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23. O BEIJA-FLOR

(Diário da Cristal)

Às vezes é fácil demais se perder no meio de um mundo que parece encantado e esquecer de onde você veio ou quem realmente é.

Não estou dizendo que isso aconteceu comigo, mas agora entendo como as mocinhas dos filmes se sentem quando não pertencem ao mesmo mundo dos heróis. Eu sei, é uma analogia fraca. Até mesmo patética.

Faz semanas que estou tentando não sentir, não me deixar levar pelas ações dele e, até certo ponto, tenho conseguido me manter na zona segura, próxima e distante ao mesmo tempo. Faz semanas que tenho mentido para mim mesma.

Eu sei, não é nada demais. Sentir atração por um homem bonito é comum, certo?

O problema está em se deixar levar pela atração e permitir uma aproximação que fará nascer sentimentos. Acontece que eu sei muito bem como sentimentos podem machucar. Eles são perigosos e instáveis. E eu não sei lidar com eles.

Não posso me permitir sentir. Existem pessoas demais me lembrando que se eu permitir isso, sou eu quem mais vou sofrer depois.

Junho de 2024, 4am

Erick observou a morena cacheada sentada ao lado de David na mesa, enquanto seu pai fazia um discurso, tendo a ele e sua mãe ao seu lado no palanque. Eles não conversavam, o que era normal, dada a sua relação conturbada. Daniele estava do outro lado de David, falando sem parar com seu irmão, embora ele parecesse distraído demais com outra coisa para prestar atenção nela.

Cristal permanecia calada e séria, sem olhar para ele ou para qualquer outra pessoa. Parecia estar pensando em alguma coisa que exigia toda a sua concentração.

Ele viu quando ela abriu a bolsinha presa em seu pulso e tirou um celular. Ela olhou a tela, sua expressão ficando cada vez mais irritada, e sua pele parecia mais pálida que o normal. Seus lábios formaram um palavrão e ela jogou o celular de volta dentro da bolsa.

Quando seu pai terminou de falar sobre os avanços que os projetos da empresa estavam trazendo para os países de terceiro mundo e como era importante a presença e apoio de todos os que estavam ali, o jantar finalmente começou a ser servido.

A família Schmitz tomou seu lugar à mesa com Cristal, David e Daniele. Erick estreitou os olhos quando seu pai começou a puxar assunto com Cristal, considerando que ele deixou claro sua desaprovação a qualquer relacionamento entre eles. Cristal, por sua vez, parecia extremamente incomodada com a atenção de Edgar sobre ela, e Erick tinha certeza que era pelo fato de ele ser uma versão mais madura de Kevyn na aparência.

— Então, Cristal... — falou Edgar. — Você disse que sua irmã mora na Itália. Qual a profissão dela? Onde ela mora exatamente?

Ela o encarou com dificuldade. Erick tinha que admitir que era corajosa.

— Elise mora em Roma, está fazendo estágio no museu Palazzo Massimo. É formada em História, pós-graduada em Museologia e está terminando um mestrado em Civilizações Antigas. Ela almeja alcançar a carreira de curadora. Também sabe restaurar artefatos e seu noivo é um artista e empresário que está começando a fazer carreira como pintor, desenhista e escultor. Eles moram com Andreoli Marchetti, atualmente um dos maiores artistas da Itália.

— Marchetti? — Daniele interpelou, surpresa. — Da multinacional de tecnologia Marchetti?

— Sim. Andreoli é o melhor amigo do meu irmão Aquiles e do meu cunhado Julian.

— Então o teu cunhado seria Julian Brandão Alves? O herdeiro e sócio das lojas de seu pai e um dos mais novos empresários de destaque no país nos últimos anos?

Cristal piscou, vendo a expressão admirada da outra.

— Você parece saber muito sobre empresários. É um hobbie, ou simplesmente curte ler revistas de celebridades empresariais?

Daniele ficou escarlate.

— Eu apenas sou uma mulher bem informada.

— Então é a segunda opção. E respondendo à sua pergunta, sim, Julian Brandão Alves é o noivo da minha irmã.

Edgar pigarreou.

— E você? Depois de acabar seu estágio, o que pretende fazer?

— Trabalhar. — Ela foi concisa. — Mesmo que eu não seja a profissional escolhida por Heidi, tenho certeza de que ter estagiado com ela nesse último mês abrirá portas para que eu consiga um emprego em outra empresa. Além disso, pretendo continuar cuidando da minha formação. É sempre importante ter mais estudo.

