One Shot - Beijos com sangue
Brigar com Ward era algo comum na vida de Rafe, principalmente envolvendo Sarah.
Por que seu pai não notava o esforço que ele fazia por ele? Por que preferia Sarah? O que ela tinha que ele não? Era por que ele o lembrava de sua falecida esposa? Rafe não conseguia entender e isso o enchia de ódio, tanto que só se viu em um bar do lado pogue da ilha quando seus nervos se acalmaram, o que demorou a tempo dele assustar o bartender e conseguir uma garrafa.
"Rafe Cameron enchendo a cara com os pogues, isso é algo inédito, eu tiraria uma foto se tivesse um celular." Rafe fechou os olhos com força, virando a garrafa enquanto o líquido parecia queimar sua garganta, mas não o suficiente em sua opinião.
"Cai fora, JJ, não tô com saco pra lidar com você hoje."
Rafe encarou JJ como se ele fosse imbecil ao vê-lo se sentar ao seu lado, um sorriso estúpido em seu rosto que Rafe queria arrancar com os próprios punhos. Metade de seu cérebro já alcoolizado lutando contra os pensamento de que, porra, o loiro era quente.
"Eu ia perguntar se você é só burro ou idiota mesmo, mas tá explicado, você é loiro." deu de ombros e franziu o cenho agressivamente ao ouvir a risada de JJ. "Você tá chapado." afirmou, entretanto, saiu mais como uma pergunta.
JJ soltou um gritinho feliz de concordância e agarrou a garrafa de Rafe, não dando tempo para o Cameron o impedir antes de dar um gole. Rafe notou os hematomas vermelhos em seu pescoço assim que ele inclinou a cabeça para trás.
"Dia difícil?" estranhamente sua irritação súbita o surpreendeu, principalmente por imaginar que essas não deveriam ser as únicas marcas de agressão no corpo de JJ.
Desde quando ele ligava para aquele pogue?
"Eu não ligo." se lembrou, porém alguma espécie estranha e irritante de compaixão o atingiu ao encarar os olhos amudos de JJ.
Rafe deixou que seus olhos vagassem até o corte na bochecha de JJ, o curativo parecia ter sido colocado há alguns dias mas os hematomas no pescoço ainda pareciam recentes.
Ele e JJ não eram tão diferentes, afinal. Rafe refletiu.
Talvez suas torturas fossem diferentes, mas ambos atingiam o mesmo ponto.
Alguns aspectos de suas infâncias deviam ser sombriamente parecidos.
"Comum." JJ deu de ombros e Rafe cerrou os dentes, sentindo uma imensa vontade de rachar o crânio de Luke.
"Hum." murmurou com um falso ar de desinteresse.
Houve um momento durante o silêncio estranhamente confortável deles em que Rafe começou a falar coisas que não falaria estando sóbrio.
"E o que aquela idiota tem que eu não tenho?" Rafe bateu os punhos contra o balcão, não reparando que os olhos de JJ estavam fixos nele.
O estado vulnerável de Rafe tocou JJ, e isso o surpreendeu, não o jeito imprevisível igual uma bomba relógio de Rafe, isso era óbvio, mas sim o sentimento de espelhamento que começou a sentir em relação a cada palavra que Rafe dizia.
Ele soube através de Sarah que Ward batia em Rafe quando ele era menor, mas não imaginava que sua mente era conturbada por causa disso, que suas ações egoístas e até assassinas tinham por trás a necessidade de provar que merecia o amor de Ward, o desespero pela aprovação, orgulho e preferência de Ward.
Era triste, mas acima de tudo devia ser cansativo e corromper Rafe cada segundo de cada dia, trazendo à tona sua fúria.
"Quer dizer." Rafe fungou, quando ele tinha começado a chorar? Lágrimas estavam escondidas no canto de seus olhos, como se alguma parte sóbria de seu cérebro o forçasse a não deixá-las cair. "Eu sou..." ele foi interrompido por uma música extremamente alta que preencheu o bar, a raiva voltando aos seus olhos como um demônio.
