[82] O Que Vem Depois
Então… eu imagino que vocês não fazem ideia de como parou o capítulo anterior e não lembram de quase nada da história. Não é para menos, nem eu me lembrava quando voltei a escrever.
O último capítulo terminou com a marca do Jungwon, com Lian e Jay. A tripulação do Luna ainda tá no Brasil após se separar do Black Swan, que saiu em busca de outros lugares…
Eu já tô com todos os capítulos prontos e vou colocar aqui hoje mesmo, só o último (capítulo 91) que ainda tô terminando, mas em breve eu vou concluir e colocar aqui tbm, se não hoje ou amanhã, eu coloco depois de amanhã 🤞🏽
Boa leitura:
Ainda que, momentos após a marca, os três tenham tido a impressão de que o mundo lá fora havia parado, e que só eles estavam conscientes em tempo e espaço, a vida continuou seguindo seu rumo e as horas se passaram.
Assim que a marca se concretizou, o período heat de Jungwon tal como o rut de Lian e Jay chegaram ao fim. Não tinha mais necessidade de seus corpos estarem propícios ao acasalamento. Seus lobos já haviam sido marcados como companheiros.
Para quem pouco dormiu nos dias anteriores, o trisal permaneceu o restante daquela tarde no íntimo da cabine, onde passaram a noite juntos. Estavam cientes de que havia muito o que fazer lá fora, mas só precisavam sentir aquele momento pós marca um pouco mais. Tudo ainda estava muito intenso.
Na manhã seguinte, assim que despertou e antes mesmo de abrir os olhos, Jay sorriu ao notar os outros dois conectados ao seu lobo. Quando finalmente abriu os olhos encontrou o rosto do ômega próximo ao seu.
O sorriso cresceu quando ele observou as duas marcas ainda recentes. A pele do ômega naquele local estava ligeiramente avermelhada e sensível. Ele acariciou a bochecha de Jungwon com as costas dos dedos, depois o beijou na testa e se levantou com cuidado para não acordar os dois.
Agora que tinha uma visão mais ampla da cama, ele viu o outro alfa dormindo tranquilamente, com o nariz encostado na parte de trás do cabelo de Jungwon, e inclinou o corpo para deixar um beijo na bochecha dele.
Posteriormente, Jay lavou o seu corpo já imaginando que perderia o cheio de ambos em sua pele, mas ao invés, chocolate e sândalo permaneciam lá, suavemente em conjunto com o seu aroma.
Não era algo surpreendente, uma vez que quando Sungjae o colocava para dormir, ele podia sentir traços do aroma de Scott nele, bem como quando chegava perto de seu outro pai. Mesmo assim, Jay suspirou profundamente e sorriu. A marca era tão enraizada que estava sentindo a tranquilidade de Lian e Jungwon.
Assim que vestiu-se apropriadamente, o alfa começou a organizar a bagunça que se encontrava naquele cômodo. Limpou a mesa antes de devolver os itens que costumavam ficar ali, depois guardou de volta objetos que estavam espalhados pelo chão.
— O que você tá fazendo? — Lian perguntou, com voz de sono e um olhar confuso.
— Tô arrumando a bagunça.
— Deixa aí, depois a gente faz isso. Vem pra cá.
— Você não tá com fome?
Lian respondeu com um sorriso sugestivo. Jay fechou os olhos e respirou fundo tentando não rir, depois voltou ao que estava fazendo.
— Você devia me ajudar… — o mais novo refletiu em voz alta.
— Não dá pra sair daqui agora. Jungwon tá em cima de mim.
Jay estreitou os olhos e olhou para a cama, onde o ômega realmente estava deitado sobre Lian. O alfa deslizava a ponta dos dedos, para cima e para baixo, por toda a extensão das costas dele.
Sua expressão mais cínica não passou despercebido aos olhos de Jay, mas este viu que Jungwon estava dormindo tão tranquilamente que não quis correr o risco de despertá-lo fazendo o alfa mais velho levantar.
Depois de organizar a maior parte do cômodo, Jay deixou a cabine a fim de buscar alguma comida. Do lado de fora, ele encontrou bucaneiros passando pela coberta superior. Um grupo estava carregando dois barris, na intenção de transportá-los de volta para o porão.
