[75] Presepadas
Logo no início desse capítulo vai ter umas passagens de tempo longas…
Pra quem não lembra, a Zoe é uma ômega irmã da Lis, as duas são filhas de Yuri e Celina.
Pra não ficar repetindo na história a idade de todo mundo, eu vou adiantar aqui quantos anos os personagens mais novos terão neste capítulo. Contando a partir do ano de nascimento deles e todas as passagens de tempo que tiveram, e que terão no início deste capítulo eles têm:
Jungwon : 23
Lian : 26
Jay: 21
Taesung e Lis : 18
Sarah e Hyun : 14
Eunji e Zoe : 13
É claro, o tempo continua correndo, então conforme eles seguem viagem e os meses vão passando, a idade vai crescendo.
Um último adendo, embora possa acontecer algumas interações basiquinhas, Sarah e Hyun terão de crescer um bocadinho mais para começar a ter um romance com seus pares, por razões óbvias.
Boa leitura:
Meses haviam se passado desde que Jungwon e sua tripulação partiu para Cabuga, em busca de aperfeiçoar o Luna. O navio agora contava com mais canhões e morteiros, além de cabos e velas mais fortes.
A julgar pela quantidade de velas novas, já era possível que a enorme embarcação ultrapassasse o Black Swan em velocidade. Contudo, o navio de velas negras ainda possuía o ataque mais feroz da época.
Antes de retornar a Nabuco, Jungwon e sua tripulação ainda saqueou alguns navios mercantes, passando uma breve temporada pelos mares do Sul. Quando finalmente decidiram voltar à Ilha, encontraram o Black Swan seguindo a mesma rota.
As duas embarcações seguiram juntas até ancorar no porto do maior centro de contrabando, a Ilha de Nabuco. Ainda que algumas tripulações tivessem aceito o perdão real, muitas outras surgiram logo após. A Marinha continuava sem alternativas para invadir e tomar o antigo centro comercial.
O perdão real não veio com o resultado esperado, e tampouco seria possível voltar a fazer negócios com os piratas. O capitão Jeon não iria confiar nem mesmo na sua própria mãe, se ela voltasse com o uniforme da Marinha. Yuri compartilhava do mesmo pensamento.
O combinado era esperar cerca de dois anos, para que o Luna finalmente estivesse pronto para que fossem atrás de novas aventuras pelo Mar Tenebroso. Poderia não ser o mais mortal de todos, mas o navio de Jungwon já colocava medo em galeões de guerra, principalmente pelo tamanho intimidador.
As provisões estavam sendo transportadas para as duas embarcações. Muita água potável, comida e medicamentos. Armas e munições, obviamente, também não poderiam faltar. A maioria foi armazenada no porão doLuna, devido a maior capacidade de carga.
Na enfermaria do Black Swan, Seokjin concedia as últimas instruções a Taesung. Sungjae também estava alí, todo orgulhoso por ver seu filho se tornando o médico de uma tripulação.
— Você agora não é mais um aprendiz — Seokjin afirmou. — Nesses quatro anos você estudou e se dedicou mais do qualquer outro. É um médico, e eu confio cegamente na sua capacidade.
— Obrigado, Jin. — O alfa assentiu, sorrindo para ele. — Por tudo que me ensinou, e pela paciência nas vezes que errei.
— Certo. É melhor você ir pro Luna antes que teu pai comece a chorar.
Taesung olhou para o lado e viu Sungjae com os olhos cheios de lágrimas, mordendo o lábio para não chorar. Ele não aguentou segurar por muito tempo e logo a primeira desceu pela bochecha, seguindo de outras quando abraçou o mais novo.
— Eu tenho tanto orgulho de vocês — o ômega se referiu aos dois filhos. — Você se dedicou tanto. Foi um bom aprendiz, e olhe que eu sei como o Jin pode ser exigente…
— Eu só ensino se for assim. — Seokjin cruzou os braços.
— E agradecemos por isso — Sungjae sorriu para ele, depois olhou para o filho: — Vai, meu príncipe. Jungwon precisa de um bom médico na tripulação dele.
— Eu vou tentar ser tão bom quanto você e o Jin.
— Você sabe que será melhor.
— Claro. Eu que ensinei. — Seokjin suspirou.
