[90] Ada Ada
Jungwon passou por uma das situações mais sublimes e intensas da sua vida. Nem mesmo as batalhas mais ferozes que vivenciou, foram tão enérgicas quanto aquele momento. O sentimento era de que não foram apenas 4 ômegas que nasceram, mas também três pais.
Os únicos que se juntaram a eles foram Eunji, Sarah, Hyun e Zoe, os demais correram para iniciar uma grande farra, que posteriormente teriam de trabalhar em dobro para limpar.
— Gostaria de tomar um banho, mas estou exausto — Jungwon lamentou.
— E você tem dois alfas pra quê? — Lian sorriu para ele, indicando que ambos poderiam banha-lo.
— Mas e as meninas?
— A gente fica com elas — Eunji prontificou-se. Ela e os outros já estavam ao redor da cama onde as ômegas se encontravam. — Eu posso segurar?
— Eu também quero. — Hyun e ela estavam encantados com o quão fofas eram as ômegas.
— Só precisam ter cuidado, elas são muito delicadas e não conseguem manter o pescoço firme. — o médico aconselhou. — Vou repassar com a Corty a alimentação delas.
— Eu ajudo. — Zoe foi junto, visto que sempre ajudava a cozinheira quando a mesma descobriu que ela tinha boas mãos para o ofício.
Enquanto isso, Jay e Lian preparavam um banho quente e relaxante para seu ômega. Eles o ajudaram a limpar seu corpo cuidadosamente, então Jungwon vestiu uma roupa confortável para curtir o momento com suas filhas, mas ele não conseguiu. Estava tão cansado que adormeceu no momento em que foi posto na cama.
Durante o tempo em que repousava, Lian e Jay alimentaram as quadrigêmeas com o apoio de Hyun e Eunji. Mais tarde, ficaram apenas os alfas velando o sono de Jungwon e das meninas. Quando o ômega despertou, encontrou os dois tentando se comunicar com as filhas.
— Seus olhos são lindos, iguais os do papai — Lian falou com Nina e Suri, cujos olhos herdaram a genética do outro alfa.
— Não fala isso na frente delas — Jay se referiu a Izzy e Aria. — Elas podem não gostar.
— Mas é claro que minhas princesinhas são lindas também — Lian foi para o outro lado das meninas.
— Todas lindas — Jay confirmou. Ele sorriu quando Izzy segurou seu dedo com firmeza. — E você é bem fortinha, né?
— Falem assim; pa — Lian induziu —, pai. Papai.
— Pa-pai. — O outro também tentou.
Ambos voltaram-se na direção de Jungwon quando ouviram ele rir. O ômega sentou na cama esticando os braços, depois explicou para os dois:
— Eu acho que elas são muito novinhas ainda pra falar qualquer coisa.
— Por que?
— Não sei.
— Com que idade Taesung e Eunji começaram a falar? — Lian perguntou a ambos.
— Eunji falou com um aninho. Ela tentou falar água.
— O Taesung só falou com quase dois anos. Até nisso ele deu trabalho.
— Não fale assim — Jungwon o repreendeu. — Ela é uma lúpus, isso faz diferença.
Dito isso, os três observaram as bebês, pensando se alguma delas tinha herdado o genes lúpus do ômega. No entanto, apenas o tempo daria a resposta. Em média, os pais só ficam sabendo quando a criança atinge a marca dos 4 anos de idade.
Com dois pais sendo alfas comuns, a chance para que elas fossem lúpus era muito baixa, mas isso não mudaria o fato de que seriam muito amadas e protegidas.
🏴☠️
O médico havia aconselhado o Capitão a aguardar um pouco até que se cumprisse seu puerpério com tranquilidade. Jungwon aceitou o conselho do mesmo. Os ataques a navios mercantes só voltaram a ser feitos alguns meses após o nascimento das quadrigêmeas.
Com cerca de 8 meses, elas estavam sentadas na popa da embarcação, brincando de jogar uma bolinha para a outra. De repente, a bola deslizou para longe e elas começaram a chorar.