— O que é isso? — Jay parou no meio do convés.
Os piratas trocaram olhares desconfiados, um esperando o outro responder. Como ninguém estava disposto a contar, o próprio contramestre escolheu um azarado que estava passando ao seu lado:
— O que aconteceu aqui?
— Ah… hmm, nós… — Tony gaguejou.
Nenhum deles parecia disposto a ajudá-lo. Ninguém queria que a farra que fizeram na noite anterior chegasse aos ouvidos do capitão, mas deixaram que Tony sustentasse sozinho a ocasião e os livrasse de qualquer punição.
Jay moveu sua atenção para a bucaneira que estava ajudando Tony a segurar um dos barris. Corty, a cozinheira, sorriu para o contramestre buscando ganhá-lo com simpatia, mas Jay permaneceu sério enquanto esperava por uma resposta.
— Foi só uma pequena confraternização… — ela revelou.
— Uma festinha entre poucos amigos íntimos… — Tony continuou.
— Nada muito fora do habitual… — um outro se aproximou.
Outros piratas foram ganhando coragem para se juntar aos demais no esclarecimento. Tudo parecia sem importância, pois os piratas afirmavam veementemente que apenas tomaram algumas canecas de rum e apreciaram a bela noite estrelada.
— Não houve danos ao Luna. — Chad informou.
O pirata era conhecido por ser o mais azarado da tripulação e não era para menos. Assim que o dito contou em depoimento, uma vela caiu na proa fazendo um enorme barulho, assustando a todos.
Não havia mais como esconder. Eles tinham dado uma enorme festa na noite anterior. Até escalaram os mastros e dançaram saltitando livremente por todo o pavimento superior.
— Devo me preocupar com um naufrágio? — Jay ironizou.
— Não… — Corty respondeu. Se o Luna realmente afundasse mesmo estando ancorado seria uma enorme vergonha. — A gente devia ter pedido sua permissão, mas…
— Não queríamos interromper a sua reunião… — Tony completou. Com “reunião” ele quis dizer a intimidade que foi compartilhada entre Jungwon e seus alfas durante os últimos dias. — A Eunji pode ser irmã do capitão, mas também é muito nova, então a gente foi pedir o apoio do seu irmão.
— Decidimos invadir a enfermaria e só sair de lá quando Taesung nos desse seu apoio. — Chad confessou com muita convicção
— E o que ele fez? — Perguntou Jay.
O próprio Chad respondeu:
— Colocou todo mundo pra fora a vassouradas.
O contramestre segurou o riso. Depois de presenciar uma das velas despencando no convés como se fosse um navio acabado, Jay achou bem feito o que seu irmão fez.
— Você vai contar pro Capitão?
Jay sequer pensou duas vezes. Ele não tinha nenhuma intenção de perturbar seu ômega com assuntos desnecessários que ele mesmo poderia resolver.
— Espero que isso não se repita novamente. E limpem essa bagunça.
Um coro de “sim senhor” teve início, seguido de várias referências subsequentes em agradecimento. Limpar a própria bagunça sairia muito mais barato do que punição por agirem sem permissão do líder.
É claro que Jungwon não os enviaria a prancha por terem dado uma festa sem o seu conhecimento, contudo, ainda era necessário manter o pulso firme para que os piratas não acreditassem que era possível agir sem consentimento do capitão e não serem punidos. Mas Jay deixaria isso bem claro nos dias posteriores, por hora, ele apenas desceu até a cozinha e buscou alguma refeição para seus companheiros e também para si mesmo
Assim que voltou para a cabine ele colocou a bandeja em cima da cama e sentou bem ao lado. Jungwon também estava acordado e ainda permaneceu deitado sobre o outro, mas alcançou uma fruta e saboreou aos poucos ao passo que se atualizava:
— Como vai tudo lá fora?
— Estão consertando uma vela.
— E como exatamente uma vela partiu se estamos ancorados? — Lian franziu as sobrancelhas.
— Nem queira saber… — Jay mudou o assunto para algo mais relevante, voltando sua atenção para o ômega, referindo-se às marcas: — Como se sente?
