[79] Às vezes é bom não fazer nada
Só recordando rapidamente, o capítulo anterior foi aquele que Brunão tava perturbando e ameaçando a integridade do Hyun. Taesung matou o nojento e no final Jackson teve uma pequena amostra do que o aguarda no futuro...
Boa leitura:
A conversa que teve com Hyun foi longa e instrutiva. Relembrou a necessidade que o ômega tinha em saber se defender sozinho. Jackson o deixou ciente que não esperava que seu filho se tornasse um perfeito espadachim, apenas que fosse capaz de salvar a própria vida em situações como a que aconteceu.
Hyun levou em consideração cada palavra e refletiu a possibilidade de treinar, nem que seja um pouco. Embora Taesung também nunca tenha mostrado vontade em seguir por esse caminho, ele era um alfa e não somente pode se defender como ajudou o ômega.
Pelo fato de ter dois pais que foram caçadores, Hyun não temia qualquer ameaça, pois acreditava que seria protegido, então poderia concentrar-se apenas em seus desenhos. Ele não estava completamente errado, mas adversidades surgem sem aviso prévio.
Enquanto estavam na tripulação do Black Swan, de fato, como um experiente rastreador, Jackson sabia de cada passo dos gêmeos. Seus filhos até então nunca haviam passado por situações como esta. No Luna, apesar de Jungwon ter desempenhado bem o seu papel, assim que desembarcaram no Brasil Hyun preferiu explorar a cidade sozinho.
Apesar de sempre evitar causar problemas, o ômega sentiu-se culpado por ter envolvido Taesung. O alfa, por sua vez, mesmo que tenha passado toda sua existência sem nunca ter ceifado uma vida, não estava arrependido do que fez, embora tenha procurado Sungjae para confidenciar o que tinha feito:
— Matei um alfa. — Taesung foi direto.
— Pra se defender?
— Mais ou menos... — O alfa contou o que havia acontecido.
— Como se sente com isso?
— Normal, mas é que o Jin sempre disse pra usar o que aprendi pra salvar vidas, não pra tirar.
— Mas você salvou uma vida. — O ômega sorriu para o filho. — Hyun está bem.
— Não tinha pensado dessa forma.
— Em todo o caso você realizou uma profilaxia muito eficiente pro mundo. — Profilaxia é a parte da medicina cujo objetivo é estabelecer medidas preventivas, a fim de preservar o bem-estar da população.
— Você é o melhor — Taesung riu.
— E eu tenho muito orgulho de você. Agora me passa a receita do veneno.
— Tem outras, se você quiser.
O mais velho sorriu para ele, assentindo. Taesung levou para ele o livro que havia adquirido, junto com algumas observações que ele mesmo havia feito.
Mais tarde, encontrou sua amiga Lis, a qual questionou o motivo dele ter deixado a pobre ômega esperando sozinha.
— Não foi intencional. Surgiu uma emergência… — ele explicou sobre Hyun e Brunão.
— O que importa é que ele está bem. — Dito isso, bateu no braço dele.
— Ai! Por que fez isso?
— Porque poderia ter sido a Zoe.
— E onde ela tá agora?
— Com as meninas. Estou certa de que ela tá mais segura com elas do quê comigo. — Lis riu, balançando a cabeça. — Principalmente com a Sarah.
— Você não tem ciúme da Zoe com a Eunji? Elas são bem próximas.
— Eunji além de protetora, é fofa e gentil. Seria maravilhoso se elas namorassem.
— Jackson devia pensar assim também. Quero dizer, eu seria um bom genro.
— O que ele fez?
— Ah, ele agradeceu pelo que fiz, mas disse que se me ver abraçando o Hyun novamente vai arrancar meus braços e enfiar naquele lugar onde o sol não bate.
Lis piscou boquiaberta e depois começou a rir aos poucos. Ela tentou controlar usando a mão para cobrir a boca, mas não foi possível. Taesung cruzou os braços e esperou, com um semblante entediado.