Seus pais alfas correram prontos para atender ao pedido desesperado de suas pequenas, mas Jungwon foi mais rápido e agarrou a bola cerca de dois metros de onde elas estavam. Ele apoiou um joelho no chão e exibiu o objeto para as filhas, quando perguntou:
— Minhas florzinhas querem a bolinha? — Elas bateram palminhas e sorriram animadas. — Então venham buscar.
— Deixa de ser malvado, dá a bolinha pra elas — Jay entrou em defesa.
— Apenas assista. — Jungwon não se incomodou. — Venham meus amores, papai tá aqui esperando com a bolinha.
As meninas observavam, curiosas, a medida que o ômega se comunicava com elas, com palavras doces e gentis, incentivando-as a tentarem ir pegar o objeto ao invés de ficarem sentadinhas esperando.
Jungwon viu o Capitão Jeon fazendo o mesmo com Eunji e sabia que também fez consigo. Embora não tenha utilizado uma bolinha, mas uma pistola… contudo, a intenção dava na mesma, encorajar as bebês a darem seus primeiros passinhos.
Nina e Izzy apoiaram as mãos em um engradado de madeira para ficar de pé, Suri e Aria fizeram o mesmo. Quando elas deram alguns passos incertos na direção da tão cobiçada bolinha, Jay correu para ampará-las caso caíssem, os olhos de Jungwon estavam brilhando enquanto Lian assistiu igualmente admirado.
A primeira a chegar foi Nina, ela recebeu a bolinha, um beijo e um abraço do ômega, as demais também, com exceção da bola. Evidentemente, Jungwon não deixaria suas outras filhas de mãos abanando, e já estava pronto para oferecer outro objeto para elas brincar.
— Papai tem outro brinquedinho pra vocês… — disse, segurando o cabo das armas.
Antes que ele pudesse entregar os objetos, Lian precipitou-se para impedi-lo de fazer. Ele indicou, movendo a cabeça, mostrando que Jay estava de olho neles.
De fato, Jongseong não tirava os olhos das meninas, pronto para impedir qualquer ato que considerasse perigoso para elas.
— Brinquedos seguros e sadios… — o ômega completou, sorrindo para ele, cheio de astúcia.
Lian compartilhava do mesmo pensamento que Jungwon. Para ambos, quanto mais cedo as gêmeas iniciassem suas atividades em tudo o que se refere a pirataria, melhor seria para seu aprendizado. Elas já viviam cercadas por tudo aquilo, precisavam entender o mundo ao qual pertenciam e fazer parte dele efetivamente.
— Aconteceu algo terrivelmente trágico na proa. — Gutemberg informou ao Capitão e o contramestre. Ambos aguardaram ele continuar, mas o pirata demorou um pouco antes de prosseguir com cautela: — Acho que a âncora quebrou…
— Impossível! — Jay sobressaltou.
— Então… — Gutemberg desviou o olhar.
— Espero que esteja errado.
O contramestre foi seguido pelo pirata quando ambos se direcionaram até a proa, Com isso, Lian e Jungwon sorriram cheios de ideias e levaram as meninas para dentro da cabine, onde poderiam realizar suas presepadas sem o olhar cuidadoso de Jongseong.
Enquanto isso, o contramestre averiguou a âncora e constatou que o aparelho realmente estava danificado. Gutemberg permaneceu por perto para assistir a comoção, enquanto Tony e Corty davam suas explicações ao superior.
— Eu pensei que podia usar esse óleo na manutenção, mas aí o cabo endureceu… — Tony sorriu nervoso.
— Eu disse pra não usar — Corty cruzou os braços.
— Mas quando você foi consertar só piorou a oxidação.
— Língua de trapo! Eu tentei te ajudar.
— Estão há anos nessa tripulação e ainda não sabem como funciona a manutenção de uma âncora?
— Me disseram que se usar esse óleo o serviço fica mais rápido. — Na realidade, ninguém havia dito isso, Tony imaginou que daria certo, mas obviamente estava errado.
— Onde está a mecânica?
— Deve tá proseando com seu irmão. — Corty supôs.
— Chamem ela pra verificar a âncora. Rezem para que ela saiba como resolver isso porque se não eu vou amarrar os dois em um cabo e os lançar no mar, para que se agarrem as pedras no fundo do oceano pro Luna ancorar.
