•Capítulo Cinquenta•
Enfim chegamos no misterioso local. Não era algo lindo e muito menos grandioso, era apenas uma casa de madeira em cima de uma árvore no meio de um bosque abandonado na cidade. Nós costumávamos vir aqui todas as tardes quando éramos crianças, até que um dia, nós simplesmente paramos de vir.
“Caramba! Eu tinha esquecido da existência desse lugar!” Ele diz com um leve sorriso no rosto e me encara logo em seguida. “Passamos as melhores tardes das nossas vidas aqui. Não acredito que ainda existe.”
“A prefeitura nem liga pra existência desse bosque. Ninguém frequenta aqui. Só por isso que a casinha ainda existe. Vamos subir?”
“Acha que ainda cabemos lá dentro?”
“Não da forma que cabíamos antes, mas com certeza cabemos!” Solto uma risada, largo a bicicleta no chão e começo a subir a escada de corda. Quando chego lá em cima, reparo que está exatamente da forma que deixamos, o que faz um enorme sorriso se formar em meu rosto. “Ninguém veio aqui mesmo.”
“Você ainda consegue ficar em pé? Caramba! É muito baixinha mesmo!” O moreno diz se arrastando e se sentando encostado na parede. “Uau. Realmente, tem até o meu estojo aqui. Na época pensei que tinha perdido na escola!” Ele ri e eu me sento do seu lado, tirando uma garrafa de vinho da bolsa. “E ela veio preparada!” Ele brinca me fazendo rir.
“Mas é claro que eu vim!” Abro a garrafa e dou um golão direto do gargalo e passo para ele.
“Por que me trouxe aqui?” Ele questiona antes de beber também.
“Porquê... as coisas mudaram muito entre nós, mas amanhã vão mudar mais ainda. Porra, você vai estar noivo, Owen!” Digo com lágrima nos olhos e com um sorriso nos lábios. “Vai estar noivo, logo vai casar, ter filhos, comprar uma casa... caramba! A vida tá passando rápido demais.”
“Nem me fale! Rápido até demais!”
“A gente pensava que as coisas se tornariam mais fáceis depois que crescêssemos, mas a verdade é que nós não sabíamos a sorte que tinha. Tivemos uma infância perfeita!” Digo nostálgica, o fazendo sorri.
“Sim. Acho que não podíamos ter tido uma melhor, aliás, eu tinha a garota mais louca e problemática do bairro como melhor amiga. Era impossível ter uma vida monótona do lado dela!” Rio alto e deito minha cabeça em seu ombro, acariciando sua mão com o meu polegar.
“Eu quis te trazer aqui para podermos ter um último momento assim; Wendy e Owen, antes de tudo mudar.”
“Como assim tudo mudar, Wendy? Nós nunca deixaremos de ser melhores amigos. Eu não vou me mudar amanhã, ir para longe. Nada vai mudar entre a gente.” Engulo seco e abaixo a cabeça, notando os nossos dedos entrelaçados.
“Eu sei, mas é que... a vida muda depois de um noivado. Vocês começarão a pensar em casamento, em comprar uma casa, novas responsabilidades vêm a tona. É uma nova fase da sua vida, entende? Uma fase que eu não vou conseguir acompanhar, porquê não estarei passando por isso. Não estou pronta pra passar por isso, nem se eu quisesse, entende?”
“Sim.” Ele respira fundo. “Estaremos em outra sintonia, mas eu nunca vou deixar você, Wendy, eu...” O interrompo com lágrima nos olhos, não podia deixa-lo continuar.
“Você está feliz, Owen?” O moreno pensa um pouco, sem tirar seus olhos azuis dos meus, até que concorda com a cabeça.
“Sim. Eu estou... e você? Está feliz?”
Não, mas vou ficar. Vou dar um jeito de ficar.
“Sim. Estou muito feliz.” Sorrio e ele me abraça de lado, fazendo eu deitar a cabeça em seu ombro. Um silêncio se instala entre a gente, mas é um silencio bom. Se eu pudesse, eu pararia o relógio naquele minuto e viveria nele por dias. Eu e Owen abraçados na nossa casa da árvore, observando o céu estrelado pela pequena janela.
“Sabe no que ás vezes eu me pego pensando?” Ele questiona, quebrando o silêncio. “No que teria acontecido se nós dois tivéssemos nos declarado antes...”
“Por que... por que pensou nisso?”
“Depois que eu acordei do coma, eu me lembrei do que aconteceu no meu aniversário. Eu fiquei muito bravo e arrependido, mas não por ter falado aquelas coisas, mas por não ter falado antes. Porquê porra... a gente se amava Wendy. A gente se ama. Mas agora o nosso destino não bate mais. Pessoas novas cruzaram o nosso caminho e mudou tudo.”