Jungwon respirou profundamente e sentiu a conexão com ambos mais uma vez. Desde a tranquilidade de Lian a ligeira preocupação do mais novo. Seu peito se encheu outra vez, ele sorriu feliz, sabendo que os dois também sentiam o mesmo, e respondeu:
— Eu acho que você sabe.
— Isso é incrível… — Jay refletiu. — Essa conexão vai além do que eu sempre imaginei.
— Preciso ver como tá… — o ômega pulou da cama buscando o espelho pendurado na parede. Ele sorriu admirando as marcas, uma no ombro e a outra do outro lado na curva do pescoço.
Acima de qualquer outra coisa, Jungwon queria que o mundo inteiro soubesse que ele estava marcado. Por isso, vestiu as roupas e deixou a cabine sentindo-se diferente de quando havia entrado pela última vez.
Jungwon não era mais um menino, mas um ômega ciente da responsabilidade que aquelas marcas impunham. Tal como seus alfas. O desejo de amar, cuidar e proteger era mútuo.
Os alfas estavam lidando com o problema da vela quando o Capitão passou pelo convés. Ele franziu o cenho mas sua atenção logo foi movida para Eunji, assim que notou a aproximação da irmã.
— Você parece diferente. — Ela comentou.
Jungwon sorriu para ela e puxou um pouco da parte da camisa que estava cobrindo as marcas, exibindo-as. A alfa sorriu e o abraçou instantaneamente. Estava alegre por ver seu irmão tão bem e feliz.
— É impossível não se sentir mudado quando se é marcado por alguém que você ama.
— Estou feliz por você. — Eunji revelou, mesmo sem entender ao certo, o que aquilo significava.
Jungwon abraçou a mais nova, certo de que um dia ela saberia exatamente do que ele estava falando. Ao separar-se da irmã, o ômega mudou de assunto:
— Novidades?
— Sabe toda aquela gente? — Eunji referia-se às pessoas que recentemente chegaram ao Brasil. Ela esperou assentir, para continuar: — Foram todos embora.
— Hmm… — Jungwon viu que os navios que trouxeram os nobres ainda estavam ancorados.
— Foram de carruagem, por uma estrada na fronteira da floresta. Não sabemos para onde eles foram. Ninguém viu quando aconteceu.
— Se ninguém viu, como você sabe como e por onde foram?
O corpo de Eunji ficou paralisado por alguns segundos, mas seus olhos moveram-se para longe do olhar inquisitivo do irmão. Jungwon permaneceu com sua postura impassível esperando pela resposta da alfa.
Ainda que não estivesse olhando diretamente para o ômega, ela podia sentir os olhos dele focados em si. Não havia como fugir. Jungwon era bastante insistente quando se decidia sobre alguma coisa. Principalmente se este assunto for de grande interesse para ele.
— Estávamos de olho neles. A Sarah e eu. — Eunji revelou. — Não fomos muito longe e ninguém notou a nossa presença, isso eu posso garantir.
— Houve algum tipo de evento durante minha ausência?
— Não. Não fizeram nada. Não passaram no mercado e nem mesmo visitaram o bordel. Não ficaram muito tempo na cidade.
— Preciso saber o significado disso tudo.
— Logo você saberá. — Eunji sorriu confiante para ele. Jungwon sorriu de volta.
Não havia erro naquele pressentimento, chegaria o tempo em que o ômega iria saber o que estava por trás daqueles acontecimentos, contudo, não do jeito que eles imaginavam.
🏴☠️
A vida cotidiana nas ruas da cidade parecia a mesma de sempre, pessoas felizes cuidando de suas vidas, aparentemente sem saber o que estava acontecendo na região. Ninguém sabia das atividades obscuras do governo, ou tinham medo demais para comentar sobre isso.
Todos que passavam diante do prédio governamental, acreditavam que seus líderes estavam tratando de negócios pelo bem da população. Pelo menos era isso que infiltrados do governo espalhavam entre os habitantes. A comunidade só sabia o que os poderosos permitiam.