Taesung se despediu de ambos, mais uma vez, e deixou o Black Swan para se juntar à tripulação de Jungwon. O ômega ainda secou algumas lágrimas, mas parou de chorar quando Seokjin o repreendeu:
— Vai trabalhar, ômega chorão.
— Aff! — Sungjae deu as costas e riu.
A caminho do Luna, a primeira pessoa que Taesung encontrou assim que subiu a rampa de acesso ao navio, foi o seu irmão. Jay estendeu a mão para ele e sorriu, recebendo o mais novo como irmão e contramestre.
— Bem vindo.
— Obrigado — sorriu de volta e perguntou assim que subiu a bordo: — Certo. Onde fica a enfermaria?
— Não temos.
— E onde você quer que eu trate dos feridos? Na minha cabeça?
— Mais respeito quando falar comigo — Jay ergueu uma sobrancelha. — Sou seu contramestre.
— Então coloque sua bunda de contramestre pra trabalhar e me consiga uma enfermaria.
Jay suspirou, desconsiderando o jeito do mais novo. Se Taesung nunca o obedeceu por ser o irmão mais velho, quem dirá como contramestre. Ter herdado um pouco da personalidade de Scott também não o ajudava muito.
— Tá bom, vamos ver com o Jun. — Guiou o mais novo até a cabine.
Jay abriu a porta devagar, para não atrapalhar o raciocínio de quem estudava os mapas em seu interior. Ele sabia que Taehyung se encontrava com o capitão do Luna, para que Jungwon estivesse ciente da rota que iria navegar junto ao Black Swan.
— Esse leviatã que você citou é maior que o Krazinho? — O ômega perguntou.
“Ele é meu amigo.” — O Kraken revelou.
— Por que você nunca me contou sobre seus amigos abissais? — Jungwon perguntou.
— Oi? — Taehyung franziu o cenho.
Jungwon negou e apontou para a própria cabeça. O navegador compreendeu que ele estava se comunicando com o Kraken, e assentiu.
“Nunca entramos nesse assunto.”
— Tá, mas depois você vai me contar sobre isso — o ômega advertiu, em seguida virou-se para os alfas se aproximando naquele instante. — Olá. Bem vindo, Taetae.
— Obrigado, capitão.
Jungwon sorriu tímido.
— Nhaa… não precisa me chamar assim entre nós.
— Ele tá querendo uma enfermaria — Jay revelou.
— Não é bem assim, explica isso direito… — Taesung o repreendeu. — Eu só esperava um lugar limpo, onde eu possa armazenar os remédios e cuidar dos feridos.
— Perfeitamente compreensível — Jungwon olhou sem jeito para o navegador. — Acho que nossa viagem vai atrasar algumas horinhas…
— Sem problemas, eu aviso pro Capitão. — Taehyung sorriu compreensivo. — No mais, essa é a nossa rota inicial.
— Muito obrigado, Tae. — Enquanto o beta enrolava seus mapas para deixar a cabine, Jungwon solicitou ao seu contramestre: — Por favor, leva seu irmão ao mercado e compra tudo o que ele julgar necessário.
— Pode deixar. — Jay assentiu e levou o mais novo consigo. Ambos deixaram o cômodo acompanhados por Taehyung.
No lado de fora da cabine, passaram por alguns marujos que estavam pelo convés, preparando o navio para zarpar incluindo as novas grumetes da tripulação.
— Imagina só o que a gente vai poder fazer com essa coisa linda aqui, Eunji… — Sarah suspirou, passando a mão ao longo de um canhão.
— Não acho que o capitão vai permitir que vocês duas usem os canhões ainda. — Lis comentou.
— Seu nome é Eunji? — Sarah virou-se para ela.
A beta apoiou a mão no coração, como se tivesse levado uma punhalada. Eunji respirou fundo para não rir, mas tentou deixar a prima ciente:
— Não acho que ela esteja falando por mal… Nós realmente somos muito novas pra liderar um ataque.
— Eu sei… — Sarah murchou os ombros. — Mas será que eu não posso nem sonhar?
A alfa saiu resmungando. Lis sorriu, negando com a cabeça. Ela voltou a olhar para Eunji, quando a mesma voltou a pronunciar:
— Acredite, não é pessoal.
— Não se preocupe. Eu lido com o serviço pesado do navio. Tô começando a me acostumar aos coices da sua prima.
— Eu juro que nas horas vagas ela é um amorzinho… — Eunji sorriu, mostrando os dedos cruzados.
