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8. ARQUITETA ESTAGIÁRIA

Por que a vida tem que ser tão complicada?

Quando pensei que estava tudo bem, que as coisas finalmente estavam avançando, que eu me tornei mais madura e pronta para seguir em frente, tinha que vir um demônio das profundezas do inferno me fazer lembrar de coisas que eu preferiria esquecer!

Por que a vida não pode ser simples? Sem decisões ruins, sem maldade, sem pessoas que sentem prazer com o medo dos outros?

Eu não sou mais aquela garota. Cometi erros. Erros muito graves, sim, mas quem não comete erros de vez em quando?

Só quero deixar tudo isso para trás. Eu preciso.

Ou vou enlouquecer.

Maio de 2024, 10pm.

Cristal suspirou, atrás do volante. Tinha passado quatro horas e meia dirigindo de Lins até São Paulo, depois mais duas horas no trânsito caótico da cidade enorme até chegar a um bairro luxuoso da zona oeste, onde o GPS apontava o endereço dado por Heidi Becker.

Seu veículo era o antigo carro de Elise, que seus pais, Julian e Elise se uniram para comprar como uma forma de compensar todo o sofrimento dela. Não compensava realmente, mas pelo menos podia se locomover facilmente pela cidade. Como Elise foi embora para a Itália, seu carro foi dado a Cristal.

Era um bonito Volvo prateado, mas parecia simples perto dos carros de luxo que se viam estacionados nas ruas do bairro Jardim Paulistano, onde ficaria hospedada pelos próximos quarenta e cinco dias.

Ela havia pesquisado sobre o bairro desde que recebeu por e-mail o endereço do prédio. Era um bairro cheio de restaurantes de alta gastronomia, prédios luxuosos, museus e outros lugares interessantes. Realmente a Sra. Becker sabia apreciar a vida. Devia ganhar muito bem para morar em um lugar como aquele.

Cristal esperava um dia poder ter um padrão de vida tão alto, conquistado por ela através do trabalho.

Estacionou em frente a um bonito prédio e olhou para o lugar, admirada. Um senhor roliço, vestido com um uniforme azul, abriu a janela da cabine ao lado do portão e falou com ela.

— Pois não?

— Bom dia. Eu sou Cristal Albuquerque — disse, dando-lhe um documento de autorização assinado por Heidi Becker.

— Uma das estagiárias — ele falou. — Eu vou abrir o portão. Seu estacionamento, a partir de agora, é o 720. O síndico está esperando no salão de recepção para levar você e a outra moça para o apartamento.

— Ela já chegou?

— Sim. Chegou há uns vinte minutos. A Sra. Becker estará aqui a partir das quatro da tarde.

— Ok, obrigada.

— Boa sorte. Vocês estão tendo uma oportunidade única.

Ela não respondeu. Estava cansada, mal podia esperar para ter alguma cama onde deitar. Tinha levantado às cinco da manhã para viajar e já era a hora do almoço. Não que ela quisesse comer. Estava tão dolorida que sentia seus membros rígidos e a coluna a fazia se sentir como uma senhora de setenta e cinco anos.

Na noite passada, depois de passar um tempo mergulhada em lembranças indesejadas, ela se recompôs e desceu para ver seu irmão e sua sobrinha. Tiveram um jantar agradável e, depois que eles foram embora, ela beijou seus pais e subiu para descansar, tentando esquecer o que aconteceu mais cedo.

Cristal estacionou, pegou sua mala e sua bolsa de mão e seguiu para o salão, onde viu um homem alto, magro e careca ao lado de uma bonita loira de cabelos lisos, em um corte longbob que emoldurava seu rosto. O homem se apresentou como Sr. Trindade e as escoltou até o último andar.

— Aqui é a cobertura. Só existe esse apartamento. É totalmente seguro. Acredito que a Sra. Sch... Becker vai dar a vocês o código do elevador para esse andar. Ela pediu para vocês ficarem à vontade e se instalarem nos quartos à direita, pois a suíte principal é de seu filho, o dono do apartamento.

Aquilo surpreendeu Cristal. Então aquele lugar não pertencia à arquiteta? Ela tinha a pergunta na ponta da língua, mas a loira, Melissa, perguntou primeiro.

— Então a Sra. Becker não mora aqui? Pensei que ficaríamos hospedados com ela. E não tinha outro estagiário também?

— O rapaz que vai estagiar com vocês mora a poucos minutos daqui, não precisa de hospedagem. E a Sra. Heidi tem um apartamento nesse mesmo bairro, a algumas ruas de distância. Ela não quer que vocês estejam em um lugar onde ela more, pois aprecia sua privacidade. Não sei se o filho dela virá para cá esses dias. Ele só costuma vir quando está cuidando de negócios aqui na capital, então vocês terão o apartamento só para vocês.

— Certo. Obrigada — respondeu Melissa.

— De nada. Se vocês tiverem fome, tem comida na cozinha, a empregada do proprietário deixou para vocês. Ela vem aqui três vezes na semana para limpar e cozinhar quando tem alguém. Agora, se me dão licença, tenho trabalho a fazer.