— Desculpa… Bom, eu falei com a Maria das Neves e ela está disposta a te dar mais uma chance.
— Ela não ficou chateada?
— Sim, mas eu disse que você ficou com vergonha.
— Não sou tímido.
— Eu sei. O importante é que ela achou muito fofo.
O alfa não expressou opinião, mas aquilo de certa forma foi bom. Mesmo que não tivesse qualquer envolvimento amoroso com Maria das Neves, fazer amigos nunca é demais.
Taesung, então, foi para as estalagens em que parte da tripulação estava alojada, onde pretendia buscar uma bolsa para coletar mais itens na floresta. Logo que desceu as escadas para deixar o albergue, foi surpreendido quando Hyun cruzou o braço com o seu.
— Estava te esperando! — Disse o ômega, ansioso. Depois olhou para Jisung esperando aprovação.
— Estava? — Taesung franziu o cenho.
— Uhum! — Hyun encarou o pai sorrindo nervoso. — Ele não tem a memória muito boa, pai… — depois voltou a atenção para o alfa: — não lembra que a gente combinou de subir naquele monte que tem a igreja, porque a vista deve ser linda lá de cima?
O sorriso fingido do ômega já estava ficando duro e esquisito. Taesung estava entendendo aos poucos as intenções de Hyun, mas só pelo olhar do ômega ele sabia que o mais novo queria que confirmasse sua história.
— Pois é, eu esqueci…
— Hyun me contou o que fez. — Jisung chamou a atenção do alfa para si. Ele estava sorrindo quando expressou suavemente: — Obrigado. Você saiu da sua zona de conforto por ele.
— Eu faria novamente.
— Fico feliz em ouvir isso e por ser alguém que ele pode confirmar mas, da próxima vez, meninos, nada de segredos. Qualquer sinal de ameaça, se não se sentirem à vontade em procurar o Jack ou a mim, busquem o Capitão de vocês.
Os dois mais jovens entreolharam-se em silêncio, depois olharam para Jisung e assentiram. O contramestre suspirou sabendo que eles não iriam seguir suas orientações. Mas como poderia dar uma palestra com lição de moral? Se ele próprio já havia feito coisas piores quando era mais novo.
— Podemos ir agora? — Hyun perguntou, antes que seu pai mudasse de ideia.
— Claro. — Jisung confirmou, depois virou-se para o alfa: — Cuida bem dele, hm?
— Pode deixar.
Jisung viu os dois deixarem a hospedaria e em seguida retomou suas próprias obrigações.
Ao sair com Hyun ainda de braço dado com o seu, Taesung planejava interrogar o ômega sobre suas ações anteriores, mas uma mão apareceu em sua frente e ele não teve tempo para reagir, recebendo uma tapa forte no rosto.
— Mas que merda. — O alfa passou a mão no local atingido, e só então percebeu que a agressão veio de Maria das Neves.
— Ela disse que você não tinha namorado! — A ômega acusou, referindo-se à informação que recebeu de Lis.
— Mas eu não…
— Seu safado! — Maria o interrompeu e em seguida aconselhou Hyun: — Não confia nesse alfa! Ele é um sem vergonha!
A ômega se retirou indignada, acreditando que se interessou por alguém que aparentemente já estava comprometido, e junto com a Beta tentou enganá-la.
— Que mão pesada…
Hyun estava quieto até então. Quando reparou seu braço com o de Taesung como se realmente fossem um casal, ele percebeu porque Maria havia entendido errado.
— Me desculpa. — Hyun afastou-se imediatamente.
— Hm? — Virou-se para o ômega.
— Ela entendeu errado porque eu estava segurando seu braço.
— Ah… Não, tudo bem. Não é sua culpa se ela distorceu a realidade.
— Mas isso prejudicou sua chance com ela.
— Eu não tava interessado mesmo… — Taesung deu de ombros, depois lembrou-se do que pretendia falar antes de Maria das Neves aparecer. — Mas o que foi aquilo com o seu pai? Minha memória não é muito boa, mas eu sei que a gente não combinou nada.