“Tem razão. Nós fizemos tudo errado, Owen Scott, mas eu juro pra você que eu erraria tudo de novo, porquê mesmo errando, eu tinha você do meu lado e esse simples fato me fez feliz de verdade.” Uma lágrima solitária escorre pelo seu rosto e impeço as minhas de caírem. “É uma pena que não possamos reescrever as estrelas.” Ele sorri, entendo a referência da música que cantamos juntos no karaokê.
“Uma pena. Se eu pudesse reescrever as estrelas, escreveria que você foi feita para ser minha. Nada poderia nos separar, pois você seria a única que eu deveria encontrar.” O moreno cita a música, fazendo as lágrimas escorrerem de vez dos meus olhos.
Como eu queria poder reescrever as estrelas!
“Em qualquer versão da nossa história, Owen, o meu amor por você seria o mesmo. Eu te amo mais que tudo e a sua felicidade é a minha felicidade. Talvez... as coisas não aconteceram da forma que no fundo a gente queria, que a gente esperava, mas a forma que aconteceu, foi a forma que tinha que acontecer. Nosso destino era pra ser isso. Você com a Madison e eu com o Sean, mas nós dois nunca vamos nos separar. Nem se estivermos a centímetros ou a quilômetros de distância. Sabe por que? Por que nossas almas estão conectadas e não importa o que aconteça... seremos pra sempre Wendy e Owen.”
“Pra sempre!” Ele ergue o mindinho e eu entrelaço com o meu, com um enorme sorriso no rosto.
“Agora chega de sentimentalismo! Vamos beber!” Rio e pego a garrafa do chão virando um golão.
Nós passamos um bom tempo ali conversando, relembrando momentos bons que passamos, conversando sobre o futuro... a conversa estava tão boa que nem percebemos o tempo passar. Quando vimos, já eram quatro da manhã.
“Quatro horas já! A Madison deve estar surtando!” Ele ri e pisca várias vezes por conta do vinho, que havia nos deixado com sono. Nós estávamos deitados no chão naquele ponto da conversa.
“Ah, ela vai entender. Nós precisávamos de um último momento assim.” sorrio e me viro para ele, apoiando minha cabeça nas mãos.
“Fazia tempo que não nos divertíamos tanto assim. A noite foi incrível, Wendy. Muito obrigado por ter chamado.”
“Que isso... eu precisava disso mais do que você!” Rio de leve e então nos encaramos fixamente por longos segundos, fazendo meu coração parar e vir várias coisas e vontades erradas em minha cabeça.
Sim, eu queria beijá-lo, mas não. Eu não iria fazer isso. Eu não podia.
“Eu... acho melhor a gente ir.” Digo quebrando o clima e me levanto meio tonta.
“Tem razão. Quero só ver a gente descer essa escada depois da garrafa de vinho!”
“Eu quero só ver você conseguir voltar pedalando depois desse vinho!” Solto uma risada.
Foi difícil, mas nós conseguimos. Fomos pedalando bem lentamente e cantando algumas músicas no trajeto. Quando chegamos em frente a minha casa, paramos a bicicleta e nos levantamos ficando frente a frente.
“Obrigada, Owen. Obrigada pela noite e... por tudo o que você já fez por mim. Sei que já tivemos muitas brigas e muitos problemas, mas tudo isso é porque nós nos amamos demais e agora, depois que a raiva e a mágoa passaram... eu vejo que foi lindo. O sentimento é lindo!”
“É com certeza a coisa mais verdadeira e intensa que eu já senti.”
“Você é o melhor amigo do mundo e eu vou sempre te amar, ok? Nunca se esqueça disso. Independente do que aconteça, eu sempre amarei você.” Ele franze a testa, confuso por me ouvir falando aquelas coisas.
“Por que está dizendo isso, Wendy?”
“Eu... não sei! Deve ser por causa do vinho, sempre fico emotiva!” Forço uma risada e ele ri também.
“Eu também te odeio, pequena.” Ele imita a forma que eu falava antigamente, conseguindo arrancar uma risada real de mim. “Nos vemos amanhã?” Faço um sim com a cabeça e lhe abraço fortemente antes de me afastar.
“Se cuide!”
“Você também!”
No segundo em que eu entro no meu quarto e fecho a porta, as lagrimas começam a escorrer. Eu não estava necessariamente triste, eu estava com medo. Com medo da mudança.
E amanhã tudo iria mudar.
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