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Capítulo 2



Eu vejo você
O que você quer fazer
Vamos quebrar as regras (sexualidade)
Sexuality
Rihanna



— Diana, pelo amor de Deus eu quase tenho um treco quando o vi caminhando até onde você estava, qual é? — Ana lançou-me um olhar abismado, sorrindo e empurrando de leve seu ombro com o meu, fazendo com que eu quase tropeçasse - Se eu fosse você, tinha derretido ali mesmo.

Sorri, e balancei a cabeça.

— Eu não achei que ele fosse até lá. Ele sempre tinha ignorado antes.

— Nem sei porque ele te deixou entrar, viu?

— Ele não me viu. Quando olhou, eu já estava sentada, então, deve ter resolvido não se dar ao trabalho — eu dei de ombros, pensando sobre a expressão zangada em seu olhar por trás daqueles óculos. Eu realmente revirei os meus olhos, muito rápido, antes de abaixar a cabeça, mas junto com aquele aborrecimento, o foda foi que, como as milhares de fãs imbecis que ele parecia ter viviam alardeando, não dava para não ser um pouco afetada pela sua presença, mesmo que você não gostasse muito do seu jeito fechado e prepotente. Para ser sincera, desde a primeira — não, sua segunda aula, na verdade, na primeira eu não fui, pensei, com um sorriso — eu tinha a impressão que ele parecia um lerdo, um cara bonito, mas cansativo, como se ele precisasse de uma sacudida, sabe?

Nós estávamos saindo da aula posterior a sua, naquele momento, e indo para uma das bibliotecas em uma visita rápida. Eu e Ana iríamos pegar o livro para a maldita resenha de Diego e de outra disciplina da próxima semana, isso se ainda achássemos algum exemplar, e logo depois eu iria para casa. Naquele dia, eu realmente precisava ir para casa mais cedo e ver como a minha mãe estava, a minha avó tinha saído, e eu não queria deixá-la sozinha depois de hoje pela manhã. Sem falar que às 15 horas tinha que estar no meu turno no estúdio de fotografia em que eu trabalhava todas as tardes, não muito longe de casa.

— Eu não disse que ele não era gostoso, porque ele é, pelo amor de Deus, mas também é um pé no saco. Aquele jeito todo convencido, como se fosse algum tipo de presente de Deus para humanidade, me dá nos nervos — bufei, lembrando exatamente da hora em que ele, o prof. Diego Avellar, não à toa também conhecido como Sr. Frio, chegou bem perto de mim e ficou de pé. Lógico que eu ia dar uma manjada muito rápida nele, me detendo naquele peitoral que parecia sensacional naquela camisa de botões, e claro, mais abaixo, naquele pacote, antes de encará-lo com toda a inocência que eu podia fingir ter. Porque eu não tinha nenhuma. E olha, era um pacote muito bom, assim visto de relance, eu não podia mentir. Se ele notou, foda-se, ninguém mandou ele ficar parado daquele jeito na minha frente, não é? Não dava para não olhar.

— Mas é porque ele é um presente de Deus para a humanidade, né, amiga? Ele pode.

— Pode porque vocês ficam babando nele feito um monte de desesperadas, e isso faz ele se achar ainda mais - eu retruquei. Alguns alunos, também indo em direção a biblioteca ou voltando de lá, passavam por nós. Eu notava um olhar ou outro mais espantado ao meu cabelo vermelho, e o pior é que eles achavam que estavam sendo discretos, pensei, sorrindo. Não que eu me importasse. Eu gostava dele assim, e era isso que estava valendo. No ano anterior, tinha feito box braids, e andado por aí com longas tranças, e aos 17 anos, pintei meus cabelos de roxo. Só durou uma semana porque a direção da escola não permitiu que eu assistisse aulas assim, mas tinha valido a pena.

— Quem me dera poder babar naquele homem... Jesus. — ela abanou-se com as mãos. — Pena que ele nem nota que eu existo. E olha que eu já dei uma chegada mais para a frente, mas nada.... Vou tentar chegar muito atrasada, para ver se cola.

Eu dei uma olhada para ela, carrancuda.

— Fala sério, Ana!

Ela arqueou uma sobrancelha, zombeteira.

— Não sei, quem sabe assim, não é? Não é com todo mundo que ele resolve pedir para ficar depois da aula. E aí, me diz o que ele falou.