— Claro. Bom dia para o senhor — falou Cristal.

Depois que ele saiu, as garotas foram procurar os quartos, estudando o espaço em volta.

— Uau. Esse lugar é enorme! — disse Melissa, encantada. — Deve valer muito dinheiro.

— É... — Cristal estava sem vontade de conversar. — Se você me der licença, estou exausta. Vim dirigindo para cá. Seis horas e meia de viagem.

— Nossa. É por isso que parece tão abatida. Eu vim de avião e peguei um Uber. Sou do Rio de Janeiro.

— Eu bem percebi o sotaque. Bom... vou descansar agora. Mais tarde podemos nos conhecer melhor.

— Tudo bem. Bom descanso.

Cristal seguiu para o corredor que o síndico indicou e viu três portas. Uma estava de um lado e parecia ser de um cômodo enorme. Devia ser a suíte principal. Ao lado dela tinha um banheiro comunal e os quartos de hóspedes eram do outro lado do corredor.

Ela entrou no primeiro quarto, cuja porta dava de frente para a porta da suíte, e olhou ao redor, embasbacada. Seu quarto na casa dos pais era grande, mas esse era quase duas vezes maior.

Colocou a mala perto da cama e se despiu, decidindo descansar primeiro, depois iria arrumar suas coisas e explorar o lugar. Cansada, ela dormiu, acordando com uma tímida batida na porta. Olhou o relógio na mesa de cabeceira e deu um pulo, sentindo tontura.

— Merda! — resmungou. Eram três e meia da tarde e o porteiro dissera que a Sra. Becker chegaria por volta das quatro. — Já vai!

Levantou, cambaleando, e foi atender a porta. Melissa estava do outro lado, vestindo um macacão elegante e maquiada como se fosse sair.

— Desculpa te acordar, Cristal, mas a qualquer momento a Sra. Becker pode chegar, então...

— Tudo bem, eu vou me arrumar. Dormi demais. Tô pronta em quinze minutos.

— Boa sorte com isso. Eu demorei quarenta. — Ela riu.

Cristal apenas assentiu e correu para a sua mala, retirando uma calça jeans e uma blusa branca de manga longa. Correu para o banheiro, tomou uma ducha e voltou para o quarto para se arrumar. Decidiu deixar os cachos em um rabo-de-cavalo e não passou maquiagem. Calçou uma sapatilha e aspergiu seu perfume de fragrância cítrica.

Em menos de quinze minutos estava sentada no sofá da sala, ao lado de Melissa, que ficou impressionada com a rapidez da morena para se arrumar. Cristal apenas deu de ombros. Ela estava desleixada em comparação com a loira de 1,70 m, perfeitamente maquiada e com uma postura profissional.

Conversaram sobre suas famílias e carreiras enquanto esperavam. Às quatro em ponto, ouviram o elevador e logo a porta se abriu. Observaram entrar uma mulher que aparentava beirar os cinquenta anos de idade, muito elegante e segura de si. Sua postura era de mulher digna, profissional respeitada.

A mulher tinha a pele clara e os cabelos dourados naturais com algumas mechas brancas. Era alta, talvez da altura de Melissa, e tinha olhos verdes num tom mais escuro que os de Cristal. Ao olhar para ela, a jovem teve a impressão de já tê-la visto, mas não sabia de onde, pois a arquiteta não tinha fotos reveladas na mídia, era muito reservada e preferia trabalhar longe do foco das mídias sociais.

Atrás dela entrou um jovem magro, alto e usando óculos. Inicialmente, Cristal pensou que fosse seu filho, mas notou que o rapaz tinha traços orientais, nem de longe parecido com ela, que parecia mais uma alemã do que uma brasileira.

— Boa tarde. — Sua voz era suave e muito educada, apesar de impor autoridade. — Eu sou Heidi Becker. Não gosto que me chamem Sra. Becker, então podem me chamar de Heidi. — Ela se aproximou e as moças levantaram para cumprimentá-la. — Este é Roberto Hiroshi, o estagiário que trabalhará com vocês. Bem-vindas, Srtas. Albuquerque e Bernardes. Ou preferem ser chamadas de Cristal e Melissa?

— A senhora sabe nossos nomes? — Melissa perguntou, abobada. Obviamente ela era fã de Heidi.

— É claro, querida. Fui eu que escolhi vocês entre os vinte candidatos que passaram pela seleção inicial. Sentem-se, vamos conversar.

Roberto cumprimentou as duas e se acomodou no outro sofá. A mulher se sentou em uma poltrona. Os três estagiários pegaram seus blocos de notas e caneta.

— Muito bem. Para começar, quero deixar definido com vocês os horários em que iremos trabalhar. Todas as manhãs, das oito às onze e meia, e à tarde, das duas e meia às seis. Esse é o período que passarão comigo: sete horas diárias, cinco vezes por semana. São duzentas horas de estágio que serão acrescentadas aos seus cursos como créditos extras. Esse período entrará no currículo de vocês como curso, apesar de ser remunerado. Como sabem, vou escolher entre vocês aquele que será meu pupilo e trabalhará na minha empresa, tendo seu primeiro emprego assim que finalizar seu curso no fim do ano, ou no caso de Roberto, que conclui o curso em junho. Alguma dúvida?