Dito isso, o contramestre se retirou. Antes de ir em busca da mecânica, Corty e Tony ficaram um pouco pensativos, tentando identificar quanto tempo eles conseguem prender a respiração.
Quando repentinamente abriu a porta da cabine, Jongseong passou os olhos rapidamente por sua extensão, buscando indícios de que seus companheiros e suas filhas estavam aprontando alguma, mas o Capitão estava em sua mesa com uma das meninas, enquanto Lian se encontrava na cama brincando com as demais.
— Tudo certo com a âncora? — Jungwon perguntou após seu alfa se aproximar da mesa.
— Sim, temos outra de reserva.
Jungwon riu, imaginando que aquilo significava que seu contramestre ameaçou algum pirata caso o aparelho não fosse consertado.
O alfa observou a pequena Izzy sentada em cima da mesa, enquanto o Capitão consultava algumas informações no itinerário que roubaram de um navio mercante alguns dias atrás.
A ômega estava brincando com uma caneta de pena. Jay manteve um sorriso no rosto enquanto ela movia o objeto no ar, de um lado para o outro. De repente, Izzy expressou algo pela primeira vez, fazendo o alfa alargar o sorriso, ainda mais encantado.
— Ada, ada, ada!
— Vocês ouviram isso? — Jay inclinou-se mais perto da filha e tentou se comunicar com ela, dizendo o mesmo que ouviu anteriormente: — Ada, ada?
Por outro lado, Lian e Jungwon trocaram olhares desconfiados, com sorrisos nervosos, fingindo não entender o que a pequena ômega estava tentando pronunciar.
Acontece que, momentos atrás, ambos estavam brincando junto as meninas com as adagas de Jungwon. Izzy tentou pronunciar o nome da arma enquanto manuseava a caneta.
— Ada… — E Jay continuou tentando compreender o que a menina dizia. Até que finalmente ele entendeu, pela forma que ela segurava a caneta. — Ada… adaga?
— Não. É claro que não… — Jungwon segurou a filha nos braços e disfarçou. — Ela disse papai. Não foi, Izzy? Diga: papai.
— Ada, ada! — A neném mexeu animada.
— Claramente ela disse papai. — Lian opinou da cama.
— Papai… — Jay refletiu. Embora não tenha entendido o mesmo, aceitou o consenso visto que a maioria pensava igual.
Logo, sua expressão de incerteza foi dando espaço a um sorriso contagiante quando ele caminhou até as outras, na expectativa de ouvir Nina, Suri e Aria falando “papai” também.
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Na madrugada do dia subsequente, todos na embarcação dormiam tranquilamente, com exceção daqueles que foram designados a estarem de vigia na cesta do mastro.
Mas o silêncio na cabine deu lugar aos murmúrios de Nina, quando a bebê acordou incomodada com algo. Logo, o seu descontentamento foi marcado pelo início de um choro que foi acordando suas irmãs gradativamente.
A choradeira despertou os pais, que dormiam tranquilamente. Como sempre, os três se levantavam quando todas estavam chorando de uma vez, e se desdobravam para atender as demandas que as meninas necessitavam.
Prontamente, as gêmeas estavam satisfeitas após serem acalentadas. Logo todas voltaram a dormir, mas agora estavam confortavelmente aninhadas na cama de casal, com seus amados pais.
Assim que amanheceu, algumas horas depois, Jungwon já foi logo sorrindo assim que abriu os olhos e uma de suas filhas estavam acordada olhando diretamente para ele. Nina estava quietinha, deitada de frente para o ômega, com seus olhinhos verdes e atentos a encará-lo.
A pequena sentou no colchão assim que viu seu pai acordado, e também sorriu, pronta para receber aquilo que tanto aguardava. Embora fossem quadrigêmeas, elas não faziam todas as atividades ao mesmo tempo e de maneira igual. Às vezes, cada uma tinha seus momentos e preferências.
Enquanto Izzy gostava de assistir seu pai desferindo golpes de adaga em algum inimigo invisível, Aria tinha como sua atividade favorita brincar com Lian. De qualquer canto do navio era possível ouvir as risadas da menina, sempre que estava sozinha na companhia de seu pai ou sentada perto dele, próxima ao leme.