David riu. Quando todos olharam para ele, deu de ombros e disparou:

— Você soa exatamente como Erick. "Estudar é o mais importante. Quanto mais estudo, mais capacitação". Bom, eu tive a minha cota de estudos e agora só quero focar em trabalhar para que a minha empresa cresça e fique mais forte nesse mercado cheio de tubarões. Me julguem se quiserem.

— Ninguém aqui te julgaria, David. — A voz de Erick soou dura. — Todos temos nossos métodos de organizar nossas carreiras. Eu, mamãe e Cristal prezamos pelos estudos contínuos. Você, papai e Daniele concluíram seus estudos e são focados apenas em seus trabalhos. Não há nada de errado com isso, nós simplesmente acreditamos em continuar aprendendo e reciclando o que já sabemos.

— Bem colocado, meu filho — opinou Heidi. — Todos aqui somos bons no que fazemos, não importa a forma como conduzimos nossas carreiras. Não quero bajular, vocês sabem que não sou esse tipo de pessoa, mas Cristal é a melhor acadêmica de seu curso, tem um potencial enorme e é soberbamente talentosa, por isso eu a escolhi para trabalhar comigo. Creio que todos aqui concordarão que uma mulher que busca sua independência tem muito valor.

— Com certeza — concordou Erick, olhando para a morena de olhos verdes e rindo ao ver que estava vermelha como um tomate. — Não precisa ficar envergonhada, querida. Tudo o que mamãe diz é exatamente o que ela pensa.

Daniele olhou de Erick para Cristal com o cenho franzido. Obviamente, não gostou da forma carinhosa com que ele a chamou. Cristal fingiu não ver que Daniele a fuzilava com os olhos e David havia baixado a cabeça, apertando os maxilares com tanta força que ela pensou ter ouvido seus dentes rangerem.

Edgar parecia disposto a fazer Cristal falar, pois continuou perguntando sobre sua família e o que ela pensava sobre determinados assuntos. Depois de falar sobre a profissão de seu pai e sua mãe, os tópicos foram se modificando enquanto jantavam.

Falaram de política, as guerras no Oriente Médio, fome na África, projetos beneficentes e até sobre a experiência dos dois homens mais novos na clínica de oncologia pediátrica. Erick contou sobre o fato de Cristal ter cortado seu próprio cabelo para fazer uma peruca para a garotinha que venceu o câncer, e assistiu as expressões de todos ficarem abismadas, enquanto ela só ficou mais corada e disse que não era grande coisa.

A noite ia relativamente bem, quando Daniele levantou um tópico polêmico e desagradável, no finalzinho do jantar.

— Acho bárbara essa ideia das mulheres que lutam pelo direito ao aborto. Matar uma criança inocente porque não se preveniram? Isso é ridículo.

— O grande problema aqui é sobre as mulheres que sofreram abuso sexual, sobre se elas podem ou não interromper uma gravidez a que foram forçadas — argumentou Heidi.

— Ora, que tenham e depois deem para adoção! Tantos casais que gostariam de ter filhos e não podem!

— Mas isso é a base da discussão — replicou Erick. — Algumas pessoas são contra, não importam as circunstâncias, e outras são a favor.

— O que a Dani está apontando é sobre aquele pensamento: "meu corpo, minhas regras". Eu não sou mulher, não posso imaginar como elas se sentem com relação a isso, então prefiro não opinar — declarou David.

— É, mas se derem o direito para as mulheres abusadas, as outras que engravidaram por não tomar cuidado vão encontrar uma brecha para fazer isso legalmente. Por mim, continuaria sendo crime. Mas e você, Cristal? Está tão calada, não tem uma opinião sobre o assunto?

Cristal pigarreou, desconfortável.

— Não cabe a mim dar opinião. Minha família é evangélica, então todos são firmemente contra. Eu não fico pensando sobre isso, na verdade.

— Como pode dizer isso? — Dani a olhou com os olhos arregalados. — São criancinhas. Querendo ou não, mulheres que fazem isso são assassinas.

Cristal ficou tão pálida que parecia doente. Suas mãos começaram a tremer e seus olhos ficaram marejados.

— Cristal? Você está bem, querida? — Heidi perguntou, preocupada.

— Eu... desculpem, eu preciso tomar um ar.

Ela levantou rapidamente e saiu, meio cambaleante, em direção ao terraço.

— O que aconteceu? — Daniele questionou, confusa.