Aquele covil de bandidos ineptos era corrompido por degenerados, cuja única preocupação era com seus próprios interesses. O Brasil era quase inteiramente autossustentável. A felicidade da região era ter um povo trabalhador. Se dependessem dos governantes, sua sobrevivência estaria em risco.
Naquele momento, os referidos desprezíveis se encontravam planejando mais uma de suas ações repulsivas. Todos estavam de acordo que aqueles piratas eram um grande risco ao seu progresso, e desejavam que fossem embora a todo custo. Não apenas isso, o infame Márcio Toralápis transmitiu aos seus subordinados sua vontade mesquinha:
— Eu quero aquele ômega na fossa.
— Senhor, com todo o respeito, seria mais interessante mandar os alfas dele. Ele sofreria muito mais.
— Não é apenas o sofrimento dele que anseio. Eu também quero uma boa atração para o nosso público. Aquele ômega com certeza entregará um bom entretenimento.
— E como faremos isto?
Toralápis estava sentado confortavelmente em uma cadeira atrás de sua mesa. Ele suspirou e as mãos apoiadas em sua enorme barriga se moveram junto. Antes daquele encontro com seus subordinados, ele já havia traçado uma estratégia para conseguir levar Jungwon ao local chamado “fossa”, onde vários prisioneiros eram mantidos, participando de lutas para entreter um grande público de nobres, vindos de várias regiões.
Enquanto todos observavam seu líder, esperando por uma resposta, Márcio abriu uma gaveta e retirou uma flor de pétalas brancas com longos fios amarelados, colocando-a em cima da mesa e à vista de todos.
— Algum de vocês vai queimar esta flor com ele aqui dentro. Ele vai perder os sentidos instantaneamente.
— Essa pessoa também vai desmaiar com o ômega… — Ferreira preocupou-se.
— Sim, mas é óbvio que um grupo ficará na sala ao lado, para agir no momento em que o tivermos.
Sorrisos depravados foram ganhando forma entre os desprezíveis malfeitores. Márcio e seu bando esperavam que o plano funcionasse perfeitamente. Era só questão de tempo para que os piratas soubessem com quem estavam lidando e, com isso, fossem embora do Brasil após a queda de seu líder.
Com a mente cheia de aspirações nefastas, o grupo não esperou muito para colocar o traiçoeiro esquema em ação. Logo após a reunião, um mensageiro foi enviado ao cais para entregar um bilhete escrito pelo infame Márcio Toralápis, direcionado ao Capitão do Luna.
Quando o recado chegou ao seu destino, Jungwon se encontrava na proa do navio, contando para alguns tripulantes sobre a vez que Jay e ele foram levados pela Marinha. O contramestre também estava presente e sorria nostálgico ao lembrar a desventura outrora vivenciada.
— É pro senhor, Capitão. — Tywil comunicou, entregando um pedaço de pergaminho para o ômega.
Assim que leu o recado, Jungwon não se preocupou em dar atenção àquelas palavras que foram tão bem escolhidas por Toralápis, apenas limitou-se a um breve suspiro de desprezo e guardou a mensagem no bolso.
— O que é isso? — Jay perguntou.
— Toralápis me convidou para um encontro de negócios.
— Não temos negócios com ele.
— E não queremos — Jungwon completou rapidamente. — Ele quer negociar nossa partida do Brasil, e se está tão desesperado a esse ponto é porque há muito ouro envolvido.
— Você vai?
— Não estou nem um pouco interessado em ver aquele sujeito de nome peculiar.
— Talvez seja uma boa ideia. Podemos fazer ele se explicar porque quer tanto que a gente vá embora.
Apesar do alfa acreditar que poderia facilmente enganar Márcio Toralápis, e descobrir as intenções por trás de suas vontades, Jungwon não demonstrou o mesmo entusiasmo. Apesar disso, ele concordou em responder ao convite, comparecendo no gabinete do governo.
Embora seu contramestre tenha se oferecido para acompanhá-lo naquele encontro desagradável, Jungwon recusou a oferta, alegando que bastava um deles para suportar a presença intragável de Toralápis e seus cúmplices.
