acho que é o destino!" Brinco, a fazendo rir. "O que está fazendo por aqui?"
"Eu estava indo ali no fastfood. Minha mãe não conseguiu fazer comida hoje!"
"Eu estava justamente indo pra lá." Isso soou muito como uma mentira. "Se quiser, eu posso..." A morena me interrompe animada.
"Vem! Vamos juntos!"
Engulo seco e começo a seguir com um sorriso no rosto.
"Em quem você estava pensando, Scott, para não ter visto alguém linda como eu bem na sua frente?" Ela ironiza, sabendo que era a verdade.
"Não era em alguém, era em algo." Respondo com um sorriso no rosto.
"E que algo é esse que prende tanto sua atenção?"
"O meu ex treinador de surf ofereceu pagar o meu treino para eu voltar pra equipe, mas depois do meu acidente... eu não sei se consigo."
"Eu me sinto assim também com a patinação. É a minha paixão, mas desde o dia em que quebrei minha perna no meio da apresentação, não consigo patinar. Tenho medo!"
"Mas você nunca cogitou a hipótese de voltar?"
"Já. Eu sonho com isso, Owen, mas infelizmente meu medo acaba sendo maior." Ela suspira. "Queria eu ter alguém que me incentivasse a voltar, ou até mesmo me ameaçasse. Talvez assim, eu conseguisse voltar." Ela solta uma risada e eu sorrio encarando o chão.
Eu tinha esse alguém. Wendy era esse alguém.
"Você era uma ótima patinadora!"
"E você era um ótimo surfista." Sorrimos simultaneamente e nos encaramos fixamente por longos segundos. Sinto que se pudéssemos, ficaríamos horas, mas o garoto do caixa nos interrompeu.
"Qual será o pedido de vocês?"
Depois de pedirmos dois sanduíches com batata e bebida e os pedidos chegarem, nos sentamos na mesa para comer.
"Nossa que delícia!" Ela exclama ao dar a primeira mordida. "Quem dera poder comer isso todos os dias!"
"Creio eu que em menos de um ano você já estaria morta!" Solto uma risada, retribuída por ela e depois disso, o silêncio se instala. "Você é totalmente diferente da sua irmã."
"Sou? Por que?"
"Nesse momento a Wendy estaria tagarelando! Ela fala o almoço inteiro, todas as vezes que saímos!" Sorrio.
"Sério? Estranho você falar isso, porquê lá em casa ela não abre a boca e se abre, é para reclamar! A verdade é que eu nunca vi ela falando muito."
"É que... vocês não conhecem a Wendy que eu conheço." Suspiro. "Ela não é essa garota emburrada e encrenqueira que vocês pensam... é bem mais que isso."
"Uau!" Ela exclama e toma um gole do seu referi. "Queria muito conhecer essa Wendy. Quem sabe essa... dá uma chance para eu me aproximar."
Engulo seco com o que a morena fala. Nunca imaginei que a Madison quisesse realmente se aproximar da Wendy. Nunca mesmo.
"Por que ela me odeia, Owen?"
"Ela... não te odeia! Só é uma garota difícil de lidar!"
"E você lida com ela direitinho..." Ela abaixa a cabeça. "Ela tem sorte de ter você na vida." Sorrio leve com a afirmação. "Posso fazer uma pergunta que... não quer calar a séculos na minha boca?" Franzo a testa.
"Claro que pode!" Sorrio curioso.
"Você e a Wendy já... se beijaram?" Um nó se forma na minha garganta, fazendo eu engasgar até com o refri.
"Não! Não! Nunca! Somos... apenas amigos." Respondo e forço um sorriso no final da frase.
"Uau! Vocês são fortes! Eu não aguentaria!"
"O que você não aguentaria?"
"Ter um melhor amigo assim..." Ela aponta para o meu corpo. "Gato que nem você e não poder beijar! Eu realmente não aguentaria."
Eu estava torcendo para não estar parecendo um pimentão naquele momento.
"Bom... a Wendy aguenta!" Ela sorri e se levanta na mesa.
"Vamos? Tenho que terminar um trabalho com as meninas."
"É melhor irmos mesmo. Quer que eu te dê uma carona?" Ofereço enquanto levo as bandejas para o balcão.
"Se não for incômodo pra você... pra mim seria ótimo!"
"Capaz, tenho que passar em casa de qualquer jeito! Vamos aí!"
Saímos no fastfood e seguimos conversando até o carro. No caminho, ela fez exatamente o que a Wendy faz, ligou a rádio e começou a dançar. Só que diferente da loira, a morena ligou em uma rádio de eletrônica, dançando em cada batida da música e cantando os beats, me fazendo gargalhar.
Assim que paro na frente da sua casa, ela desce do carro rapidamente e me olha pela janela.
"Obrigada pelo almoço e pela carona! Foi divertido!"
"Estou a disposição, Madison!" Ela sorri e logo se vira para entrar.
Estou a disposição, Madison? Não tinha nada melhor pra eu falar? Algo que não parecesse um mordomo ou um motorista particular?
Bufo e acelero o carro.
Só depois de ter chego em casa, noto que em nenhum momento ela falou do namorado dela, então me questiono se eles já haviam se resolvido.
Quanto mais eu a conheço, mas eu tenho a certeza de que aquele cara não merece ela! Ele é um babaca!
Mas não havia nada, absolutamente nada que eu pudesse fazer, a não ser esperar.
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