— Que bom que você não tenta esconder seus olhos — a beta suspirou, admirando. — O que você tem de diferente, te deixa com uma beleza única.
— A Zoe disse isso uma vez… Na verdade, ela evidencia isso de uma forma que me deixa muito a vontade mesmo que seja tão diferente.
— Fico feliz em ouvir isso. Aliás, eu tô indo na casa dos meus pais antes de partir, você não quer vir comigo pra se despedir dela?
Eunji forçou um sorriso e assentiu. A alfa não estava triste exatamente, mas lamentava o fato de que os reinos além do Mar Tenebroso eram extremamente longe, sendo assim, ela iria passar um longo tempo sem falar com Zoe, a quem tanto se apegou.
Ao chegarem na residência, Lis deixou a alfa conversando com sua irmã enquanto se encontrava com Yuri, para tratar de alguns assuntos do estaleiro.
— Você não parece muito feliz. — Zoe comentou. Estava usando o enfeite de cabelo que ganhou da alfa.
— É que eu queria que você viesse com a gente.
— Não posso…
— Tudo bem, eu entendo.
Zoe ficou um tempo em silêncio, sem saber o que dizer. A ômega também sentia vontade de ir junto, só para estar perto de Eunji. Vagarosamente, ela se aproximou e fez uma trança na lateral do cabelo da alfa.
— Pronto. — Ela afirmou, quando Eunji tocou no lugar trançado.
— Em você fica muito mais bonito — a alfa evidenciou, em relação ao penteado no cabelo de Zoe.
— É pra você lembrar de mim. — A ômega sorriu.
Eunji sorriu de volta, pensando em qualquer coisa que poderia deixar para ela também. Encontrou algo que certamente poderia ser considerado muita ousadia da sua parte, mas a alfa tentou, antes de se arrepender:
— Posso te dar algo também?
— Claro que sim!
— Fecha os olhos…
A ômega fez como indicado. Eunji respirou fundo e se aproximou devagar. Zoe sorriu ao perceber o toque de uma das mãos da alfa em seu rosto. Ela só não esperava quando sentiu lábios encostarem suavemente nos seus, e logo em seguida se afastar repentinamente.
Quando a ômega abriu os olhos, Eunji afirmou:
— Pra você lembrar de mim. — Zoe sorriu tímida quando desviou o olhar. — Eu agi mal?
— Não! — voltou a encarar a alfa. — Eu gostei…
— Vamos lá, Eunji? — Lis surgiu na porta. Virando-se para a irmã: — Até nosso próximo encontro, minha bonequinha linda.
— Vou sentir saudades. — Zoe abraçou a mais velha.
— Quando você piscar os olhos, eu estarei aqui novamente — Lis tocou no nariz da ômega, e a mesma sorriu.
— Até mais, Eunji… — Zoe acenou com a mão, sendo retribuída pela alfa.
A ômega acompanhou com os olhos as duas garotas se afastando em direção ao cais. Quando ambas sumiram de suas vistas, Zoe reparou em alguns piratas que levavam caixas com suprimentos para os navios, e ponderou se era pequena o suficiente para caber dentro de um daqueles compartimentos.
🏴☠️
A viagem que estava prevista para o entardecer, atrasou algumas horas devido a longa lista elaborada por Taesung. O alfa queria garantir que pelo menos tivesse o básico na enfermaria do Luna. Era uma longa viagem em um mar extremamente perigoso, o médico pretendia estar preparado para qualquer eventualidade.
O compartimento em que eram armazenados os objetos quebrados, que poderiam servir de utilidade para algum serviço, se tornou a mais nova enfermaria do navio. Os itens que ali estavam foram removidos para o porão, e os que não tinham mais serventia foram descartados.
Duas camas foram alojadas naquele cômodo, e Taesung se virou para montar algumas prateleiras. Não era muito, mas foi o suficiente para deixá-lo satisfeito. Para quem antes não tinha nada, aquilo era um verdadeiro milagre.
Os navios estavam prontos para zarpar, mas ainda restava um impasse. Tanto a tripulação do Black Swan quanto a do Luna estavam aguardando ansiosas enquanto Jisung e seu alfa discutiam sobre algo importante em seu quarto.
— Ele nem teve o primeiro heat ainda, meu bem — Jackson argumentou. — É muita irresponsabilidade deixar ele ficar sozinho no Luna.