Por sua vez, Suri apreciava os momentos tranquilos que passava com Jay. Ela admirava atentamente tudo o que ele fazia, e tentava imitar os sons que ouvia sair de sua boca.
Finalmente, Nina tinha como um de seus momentos preferidos do dia, passear com Jungwon pelo convés, ouvindo-o cantar suavemente. Sempre que era a primeira a acordar, ela esperava que o ômega viesse buscá-la para que juntos pudessem cumprir o ritual de todas as manhãs.
Na realidade, todas tinham seus momentos preferidos com seus pais, e também amavam quando estavam todos juntos, mas aqueles em especial, eram os que mais se destacavam naquele tempo.
Jungwon não parou sua cantoria quando viu uma embarcação passando distante, enquanto se aproximava lentamente e com bastante cautela conforme preparavam suas armas sorrateiramente. Era um galeão de guerra, que acreditava fielmente que poderia triunfar sobre o Luna.
— Capitão? — Juvenal esperou a confirmação do ataque.
Assim que terminou a canção preferida de Nina, Jungwon suspirou tranquilamente antes de pronunciar:
— Vocês sabem o que fazer. Preparem-se.
A comemoração foi instantânea. Por mais que seus porões sempre estivessem cheios, os piratas necessitavam daquilo. Abordar navios era como um vício, e quanto mais acumulavam tesouros, mais poderosa era a tripulação.
Jungwon podia calcular a trajetória dos canhões inimigos com rapidez. Ele sabia com precisão por onde os disparos passariam ou que parte do Luna iria atingir. Por isso, ainda que a maioria se descabelava com o Capitão carregando a pequena Nina em pleno ataque, com tamanha tranquilidade, o ômega não perdia o equilíbrio.
Aquela tranquilidade era o que deixava-o mais assustador. Dificilmente uma tripulação inimiga causava preocupação em Jungwon. Mesmo que fossem em maior número. Além disso, ele sabia que tinha em sua tripulação, alguns dos companheiros mais eficazes.
Os anos de experiência ajudaram o timoneiro a polir sua habilidade em conduzir o navio. Além disso, Lian aprendeu a prever a direção dos ataques, o que levava o Luna a dificilmente ser avariado em grandes proporções.
Assim que foram subjugados pela tripulação de Jungwon, a embarcação foi rapidamente tomada pelos piratas. Todos estavam espalhados pelo convés inimigo enquanto o comandante tentava negociar:
— Não somos um navio mercante. Tudo o que temos são provisões para a tripulação.
— Está falando que você não tem nenhuma utilidade para mim? — A pergunta de Jungwon fez o comandante congelar dos pés a cabeça.
— Evidente que não. Ainda estamos negociando, hehe… — Ele riu para disfarçar o medo.
— Você tem um belo navio.
— Oh, sim. Afinal, estamos falando de um dos mais bem armados galeão de guerra.
— Eu o quero.
— Sim, todos querem. — O comandante riu esperando que aquilo fosse apenas uma piada, mas ele era o único que estava sorrindo. Jungwon permaneceu encarando-o com um semblante impassível, com isso ele engoliu em seco quando percebeu que o ômega estava falando sério. — Isso é negociável?
— Digamos que você pode escolher entre ser levado até um porto seguro, ou voltar nadando para casa.
— Sabe, há portos muito bons aqui por perto…
— Boa escolha.
Naquela região não havia muita vantagem em atacar um galeão de guerra por dois simples motivos: eles eram extremamente fortes e não davam muito lucro para os piratas, ou seja, era gasto desnecessário de tempo e recursos.
Por este motivo, Jungwon nunca teve a intenção de atacar aquele navio, mas como eles o fizeram primeiro o lucro viria de qualquer jeito. Para quem estava expandindo sua tripulação cada vez mais, obter um galeão de guerra foi uma vantagem e tanto.
Após deixarem o comandante e sua tripulação em um porto no condado de Baza, Jungwon levou seus navios a outras cidades, onde novos membros ocuparam as vagas disponíveis no galeão.