Lembrei com uma nitidez impressionante do olhar intenso do professor Diego, da forma como ele me encarou enquanto eu vinha caminhando na sua direção. Por um momento, ele não parecia tão formal e certinho com aquele olhar tão fixo no meu corpo, parecia mais como um cara que poderia incendiar uma garota... Essa garota aqui.

E eu caprichei mesmo no andar, de propósito, um pouco dividida entre aquela coisa de não gostar do jeito esnobe do cara, que não me atraía nem um pouco, para ser sincera, e aquela outra coisa, aquela que sussurrava no meu ouvido para que eu testasse se, por acaso, sei lá, ele estava prestando atenção em mim. E ele estava, sim, mas muito sutilmente. Não era descarado, como a maioria dos caras, mas estava me sacando.

E aquela vozinha continuava na minha mente enquanto ele falava comigo... Você sabe aquilo que aparece muito nos desenhos animados, do anjinho e do diabinho que ficam um de cada lado do ombro de uma pessoa e tal? Para equilibrar? Falando coisas diferentes para que você tomasse decisões sensatas, no caso do anjinho, e para que você fizesse merda, no caso do diabinho? Pois é, parece que não tinham enviado o anjinho para mim, infelizmente. Eu ainda estava esperando-o chegar.

Para onde eu me virasse, era a mesma vozinha me mandando provocar e tirar ele do sério, enquanto ele me repreendia. E eu nem fiquei surpresa quando a vontade de provocá-lo e tentá-lo estava aumentando também não só a nível de palavras, mas de ações. Por isso eu tinha falado aquilo ao sair.

Porra, eu nem gostava muito do cara! Quer dizer, eu nem mesmo o conhecia de verdade, mas não curtia o jeito dele, mas isso realmente não queria dizer que eu não pudesse apreciar tirá-lo daquela concha de frieza. Por um instante, me perdi do que Ana estava dizendo, mas ela com certeza devia estar suspirando por ele, conclui, levemente irritada.

— Diana, eu sinceramente acho que a gente merece uma medalha por conseguir prestar atenção em uma aula com aquele professor ali falando. Do que diabos ele estava falando mesmo hoje? Porque eu não sei.

— Não faço ideia.

— Olha aí, escondendo o jogo, então, estava prestando atenção em quê? — Ana me provocou. Nós encontramos um banco próximo à entrada da biblioteca, e sentamos.

— Nele. — eu pus minha bolsa no colo e tirei um chocolate de lá. Ofereci a Ana, que mordeu um pedaço e me devolveu.

— Viu? Gostoso demais. Difícil de prestar atenção em outra coisa.

— O chocolate?

— O professor Diego, Diana! Você quer fazer graça, não é?

Eu arqueei uma sobrancelha, lambendo a ponta do meu dedo com um pouco de chocolate levemente derretido nele, minha mente que já era um poço de malícia, imaginando o sabor de outras coisas por aí...

— Eu já te disse, não nego, ele é lindo. — engoli e apontei um dedo para ela. — Mas deve ser um porre. Ana, olha o cara: as minhas regras, a minha disciplina e o escambáu - eu modulei a voz para ficar mais grossa e imitei o seu tom pomposo, e nós caímos na risada de novo. E eu compreendi que por mais que achasse a Ana legal, não queria que ela soubesse que eu não era tão indiferente assim ao Sr. Frio.

Engoli mais um pedaço, voltando a ficar séria. A voz de Diego era de um tom pomposo, sim, mas era uma voz grave, envolvente, e quando ele falou comigo daquele modo de quem estava corrigindo uma malcriação que eu havia feito, algo revirou nas minhas entranhas, e por mais que eu realmente não ficasse com caras como professor Diego, que além de tudo era mais velho que eu - não que eu me importasse com isso, só nunca tinha acontecido - aquela vontade de realmente ser irreverente, bagunçar um pouco aquele seu cabelo arrumadinho, tirar aquela camisa engomadinha, abaixar aquela calça e... Hum, aquele desejo veio com força total.

— Ele é todo certinho sim, e todo mundo sabe. As meninas do período anterior já haviam dito pra gente como ele era, lembra? — Ana estava falando, fazendo um coque ligeiro nos cabelos negros e me dando um sorriso. — Não é tão difícil se acostumar.

