•Capítulo Oito•
Todos os anos, nesse mesmo dia, eu me sinto absolutamente devastada, acabada, sozinha e... desimportante.
Hoje é o aniversário da Madison.
O fato de ela sempre fazer as melhores festas, é o que menos me incomoda. O difícil é saber lidar com a tamanha importância que nossos pais dão para esse dia. Todos os anos é a mesma coisa. Um café na cama, com uma velinha no cupcake para cantar parabéns, um almoço no restaurante da preferência da Madison, vários presentes caros que ela pede durante o ano, várias declarações de amor e orgulho e por fim... uma festa, onde eles não negam nem um centavo para a filha.
Já no meu aniversário... cantar um parabéns na hora do almoço e receber uma blusa de presente, foi o máximo que já recebi dos dois.
E isso dói demais.
Owen segurava a minha mão enquanto andávamos pela rua. Ele era o único que entendia como aquele dia era uma data complicada para mim, por isso, o moreno tentava me deixar melhor de qualquer forma.
Após ele me pagar um lanche no Burguer King, andamos até a Waffle World, conversando diversos assuntos aleatórios.
"É sério, Owen! Se você não entender matemática, você não vai conseguir a bolsa na faculdade!" O alerto pela última vez, após ele falar que desistiu de fazer os cálculos que eu o desafiei.
"Eu preciso que você me ensine mais uma vez, Wendy! Daí eu sei que eu aprendo!" Eu não tinha argumentos contra aqueles olhos azuis encarando os meus e aqueles lábios contraídos formando um biquinho.
"Vou te ensinar amanhã PELA ÚLTIMA VEZ!" Friso as últimas três palavras aumentando o tom de voz, fazendo um sorriso se formar em seu rosto.
"Combinado! To sentindo que amanhã isso entra na minha cabeça!" Sorrimos simultaneamente, mas quando seu olhar volta para frente e se depara com um grupo de garotas sentadas em um banco, seu sorriso some e de forma nada discreta, ele desvencilha sua mão da minha e a coloca no bolso. Eu, sem esperar essa atitude, fico completamente sem graça, mas decido ficar quieta.
Quando chega a noite, depois de quase uma hora me arrumando, finalmente encaro o Owen, que estava cansado de me esperar.
"Como estou?"
Naquele instante ele me encara e logo um sorriso se forma em seus lábios. "Você está linda, Wendy! É... estranho te ver de vestido, mas adorei!"
Eu realmente não gostava de vestidos, para escolher esse preto básico foi difícil, mas pelo menos deu certo.
"Vamos descer? Faz uma hora que a festa começou!" O garoto pede ansioso, o que me faz revirar os olhos.
"Temos que ir mesmo?" Questiono chorona, obviamente sabendo da resposta.
"Temos. Vamos, Wendy!" Ele dá um pulo da cama, segura minha mão e começa a me puxar para fora do quarto.
Na medida em que descemos as escadas, o barulho da música e das pessoas vão ficando mais alto. O cheiro de bebida impregnado no ar, já estava insuportável e surpreendentemente, em apenas uma hora de festa, já haviam pessoas bêbadas.
"A decoração está incrível!" Ele comenta e eu suspiro.
"Realmente. Nem quero imaginar o quanto que isso custou!"
"Com certeza o meu rim não compra."
A casa estava repleta de flores artificiais, extremamente chamativas, sem contar nos diversos globos de luz, no DJ gato que estava tocando e nos três barman contratados para servir os bêbados.
"Ah! Vocês dois chegaram!" Madison abre um enorme sorriso, se destacando com os lábios vermelhos.
"Chegamos não, né? Eu moro aqui." Respondo tentando ao máximo não ser grossa, mas era mais forte do que eu.
"Você entendeu o que eu quis dizer, irmãzinha." Ela desvia o olhar de mim e passa a encarar o Owen, que parece sem graça com a situação. "Que bom que você veio!"
"Você está... linda!" Ele afirma com um sorriso nos lábios e então eu o encaro, estranhando aquela intimidade. Assim que ele percebe, tenta disfarçar. "A festa está linda! É... parabéns! Feliz aniversário, Mad!" O jeito bobo de ele falar me faz revirar os olhos.
"Obrigada, Scott! Bom... se divirtam! Qualquer coisa eu estou por aí!" A morena dá uma piscadinha e saí dançando.
"Linda?" Olho em seus olhos, cruzando os braços, fingindo estar extremamente brava.
"Eu... é... só...." As palavras se embaralham em sua boca, deixando nítido o nervosismo. Solto uma leve risada e soco seu braço.
"To brincando, idiota! Vem, vamos dançar!" Ele suspira, sorrindo também.
Assim que começamos a dançar, a expressão do Owen muda radicalmente, ficando séria. "O que aquele idiota está fazendo aqui?"
