Eu vi a minha vida passar diante dos meus olhos pela segunda vez. A primeira foi no mar, no meio de uma competição de surf e a segunda foi na rua, onde as lágrimas embaçaram a minha visão e a neve fez meu carro escorregar, dando de frente com um muro de concreto.

Eu não apaguei na hora, mas já estava ficando inconsciente. Eu só orava para aquilo ser apenas mais um dos meus pesadelos onde eu estava morrendo sozinho e ninguém me acordava, mas a diferença era que era vida real e que eu realmente estava com medo de morrer.

Foi aí que tudo ficou preto.

Era como se eu estivesse caindo em um buraco sem fim. Eu conseguia ouvir as pessoas, ouvi cada movimentação naquele quarto, mas não conseguia responder, meus pulmões estavam ser ar devido a queda constante. O médico dizia que tudo dependia de mim, mas eu não sabia o que fazer. Eu queria acordar, mas não sabia como fazer isso. Eu estava desistindo de tudo, quando de repente, consegui sentir as mãos da Madison apertando as minhas. Suas palavras entraram em minha mente de forma tão intensa, que eu comecei a cair mais rápido e de repente, senti meu corpo na cama do hospital.

Estava inteiramente dolorido, como se eu realmente tivesse despencado de algum lugar. Quando abri meus olhos, vi vário médicos vindos para cima de mim e não entendi absolutamente nada. Não sabia onde eu estava e nem o que estava acontecendo. Só me lembro de um deles falar “Vou te fazer dormir de novo, mas vai ficar tudo bem” e eu sentir uma agulhada nos braços.

Tudo ficou preto de novo.

Abri meus olhos lentamente, me deparando com o teto branco. Assim que olho para frente, vejo uma de minhas pernas engessadas e franzo a testa. Foi nessa hora que eu a vi ali.

“Owen?” Wendy correu até mim e me abraçou com os olhos cheios de lágrimas. “Nunca mais faça isso, ok? Nunca mais se atreva a me dar um susto desse! Quase me matou do coração!”

“Eu... agora eu estou aqui.” Forço um sorriso entendendo a situação. A ultima coisa que está nítido na minha cabeça, foi a merda que eu fiz antes de entrar naquele carro. Foi eu pisando nos corações das duas garotas que eu mais amo como se fossem lixo. Eu não conseguia acreditar que Wendy estava ali na minha frente, chorando de felicidade por eu estar vivo. “Eu... não consigo me lembrar muito bem do que aconteceu.”

“Você saiu com o carro e... perdeu o controle dele e acabou batendo em um muro. Ficou em coma por quatro dias.”

“Quatro dias?” Ela afirma com a cabeça e eu volto a deitar. “Eu tinha chances de morrer?”

“Cinquenta por cento de chance. A metade de você que eu carrego comigo foi a que te salvou, então me agradeça.” Ela brinca me proporcionando riso e me fazendo encarar seus olhos. Enquanto os olhava, um peso enorme de culpa caiu sobre minhas costas, fazendo minha expressão mudar instantaneamente.

“Wendy, me desculpa por...” ela coloca o dedo indicador nos meus lábios, me impedindo de falar.

“Não. Não peça desculpas. Foi um erro meu, ok? Vamos esquecer que isso aconteceu!”

“Esquecer? Como assim esquecer, Wendy? Não dá para esquecer!”

“Então vamos fingir que nada aconteceu. Vai ser mais fácil assim!” Haviam lágrimas em seus olhos, ela tentava disfarçar, mas estavam nítidas.

“Por que mais fácil?”

“Porquê... a Madison te ama, Owen. Te ama de verdade. No início, eu julgava que ela nunca iria amar você de verdade, que você só era mais uma de suas aventuras românticas, mas não. Eu vi a intensidade do que ela sente nos últimos dias. Acredite em mim, você é muito sortudo por tê-la. Muitos garotos da sua idade dariam tudo para ter ela pra si, mas ela escolheu você. Deve dar valor pra isso!”

“Mas e você?” Engulo seco e ela força um sorriso.

“Eu vou ficar bem! Sean e eu voltamos a nos falar e... não sei! Eu gosto muito dele. Sem falar que eu sempre terei você e você sempre terá a mim, não é? Somos Wendy e Owen. Inseparáveis, infalíveis. Nossa amizade ninguém pode atrapalhar.” Abro um sorriso e mordo os meus lábios, a puxando para um abraço. “Eu te amo.”

“Eu também te amo sua chata! Só quero que você seja feliz!”

“Nós seremos felizes. Muito felizes!” Ela sorriu e eu não pude deixar de encarar seu lindo sorriso, mas logo desviei meu olhar para os seus olhos, que estavam fixamente encarando os meus. Até que ela quebrou o silêncio constrangedor que estava se instalando. “Bom... eu vou deixar a Madison entrar, ela está louca pra te ver.”

“Wendy.” Seguro sua mão quando começa a se afastar. “Obrigada por tudo e por favor! Nunca mais deixe de tomar seus remédios, ok?”

“Fica tranquilo! Esse erro eu não cometo mais. E você senhor Owen Scott, vê se valoriza a sua vida, pois ela pode acabar em um piscar de olhos e você sabe disso mais do que ninguém. Aproveite cada dia como se fosse o último!”

“Pode deixar, linda!” Sorrio e pisco para ela. A loira se despede dando um beijo em minha bochecha e em seguida saí do quarto.

Ela estava certa. Eu podia estar morto, mas a vida me deu uma segunda chance. Tenho que valorizar e aproveitar cada segundo.

“Meu amor!!” Madison corre até mim e beija meus lábios. “Eu não acredito que você acordou!”

“Não pensou que iria se livrar de mim tão fácil, né?”

“Eu não quero nunca me livrar de você! Percebi que sou incapaz de viver sem ter você comigo!”

“Eu também não quero passar mais nenhum segundo longe de você!” Sorrio e me inclino para beijar seus lábios.

Depois da Madison, meus pais entraram para me ver. Eu nunca os vi tão felizes antes. Passamos horas conversando e diferente das conversas que tivemos nos últimos meses, essa foi leve e descontraída. Por último, Ian apareceu lá e alegou que o urso enorme no sofá era presente dele, o que me fez vir.

Depois daquele dia, eu percebi o quão sortudo eu sou por ter essas pessoas incríveis do meu lado, o quão amado e querido eu sou. Eu com certeza precisava dar mais valor para isso.