O tempo que levou pilhando navios espalhou ainda mais sua fama de Norte a Sul, de modo que Márcio Toralápis já não cogitava vingança, mas fazia suas preces todas as noites para que Jungwon jamais voltasse a ancorar no Brasil, para que ele pudesse continuar enriquecendo com suas atividades suspeitas.
DOIS ANOS APÓS recrutar os membros para o seu terceiro navio, começou a considerar a ideia de voltar a navegar pelos mares do Leste, onde seus pais ainda continuavam fazendo comércio de alto risco, para o terror das nações.
Talvez para muitos seria uma enorme dúvida saber se seus pais estavam vivos, depois de tantos anos separados, mas Eunji e Jungwon tinham certeza que Jimin e Jungkook ainda se encontravam a bordo do Black Swan, causando terror por onde passam. Afinal de contas, se os dois capitães mais famigerados daquela época fossem capturados ou mortos, todo o mundo já teria conhecimento disso.
Da mesma forma, o cartaz de procurado com o valor mais cobiçado dos sete mares era o de Jeon Jungwon. Todos desejavam colocar as mãos naquela recompensa, mas ninguém tinha coragem de tentar cumprir os requisitos para obtê-la.
Se avistar ao longe as bandeiras que ostentam uma lua crescente já causava medo no coração do mais valente ser, quem dirá arriscar uma luta justa contra o Capitão mais temido. Eles eram ambiciosos, mas não burros.
Mas o valor do cartaz de Jungwon era tão absurdamente alto, que duas tripulações de piratas se juntaram para orquestrar um plano onde levariam o referido Capitão a Marinha. Ainda que tenham passado meses planejando a emboscada, aquele ataque obviamente não deu certo.
Em uma noite aparentemente tranquila, enquanto estavam ancorados para aproveitar a pacata folga próximos a uma enseada, os três navios capitaneados por Jungwon contavam com alguns marujos mantendo a vigia, a fim de evitar ataques inesperados.
Pelo menos era o que eles deveriam fazer. Mas estavam jogando, distraídos enquanto bebiam, ou simplesmente caíram no sono, acreditando que ninguém ousaria atacá-los.
— Minha mão! — Nilce resmungou ao ter a palma rasgada pelo vidro quebrado de uma garrafa.
— Vai no médico pra ele costurar antes que você perca todo seu sangue. — Sua dupla que fazia vigia naquela noite alertou.
— Mas ele deve tá dormindo.
— Foda-se. Acorda ele. É pra isso que ele tá aqui.
A intenção era fazer um ataque surpresa, por isso, botes foram dispostos ao lado das embarcações inimigas, assim os piratas desceram, remaram e se aproximaram até então sem serem notados.
Assim que os primeiros asquerosos foram subindo pelas laterais, o Kraken abriu seus olhos, incomodado com a perturbação na superfície. Ao notar a silenciosa invasão lançou seus braços para cima, destruindo outros botes que se aproximavam logo atrás.
O estrondo do estrago causado despertou alguns dos que dormiam nas cobertas inferiores. O marujo que estava de vigília juntamente com Nilce foi o primeiro a ver os piratas invadindo o Luna, mas morreu antes de sinalizar o ataque.
Quando deixou a cabine armado com suas adagas, Jungwon sabia o que estava acontecendo por meio do Kraken, e pediu para que o mesmo ajudasse a defender os outros navios. O Luna ficaria por sua conta.
Infelizmente, alguns inimigos já haviam invadido o Luna e já estavam fazendo estrago nas camadas inferiores. Nilce estava com Taesung na enfermaria, quando uma dos pilantras abordou-os agressivamente.
— Meu capitão vai ficar muito satisfeito quando souber que consegui um médico para a nossa tripulação. — Sorriu a asquerosa pirata.
— Ele não vai com você a lugar algum. — Nilce a enfrentou e ambas se agarraram em um conflito.
Jungwon foi ligeiro em controlar a situação no pavimento superior e também nos aposentos inferiores. Assim que chegou na enfermaria em busca do médico para tratar dos feridos, se deparou com o conflito entre as duas alfas.
