•Capítulo Cinco•
10 anos atrás.
Naquela época, Bud era meu melhor amigo. Bud, assim como eu, foi excluído da sua família, só que por ser cachorro, passou a viver na rua.
Em uma tarde chuvosa, eu corria com minhas botas e meu guarda-chuva amarelo, quando no meio da rua, eu o vi dentro de uma caixa de papelão todo molhado. O cão ainda era muito filhote, e estava chorando horrores, pedindo por socorro. Eu, uma criança inocente e preocupada, larguei tudo o que tinha nas mãos no chão e o peguei no colo, levando-o correndo para dentro de casa. Obviamente minha mãe não deixaria eu ficar com ele, então manti o Bud escondido por duas semanas, até que ela descobriu. Eu senti minha vida acabar naquele momento.
No dia seguinte, ela já tinha o colocado na rua de novo, mas ele não saía da porta da minha casa. Depois de muito insistir e chorar, ela finalmente deixou eu ficar com ele desde que eu limpasse tudo, saísse pra passear, desse banho e tudo mais! O que com certeza não foi um problema! Eu me divertia muito!
O que mais que uma garota de 7 anos poderia querer do que um amigo assim?
Em poucos meses, ele já estava enorme, ficando quase maior do que eu. (Não que isso fosse difícil.) Todas as tardes eu passeava com ele pela vizinhança e foi em uma dessas tardes aí, que minha vida mudou completamente.
"Que cachorro lindo! Qual é o nome?" Um garoto baixinho e com os olhos azuis me questionou.
"Bud. O nome dele é Bud!" Respondo tímida, forçando um sorriso.
"E a dona linda dele?" Naquele instante, virei um pimentão, senti o sangue ferver as minhas bochechas.
"Wendy."
"Prazer, Wendy! Me chamo Owen! Owen Scott! Gostei muito do seu amigo!" Ele disse acariciando o Bud, que se esfregava nele. "Você mora muito longe?"
"Não. Duas quadras ali pra baixo!"
"Que legal! Nós podíamos marcar de brincar qualquer dia!" O garoto foi tão espontâneo e simpático, diferente de todos os outros da minha antiga escola, que me deixou completamente surpresa.
"Pode ser!"
"Ótimo! Amanhã eu bato lá na sua casa. Qual delas que é?"
"A única branca da rua. Não é difícil de encontrar!"
Quando termino a frase, a mãe dele grita de dentro de casa.
"Owen! Já pra dentro!"
"Tchau Bud! Até mais Wendy!" O menino correu rapidamente para dentro de casa.
No dia seguinte, eu passei a tarde toda o esperando ansiosamente, mas nada dele chegar. Quando estava quase anoitecendo, ele bateu na porta.
"Oi Wendy! Minha mãe convidou você e o Bud para jantarem lá em casa! Você pode?"
E foi no meu "sim!" que nossa amizade começou. E foi aí que o amor mais bonito e sincero, nasceu dentro de mim.
E aqui estou eu, depois de 10 anos apaixonada por ele.
À pouco tempo atrás, eu tentava esconder isso de mim mesma, estava com medo de aceitar esse amor, mas agora percebi que nada, absolutamente nada iria mudar o que eu sinto pelo Owen, então eu tinha que aceitar a situação.
Depois disso, comecei a pensar se eu deveria ou não contar pra ele e qual seria a melhor forma, mas eu não obtinha essas respostas.
Em alguns momentos, eu sinto que esse amor é recíproco. O jeito que ele me olha, que ele me trata e até mesmo o jeito que ele me toca, me faz pensar assim, mas não tenho certeza de nada. Owen é um verdadeiro mistério, não consigo desvendar o que exatamente tem em seu coração.
Naquele instante, ele saí da sacada, onde falava com sua mãe no telefone, me desligando dos meus pensamentos.
"Briguei feio com minha mãe agora!" Ele bufa e se joga na minha cama. "Ela tá completamente bêbada, Wendy! Disse que não posso voltar pra casa hoje." Ele suspira e encara os meus olhos. "Tudo bem se eu ficar aqui?"
"Claro que está tudo bem! A casa também é sua!" Me sento do seu lado e faço carinho em suas costas. "Não ligue pra isso, com todas as brigas com seu pai ela deve estar muito estressada, é normal que desconte no álcool."
"O problema não é descontar no álcool, Wendy. O problema é descontar em mim." O garoto respira fundo e se senta na cama. "Mas tá tudo bem, não quero pensar nisso! Por que você não se arruma pra dormir e daí assistimos um filme?"
"Com pipoca e cookies de baunilha com gotas de chocolate branco?" Questiono com um sorriso no rosto, o que o faz sorrir também.
"Com pipoca e cookies de baunilha com gotas de chocolate branco!" Ele afirma e eu me levanto na hora.