— Primeiro que ele não vai estar sozinho — O ômega cruzou os braços. — Segundo, Sarah também não teve o rut dela, qual é a diferença?
— Nossa menina pode explodir a cabeça de qualquer um que tentar algo com ela. O Hyun não.
— Você sabe que proibir um ômega de fazer algo, não funciona, certo? A prova disso é que eu estou aqui com você, e não com o Tenente.
— Você não devia incentivar o Hyun a desobedecer…
— Não estou fazendo isso. O que você precisa entender é que, com a nossa permissão ou não, ele vai arranjar um jeito de ir com o Jungwon.
— Hmm…
— A diferença é que se ele for sozinho, será mais perigoso do que com o nosso apoio. — Jisung falou, suave. — Quando eu fugi encontrei você no galeão, mas quem o Hyun iria encontrar no Luna, caso vá escondido?
Jackson ponderou, imaginando seu pequeno filhotinho indo parar nas mãos de algum alfa seboso do Luna. Sem o conhecimento de Jungwon, Hyun estaria correndo um sério risco a bordo do navio.
É certo que há uma regra bastante rigorosa no Luna, no entanto, mandar um marujo a prancha não iria desfazer algo tenebroso que ele viesse a fazer com o ômega.
— Tudo bem… — o alfa cedeu. — Mas ele vai tomar o chá antes de embarcar.
— E você acha que eu não já cuidei disso?
— Então você armou tudo sem me contar… — Jackson estreitou os olhos.
Jisung sorriu, mordendo o lábio inferior, disfarçando enquanto mexia na própria roupa.
— Eu já sabia que você iria permitir — Ele ergueu os olhos e o encarou. — Meu alfa é muito compreensivo…
— Você faz o que quer comigo e ainda se orgulha disso — Jackson o puxou para mais perto.
Os dois só não passaram mais tempo trocando beijos e carícias, porque haviam duas tripulações aguardando o parecer de ambos. Hyun já estava com seus pertences organizados no Luna, só Jackson que ainda não tinha conhecimento disso.
As velas estavam soltas ao vento quando as âncoras foram erguidas. Luna e Black Swan seguiram deslizando rapidamente em direção ao Sul, para contornar as ilhas do Triângulo da Morte e finalmente cruzar oceanos a caminho do Mar Tenebroso.
Jay reuniu toda a tripulação no convés do Luna, a pedido de Jungwon, para que o mesmo pudesse esclarecer alguns pontos. Hyun estava de um lado e o contramestre do outro, quando o lúpus iniciou:
— Este é o Hyun, que com exceção da minha irmã — Jungwon mostrou a alfa lado ao lado de Sarah —, é o mais novo do navio, junto a irmã dele. Quero deixar claro que aquele que perturbar o meu querido priminho, não vai conhecer a prancha porque estarei muito ocupado torturando o infeliz. Acreditem, aquele que ousar desobedecer vai implorar pela morte, e ela não virá. — O ômega esperou os alfas e betas processarem as informações, para continuar: — Vocês sabem que embaixo do Luna há uma bela criatura que pode ouvir qualquer ruído a milhas de distância. Não importa se eu esteja dormindo ou no inferno, se o Kraken me avisar sobre qualquer alteração eu vou aparecer e o embuste vai sofrer. Muito… — a última palavra foi dita vagarosamente e com bastante ênfase. — Será que eu fui claro?
— Mais claro que as águas do Mar Tenebroso — Tony afirmou.
— Você já conheceu o Mar Tenebroso? — Corty perguntou, curiosa.
— Não. — Tony revelou, a alfa revirou os olhos.
Enquanto todos assentiram, balançando a cabeça, confirmando com murmúrios e alguns "sim, senhor", um tiro foi disparado, causando um ligeiro susto na tripulação. Todos olharam na direção do disparo, Sarah estava segurando uma pistola e ainda mantinha o objeto na mesma posição, com o cano apontado para cima.
— Sabe tudo o que o capitão acabou de dizer? — Ela perguntou, encarando a tripulação. — Mexam com meu irmão, e eu farei o dobro com vocês.
Os marujos sentiram a advertência. Ninguém estava disposto a enfrentar o Capitão do Luna, quando este trazia diversos saques. Além de que, de todos que estavam a bordo, Jungwon é o último que os marujos pretendiam lutar contra. O ômega raramente saía ferido de um embate.