Rapidamente, Nilce se afastou da pirata e deu espaço para seu capitão assumir o contratempo. Diante da situação, a dita não teve outra escolha senão se render. Ela obviamente sabia onde estava se metendo quando aceitou participar da investida covarde contra aquela tripulação.
— Leve-a para o convés. — Jungwon ordenou e Nilce assim o fez. Depois, o ômega virou-se para o médico: — Precisamos de você lá em cima.
Taesung agarrou uma maleta cheia de itens que ele deixava preparada justamente para situações como a que se encontravam. Seguindo Jungwon, ele se deparou com grande número de marujos que sofreram graves danos físicos durante o ataque.
O médico contou com o auxílio de alguns ômegas, que seguiram suas instruções para ao menos estabilizar os feridos, antes de encaminhá-los à enfermaria, para uma assistência posterior mais elaborada.
— Cuide do meu ombro, doutor. — pediu Diógenes, o capitão de um dos navios que o haviam atacado. Ele e demais desafetos estavam rendidos no convés do Luna, e também cercados pelos demais navios comandados por Jungwon.
Taesung não tinha interesse em atender seu pedido, mas fitou Jungwon buscando alguma ordem antes de responder. Apenas o olhar do ômega foi suficiente para o médico ignorá-lo e voltar sua atenção apenas para os aliados.
— Vocês atacam enquanto estamos dormindo, causam destruição e morte dos nossos amigos, além de deixarem outros feridos — Jungwon listou, se aproximando do outro capitão com os olhos ardendo em ódio —, e agora espera tratamento médico para seus machucados?
— É que eu tomei um tiro no ombro e tá doendo muito.
Jungwon ergueu as sobrancelhas, chocado com o disparate daquele miserável. Mas a breve expressão foi trocada por um sorriso capcioso, quando o ômega fingiu ter compreendido e se preocupado com sua demanda.
— Oh, está doendo?
— De fato. A dor é deveras insuportável.
Diógenes ficou satisfeito ao vê-lo demonstrar aparente compaixão. Na realidade, ele pensava que aquilo não passava de uma obrigação da parte do ômega, pelo fato de ambos serem capitães.
— Cuidarei dele para você.
Para Diógenes, ele era a prioridade ali, não os seus companheiros, tampouco a tripulação inimiga. Mas Jungwon lhe mostrou a verdadeira intenção quando sacou a pistola e atirou em seu outro ombro.
— Aaaaaahh!! — Diógenes rolou no chão gritando de dor.
— Saiam do meu navio! — Jungwon vociferou.
Ninguém ficou para questionar. Todos saíram correndo, trotando e rolando. Até quem estava com a perna quebrada saiu em disparada, com medo do Capitão enfurecido.
Assim que todos se encontravam em suas respectivas embarcações, Jungwon passou entre Lian, Jay e seus demais contramestres, indo em direção a cabine para encontro de suas nenéns, quando expressou impaciente:
— Quero esses malditos no fundo do Pacífico!
A ordem foi clara, e pelo tom de voz utilizado pelo ômega precisava ser cumprida imediatamente. Isso posto, Lian assumiu o leme, Jay reuniu os atiradores, Severino e Joane, a contramestre escolhida para o galeão, transmitiram as ordens para as respectivas tripulações.
Enquanto aqueles que haviam atacado Jungwon tentavam se recuperar da avassaladora derrota, uma verdadeira saraivada de tiros de canhões foram lançados em sua direção.
Os navios estavam afundando e não havia nada que pudessem fazer, a não ser se agarrar aos destroços e rezar para encontrar algum pedaço de terra para naufragar.
À medida que ficavam mais distantes, o olhar da tripulação sobrepujada permaneceu fixado na bandeira cuja insígnia carregava uma lua prateada.
A partir daquele dia, todos que conseguiram sobreviver àquele trágico momento, teriam medo de olhar para o céu à noite e lembrar do Capitão Jeon e sua terrível tripulação.
🏴☠️
— Tem certeza que está bem? — Hyun se encarregou de examinar o médico, a seu modo, quando soube que uma pirata havia tentado levá-lo. — Deixe-me ver se seu braço não está quebrado…
— Eu saberia — Taesung riu. — Relaxe, estou bem.