— Então… — sorriu nervoso, encolhendo os ombros. — Ele não ia me deixar ir tão longe sozinho.
— Entendi. Mas eu tô indo pra floresta.
— Tudo bem. Lá também é bonito. Tem árvores e tudo mais… — Hyun sorriu gentilmente.
Não era exatamente o que ele queria, mas não podia pedir para o médico mudar seus planos apenas porque ele queria. O alfa já havia feito muito por ele.
Por outro lado, Taesung percebeu que por trás do sorriso compreensivo havia um ômega frustrado, que apenas estava tentando esconder seus verdadeiros sentimentos para não parecer um ingrato, ou um fardo para ele.
No entanto, para o alfa, ele estava longe de ser tal incômodo.
— Se quiser depois eu posso te levar naquele lugar que você quer ir.
— Sim! Combinado. — Dessa vez Hyun mostrou a ele seu sorriso sincero.
Taesung sorriu de volta e ambos seguiram caminhando em direção a uma das trilhas que levava a certo ponto da floresta, não muito distante da cidade.
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Na Repartição Pública daquela região, estavam reunidos alguns dos que representam — para todos os efeitos — os interesses da população, bem como os próprios benefícios.
O encontro tinha por objetivo tomar medidas a respeito da morte do do desprezível Brunão. Apesar das várias pessoas que claramente testemunharam o sujeito sofrer um ataque, vítima de alguma doença muito contagiosa, alguns não acreditaram em tal situação.
— Brunão era forte como um touro. Nunca o vi espirrar. É muita coincidência que isso tenha acontecido justamente quando aqueles piratas chegaram.
— Outros já aportaram aqui e nada disso aconteceu antes.
— O curioso é que eu presenciei uma discussão entre eles e Brunão pouco antes do acontecido — Ferreira informou.
— Conte mais sobre isso. — Roberto Carlos solicitou.
— Eu não escutei muito, mas Brunão queria se vingar de algo. Tinha um ômega jovem, parecia ter quinze ou dezesseis anos. O outro era alfa e um pouco mais velho.
— Você lembra a aparência desse alfa?
— Hmmm… — Ferreira buscou as informações mais precisas em sua memória. — Ele é alto, cabelo castanho, olhos verdes…
— Tragam para mim todo aquele que esteja dentro dessas características. — Roberto requisitou.
— Vai mandá-lo para a fossa?
— Primeiro vamos encontrar o sujeito, depois faremos aquilo que deixe Toralápis mais satisfeito.
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Os variados artigos exibidos no mercado da praça, despertava o interesse até mesmo dos que estavam naquela cidade apenas de passagem. Além dos muitos transeuntes, Jay encontrava-se em um dos locais escolhendo alguns produtos, com seu alfa acompanhando-o.
— Isso aqui vai ficar lindo pendurado na parede atrás da cama. — O mais novo comentou.
— Deixa eu ver… — Lian pegou o adorno feito de couro com algumas penas presas ao redor, depois o colocou sobre os ombros do alfa. — Combina com seus belos olhos.
— Para com isso — o mais novo riu, tirando o adorno dos ombros.
— Tô falando sério.
Jay sorriu, desviando o olhar para uma direção aleatória. Nunca soube como reagir a elogios, principalmente quando estes partiam de seus companheiros.
O lugar para onde o alfa encarou foi justamente a estrada em que vinham alguns oficiais à procura do sujeito descrito por Ferreira. Jay possuía os olhos da mesma cor do suspeito, então assim que aquelas pessoas o viram, eles se dirigiram em sua direção para interrogá-lo.
— Você precisa vir conosco — declarou um oficial.
— Qual o motivo? — Jay perguntou.
— Seus olhos.
— Isso é algum tipo de piada? — Lian entrou no meio.
— Não é assunto seu.
— Ele é meu alfa, o assunto é meu também.