Havia uma funcionária esperando Jungwon logo na entrada do edifício. Conceição não parecia satisfeita com aquela atribuição, ela não ia com a cara dele desde que o ômega invadiu o local, mas eram ordens do próprio Toralápis e ela não ousaria questionar.
Após fazerem todo o caminho já conhecido pelo ômega, ambos rapidamente chegaram ao gabinete principal, mas o sujeito que Jungwon esperava encontrar ainda não estava ali. Ele olhou para Conceição esperando um retorno, a resposta veio quando ela fechou a porta e virou-se para afirmar:
— Ele já vem. — Ela indicou uma cadeira enquanto deu a volta ao redor da mesa. — Pode sentar e aguardar.
Jungwon permaneceu de pé observando-a mexer em alguns documentos em cima da mesa. Os papéis estavam espalhados de maneira desorganizada, alguns caídos no chão. A cortina balançando através da janela aberta indicava que a bagunça foi causada pelo vento.
— Tanta coisa pra fazer. Tudo pra dificultar o meu trabalho… — Conceição resmungou, supostamente ignorando a presença do ômega. O mesmo também não estava interessado em suas lamentações e finalmente ocupou o lugar indicado anteriormente. Estava ignorando-a, mas olhou em sua direção quando ela o questionou: — Se importa se eu fechar a janela?
Conceição não se preocupou em esperar pela resposta do ômega, entretanto, Jungwon deu de ombros. Assim que fechou a janela a sala imediatamente ficou moderadamente escura, mas ainda era possível enxergar cada objeto dentro do cômodo.
— Melhor eu dar um jeito nisso. — A mulher se referia a pouca luz que restou dentro do ambiente. Jungwon assistiu quando ela acendeu uma vela, mas o objeto escapou de suas mãos e caiu fora da vista do ômega, logo atrás da mesa. — Meu Deus!
Mesmo que a secretária fosse relativamente desajeitada, não havia perigo de o prédio pegar fogo. O que de fato estava incomodando era a demora de Toralápis, que havia marcado aquele encontro em tal horário e ainda não tinha aparecido. Seu atraso era um insulto e, acima de tudo, controverso.
Enquanto Conceição fingia organizar os papéis que haviam caído no chão, ela colocou a flor contra a chama da vela. Não houve fumaça ou cheiro, desse modo, os gases tóxicos liberados pela planta se espalharam pelo cômodo sem qualquer suspeita.
A secretária perdeu a consciência instantaneamente. Seu corpo caiu para o lado quando ela foi tomada pelo sono profundo. Antes que Jungwon pudesse verificar se ela estava viva, ele sentiu o próprio corpo pesado e as pálpebras pareciam ter vontade própria, fechando-se sobre seus olhos embora ele quisesse abri-las. Era como se não tivesse dormido há muito tempo. Não houve mudança em seus batimentos e a mente permaneceu tranquila quando a escuridão tomou conta de si.
🏴☠️
Alguns membros da tripulação do Luna adoravam rondar as ruas da cidade, até onde era possível encontrar os comerciantes exibindo seus produtos. A variedade era tamanha que todos os dias sempre tinha uma novidade e ainda assim, estavam longe de testemunhar tudo o que aquele lugar era capaz de oferecer.
O próspero mercado onde diariamente dezenas de pessoas comercializavam seus artigos, mantinha suas atividades naquela tarde sem qualquer alteração ou suspeita. Inclusive, Taesung estava sendo acompanhado pelo irmão em sua busca por uma raiz que possui substâncias capazes de aliviar dores musculares.
— Por que você não procura na floresta, como suas outras plantinhas? — O mais velho perguntou. Já estavam procurando há horas mas não encontraram o item à venda em lugar algum.
— Tem uma cobra enorme lá perto.
— Ela não vai te atacar — Jay brincou —, é da sua espécie.
O mais novo riu e em seguida respondeu:
— Nossa espécie, certo? Não se esqueça que você é meu irmão.
— Me mostra o lugar.
Taesung franziu as sobrancelhas mas acatou o pedido do irmão. Talvez o mais velho quisesse ver o animal com os próprios olhos. Ambos entraram na mata onde um sistema complexo de árvores formavam um extraordinário ecossistema com outros diversos tipos de vegetação, marcado também pela presença de uma fauna de grande diversidade.