Ana era uma das poucas colegas que eu tinha, alguém que com eu tinha imediatamente me enturmando naquela sala. Por mais rebelde, exótica ou desencanada que muita gente achasse que eu era, eu tinha certa dificuldade de me aproximar muito das pessoas. Não era timidez era mais como uma ideia de me manter na minha, no meu canto, mas também não afastava ninguém que se aproximasse de mim. Além de Ana, havia também Thiago, é claro, que pelo jeito queria mais do que se enturmar comigo, mas eu não tinha, ainda, dado uma chance a ele de verdade.

Era tipo de cara que me atraía, relaxado, divertido, descomplicado, e eu ia pensar sobre isso com carinho. E ele deveria estar querendo mesmo, ainda mais depois de hoje, o louco, interromper a minha conversa com o professor, daquele jeito? Diego não havia gostado nada da interrupção, eu percebi naquela mandíbula quadrada, quando ele olhou para Thiago ali na porta. Devia ter algo a ver com as suas famosas regrinhas: não ser interrompido quando estava passando um sermão em alguém. Eu, ele e Ana fomos tomar um cafezinho, depois que sai da sala, e ele deixou mais claro ainda que estava a fim.

— Eu lembro, sim. — respondi a Ana, agora. — Mas achei que fosse mais, sei lá, exagero delas. Não imaginava que ele fosse realmente tão rigoroso daquele jeito.

— Ele é. Nem alguns professores mais velhos são como ele, mas eu entendo, de algum modo, se ele vivesse sorrindo com todas as alunas, já pensou como seria?

— Pois é, se ele não sorriu para você e você está assim, imagina se ele sorrir. — retruquei, e ela me lançou um olhar divertido e pôs a mão no peito, suspirando.

— Mas ele sorriu pra você?

— Não. Não tinha nada engraçado nele me dando lembrete de horário, pode acreditar.

— Ele não parece ser de sorrir muito. — ela pareceu lamentar. — Mas deve ser melhor assim, para a nossa concentração, que ele não sorria muito.

— Olha, o que eu sei é que não precisa viver sorrindo. Mas também não precisa agir como se um pouco mais de simpatia fosse algum tipo de crime, coisa chata.

— Ele não é chato. Você que implica com ele.

— Ah, é. É por isso que ele tem todos esses apelidos. Só eu o acho chato.

— Mas amiga, tenha dó, olha que horas você chegou. Eu tentei te ligar e nada, só chamava, o que aconteceu?

Respirei fundo, cruzando as minhas pernas, a simples lembrança daquele cara chegando na nossa casa e achando que poderia entrar como se morasse lá me deixava louca de raiva.

— Eu sei, nem vi o celular. Advinha quem chegou lá em casa logo cedo? Não pude deixar mamãe sozinha.

Ana me lançou um olhar preocupado. Ela sabia sobre o drama que minha mãe estava envolvida, com o último namorado dela se recusando a entender que ela não queria mais o relacionamento deles, e insistindo de uma forma que estava me deixando não só com raiva, mas apreensiva. Eu já disse a ela para tomar medidas mais duras, mas ela parecia achar que passar a mão na sua cabeça e explicar com carinho ia resolver o problema. Não ia. Se fosse, ele já teria entendido.

— Eita, amiga. Mas ele tentou algo...?

— Ele tinha a chave, você acredita? Não sei como a minha mãe pode acreditar nas pessoas assim. Ela já havia pedido a chave e ele prometeu dar depois, mas ela deve ter esquecido. — Apertei as minhas têmporas, triste, lembrando da expressão em seu rosto quando finalmente pareceu ter compreendido que tinha um puta problema nas mãos. Um problema que poderia ficar mais sério ainda, se ela, se nós, não fizéssemos algo.

— Que merda, Diana. E o que deu?

— Eu já estava saindo de casa, estava terminando meu café, quando eu o vi entrar. Óbvio que eu discuti com ele, a mamãe apareceu e finalmente foi mais firme, depois de uma conversa rápida, em que eu fiquei por lá porque não era louca de sair. Fred deixou a chave e foi embora. Ela me disse que ele prometeu não voltar lá, nem insistir mais. Pergunta se eu acredito nisso? Vamos trocar a fechadura. Nessa história toda, quando eu vi, já estava super atrasada.

— Poxa, que barra, amiga. E a sua avó, estava em casa?