— Seu alfa será levado para o departamento de investigação do governo. — O oficial explicou. — Ele é suspeito de ter cometido um crime.
Lian abriu a boca para contestar, mas antes que pudesse fazê-lo, Jay o interrompeu:
— Tudo bem, Li. Eu vou esclarecer essa confusão.
— Eu também vou.
— Sinto muito, mas não pode. — Josivaldo, o oficial, percebeu pelo olhar do alfa que Lian não estava disposto a aceitar. — Se insistir, será indiciado por desobediência.
— Tá tudo bem — Jay reiterou, tocando suavemente no ombro de seu alfa. — Vou resolver isso.
A situação era efetivamente conflituosa. Lian lutou contra todos os seus instintos para aceitar a posição do mais novo, mas como um ex-oficial ele sabia, mais do que ninguém, que eles não eram totalmente confiáveis. Com isso em mente, ele buscou o apoio daquele que não seria parado nem por um exército.
Jungwon estava tendo uma conversa divertida com seu pai, Jimin, quando Lian o encontrou. Ambos estavam sentados, na proa do Luna, saboreando hidromel brasileiro.
— Eles deviam te chamar de Capitão Bolinho. — O mais velho indicou sobre a tripulação do Luna, fazendo o filho rir mais uma vez. — Vou incentivá-los a isso.
— Não! — Jungwon protestou à medida que se recuperava. — Assim ninguém vai me levar a sério.
— Desculpa interromper… — o alfa se aproximou.
— Olá, Lian — Jimin sorriu para ele. — Sente-se conosco.
A expressão preocupada que estampava as feições do alfa, fez o sorriso que Jungwon mantinha desaparecer aos poucos.
— O que houve?
— Alguns oficiais levaram o Jay.
Jungwon olhou para seu pai imediatamente, para informá-lo que aquela tarde de descanso teria de ser interrompida. Jimin devolveu o olhar, agora mais sério, e indicou antes de qualquer coisa:
— Vá.
A atenção do ômega mais novo moveu-se para Lian outra vez, quando ficou de pé:
— Leve-nos até eles.
Durante a ida até o lugar indicado pelas autoridades, Lian explicou com mais detalhes o que havia acontecido, e como foi impedido de estar junto de seu alfa.
Agora, Jungwon não encontrava-se apenas com raiva por terem levado Jongseong, mas furioso por também terem ameaçado Lian. Ninguém mexe com seus alfas e fica por isso mesmo.
Jay estava sentado em uma das cadeiras do gabinete de Toralápis, o mesmo não se encontrava no local. Ainda estavam presentes o braço direito do estimado regente, Roberto Carlos, alguns aliados e também a testemunha, Joaquim Ferreira.
Todos olharam para a mesma direção quando a porta foi aberta bruscamente com um chute, e um ômega entrou ignorando os pedidos de uma beta logo atrás, informando que ele não poderia entrar ali. Jungwon parou no meio da sala e encarou cada um dos presentes, segurando firmemente as adagas ao lado do corpo.
— Mas o que é isso, Conceição? — Roberto Carlos franziu o cenho.
— Desculpe, ele invadiu muito rápido. Não tive tempo de impedi-lo.
— Você tem dez segundos pra explicar o que está acontecendo — Jungwon apontou uma adaga para ele.
— Quem você pensa que é?
O ômega ignorou o protesto de Roberto e iniciou a contagem:
— Dez, nove, oito…
Jay buscou em Lian a resposta para aquela situação. O mais velho apenas deu de ombros. Mesmo mantendo os olhos fixos em Roberto Carlos, Jungwon estava ciente de cada um naquela sala.
Estava focado em cada um, através de sua visão periférica. Ele não era o único que estava armado, mas isso nem de longe o intimidou.
— Está tudo bem — Jay segurou a mão do ômega que mantinha a adaga erguida, e abaixou. — Não sei o que Lian te disse, mas eu vim por conta própria.
— E desde quando você confia nos oficiais? — Lian cruzou os braços.