Todos os outros na mesa se entreolharam em entendimento. Tinham uma boa ideia do que tinha acontecido. Até David já sabia quem era Cristal e a ligação de sua família com os Schmitz, então não era difícil chegar à conclusão de que a moça ficou abalada pelo uso da palavra "assassinas", afinal, não era Kevyn o assassino que aterrorizou sua família?

— Eu vou ver como ela está — disse Erick, já se levantando.

— Não acho prudente, filho — contrapôs Edgar. — Nesse momento, eu duvido que fará algum bem ela ver qualquer um de nós.

— Eu posso ir — ofereceu David, a contragosto.

— Vocês se dão tão bem quanto o leão e a gazela — retrucou Erick. — Ela não iria aceitar tua aproximação. Vamos dar um tempo e, se ela não voltar, eu vou. Somos amigos agora, ela não vai se afastar.

— Leão e gazela, hum? — David sorriu sarcasticamente. — Gostei da analogia.

— Só para ficar claro, amigo... — Erick riu. — Você é a gazela.

David fez uma careta e os outros riram.

— Se eu sou uma gazela, você é o que? Um coelhinho fofinho?

— Bom, sabemos que coelhos são muito bons em procriar. Ou pelo menos adoram tentar.

— Erick! — Heidi estava vermelha ao olhar para seu filho. — Isso é jeito de falar? Tem damas na mesa.

Ele deu de ombros.

— Não falei nada demais. — Levantou-se e fechou os botões do terno. — Eu vou lá ver como Cristal está.

— Você não ia dar um tempo primeiro? — perguntou Daniele, parecendo irritada.

— Mudei de ideia.

Com isso, saiu da mesa e se encaminhou para o jardim do terraço, onde ela provavelmente estaria.

Ele estava certo. Mesmo na penumbra do jardim, o vestido vermelho se destacava. Além disso, ainda que não pudesse vê-la, ele reconheceria o seu cheiro, uma fragrância cítrica que potencializava o frescor doce de sua pele. Era um perfume marcante.

Ela estava sentada, olhando fixamente para um canteiro de flores vermelhas vibrantes. Ele se aproximou e sentou ao seu lado.

— Veja, é um beija-flor — ela sussurrou, ainda encarando as flores.

Ele olhou com atenção e percebeu o pequeno pássaro com o bico fino e longo, voando rapidamente entre as flores. Ele mal era visível e sua velocidade o tornava mais difícil de observar.

— Ele é lindo. Não sabia que eles existiam aqui.

— Papai disse que eles podem ser transportados para estudos, junto com as flores que mais os atraem. Essas são hibiscos. Tem outros nomes antes, mas termina com hibisco. Provavelmente algum biólogo trouxe um beija-flor que pôs ovos para cá, então os filhotes nasceram e continuaram a se reproduzir. Ele é tão lindo. Tem um lugar, perto de onde meus avós maternos moram, onde é bem fácil ver essas criaturinhas incríveis. Eu acho que tive sorte de encontrar esse aqui.

— Sim, mas eu não diria que foi sorte. Você atrai todos os tipos de seres incríveis, porque você é incrível, Cristal. Se existisse magia, cada personagem da fantasia seria atraído até você.

Ela o olhou de esguelha.

— Ah, Erick... Você fala umas coisas tão...

— Românticas? — ele a interrompeu.

— Piegas — ela corrigiu. — Sério, você consegue ser muito meloso. Não é à toa que se tornou amigo da Elise e do Julian. Nunca vi um casal mais meloso que eles.

Ele riu e o som gutural causou um arrepio bom nela.

— Você pode fingir que não gosta de romance, mas eu sei que lá no fundo você é tão romântica quanto a tua irmã.

A expressão dela endureceu.

— Você não sabe nada sobre mim, Erick. Nada que realmente importa.

— Tem razão. Porém estou aqui agora, então por que não me conta mais sobre você, Cristal? Quero te conhecer. A verdadeira Cristal, não essa mulher fechada que se esconde do mundo por trás do sarcasmo.

Ela ficou tensa, era impossível não perceber.

— Você pode não gostar dessa Cristal, Erick. A imagem que você criou de mim na tua cabeça é bem mais fácil de aceitar, bem mais fácil de gostar. A verdadeira tem muitas coisas feias por baixo da superfície.

— E quem não tem? Você é muito dura consigo mesma, querida. Não existe ninguém perfeito. Eu não sou perfeito, por que iria querer que você fosse? Não se esqueça de quem sou e com quem eu cresci. Eu conheci a maldade pura, Cristal. Nenhum defeito teu pode ser tão ruim quanto isso.