Ao olhar aonde seus olhos olhavam, me deparo com o loiro babaca, o qual desejei nunca mais ver. "Eu também queria saber!" Bufo. O loiro estava cercado de garotas, com um olhar sacana em cima de todas. Quando nossos olhares se cruzam, ele morde os lábios e caminha até mim, com uma garrafa de Whiskey na mão.
"Olha! Vocês por aqui!" Ele ri alto.
"Eu moro aqui, otário!"
"Não mora não! A Madison mora aqui!" Rio cínica cruzando os braços.
"E ela é minha irmã, Parker!"
"E a pergunta não é essa!" Owen interrompe. "O que você está fazendo aqui?"
"Bom... eu sou convidado da melhor amiga da sua irmã! Da Anny!"
Não era a Anny, era a Aly! Eu me lembro perfeitamente daquela conversa idiota.
"Aly!" O corrijo.
"Anny!"
"Aly!" Grito e ele concorda, alegando que eu tenho razão. "Vem, Owen! Não vamos perder o nosso tempo." Saímos dali de mãos dadas, indo até a cozinha. "Quer beber alguma coisa?"
"Uma cerveja." Ele suspira. "Tenho vontade de socar a cara desse idiota! O jeito que ele fala... me da nojo!"
"Nem se desgaste com gente assim! Não vale a pena!"
"Tem razão!" Entrego a cerveja pra ele, recebendo um sorriso em troca. "Vem, vamos nos divertir."
Uma hora mais tarde, eu estava cansada de tanto dançar. Owen e eu estávamos sentados no balcão da sala, apenas observando o movimento e então eu começo a perceber que uma loira oxigenada, não parava de encará-lo.
"Essa garota está te comendo pelo olhar." Afirmo ao perceber que ele também está a encarando.
"Eu percebi..." Ele suspira, sem tirar os olhos dela.
Engulo seco, sabendo que iria me arrepender do que estava prestes a falar. "Vai lá!"
"Que? Não. Não vou te deixar sozinha." Reviro os olhos com um leve sorriso no rosto.
"Qual é, Owen? É só um beijo! Eu vou sobreviver!" Forço um sorriso, me encostando na parede. Era nítido que ele queria.
"Tem certeza? Você não vai ficar... sei lá! Mal?"
"É claro que não! Vai logo!" O empurro e o garoto saí com um sorriso no rosto.
Após alguns minutos conversando, eles começaram a se beijar.
Eu não imaginei que iria doer tanto ver ele nos braços de outro alguém.
Me recuso a ficar ali, sentindo aquela dor aguda no peito, por isso saio da casa pelos fundos, me sentando na pequena escada que tinha.
"Eu sou muito idiota!" Sussurro para mim mesma e solto um suspiro.
"Olha que surpresa! A senhorita ninguém está triste!" A voz irritante do Sean invade meus pensamentos. "Pensei que eu fosse o mais ferrado da noite!"
Quando o olho, vejo o quão bêbado e fora de si ele está. Mal aguentava ficar em pé, o que me faz levantar no mesmo momento.
"Realmente, você está péssimo!" Tiro a garrafa da sua mão.
"Ei! Me devolve isso!" Ele ordena.
"Pra que? Pra você vomitar ou entrar em coma alcoólico?" Ele arregala os olhos e em seguida solta uma risada.
"Eu não estou tão mal assim, ok ninguém? Só bebi um pouquinho!"
Reviro os olhos. "É, você não está 'tão mal', você está péssimo!" O garoto cambaleia, me obrigando a segurá-lo. "Não aguenta nem parar em pé!"
"Eu só me desiquilibrei!" Ele afirma irritado, se sentando na escada. "Tive uma noite terrível! Três ficantes na mesma festa! Tem noção do que é isso?" Solto uma risada.
"Que problemão, hein? Nem quero imaginar como seria estar no seu lugar!" Respondo cínica, fazendo-o revirar os olhos e logo em seguida me encarar. Me encarar por longos segundos. "O que foi?"
"Pode me dizer o seu nome?"
Não esperava essa pergunta.
"Eu... não te interessa!" Concluo indo em direção a porta. "E se eu fosse você, eu parava de beber e pedia um Uber para ir pra casa, mas como não sou, faça o que quiser." Soou indiferente e entro em casa novamente, largando a garrafa de Whiskey perto da porta.
Ao dar três passos, Owen vem na minha direção.
"Isso foi incrível!" Ele se refere a garota, me fazendo suspirar.
"Não quero detalhes." Respondo seca, forçando um sorriso logo em seguida.
"Tudo bem, tudo bem! Sem detalhes!" O moreno sorri. "Aonde você estava?"
"Ali fora! Acredita que o..." Antes que eu pudesse terminar de falar, Owen interrompe extremamente nervoso.
"O que esse filho da puta está fazendo aqui?"