— Não confio, mas ainda assim precisamos saber o que eles estão aprontando.
— Eles sabem que nós estamos aqui, certo? — Arnaldo perguntou aos seus.
— Você sabe que não é prudente ir ao encontro dessas víboras sozinho. — Jungwon salientou.
— UHUM! — Roberto pigarreou, atraindo a atenção de todos para si. — Vocês não tem autorização para estar aqui.
— Tá vendo isso aqui? — Jungwon ergueu a outra adaga com a mão livre. — É a minha autorização.
— O Toralápis não vai gostar nadinha de saber o que tá acontecendo na ausência dele. — Ferreira afirmou.
— Está tudo sob controle — Roberto Carlos o corrigiu e logo em seguida virou para Jungwon: — Foi apenas um mal entendido.
— Eles me confundiram com o suspeito de um assassinato. — Jay explicou.
— A nossa testemunha está certa de que não foi ele.
— Oh, que alívio. — A ironia do ômega foi bastante perceptível. — Vamos embora.
Jay e Lian estavam prontos para segui-lo. Conceição saiu da frente e concedeu passagem, mas Roberto ainda tinha algo para dizer:
— Um dos nossos foi assassinado, até então não sabemos quem foi.
Jungwon olhou para seus alfas, um de cada vez. A expressão que o mais novo transmitiu dizia para que seu ômega tivesse cautela, a de Lian esperava ao menos uma garganta cortada.
Posteriormente, Jungwon mirou seus olhos em Roberto, sorrindo pouco. Não tinha o mínimo de interesse naquele assassinato.
— De onde você tirou que meu alfa tem alguma coisa a ver com isso?
— Bom, até onde sabemos o assassino também é um jovem alfa que possui os olhos verdes.
O mesmo nome que passou na mente do ômega, cruzou pela de Lian e, sobretudo, a de Jongseong. O único que também possuía aquele traço, e que era jovem o suficiente para ser confundido com Jay. Não houve qualquer indicação por parte dos três de que sabiam de algo.
— Essa característica não é muito comum por aqui. — Ferreira adicionou, depois concluiu apontando para Jay: — O curioso é que você me lembra ele de alguma forma…
— Era só isso? — O ômega chamou a atenção para si. — Vocês já tomaram muito do nosso tempo.
— Sim. Por hora.
Os três mantiveram-se imperturbáveis até deixarem o prédio, mas quando chegaram em um local onde julgaram ser seguro para expressar suas impressões, o primeiro a se manifestar foi Jongseong:
— O que diabos Taesung aprontou?!
— Calma — Jungwon tocou em seu ombro —, ele deve ter tido algum motivo muito forte para isso.
— Concordo — disse Lian. — Seu irmão não é do tipo que mata por qualquer coisa. Aliás, ele já tinha feito isso antes?
— Não — respondeu Jay. — A única vez que ele tocou em uma arma foi quando o Jun ensinou a usar.
— Certo… — Jungwon passou os dedos entre os fios negros, jogando o cabelo para trás conforme falava: — primeiro vamos encontrar o Taesung e saber o que aconteceu exatamente.
— É o seu irmão. Onde ele poderia estar? — Lian virou-se para Jay.
— Ele é inteligente, gosta de estudar. Talvez esteja em alguma biblioteca.
— O tio Jin foi o mentor dele… — Jungwon refletiu sozinho, encarando um ponto fixo ao longe. Um de cada lado, os alfas inclinaram o rosto com as sobrancelhas franzidas e assistindo o ômega. Eles trocaram olhares mas depois voltaram a observar o menor, quando o mesmo prosseguiu: — Taesung é muito estudioso e temos orgulho disso, é verdade… mas e quando não há respostas nos livros?
— Ele tá fazendo aquilo… — comentou Jay.
— É… — o outro concordou.