— Mas e se for? — Ela se virou para ele. — E se houver um lado meu tão obscuro, tão perverso quanto o mal com que você conviveu?

Ele balançou a cabeça negativamente e levantou a mão para acariciar o rosto dela.

— Você pode ter um lado obscuro, todo mundo tem, mas essa não seria toda você. Não existe maldade no teu olhar, nem crueldade. Você não se diverte infringindo dor a outras pessoas. Não importa quão má você se ache, jamais será como ele, Cristal. E eu gosto de você exatamente assim, com qualidades e defeitos. — Ele olhou para o beija-flor novamente. — Sabe o que eu e esse beija-flor temos em comum?

— Nem imagino.

— Como ele se sente atraído por essa flor e voa ao redor dela buscando néctar, assim eu me sinto quando estou perto de você. O teu perfume me atraí, teu olhar me envolve em um laço tão apertado que é impossível de escapar. Você me hipnotiza, Cristal. Eu me movo ao teu redor, ansiando por você, por provar o mel dos teus lábios. — Ele segurou o rosto dela delicadamente entre as mãos. — Eu quero...

Erick não terminou de falar. Seus lábios capturaram os dela em um beijo doce, todo o desejo reprimido das últimas semanas finalmente tendo vazão quando provou o sabor dos lábios carnudos, macios e quentes.

Uma de suas mãos deslizou para a nuca dela, trazendo-a para aprofundar o beijo. Sua língua acariciou a dela de um jeito tão experiente e natural, como se tivessem se beijado por toda a vida. Era um beijo voluptuoso, como ela nunca sentiu. Foi ficando mais intenso, até que ambos arquejavam, respirando com dificuldade.

Cristal emitiu um baixo gemido, levantando uma mão para mergulhar os dedos entre os macios fios loiros dele. Contudo, quando ele baixou a outra mão de seu rosto e levou o braço para enlaçá-la pelos ombros, trazendo-a firmemente para si, ela recuou, um olhar de pânico em seu rosto.

— Eu não posso.

— Cristal...

— Não, Erick! Você não entende, nunca poderá entender. As feridas são profundas demais. Elas não fecham, não cicatrizam.

— Querida, toda ferida cicatriza, mesmo que demore, mesmo que seja doloroso, ela cicatriza. Se as tuas feridas emocionais estão abertas, elas vão se curar em algum momento. Por favor, Cris, me deixa ajudar a te curar. Me deixa te amar até você esquecer de tudo que te faz sofrer. Você não precisa sentir essa dor sozinha.

Lágrimas incontroláveis começaram a cair no rosto dela. A maquiagem era à prova d'água, mas seus olhos e nariz logo ficaram vermelhos. Ela negou com a cabeça, soluçando.

— Não há nada que você possa fazer, Erick. Sinto muito, mas não posso corresponder aos teus sentimentos. Por mais atraída que me sinta por você, existem certas coisas que simplesmente não dá para superar. Sinto muito mesmo.

Ele a abraçou, fazendo o rosto dela descansar em seu peito, arruinando seu terno caro com lágrimas.

— Shh... tudo bem, querida. Eu entendo que você não esteja pronta, mas estou disposto a esperar até que você queira seguir em frente. Eu realmente gosto de você e não quero desistir.

— Você vai esperar em vão, Erick. Melhor desistir, eu não vou mudar de ideia.

Ele puxou seu rosto e a segurou suavemente pelo queixo, dando-lhe um selinho.

— Bom, então isso vai se tornar um desafio, porque eu também não vou desistir nem mudar de ideia. Acostume-se, querida.

Eles ouviram passos vindo em sua direção. Olharam para trás e viram David caminhando com segurança até eles.

— Bom, parece que os pombinhos se acertaram — disse com azedume. — O Sr. Schmitz insistiu que eu viesse te chamar, Erick. Ele quer te apresentar a alguns investidores ou empresários, não sei e não importa.

Erick suspirou e levantou.

— Você vem, Cristal?

— Não. Vou ficar mais um pouquinho admirando o beija-flor.

Ele beijou seu rosto e murmurou em seu ouvido:

— Pode demorar, pode ser difícil, mas eu vou te fazer ver que pode ter um recomeço comigo.

Ela não respondeu. Seus olhos encontraram os olhos cor de ônix de David, encarando com tamanha intensidade, que ela ficou sem fôlego. Havia neles uma mistura de raiva, desejo e dor que a confundiu.

E mesmo quando Erick se foi, David não desviou o olhar. 

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