JJ tentou impedir quando Rafe se levantou, seus olhos brilhavam furiosamente e destinados a um homem velho e tatuado que usava roupas de couro, porém Rafe foi mais rápido e se desviou.
"Oh, filho da puta, será que pode abaixar a porra da música?" Rafe tinha capturado o momento que o homem ligou as caixas de som, essas que não pertenciam ao bar.
"Como é que é, pirralho?"
"Além de velho é surdo?" zombou levantando uma sobrancelha e JJ segurou o punho do homem mais velho antes que ele colidisse contra o lindo rosto de Rafe.
Um minuto.
Lindo?
Antes que ele pudesse pensar sobre isso, foi arremessado contra a parede por um dos amigos do homem, ou capangas pelo que parecia.
Ótimo, isso traria uma dor fantástica para suas costas. Por que mesmo ele tinha se intrometido?
Um barulho alto chamou sua atenção e ele teve sua resposta ao ver que Rafe tinha batido um dos tacos de sinuca nas pernas do homem mais velho, o suficiente pra ele cair no chão gritando de dor.
Rafe sorriu para JJ por cima do ombro e tinha um corte em seu supercílio que não parecia o incomodar nem um pouco.
JJ sorriu de volta. O que estava acontecendo?
Ele não teve tempo de descobrir porque o mesmo cara que o arremessou voltou a atacá-lo, porém dessa vez foi ele que voou longe. Tudo parecia estar em câmera lenta quando na verdade foi na mesma velocidade que um flash disparado.
Algumas pessoas tinham saído correndo desde que a briga começou enquanto outras observavam de longe, uns até filmavam.
Rafe recebeu um soco de um homem de bandana que descobriu se chamar Mark através do grito de alguém quando o jogou no chão e chutou seu saco diversas vezes. Ele quebrou o braço do segundo que tentou intervir e jogou o terceiro contra a mesa de sinuca, socando-o com força ao ponto de rasgar o lado de seu rosto.
JJ atingiu a cabeça de um dos homens com uma garrafa vazia quando ele tentou aplicar um mata Leão nele. Os estilhaços cortaram sua pele e JJ não perdeu tempo, acertando socos em cima dos cacos causados pela garrafa, fazendo o vidro entrar mais em sua carne e caminhando até Rafe uma vez que o homem se arrastou para longe dele com medo.
Eles olharam para os seis corpos no chão, alguns inconscientes enquanto outros gemiam de dor.
"Vocês vão pagar por isso!" JJ e Rafe trocaram um breve olhar comunicativo quando o bartender gritou, correndo para longe ao mesmo tempo.
"Sabe de uma coisa." JJ começou quando eles estavam longe o suficiente, ambos suados, ofegantes e com um pouco de sangue.
"O quê?" perguntou com um sorriso que se refletia no rosto de JJ.
O Maybank não era cego, tinha discutido consigo mesmo diversas vezes sobre achar Rafe atraente, perdendo todas as batalhas. Sempre houve uma tensão entre eles, por mais que ambos nunca fossem admitir isso em voz alta. JJ não entendia direito, apenas que quando Rafe o preensava para brigar ou o repreendia, seu corpo ficava em chamas enquanto se imaginava beijando seus lábios.
"Se Deus existe, que eu o culpe por fazer pessoas más atraentes." foi o que pensou.
"Seu pai é um babaca por não notar o filho que ele tem." disse, tentando se convencer que era o álcool e a adrenalina falando, entretanto, tudo foi pra casa do caralho quando Rafe sorriu, enorme e brilhante de um jeito que JJ nunca pensou que ele fosse capaz.
"Uau."
JJ sabia que olhava para Rafe com cara de bobo e um sorriso babão, mas não conseguia parar.
Rafe estava vulnerável para ele, talvez ele pudesse ficar vulnerável para Rafe também.