"Agora sim você falou minha língua! Eu vou tomar meu banho. Você vai preparando a pipoca em quanto isso?"
"Sim, vai lá donzela!" Ele brinca e eu corro para o banheiro.
Depois de um longo banho, volto para o quarto apenas com uma blusa dele, que eu havia pego de sua casa escondida e um pequeno shorts de moletom.
"Ei! Essa blusa é minha!" Ele grita já em cima da cama com um balde de pipoca e o notebook na mão.
"Correção: Era sua!" Sorrio e me sento do seu lado. "E então? O que vamos assistir?"
"Vamos fazer que nem fazíamos antigamente, você fecha os olhos, eu vou descendo e quando você falar para, encosta em algum lugar da tela, aí o filme que for, nós assistimos."
"Eu lembro que com isso fomos obrigados a assistir a merda de um desenho animado!" Bufo e pego uma mãozada de pipoca. "Mas tá, pode ser!"
Fecho meus olhos e depois de uns 10 segundos, peço para ele parar de rodar, encostando o dedo no canto da tela.
"Simplesmente acontece o nome do filme!" Owen já clica para o filme começar, mas assim que eu leio a sinopse, sinto que talvez não seja uma boa ideia!
"Romance, Owen?"
"Foi você quem escolheu, Wendy! E talvez seja bom pra derreter esse seu coraçãozinho de gelo! Aproveita!" Reviro os olhos e então começamos assistir.
Duas pessoas em uma cama de solteiro não é a coisa mais confortável do mundo, mas admito que estar ali, coladinha nele, era ótimo!
O filme foi melhor do que eu esperava. Contava a história de melhores amigos que se apaixonaram, mas nunca contaram um para o outro. Com o tempo, o destino foi os separando. Separando cada vez mais e só final do filme, depois de mais de 20 anos, que eles finalmente admitiram esse amor e ficaram juntos.
"Eles são muito burros! Podiam ter ficado juntos desde o começo!" Owen exclama, enquanto eu ainda estou pasma olhando a tela.
Aquele filme me deixou com mais medo do que eu já estava. Eu não queria esperar mais de 10 anos pra ter um final feliz.
"As vezes... eles estavam com medo! Aceitar que são apaixonados pelo próprio melhor amigo... deve ser muito difícil!" Engulo seco e forço uma risada, fazendo-o erguer a sobrancelha.
"Está apaixonada por mim, Wendy Miller? Porquê se estiver, não espere 20 anos para me contar! Conte agora!" Ele brinca e logo em seguida solta uma risada, mas aquela maldita pergunta tira o meu chão, fazendo eu me levantar no mesmo instante e ficar de costas pra ele.
Sim, Owen! Eu estou apaixonada por você.
Era isso o que eu queria dizer, o que eu deveria dizer. Mas certamente, não foi o que eu disse.
"Só se nos seus sonhos!"
No caso, eram nos meus.
"Aut! Essa machucou!" O garoto brinca e se deita no canto da cama, dando espaço para eu me deitar ao seu lado.
Dormíamos assim, na mesma cama, desde que éramos pequenos. Nunca vimos malícia nisso, mas naquela noite, eu senti algo de diferente.
"Sabe do que eu lembrei hoje?" O encaro. "Do Bud. Lembra dele?"
"Como esquecer?" Ele sorri encarando o teto. "Nunca me senti tão triste como no dia em que ele morreu!" Solto um suspiro lembrando e deito minha cabeça no seu peito.
"Ele deve ser a estrela mais brilhosa no céu." Falo encarando a janela.
"Sim. Ele foi o anjo que nos uniu."
O anjo que nos uniu.
Ele tinha razão. Se não fosse o Bud, nós provavelmente não teríamos nos conhecido, não seríamos melhores amigos.
"Tá mais pra Lúcifer do que pra anjo, né? Pra me unir com você, tem que ser bem ruinzinho!" Brinco, fazendo-o rir e em seguida dar tapas no meu braço.
"Vai se ferrar, Wendy! Eu estava sendo fofo e você vem e estraga!"
"É o meu dom!" Sorrio e me viro de lado, sentindo seus braços se envolverem o meu corpo, fazendo minha respiração parar por alguns instantes.
"Quem precisa de namorada, quando se pode dormir de conchinha com a melhor amiga, né?" Abro um leve sorriso, segurando sua mão. "Boa noite, Wendy! Amo você!"
"Boa noite, Owen! E... Você sabe que eu te odeio." O garoto solta uma leve risada em meu ouvido e respira fundo.
"Eu sei que você também me ama."
Eu podia fazer qualquer coisa, tentar de qualquer forma, mas aquela frase não saía da minha boca. Por mais que eu sentisse isso e que esse sentimento transbordasse em mim... eu não conseguia falar "Eu te amo." Eu sempre travo e falo qualquer coisa diferente disso.
Mas nossa... eu o amo demais!
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