— Graças a Deus que não, se não ela tinha quebrado a cabeça dele, ou algo desse tipo, e agora nós estávamos no hospital ou em uma delegacia. Ainda bem que ela tinha saído cedo para uma consulta.

— Menos mal. Mas foi isso que você disse a ele, não foi? Explicou seu atraso?

Eu balancei a cabeça, apertando meus lábios, antes de responder.

— Claro que não. Por que eu diria isso a ele? Derramar minhas coisas assim para um completo estranho? O prof. Diego não estava exatamente com uma cara de quem iria me dar clemência porque eu tive um problema familiar.

— Mas talvez tivesse entendido.

— Certo, e isso ia mudar o quê? O que ele queria era avisar: não entre na minha aula depois que ela começou, e eu prometi isso. Problema resolvido.

— E também não é como se fosse a primeira vez, né? Vez ou outra você não vem ou está atrasada, desde que as aulas começaram, esse semestre, o que está acontecendo?

Eu suspirei, amassando a embalagem do meu chocolate, e pensando, não pela primeira vez, mais como a milésima, o que diabos eu queria da minha vida. Não era como se estar em uma Universidade, começando um curso que eu tinha escolhido porque me identificava, de certo modo, fosse como saber exatamente o que eu estava fazendo, ou se aquilo era o que eu queria, ou mesmo se dali a seis meses eu não iria querer outra coisa. Era um inferno.

— Eu estou meio que me arrastando pra cá, Ana, essa que é a verdade, e isso é uma droga, eu pensava que estava tão certa do queria fazer. Testes vocacionais, vocês me enganaram - eu gemi, frustrada, mas dei um sorriso em sua direção. — Ou talvez eu simplesmente tenha dado todas as repostas erradas às perguntas feitas, não é?

Ana me afagou no ombro, amável, ela própria tão certa de tudo que queria agora, e eu aos 19 anos me sentia perdida em vários aspectos da minha vida, a profissão que eu queria para o futuro era uma delas. Mas uma coisa eu sabia, naquele momento: a vida era só uma, e eu tinha aquele ímpeto que a minha avó chamava de rebeldia, a minha mãe chamava de paixão, para mim tanto fazia, estava aqui em mim, pulsando, e eu iria encontrar o meu caminho, isso eu sabia, podia não ser agora e nem aqui no Rio, mas eu iria.

E talvez, só talvez, no futuro, eu me arrependesse da minha visão de mundo, mas por enquanto eu estava muito pouco preocupada em viver seguindo tantas normas e proibições, pensei, lembrando com desdém de um certo professor muito convencional e irritante cuja imagem agora estava ao lado de uma palavra, na minha cabeça: desafio.

****

Quando eu cheguei em casa, mais tarde, entrando e largando a minha bolsa no sofá mais próximo, fui direto para o quarto da minha mãe. Dei uma batidinha, e quando a ouvi dizer para entrar, abri a porta lentamente, e a encontrei sentada na cama, papéis, caixas e álbuns espalhados a sua volta. Mamãe levantou a cabeça e me deu um sorriso meio melancólico.

— Ei, meu amor. Chegou cedo. — ela fez um gesto para que eu me aproximasse. Fechei a porta atrás de mim e fui beija-la. Beatriz Ribeiro poderia passar por uma irmã mais velha, nós estávamos acostumadas a sair juntas e as pessoas terem dificuldade em acreditar que ela era a minha mãe. Ela tinha apenas 39 anos, tinha acabado de fazer 20, quando eu nasci. Tinha cabelos pretos, belos olhos castanhos e um corpo que mantinha muito bem. Eu esperava chegar na sua idade com metade da disposição e da beleza. Talvez pela idade e também por ter sido mãe relativamente jovem, sempre tivemos uma relação que era ao mesmo tempo de mãe e filha, mas também de amigas que se amavam e respeitavam muito.

Nossas diferenças eram mais de personalidade, enquanto eu era mais enérgica e impulsiva, eu sabia disso, ela sempre foi mais quieta e compassiva. Mamãe vivia dizendo que a personalidade forte das Ribeiro pulava uma geração, e enquanto eu era mais parecida com minha avó, com o sangue quente e a rebeldia que ela própria tivera na juventude e que de certo modo ainda trazia traços daquele comportamento, na velhice, mamãe era completamente o oposto: muito mais delicada e maleável.