Os alfas já estavam acostumados com aquele comportamento peculiar de Jungwon. Não era como se o ômega se desligasse do mundo ao seu redor completamente, mas ele possuía a habilidade de mergulhar em seus pensamentos com muita concentração, e ainda estar ciente de tudo o que acontece em sua volta. Quando ele focava em algo, dificilmente alguém poderia fazê-lo perder o raciocínio.
O próprio ômega respondeu a pergunta que fez segundos atrás:
— Os estudos são feitos por ele mesmo. — Os olhos de Jungwon brilharam quando encarou seus alfas. — Não é óbvio?
— Eu ainda não faço ideia. — Jay foi sincero.
— Olhe ao nosso redor. Que lugar ele poderia encontrar muitos recursos pra realizar seus experimentos?
Os dois fizeram como o ômega disse. Quando pararam de tentar decifrar e apenas observaram, os alfas viram a resposta diante de seus olhos. Eles estavam perante um ecossistema do qual derivam um grande número de propriedades de interesse medicinal.
— A floresta. — Lian afirmou.
— Sim. — Jungwon sorriu e apertou a bochecha dele. — Alfa inteligente!
— Vamos nessa. — Jongseong foi o primeiro a entrar na densa área repleta de todo tipo de vegetação.
Não levaram muito tempo para encontrar o médico. O alfa estava logo na orla da floresta, com Hyun fazendo companhia. Logo que viu Jungwon Taesung retribuiu o sorriso, depois para Lian e logo em seguida ergueu uma sobrancelha ao ver o irmão com o semblante sério.
— Como é que você já tem inimigos aqui? — Jay inquiriu, cruzando os braços.
Taesung não tinha certeza se podia revelar mais do que o seu irmão supostamente sabia, por isso, esquivou-se da pergunta a princípio:
— Não é da sua conta. Eu já resolvi.
— É mesmo? Então diz pra mim, porque tem gente do governo local atrás de você?
— Puta merda… — Taesung refletiu em voz alta, perguntando-se como o governo ficou sabendo que ele foi o responsável.
— Ei! — Jay atraiu sua atenção para si. — Ainda tô esperando uma resposta.
— Já chega. — Hyun tomou a voz, e todos olharam para ele ao mesmo tempo. — Não vou permitir que fiquem cobrando dele algo que foi minha responsabilidade.
— Do que tá falando? — Jungwon deu um passo em sua direção.
— Eu vou contar o que aconteceu… — Hyun revelou, em resumo, toda a história até o presente momento. — O Tae não tinha nada a ver com isso, mas se envolveu só pra me proteger.
— Que desgraçado. — Lian referiu-se ao falecido Brunão.
— Então tá tudo certo — Jay analisou. — Um deles ameaçou o Hyun, Taesung o matou. Acabou por aqui.
— Acabou por aqui é um caralho — Jungwon declarou. — Eles precisam saber que ninguém mexe com a minha tripulação.
Dito isso, o lúpus virou-se em direção a cidade. Jay olhou para Lian buscando um apoio sobre o que fazer, mas o alfa nunca foi de se importar se Jungwon mataria uma cidade inteira ou não.
O Capitão do Luna era um ômega que usava a razão na maioria das suas escolhas, mas se tratando de alguém que ele ama, não interessa as consequências, a emoção tende a ocupar um espaço maior.
É por isso que ele escolheu Jay como seu contramestre. Sua cautela junto ao tato de lidar com o ômega eram cruciais nos momentos em que Jungwon age sem antes refletir.
— Tô orgulhoso do que fez. — Jay revelou ao irmão. Após receber um sorriso do mais novo como agradecimento, ele os deixou para encontrar o ômega.
Com as mãos dentro dos bolsos e totalmente despreocupado, Lian observou seu alfa até que o mesmo sumiu entre as árvores. Posteriormente, sua atenção foi para os outros dois que estavam conversando entre si.
O olhar de ambos foi movido para Lian quando este perguntou:
— Vocês vieram aqui pra namorar escondido ou algo do tipo?