Seguindo o mais novo de perto, Jay estava logo atrás, atento a cada som produzido pela floresta. Seja o soprar do vento nas folhas, o canto de alguns pássaros ou o barulho de outros animais percorrendo entre as folhagens. Seus olhos moviam-se e em todas direções, até que Taesung parou, mostrando o local exato onde as raízes estavam.
— A cobra tava bem ali — logo que apontou um espaço entre as raízes e alguns arbustos frondosos, seu irmão avançou lentamente na direção indicada. — O que está fazendo?! Jay?!
— Relaxe… — o mais velho se abaixou calmamente, agarrou um grande galho seco que estava caído no chão, e logo voltou a se aproximar do esconderijo do animal.
O réptil mostrou sua presença deslizando vagarosamente, atenta aos movimentos do alfa. Taesung ergueu as sobrancelhas ao ver seu irmão tão próximo da cobra, e tentou alertá-lo mais uma vez:
— Jay! Não faz isso, é muito perigoso! Volta aqui!!
No entanto, o outro não deu atenção. Estava determinado e em máxima concentração quando, com muito cuidado, ele usou o galho para distraí-la fazendo-a manter a cabeça o mais distante possível, na qual ela deslizou pelo ramo. Posteriormente, Jay segurou a cobra pela cauda e ergueu parte de seu corpo do chão, mantendo sua parte dianteira enlevada pelo galho.
— E você aí, preocupado comigo. — Quando virou-se para o mais novo, ele viu Taesung parado com as sobrancelhas erguidas e um olhar impressionado. Jay sorriu e indicou as raízes com a cabeça. — Anda logo. Depois você pode admirar seu irmão super talentoso.
Recuperando-se do ligeiro espanto, Taesung abriu a bolsa que levava consigo e pegou uma faca, depois abaixou-se para coletar as gloriosas raízes que tanto almejava.
— Não estava preocupado com você. Tava preocupado com a cobra… — Ele disfarçou. — Pensei que fosse matar ela.
— Uhum. — Jay riu. — É claro.
Taesung não respondeu e continuou coletando as raízes. Era evidente que estava mentindo. Seu coração quase saltou para fora do peito quando o irmão se aproximou do réptil, e quando a cobra moveu-se pelo galho, faltou pouco para ele se precipitar em defesa do mais velho.
Após colher certa quantidade do recurso, ambos retornaram para a cidade pelo mesmo caminho que haviam feito anteriormente. Durante o tempo em que procuravam pelas raízes no mercado, Jay pretendia aguardar por seu ômega próximo a praça, mas a ajuda concedida a Taesung ocupou muito de seu tempo. A tarde passou tão rápido que logo estava anoitecendo.
Acreditando que Jungwon já havia retornado para o Luna, ele decidiu voltar para o navio juntamente com o irmão. Assim que chegaram no navio, Taesung desceu com as raízes para fazer um melhor uso delas, enquanto Jay foi recebido por um grupo de bucaneiros que solicitaram algumas demandas.
Depois de resolver as questões trazidas pela tripulação, ele finalmente dirigiu-se à cabine, onde pretendia encontrar seu ômega e saber dele como foi o encontro com o notório Márcio Toralápis. Para a sua surpresa o único que se encontrava dentro do cômodo era Lian, que também estava na expectativa de obter informações sobre a conversa.
— Tem certeza que ele não tá em nenhum lugar do navio? — Jay parou ao lado da mesa, onde o outro alfa estava.
Lian balançou a cabeça, confirmando a ausência do ômega.
— Pensei que ele estava com você.
— Não. — O mais novo caminhou até parar em uma janela. — Eu tava com o Taesung na floresta…
— Onde ele poderia estar?
Jay permaneceu em silêncio encarando o lado de fora, onde podia observar a calmaria do mar com suas ondas silenciosas avançando em direção a praia. Um sentimento fulminante de culpa e arrependimento foram crescendo em seu peito. Tudo o que ele pensava era na última conversa que teve com Jungwon, quando induziu o ômega a comparecer ao encontro solicitado por Toralápis.
Continua…
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