Não era à toa que de vez em quando envolvia-se em relacionamentos nos quais apostava muitas fichas e depois acabava sofrendo. Eu torcia muito para que ela encontrasse alguém que pudesse fazê-la feliz, como ela buscava. A minha ideia de ser feliz, por enquanto, estava mais relacionada as minhas próprias realizações, mas... Eu a entendia perfeitamente

— Ei, mãe. Como você está? — Sentei na cama à sua frente, observando as coisas que ela remexia. Havia muitas fotos nossas, minhas, dela, de vovó. E pacotes de cartas antigas.

— Melhor, meu amor. Você já almoçou? Tem comida pronta, se você quiser.

— Não, já comi. Não vou demorar muito, hoje tenho que ir ao estúdio. E a vovó?

— Acabou de chegar, também. Tinha aproveitado para ir visitar tio Anselmo, por isso demorou. Deve estar no quarto.

Eu olhei para o seu rosto, que apesar do sorriso, tinha marcas de lágrimas. Detestava ver a minha mãe assim.

— O que foi, mãe? Por que você está toda chorosa aí? — Segurei sua mão, e a sacudi de leve, franzindo a testa, falando baixo: - Não me diga que você está sentindo falta de Fred.

— Não! Deus me livre, filha. Depois de hoje, definitivamente não quero mais ver aquele homem na minha frente.

— Ah, bom que você pensa assim. Porque a frigideira que eu ia dar na cabeça dele, podia bem bater na sua agora se você dissesse que ainda quer algo com aquele calhorda, Bia. - uma voz firme e alta se ouviu da porta, e vovó entrou no quarto.

— Mãe, por favor. Eu já disse a você sobre isso. E nada de frigideiras na cabeça de ninguém.

— Queria era estar aqui quando aquele patife de merda entrou por aquela porta, ah, mas eu queria! Safado desses!

— Mas eu disse umas boas a ele, vó. Fique tranquila.

Mamãe me olhou e suspirou, cansada, e eu sorri mais largamente, me virando para apreciar a minha outra pessoa preferida no mundo, minha avó Madalena, que era carinhosamente chamada por todos de Madá, o nome que eu tinha tatuado na parte interna do meu antebraço. Vovó era esguia, com os cabelos muito bem pintados de preto para esconder todos os fios brancos, presos em um coque baixo, os olhos escuros atentos e a expressão sempre viva. Em casa, gostava muito de usar vestidos soltos, "de vovó", ela dizia, mas quando saía, só gostava de estar bem arrumada e muito pintada.

Sem falar que tinha a finesse e o linguajar nada adequado a uma vovó, e de vez em quando chocava muito as pessoas que achavam que aquela senhora pequena e de aspecto falsamente frágil não poderia dar uns berros e falar mil palavrões. Não era à toa que mamãe dizia que toda a minha influência tinha vindo diretamente dela. E eu adorava isso.

— Ei, vó.

Ela veio e me abraçou pelos ombros, beijando o topo da minha cabeça.

— Ei minha pequena.

— Deu tudo certo lá na consulta?

— Que nada. Ali estão esperando a gente morrer pra ir dando baixa na lista, esses escrotos. Vou voltar lá na semana que vem. - ela expirou com força, e foi se sentar do outro lado da cama, olhando com atenção também para as coisas que mamãe tinha espalhado por ali. Mamãe guardou os papéis em uma caixa pequena, e tampou devagar.

— Não precisa esconder, sei muito bem de quem são. — Vovó sorriu e franziu os olhinhos astutos para a filha - Não é à toa que você não quer mais esse outro que está rondando por aí. Você não me engana, Beatriz.

— Ninguém está querendo enganar ninguém aqui, mãe. Eu só estou pensando na vida. Em como as coisas poderiam ter sido... - mamãe suspirou, e então eu soube a razão daquela melancolia toda. Não era apenas pelo relacionamento desfeito, era também por um que ela nunca tinha vivido plenamente. Então, era o homem surgido do passado que estava mexendo com ela...

— Bem, eu disse a você na época para dar um chute na bunda do pai de Diana, que aquilo nunca prestou, minha filha. Mas você me ouviu?