O rosto do ômega ruborizou tornando-se mais vermelho a cada segundo. Ele evitou o contato visual direto com Lian e desviou o rosto para a erva na qual estava colhendo as folhas antes.
— Não. — Taesung respondeu, exibindo um recipiente cheio de pétalas brancas. — Ele tá me ajudando com isso aqui.
— Tendi. — Lian assentiu.
Enquanto isso, Jay conseguiu alcançar Jungwon no momento em que o ômega estava deixando a área coberta por árvores. O foco era tão intenso em seu objetivo que só parou de andar quando sentiu a mão do alfa segurando seu braço.
— Me escuta, por favor. Estamos tão perto de saber de onde vem toda essa riqueza. Se você for lá e matar todo mundo isso vai se tornar muito maior.
— Eles precisam saber com quem estão lidando.
— E vão saber. A gente só precisa ter paciência e esperar mais um pouquinho.
— Hmm… — Jungwon refletiu. Levando em consideração o motivo de terem atravessado todo o Mar Tenebroso, os argumentos de Jay eram fortes. Isso, além do toque suave do alfa em seu braço, fizeram-no mudar de ideia. — O que você sugere?
— A gente leva o Taesung lá e conta o que aconteceu.
— Ah, meu Deus! Você é tão bonzinho, Jay. Acha mesmo que eles vão aceitar?
— Eles não tem escolha. Se o meu plano não der certo, a gente vai no seu.
— Tá. Então qualquer coisa a gente mata — Jungwon deu de ombros.
Naquele instante, Lian, Taesung e Hyung saíram da floresta e se encontraram com os dois que estavam próximos. Depois que Jay explicou como a situação seria conduzida, o médico acompanhou ele e Jungwon até o edifício.
Lian ficou fazendo companhia a Hyun, para não deixá-lo sozinho enquanto o ômega esperava por Taesung. Apesar de estar envolvido na confusão, Jungwon decidiu que não havia necessidade de expor o mais novo no covil do governo.
Hyun manteve o rosto virado, para que Lian não pudesse olhar para ele de frente. Ainda estava envergonhado pelo que o mais velho tinha perguntado minutos atrás. Estavam observando situações diferentes, quando alguém se aproximou, ambos moveram sua atenção ao mesmo tempo para Jackson.
— Tomando um ar fresco? — O lúpus apoiou a mão no ombro do filho e o beijou na cabeça.
— Estou observando as pessoas, com o Lian.
— Entendi…— Jackson trocou olhares com o outro alfa, depois avisou ao ômega: — Não vá muito longe sozinho.
— Meu pai já disse isso.
— Sempre é bom recordar.
Hyun assentiu recebendo outro afago do lúpus no cabelo. Jackson lançou outro olhar para o alfa mais novo, antes de se retirar. Lian manteve seus olhos fixos no lúpus conforme este se distanciava. Somente desviou sua atenção quando escutou o ômega resmungando ao seu lado:
— Ótimo. Agora vão ficar no meu pé.
— Ele se preocupa com você.
— Eu sei. Acontece que eu não sou mais criança.
— Eu também não. Na verdade, eu sou bem mais velho que você, mas a minha mãe continua se preocupando.
— Como você lida com isso?
— Fazendo o que eu quero. — Lian viu que talvez aquela frase despertasse rebeldia no ômega, e rapidamente adicionou: — Mas não faça isso.
— Mas você disse…
— Eu não sou um bom exemplo. — Lian piscou para ele. Hyun ergueu as sobrancelhas e ambos riram juntos. — Seus pais te amam muito. Eles vão cuidar de você até…
Quando parou de falar, Lian olhou na direção que Jackson havia tomado, mas o lúpus já havia desaparecido. Ele não pensou em nada em particular, somente o aroma de menta que ligeiramente ficou em sua memória que automaticamente o fez olhar naquela direção.
— Até o quê? — Hyun o chamou.
Lian virou sua atenção para ele e sorriu, antes de responder:
— Até em outras vidas.
Continua…
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