Epílogo
Jack
Olá diário,
O dia começou mais frio naquela manhã, tanto que eu, Mônica e Eric começamos a revirar a casa à procura de casacos ou cobertores.
É claro que fracassamos, ali haviam apenas cacos de vidro, tábuas e ferramentas. O que me fez questionar à quanto tempo aquilo não recebia moradores,afinal,qual era a história daquele lugar que abrigara- nos até então?
Desci as escadas e encontrei meus companheiros no andar de baixo, encostados na parede, abraçando a si mesmos numa tentativa de afugentar o frio.
-E ai?-Mônica perguntou receosa.
-Nada. -Eu disse e ela pareceu claramente desapontada.
O frio repentino estava deixando as pontas dos meus dedos brancas, o ar fétido e podre fazia - me coçar o nariz a todo o momento.
Ao meu lado, Mônica suspirou:
-Quando vamos sair daqui?!-ela resmungou mais para si mesma, encostando a cabeça na parede.
Não pude evitar suspirar também, andando em direção ao andar de cima, rumo a minha mochila, esfomeado.
+++++
Dália
Oi diário,
Eu acordei com barulhos de ferramentas.
-Vejam quem acordou!-Rony me olhou de cima a baixo, ele tinha um brilho excepcional nos olhos naquela manhã.
Limitei - me a olha -lo,brava. Ajeitei-me o melhor possível e me sentei.
-Sabe que dia é hoje?-Ele continuou, e, ao proferir essas palavras, pude ver um sorriso diabolicamente grande surgir em seu rosto sujo.
Eu não precisei responder, o calafrio que me subiu a espinha já dizia tudo.
++++
Jack
Eu caminhava tranquilamente ao redor da casa abandonada, a faca roçando minha pele por baixo da camiseta,quando vi ao longe,duas figuras familiares.
De fato, não tardei a ouvir:
-Dália! -Pude ver a loura de cabelos bagunçados correndo em direção à garota que, ao ouvir seu nome, levantou a cabeça.
Mas, com certeza, o que me chamava atenção era o garoto que caminhava ao seu lado com o peito estufado.
-Rony? -ouvi Eric dizer perto de mim.
Por alguns instantes fiquei sem reação, mas logo comecei a caminhar em direção a eles também.
++++++
Nós nos sentamos em um círculo para almoçar, peguei minha mochila e tirei de lá um dos lanches de presunto que trouxemos da escola.
Mônica se sentou ao lado de Dália e deu-lhe o vigésimo Abraço desde a sua chegada.
-sabem de uma coisa?-ela disse sorrindo - estou tão feliz que os dois tenham voltado, eu já começava a perder as esperanças.
Dália e Rony responderam com sorrisos de canto de boca.
Eric fez uma pausa entre uma mordida e outra e disse:
-Afinal, onde vocês estavam?
Dália levou uma das mãos à boca e gesticulou que estava com a mesma cheia, então disse:
-Eu me perdi e Rony me encontrou na floresta, ele não sabia onde estávamos, mas estava ficando em um barracão de madeira perto daqui. -nós assentimos.
Voltamos a comer calmamente, a verdade é que nada havia mudado, realmente. A presença deles não mudava nada.
++++
O dia não demorou de passar, logo nós escalávamos as árvores para dormir, Mônica e Eric ficariam na guarda hoje,apesar de eu ter insistido várias vezes que era meu dia.
Eu não queria discutir, estava cansado, e não sabia o quanto aquilo me custaria.
Eu adormeci rapidamente, mas acordei pouco tempo depois com gritos e correria.
Assim que minha visão se ajustou ao ambiente escuro eu me dei conta de quem estava na minha frente, encarando-me, perto demais.
Eric me chacoalhava como nunca,gritando meu nome:
-Acordei, acordei! O que foi?-disse, me ajeitando sob as cordas.
Ele não respondeu, apenas começou a me desamarrar, o que me fez entrar em desespero. Quando terminou,disse,respirando profundamente:
-Rápido, VAMOS!
Por um momento eu achei que fosse cair da árvore, então a desci depressa e comecei a correr seguindo Eric,eu não fazia ideia do que se passava.
Entramos na floresta e ele disse:
-Precisamos fugir, ele quer você!
-Ele quem?-eu falei, franzindo a testa.
-Rony! Quando você dormiu ele pirou, pegou minha arma e começou a ameaçar todos nós! Disse que era nossa culpa, que éramos desgraçados egoístas.
Meus olhos se arregalaram no escuro, como pude ser tão cego?
Sabia que aquela história estava confusa demais, sabia que havia mais alguma coisa por trás daquilo tudo.
Der repente, algo me veio algo memória, com um susto, disse:
-Onde estão as meninas? -Eu pronunciei pausadamente, sem querer deixando transparecer toda minha agonia.
-Então... -Ele começou - Dália, ela... Faz parte disso tudo.
-Ela O QUÊ?-Aquilo me atingiu em cheio,se era assim,Mônica devia correr mais perigo do que eu pensava - E Mônica,onde está?
-Eu... Eu não sei. -ele baixou a cabeça ao finalizar a frase.
Agora eu havia parado de correr, ficara petrificado. Mônica estava em perigo, se é que já não estava morta.