— A maldição das Ribeiro? — Eu levantei as sobrancelhas em zombaria àquela brincadeira boba que a irmã de vovó, tia Elsa, vivia fazendo. Que nós não tínhamos sorte para homens, nenhuma de nós. Vovó vivera com meu avô por poucos anos, antes que ele a traísse com sua comadre, na casa ao lado da sua. Vovó deu uma surra na comadre, madrinha da minha mãe, quebrou a vassoura nas costas do vovô, segundo ela mesma fazia questão de contar, e o pôs pra fora de casa. Em uma época que o mais comum era a mulher aceitar e se conformar com esse tipo de coisa, aceitar passivamente que esse era o comportamento típico masculino e não havia muita coisa que uma mulher com uma filha podia fazer. Mas não vovó Madá. Claro que ele voltou arrependido, mas ela nunca o perdoou e nem o aceitou de volta.

Depois teve outros relacionamentos curtos, e sempre disse que foi muito feliz em todos eles, ainda que nunca tenha se casado. Mas ainda assim, o único relacionamento significativo da minha avó, após deixar meu avô - que ela só chamava de salafrário - eu cresci ouvindo a palavra e só depois fui saber que era a mesma coisa que canalha - tinha sido com o vovô João Pedro, que não era meu avô biológico, mas foi a figura masculina que cumpriu esse papel na minha vida, e que realmente fez a minha avó feliz até o último dia da sua vida.

Mamãe, por sua vez, tinha namorado com o meu pai por um tempo, na escola, depois casou e só mais tarde descobriu que papai era um verdadeiro encosto, como quando ficou desempregado e nunca mais quis trabalhar, além de ser um bebedor inveterado. Ela, então, com uma filha pequena, pediu o divórcio e foi morar com a vovó. Hoje meu pai morava em Alagoas, com outra mulher e seus 3 filhos, e parece que trabalhava, segundo eu soube.

— Maldição que nada, isso é a língua grande dessa doida, que nunca teve homem na vida, não sabe nem do que tá falando. Maldição! - vovó bufou, em zombaria, indignada, e eu ri.

— Não seja maldosa, mãe. — Mamãe tentava esconder o sorriso.

— Maldosa nada. Elsa nunca teve um homem na sua cama, e como tem medo, vive inventando essa besteira de maldição, até parece. Eu vivi foi muito feliz e tive homem até o dia que eu quis, isso sim, ora se por causa do salafrário do seu pai eu ia ser infeliz, hum... achei outros 'melhor' que ele, até.

Eu e mamãe sorrimos, olhando uma para a outra. Aí estava a palavra, estava custando aparecer.

— Mas então, estamos falando do passado da mamãe aqui? - eu a fitei, curiosa, depois olhei para vovó. Mamãe franziu os lábios, ajeitando os cabelos pelo ombro.

— Eu disse a você, filha, que eu encontrei o Mário por acaso, depois de todos esses anos, quando ele veio até ao escritório falar com o senhor Batista. — Mamãe disse, quase timidamente, o que era fofo, e sorriu. Será que finalmente iria acontecer, depois de todos aqueles anos? Minha mãe trabalhava como assistente em um escritório de contabilidade, no Centro, um emprego que ela mantinha há vários anos. E de repente o cara que foi apaixonado por ela na juventude, entrava pela porta para falar com o seu chefe e a encontrava ali? Quer dizer, quais as chances de aquilo acontecer? Mas aconteceu. E desde esse dia, ela estava mantendo contato com ele, que morava em São Paulo, e reavaliando a vida e os relacionamentos, pelo jeito. E estava fazendo muito bem em se livrar de um embuste que agora não queria aceitar a situação.

— Podem achar que é coisa de velha chata, mas pra mim, quando tem que ser, vai ser. O que é do homem o bicho não come.

— Aí eu já não concordo com a senhora vovó. A gente faz as coisas aconteceram, as nossas decisões é que vão dizer "se vai ser". — eu dei de ombros.

— Besteira. — ela fez um gesto de desdém com as mãos, torcendo a boca como era uma marca registrada sua. - A gente toma as decisões da gente sim, mas tem algo maior que quando é pra ser aquele ou aquela, vai ser de qualquer jeito. Pode escrever isso, menina.

Eu não retruquei mais, só fiz um gesto com os lábios, muito parecido com a forma como ela fazia, em silêncio.

— Estou começando a concordar com você, mamãe. Quem diria que eu ia reencontrar esse homem depois de todos esses anos?

— Você pensou nele, mãe? Esses anos todos?

— Às vezes, sim. Mas era mais como um pensamento de algo que já tinha ficado para trás e nunca ia voltar.