Melissa levantou a mão.

— Seremos remunerados, mesmo? Porque o anúncio dizia apenas estágio.

Heidi sorriu.

— Sim, eu omiti essa informação para diminuir a quantidade de candidatos. Assim eu saberia que aqueles que se inscreveram para concorrer a essas vagas, o fizeram pelo conhecimento e não pelo dinheiro. Vocês se instalaram bem? — perguntou, interessada.

— Sim — Melissa respondeu. — É muito confortável aqui. Só posso agradecer pela hospedagem.

Heidi assentiu e olhou para Cristal.

— Cristal, você é sempre tão calada assim?

— Prefiro falar só quando necessário. As acomodações são incríveis. Eu dirigi até aqui, então estava cansada demais para explorar o lugar, acabei dormindo.

— Espero que descansem bem esta noite, pois amanhã mostrarei como um arquiteto acha inspiração para desenhar construções magníficas. Nessas primeiras semanas vou desafiá-los a desenhar projetos específicos sobre temas diversos, mas depois trabalharemos diretamente com uma engenheira para que vocês aprendam a trabalhar em conjunto, afinal, nós fazemos os projetos e cuidamos da aparência e espaços a serem utilizados, porém são os engenheiros que fazem os cálculos e avaliam a viabilidade de uma construção ou qualquer que seja o projeto. Quando vocês tiverem dominado essa parte, iremos a construções antigas aprender a fazer projetos de restauração que não firam a estética original, ao mesmo tempo em que deem um aspecto mais moderno aos lugares. Entendido?

Todos concordaram, animados. Passaram duas horas falando sobre o trabalho que teriam pela frente e Heidi mostrou o espaço a todos, explicando que trabalhariam no seu escritório, a algumas quadras de distância dali.

Sem que percebessem, a mulher observava a desenvoltura e personalidade de cada um deles enquanto conversavam sobre projetos, construções e estética. Diferente do que eles achavam sobre o jeito que uma mulher bem-sucedida e com um nome famoso entre os arquitetos seria, Heidi era dinâmica e simples, apesar de exalar a elegância de quem vive na alta sociedade.

Entre os três, a mais falante era Melissa, que demonstrava animação e ideias loucas. Roberto tinha o típico jeito rígido e eficiente dos orientais, era reservado e só falava quando interpelado. Cristal ficava no meio termo. Podia discorrer com paixão sobre um projeto ou sobre obras arquitetônicas conhecidas, mas também podia ficar calada por um longo período.

Depois de conhecer a área externa, com uma enorme academia e um jardim, e darem suas opiniões sobre a forma como o espaço foi projetado, Heidi falou que eles deveriam levar para o escritório, no dia seguinte, os projetos que já tivessem feito na faculdade, pois ela queria avaliar e mostrar o que podia ser melhorado.

A verdade é que o estágio já tinha começado e eles nem se deram conta. Heidi era boa em conduzir as situações para que observasse, discretamente, quem teria o perfil mais adequado para trabalhar com ela. Além disso, ouviu atentamente o que cada um disse a respeito da arquitetura do lugar onde estavam.

Eles não faziam a menor ideia de que ela mesma era a arquiteta daquele prédio todo. Passara seis anos planejando e trabalhando ao lado de outros dois arquitetos e uma dezena de engenheiros para que aquela construção ficasse, pelo menos, próximo da perfeição.

A empresa de seu marido era a proprietária daquele lugar, ele e seu sócio financiaram a obra, assim como várias outras. Não era à toa que projetara o apartamento daquela forma. Desde sempre planejou presentear seus filhos com dois apartamentos de cobertura, aquele e o de outro prédio no mesmo bairro. No final, apenas um deles se tornou o dono daquele imóvel e ela ficou com o outro.

Mas essa era uma história triste da qual não gostava de lembrar. Às vezes, os filhos simplesmente se tornam diferentes do que os pais sonham.

Heidi observou a morena cacheada de olhos verdes. Ela era alta, muito bonita e obviamente amava a carreira escolhida, mas havia por trás de sua expressão neutra uma tristeza profunda e enraizada. O quanto aquela jovem teria sofrido para chegar à maturidade que só era normalmente vista em pessoas mais velhas?

Ela a tinha escolhido entre tantos candidatos por um motivo. Além de seu talento soberbo, ela tinha algo que Heidi buscava. Algo que nenhuma outra pessoa no mundo poderia lhe dar, exceto, talvez, sua irmã Elise.

Sim, Heidi conhecia Elise e sabia que estava fora de alcance, pois tinha decidido viver em outro país. Contudo, era a sua irmã, a misteriosa Cristal, quem mais parecia precisar de um recomeço. Era ela quem representava o maior anseio de Heidi: redenção.

Isso era tudo que ela queria.

Redenção.

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