Imaginei seus cabelos louros cobertos de sangue, suas roupas sujas pela terra e desgastadas pelo tempo manchadas de vermelho. Suas mãos pálidas sem vida, seus olhos vidrados. Eu não deixaria que aquela visão se tornasse real.
-Precisamos acha-la, rápido. -me adiantei, já começando a andar na direção oposta.
-Jack, está maluco? -Os olhos de a Eric espiavam ao redor, espertos. -Ele está armado!
Eu já sabia daquilo, mas, Mônica era a única família que eu tinha, eu me arrependia de não ter feito nada quando minha mãe morreu, isso não se repetiria.
-Eu sei disso. -saí dali tão rápido quanto cheguei.
Eu corri, corri como nunca antes, temendo que fosse tarde.
Não encontrei nenhum zumbi no caminho, bom, eu já tinha problemas o suficiente.
Cheguei à porta da cabana com os dedos tão gelados quanto estavam durante a manhã. Eu não havia reparado o quanto o vento estava gelado até correr e senti-lo contra meu rosto.
Quando olhei para dentro da cabana fiquei tenso, Dália estava de costas, empunhando uma faca, e Mônica estava no chão, rastejando para trás e gritando para que a amiga não fizesse aquilo. Dália só conseguia pedir desculpas.
Eu estremeci, não por medo, mas pelo que teria de fazer,teria que tirar Dália dali,e não havia um jeito fácil.Eu sempre fui contra bater em mulheres.
Andei devagar e fiquei perto o bastante para que pudesse tapar sua boca, passando o braço pelo espaço entre seu pescoço e sua cabeça.
-hummmmmm!!!-ela não tentou reagir, tirei a faca de suas mãos e só então percebi que ela chorava. Ela não pareceu se importar em se render, como se lhe estivesse fazendo um favor.
Sinalizei para que Mônica saísse dali e ela obedeceu sem perder tempo.
Ajoelhei e peguei uma corda perto de mim, amarrei-a numa das pilastras da casa e saí logo do dali, carregando sua faca. Não tinha tempo para mordaças, Rony ainda estava por aí.
Logo avistei Mônica correndo, aumentei a velocidade e senti os músculos das minhas pernas ardendo, nunca fui atlético.
Corri até alcança-la, tocando sua mão para mostrar que estava ali.
Nossa alegria de "estamos-fugindo-e-não-voltaremos" durou pouco,pois logo ouvi tiros,não muito distantes dali .
Imediatamente pensei em Eric, que estava sozinho, na mata, e senti impotência maior que qualquer outra.
Ainda corríamos, sem rumo, pisamos em poças, batemos as cabeças em galhos, e então, viramos uma esquina, mas nunca deveríamos ter o feito.
Logo ali, um pouco mais a frente, estava Rony,molhado,enlameado,e tinha feições que denunciavam sua paranoia, maluquice,ou seja lá o que for. Mas era certo que tinha raiva, seus olhos o entregavam.
Ao meu lado,Mônica deixou escapar um pequeno grito de surpresa.
Nós tentamos correr, mas Rony foi mais rápido, agarrou Mônica,deitando-a para trás ,como se estivessem dançando valsa.Teria sido lindo,se ele não tivesse apontado a arma para sua testa logo em seguida.
Ela lutou para se libertar, mas ambos sabia-mos o quanto Rony era forte.
Ele se virou para mim, e eu não saberia descrever como sua expressão era trágica, não tenho palavras para explicar o ódio que via.
-Você matou quem eu amava, Jack!-ele gritou e, observando-o pude ver como tremia de frio. -E agora eu darei o troco!-ele estava cuspindo as palavras como se tivesse nojo de suas lembranças - ficará sozinho! TANTO QUANTO EU!
Ele ia atirar, sabia que não me daria tempo para discutir, eu não tinha tempo, não sabia o que fazer, não pensei na faca que estava em minha cintura, só pensei em uma coisa, e assim fiz.
Joguei-me na frente da arma, pude sentir o calor de Mônica contrastando com os dedos gelados de Rony.
PAWN!
———-Game Over!——
Replay ———- Créditos
-Droga! Sabia! -Deixei o controle de lado no sofá.
Levantei-me e olhei para o relógio, passei mais tempo do que pensava ali, peguei a mochila e gritei um Tchau para que meus pais ouvissem.
Cheguei ao colégio pouco antes de soar o sinal, passei apressado por um grupo de atletas conversando.
Distraído, acabei por tropeçar no pé de um dos jogadores de futebol, olhei para cima, reconhecendo-o como Rony, um cara nada humilde que jogava no time.
-Ei, se liga! -ele levantou pouco a voz.
-desculpe. -murmurei bastante baixo.
Saí andando. Ao longe, pude ouvir ainda:
-aff. -um murmúrio que se prolongou nos lábios de uma líder de torcida, seu nome era Dina.
-Quem era esse? -perguntou um cara de jaqueta preta,se não me engano,chamava-se Eric, mas ninguém sabia muito dele.
-E eu é que sei?!-Respondeu uma loura alta.
Sua amiga, uma Tal de Dália, apenas deu de ombros.
E eu apenas segui pelo corredor de paredes rachadas.
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