"O que você acha de..." ele não conseguiu concluir seu raciocínio porque Rafe segurou seu rosto gentilmente e se inclinou, beijando-o.
JJ saltou surpreso no lugar, porém não houve tempo para processar porque logo Rafe tinha se afastado, ainda segurando seu rosto e sorrindo amplamente.
"Prefiro você calado." as mãos de JJ colidiram contra a camisa polo de Rafe antes de puxá-lo para um beijo de verdade.
O ritmo foi desleixado na melhor das hipóteses, mas desesperado e urgente, nenhum deles se importando com o gosto de sangue compartilhado. Eles estavam com fome e sede um pelo outro, a sobriedade longe o bastante para que não pudesse reclamar de algo e seus cérebros encharcados de excitação, euforia e álcool.
Talvez eles se arrependessem disso no dia seguinte, talvez não.
[...]
Rafe acordou com o corpo doendo pela posição que estava deitado, o colchão parecendo pequeno demais para duas pessoas.
Um segundo.
Pequeno.
Duas pessoas?
Rafe rangeu os dentes com força dentro da boca ao identificar quem era a outra pessoa, seu maxilar rígido enquanto diversos xingamentos flutuavam por sua mente.
"Mas que porra..."
JJ estava com o rosto enterrado em seu pescoço e abraçado a Rafe, que tirou seus braços ao redor dele assim que notou onde estavam, meio surpreso por não estar de ressaca.
"O que eu não pago de ressaca eu tenho de dor no corpo." bufou irritado.
Ele se mexeu para sair da cama e franziu o cenho quando JJ o abraçou com mais força, roçando o nariz em seu pescoço levemente durante o sono. Rafe fingiu não estremecer.
Rafe ignorou e tentou novamente, dessa vez ganhando um grunhido revoltado em resposta enquanto o aperto em volta dele aumentava.
"Que droga, cara, você quer me deixar ir?" rosnou com a voz rouca, porém JJ nem se mexeu.
Seus movimentos travaram antes que pudesse fazer uma nova tentativa. O rosto de JJ não estava mais escondido em seu pescoço mas sim em seu peito. Perto assim, Rafe podia ver o leve toque de sardas que cruzavam seu nariz.
"Você é meio bonito." pensou, se lembrando da intensidade de azul que cobria os olhos de JJ e admirando os braços rígidos e fortes em volta de sua cintura.
Os olhos de Rafe travaram no cabelo loiro de JJ e afastou a curiosidade de saber se ele era macio. O nariz fofo de JJ entrou em seu campo de visão e assim que desceu para a mandíbula notou que ambos estavam nus debaixo da coberta.
Ele sentiu um formigamento excitante por toda sua pele antes de olhar para os hematomas ainda no pescoço de JJ, mas que pareciam estar melhorando.
Talvez eles pudessem manter uma relação de sexo casual, mas Rafe sabia que nunca, em hipótese alguma, poderia se envolver com JJ romanticamente.
Seria como namorar um complexo loiro dele com problemas com o pai.
Entretanto, Rafe se lembrou de um livro de psicologia que leu uma vez quando estava com tédio que insinuava que talvez funcionasse exatamente pelos mesmos motivos, como se eles pudessem se curar juntos e...
Rafe foi puxado de seus pensamentos ao ouvir JJ fungar durante o sono.
"Adorável."
Ele deveria ir embora, mas envolveu JJ em seus braços ao invés disso, mesmo estando um pouco tenso e inserto. Ele se recusava a admitir que sorriu quando enfiou o nariz no cabelo de JJ e um cheiro infantil de xampu de uva invadiu suas narinas.
A última coisa que passou pela cabeça de Rafe antes que a sonolência o dominasse foi como JJ era parecido com um golden retriever.
Na pequena e não aconchegante cama de JJ com ele em seus braços, Rafe não sentiu raiva pela primeira vez desde muitos anos.
NOTAS DA AUTORA: Obrigada pela idéia, Helenableck
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