— Alguém deveria ficar aqui, pra te proteger, eu vou falar com o Jungwon sobre isso… — Hyun parou de falar ao sentir a mão do alfa segurar a sua.
— Está tudo bem. — Ele sorriu docemente.
O olhar de Taesung fixado sobre o dele fez o ômega sentir o rosto esquentar ligeiramente. Ele disfarçou, desviando os olhos para outro canto, mudando de assunto quando puxou a mão e seguiu até a saída.
— Certo… eu vou lá ver uma coisa…
Quanto mais ele tentava disfarçar, mais se tornava nítido o quanto estava ficando sem jeito. É evidente que pessoas que se gostam se preocupam
e cuidam uma das outras, mas após compreender um pouco dos sentimentos que estavam aflorando, Hyun não sabia como lidar com momentos em que se tornava tão transparente.
Após deixar a enfermaria, o ômega procurou o primo, líder do navio, em busca de se tornar mais forte, com a intenção de proteger o médico e impedir ele mesmo que outra tentativa de rapto tenha sucesso da próxima vez.
Jungwon mantinha a atenção no primo e no diário de bordo, enquanto registrava o covarde ataque que sofreu momentos atrás.
— Eunji tava falando como ela e a Sarah auxiliaram os atiradores… — Hyun comentou.
— Por mim já estariam no comando dos canhões, mas o Jay não deixa. — Jungwon respondeu sem tirar os olhos do livro. — Ele acha que é uma carga muito grande para elas, eu penso diferente… e é por isso que ele é meu contramestre.
Hyun sorriu. Jungwon tinha conhecimento que se não fosse por Jay, ele faria coisas mirabolantes na tripulação, e não tinha nenhum pudor em reconhecer isto.
— Então você acha que, de repente, não seria nada mal se eu soubesse dessas coisas também?
Jungwon moveu os olhos do diário e encarou os do primo. A espada que Jackson deixou consigo para entregar a Hyun quando ele estivesse pronto, encontrava-se guardada atrás da mesa.
As mãos de Jungwon coçaram para retirá-la do lugar e entregar ao ômega mais jovem, mas ele considerou que ainda não era o momento.
— Seria ótimo.
Hyun ficou satisfeito com o que ouvira. Então, não era muito tarde para aprender a atuar. Ele observou o tanto de informações que Jungwon havia anotado, o sextante e os mapas sobre a mesa.
Como Capitão, seu primo tinha bastante o que fazer, sua função demandava muito do seu tempo, e ele ainda tinha suas filhas e seus alfas para dar atenção. Com isso, Hyun não tinha certeza se seu pedido seria atendido, mas estava pronto e entenderia a recusa.
— Então, será que… você sabe, apenas quando tiver um tempinho livre e eu sei que isso é muito difícil já que você é o Capitão… — Hyun sorriu sem graça. — Desculpa, nem sei porque pensei nessa possibilidade. Melhor eu falar com a Nilce, ela é bastante habilidosa.
— Sabe quando é possível ver que já está amanhecendo, mas o sol ainda não surgiu no horizonte?
— Sei.
— Quero vê-lo este horário todos os dias, a partir de amanhã.
— Não entendo…
— Quer lutar como um ômega?
— Sim! — A resposta não poderia ser mais evidente. — É óbvio!
— Então é melhor que aprenda com um.
Hyun sentiu imensa felicidade quando deu a volta na mesa para abraçar o primo. Depois saiu correndo ao deixar a cabine, ansioso para o amanhecer.
Jungwon o observou no momento que saiu, depois encarou a espada ao lado de sua cadeira e posteriormente voltou a escrever no diário, com um sorriso repleto de satisfação e seu lobo de modo exultante.
Continua...
Aah, esse “continua” chega ao fim no capítulo que vem. Isso tem me deixado bem triste 🙃
Embora eu pretenda concluir Savage e iniciar uma pequena fanfic sobre os namjin e taeyoonseok de Black Swan, dar adeus a essa saga tá sendo extremamente difícil. Sinto que estou dando adeus a um filho. Aaah que doloroso 🥹 então, pela última vez, até a próxima ♥️
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