"Como assim? É o namorado da Madison!" Afirmo, estranhando sua reação.
"Qual é, Wendy? Você realmente não sabe nada sobre ela, né? Eles terminaram! Ele traiu ela!"
"Eu... não fazia ideia." Respondo completamente sem graça, respirando fundo.
"Ele não devia estar aqui." A raiva tomou conta do seu corpo e então começou a caminhar em direção ao Jason.
"Owen! Espera! O que você vai fazer?" Ele ignora minhas palavras e em piscar de olhos, eles já estão frente a frente.
"Caí fora daqui!" Owen peita o moreno, que solta uma risada.
"Quem você pensa que é pra falar assim comigo, hein Scott?"
"Eu mandei você cair fora daqui! Você não é bem vindo!" Ele grita, tentando se conter.
"E se eu não sair? O que você vai fazer?"
Meu coração estava a mil, pois eu senti que naquele instante, ele explodiria.
E foi exatamente o que aconteceu.
Owen lhe deu um soco na cara e não demorou para receber outro. O pessoal em volta, estava assistindo a briga como se fosse um stand-up, inclusive fazendo suas apostas. Meu coração e minha respiração aceleraram fortemente, igual a última crise que eu tive. Eu implorava para o Owen parar, mas ele não me dava ouvidos. No seu rosto já havia sangue, mas eles não paravam. Minhas mãos estavam trêmulas e eu estava ficando completamente sem ar.
"Owen! Jason! Por favor, parem! Parem!" Madison chega nesse momento, fazendo os dois pararem no mesmo instante. "Jason, saia da minha casa."
"Madison, nós precisamos conversar! Eu..." Ela o interrompe.
"Saía daqui!" Antes que ele pudesse falar algo, me posiciono na frente dela, ainda sem conseguir respirar direito.
"Saí daqui, ou eu chamo a polícia." O moreno me encara com cara de nojo e se retira. Quando olho para trás, Madison abraça Owen com força chorando. Aquilo por algum motivo qual eu não sei dizer ao certo, me fez piorar.
Subo as escadas rapidamente, me trancando no quarto. Quando olho minhas mãos, vejo que estão coberta por sangue e marca das minhas unhas ficavam ali. Quando me olho no espelho, mordo fortemente meus lábios, fazendo-os sangrarem e assim... minha respiração aos poucos se acalma.
Fazia meses que eu não tinha uma crise dessas. Fazia meses que eu não me sentia assim. Eu não lembrava o quão ruim e incontrolável era.
"Wendy? Você está bem?" Owen pergunta assustado ao entrar no quarto. "Sua boca! Suas mãos!" Ele se aproxima, mas eu me afasto instantaneamente.
"Tá tudo bem! Já passou!"
"Você parou de tomar o seu remédio?" Seus olhos estavam marejados, o que de certa forma me surpreendeu.
"Eu não parei. Ele acabou ontem e... eu não tive tempo de comprar." Me sento na cama, encarando o chão.
"Passamos em frente a farmácia hoje, Wendy! Era só ter me avisado!" O garoto se senta do meu lado.
"É que... eu pensei que não precisava mais dele. Que eu estava bem, que isso já havia passado, mas pelo jeito não. Pelo jeito eu sou uma dependente dessa merda!" Suspiro chateada.
"Bipolaridade não é brincadeira, Wendy!"
"Estava tudo indo bem, Owen! Eu jamais imaginei que justo no dia em que eu parasse, isso iria acontecer!" Bufo, deixando a raiva tomar conta de mim. "A culpa é sua!" Aumento o tom me levantando.
"Minha? Como assim minha? Eu fui fazer a coisa certa, Wendy!" Responde no mesmo tom que eu, ficando em pé na minha frente.
"Coisa certa, Owen? Isso não cabia a você! A Madison sabe muito bem se defender sozinha!"
"Ficou com ciúmes que eu a defendi?" Ele ironiza.
Aquela pergunta me irritou completamente. "Não, Owen! Eu fiquei assim pois vi você apanhando, seu rosto sangrando! Eu gritava para você parar, mas você não dava a mínima! Queria que eu ficasse como? Na torcida por você? Eu estava com medo, ok? Nunca tinha visto você brigar antes. Era a última coisa que eu esperava." Começo a fala afobada, mas termino em um longo suspiro.
"Me desculpe, Wendy. Eu..." O interrompo.
"Não tem o que se desculpar. É melhor você ir."
"Não quer que eu fique aqui com você?"
"Quero ficar sozinha." A frieza estava presente em minha voz.
"Tudo bem. Me liga qualquer coisa, ok?" Ele deposita um beijo na minha testa. "Eu te amo."
Permaneço em silêncio até ele sair do quarto.
Eu era incapaz de responder aquela frase, ainda mais naquele momento.
Mas eu também o amava. Mais do que ele pudesse imaginar.
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