Apenas assenti.

— Há quanto tempo você não via esse menino, Bia?

— Menino? Mário tem a mesma idade que eu, a senhora esqueceu?

— Pra mim todo mundo que tem menos de 40 é menino. Tem vinte anos, isso? — vovó insistiu, tentando lembrar. - Eu com certeza não lembro mais dele. Só sei que tinha uns cabelos pretos e era magro e alto, não era?

Mamãe suspirou pela milésima vez.

— Sim. E tem quase isso mesmo, vinte anos. Eu estava em um período conturbado com o Haroldo, e o Mário... Bem, veio me dizer que queria ficar comigo, justo quando eu tinha acabado de descobrir que estava grávida.

— Péssimo timing, o do Mário. Mas parece que ele quer recuperar o tempo perdido, não é? - eu olhei para ela, e mamãe fez que sim.

— E bota tempo nisso - vovó disse.

— É, parece. O Mário mal acreditou quando me viu lá, e eu... Queria me esconder, correr para o banheiro. Esse homem não me via há quase vinte anos, eu era novinha, tudo em cima, ah, senhor ... — ela cobriu o rosto com as mãos.

— Como é que é, mãe? A senhora é linda. Mais gostosa que muita novinha por aí. Ele deve ter mal acreditado na própria sorte, isso sim.

— Será, filha? Ele parecia tão bonito como quando tinha 20 anos. Mais até, não sei como, mas acreditem em mim, ele estava.

— Eu acredito. - vovó disse logo, rápido - E homem bom é homem que sabe das coisas. Esses negócios de homem novinho não presta não, vão por mim.

Eu sorri, e minha mente traiçoeira foi buscar certo homem mais velho com quem eu tinha conversado naquela manhã. Não sei se ele "sabia das coisas" como vovó estava dizendo, no entanto, mas seria um desperdício se não soubesse.

— Tá certo, vó. — eu disse, e ela riu, virando-se para mamãe, parecendo muito séria agora.

— Me escute, minha filha. Vocês estão vivos, bem, as coisas estão tudo funcionando ainda, graças a Deus... Aproveita. Vai viver sua vida, sim.

— Mãe, a senhora não tem jeito! É claro que... Pelo amor de Deus, ele tem só 39 anos. Quer dizer, Deus permita que esteja tudo certo por lá - ela disse, e depois nós três rimos.

— Vai estar! — vovó levantou a mão e fechou os olhos. — Esse tempo todinho você esperando um homem que preste, vai estar, Deus é mais!

— Vó, a senhora é minha diva. — eu ri, e me estiquei para dar um beijo nela. Olhei no meu relógio, e estava na hora de me arrumar e ir para o estúdio de fotografia.

Mamãe sorriu, depois ficou me olhando com uma expressão preocupada.

— Diana, se eu tivesse que ir morar em São Paulo, minha filha, você iria comigo? —ela questionou, muito séria, apreensiva. Eu tinha levantado já, e não esperava aquela pergunta agora. Claro que assim que eu soube onde Mário Rezende morava e que tinha lojas de produtos esportivos em São Paulo, me passou pela cabeça que a minha mãe iria ao seu encontro em algum momento, ou ele viria ao encontro dela. Mas ir embora do Rio de uma vez? Fiquei uns segundos olhando para a minha mãe, depois olhei para vovó, e pelo seu rosto, eu soube que era a única que ainda não tinha sido introduzida no assunto.

— Eu... não sei, mãe. Você já decidiu sobre isso?

— É sobre o seu curso? Minha filha, é só uma pergunta, não decidi nada ainda. Você sabe que eu e sua avó te amamos muito, e por nós, ficaríamos sempre juntas. Talvez eu não precise ir, o Mário pode...

— Mãe, calma aí, é a sua vida, pense na senhora. Eu tenho que correr agora, mas vamos conversar sobre isso, tá? Fica tranquila. Vamos fazer o que for melhor para todas nós. Aqui, em São Paulo, onde for.

Soprei beijos para ambas e saí do quarto, pensando se existia realmente algo que me prendesse ao Rio, e concluindo que não, não existia, de verdade, sem mamãe e vovó ali. Se eu tivesse que ir para outra cidade, eu poderia ir, sim, quem sabe não seria por lá que eu repensaria minhas escolhas e encontraria o meu rumo.

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