•Capítulo Quarenta•
Achei estranho o fato da Wendy nem sequer me olhar naquele jantar, o que me fez perguntar se algo havia acontecido noite passada, algo que a magoou. Essa pergunta me atormenta o jantar inteiro, até o momento em que ela se levanta para ir ao banheiro e eu me obrigo a segui-la.
“Wendy, espera!” Suplico segurando seu braço. A loira se vira séria e encara o chão, sem olhar em meus olhos em momento algum. “O que foi? O que aconteceu? Por que não olha pra mim?”
Ela ri irônica e me encara. Era possível enxergar raiva em seus olhos. “O mínimo que eu esperava de você era uma mensagem, Owen! Uma simples mensagem, mas nem isso você fez!” A loira cruza os braços e um nó se forma em minha garganta por não entender sua fúria.
“Mensagem falando o que, Wendy?”
“Sobre o que? Tá se fazendo de idiota? Sobre ontem a noite!”
“O que aconteceu ontem a noite?” Questiono com medo da resposta e a loira bufa rindo, aparentemente pensando que eu estava zoando com sua cara. “É sério, o que aconteceu?” A expressão dela muda completamente ao perceber que estou falando sério, sua raiva se transforma em tristeza.
“Como assim? Você não lembra?” Seu tom de voz estava mais baixo, me deixando mais nervoso ainda.
“Noite passada é um branco pra mim, Miller.”
“Você tá brincando, né?” ela ri nervosa, mas eu nego com a cabeça, a fazendo suspirar de olhos fechados.
“O que aconteceu ontem a noite? Por que eu deveria ter te mandado mensagem?” A loira nega com a cabeça encarando o chão por vários segundos, me matando de curiosidade. “Hein?”
“Nada, não aconteceu nada!”
“Claro que não é nada! Você me ignorou o jantar inteiro! Alguma coisa te deixou com raiva!”
“Não é raiva, ok? Eu fiquei preocupada com você.” Ela se embola pra falar, me causando estranhamento. “Ontem você me contou umas coisas... não estava nada bem!” Sinto um frio na barriga ao ouvi-la falar.
“O... o que eu te contei?”
“Sobre a ansiedade... os pesadelos... a tristeza e o cansaço contínuo. Você teve pensamos suicidas ontem, Owen!” Arregalo os olhos, engasgando com minha própria saliva.
“Que?”
“Você quase pulou do segundo andar da sua casa.”
“Eu estava drogado, Wendy!”
“É a primeira vez que vejo alguém que tentou se matar por culpa do LSD.” Limpo a garganta suando frio. Era agoniante não lembrar de nada.
“Por que ninguém falou nada?”
“A Madison já tinha ido embora e eu pedi pro pessoal não tocar no assunto...Pensei que você lembrava de tudo.” Nego com a cabeça, segurando uma lágrima solitária que queria escorrer.
Eu não queria que todos soubessem o quão vulnerável eu estava, mas pelo jeito já sabiam.
“Eu não fazia ideia, Wendy, mas fica tranquila, eu não quero e não teria coragem de tirar minha própria vida.” Limpo a garganta assustado.
“Eu mataria você se tirasse.” Ela suspira abaixando a cabeça. “Aliás, meu presente tá na sua gaveta. Eu ia te dar ontem, mas... Você estava bêbado demais.” Abro um leve sorriso e olhando.
“Vê-lo vai ser a primeira coisa que vou fazer quando eu chegar em casa.”
“Eu... não tinha muito dinheiro, então tive que improvisar.”
“Tenho certeza que vou gostar! Você sempre foi ótima com improvisos.” Ela sorri, mas logo seu sorriso some e seus olhos marejam, sendo desviados logo em seguida.
“Eu... vou no banheiro.” Ela corre para o sanitário, sem ao menos me deixar responde-la.
Volto para a mesa, sentando ao lado da Madison, que questiona a minha demora.
“Minha mãe ligou.”
“E quando ela volta?”
“Esqueci de perguntar.” Forço um sorriso e termino de tomar meu copo de cerveja rapidamente. Eu não via a hora de ir embora dali.
Wendy voltou para a mesa com cara de choro, pegou sua bolsa e saiu dali. Eu ia segui-la, mas o Sean foi mais rápido. Saiu dizendo que cuidaria dela.
Após deixar Madison em casa e pedir para ela mandar notícias da Wendy, dirijo até em casa.
As Miller's já tinham dado uma boa arrumada na casa, mas ainda estava bagunçada. Haviam muitos copos na pia e várias sacolas cheias de lixo na sala, mas só de pensar em lavar para fora, a preguiça batia com força.
Assim que subo para meu quarto, lembro instantaneamente do presente da Wendy e abro a gavetas, me deparando com um envelope vermelho. Quando abro, vejo outra das histórias em quadrinhos que ela sempre desenha para mim no meu aniversário. Meu coração se aquece naquele momento e eu leio com um sorriso no rosto. Ela desenhou o momento em que eu dei o bud para ela como pedido de perdão, o desenhando com uma auréola e asas no corpinho, mostrando que é o anjo que nos uniu novamente.
Na última página, tinha uma nota de cinquenta dólares, com um post-it escrito: Faça bom proveito! Te odeio, idiota!
“Eu também te amo, Wendy Miller!” Sussurro colocando a história em quadrinhos no meu quadro de íman, ao lado de todos os seus outros desenhos e me deito na cama.
Eu estava assustado com o que a Wendy me disse de ontem. Eu jamais pensaria em tirar minha vida se estivesse sóbrio e é isso que me deixou extremamente preocupado. Sem falar que várias pessoas me viram assim e isso é péssimo! Deixar as pessoas saberem de suas fraquezas, é dar a arma para elas matarem você.
Naquela noite eu sonhei que eu estava me afogando. Estava afundado em um rio e tinha um peso amarrado em um dos meus pés, me puxando cada vez mais pra baixo. Eu pedia socorro, eu gritava, mas ninguém me ouvia. Não tinha ninguém ali. Eu estava completamente sozinho.
No momento em que eu começo a engolir água e não conseguir mais respirar, eu dou um pulo da cama, sentindo meu coração a mil, sem conseguir controlar minha respiração acelerada.
Os meus pesadelos estavam cada dia mais realistas e atormentadores. Eu estava com medo de dormir. Passei o restante daquela noite acordado, repassando o sonho na minha cabeça. Eu estava com medo de eles serem um sinal. Um sinal de que algo de muito ruim vai acontecer e ninguém vai estar ali pra me salvar.
Mas por que eu estaria sozinho? Por que ninguém me salvaria? Será que seria tão agonizante assim? Será que eu iria sobreviver?
Essas eram as perguntas que não saíram da minha cabeça. As perguntas que eu não tinha respostas e nem queria ter, pois os pesadelos terminam quando eu abro os olhos, mas agora a vida... Eu não quero saber como termina.
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