Após o breve informe, os piratas seguiram seus rumos, cada um ocupando-se com uma atividade qualquer, ou simplesmente jogando conversa fora.
Jungwon ofereceu a cabine para que seu primo voltasse a dormir consigo, mas o ômega não ficou à vontade com a ideia de que Lian e Jay seriam removidos para lhe conceder um lugar.
— Mas você vai ficar sozinho… — Jungwon tentou insistir.
— Não. — Hyun manteve-se firme. — Eu não vim pra trazer problemas. Eu posso ficar sozinho, não tenho medo. Não vou tirar seus alfas do seu leito.
— Sabe que não é nenhum problema — Jay sinalizou. — O Lian e eu podemos dormir nas camadas inferiores.
— Você pode dormir com o Jun — Lian também opinou. — Não se preocupe com isso.
— Por favor, não me tratem como alguém tão inútil que não pode dormir sozinho. Assim vou sentir que sou um estorvo.
— Tudo bem — Jungwon aceitou —, fica com o Puffy, pelo menos ele te faz companhia.
— Melhor assim — Lian comentou. — Esse coelho não pode ver certas atividades que são feitas na cabine.
— Li… — Jungwon virou-se para o alfa, cuidando para não revelar mais que o necessário. — Vai cuidar do leme, meu amorzinho, vai…
O lúpus não esperou por uma resposta, quando o girou pelos ombros e o impulsionou em direção ao convés superior.
— O que ele quis dizer com isso? — Hyun olhou para as meninas e depois para Jungwon.
— Explica pra eles, Jayzinho… — o ômega tocou em seu ombro e saiu, deixando o contramestre sozinho com os três grumetes.
O alfa encarou os três, sem saber exatamente o que responder. Eles esperaram ansiosos por uma explicação, mas não foi o que Jay lhes concedeu:
— Por que ao invés de especular o que acontece na cabine do capitão, vocês não vão polir os canhões, hm?
Os mais jovens seguiram a ordem indireta do contramestre, e dividiram-se entre os aparelhos para remover a pólvora acumulada dentro dos canos.
Não era um serviço tão pesado quanto limpar o navio inteiro. Quem reclamava de lavar o convés do Black Swan é porque não teve que lidar com o enorme pavimento do Luna.
O alfa que ficou com o ofício adiou o trabalho e foi procurar o médico na enfermaria, para tratar de um assunto que estava começando a se tornar um grande incômodo na vida do marujo.
— Eu preciso que você dê um jeito nisso. — Ele abaixou as calças assim que entrou na enfermaria, exibindo sua genitália para o médico.
Taesung estava preparando um amplo estoque de chás que contém o cio dos alfas e ômegas. Ele continuou na mesma posição, triturando as folhas de uma flor, movendo somente os olhos para as partes baixas do marujo. A área estava coberta por úlceras e verrugas.
— Não temos tratamento pra sífilis aqui — o médico voltou sua atenção para a produção quando concluiu: — Mercúrio é muito difícil de encontrar, além de ser extremamente caro.
— E o que eu faço agora?!
Taesung olhou novamente para o órgão do alfa, depois encarou o mesmo para logo em seguida indicar:
— Ajoelha e reza.
— Se vira! Faça alguma merda pra ajudar. — O alfa se aproximou, rosnando ameaçador. — Ômega de bordel algum vai me aceitar desse jeito!
— Duas palavras pra você: não ligo. — O médico deu as costas para ele e passou a adicionar a mesma quantidade de água em uma série de recipientes. — E se não tiver mais nada pra fazer aqui, saia da minha enfermaria porque eu ainda tenho muito trabalho a fazer.
— Maldito… — o alfa saiu resmungando.
Aquela foi como uma das muitas cenas que ele presenciou quase diariamente no Black Swan, marujos entrando na enfermaria e exigindo que os médicos façam milagre. Seokjin e Sungjae nunca permitiram que os piratas dominassem seu local de trabalho, e Taesung faria o mesmo.
Só faltava adicionar a seiva coletada das folhas em cada recipiente, para obter o chá que interrompe o rut. Posteriormente, o médico planejou criar um estoque para o chá que suspende o heat. Estava separando os ingredientes quando ouviu passos chegando perto da enfermaria.
— Eu já disse pra você dar o fora daqui! — Virou-se furioso, acreditando ser o mesmo alfa de antes. Mas encontrou Hyun, parado na porta. — Ah… oi, desculpa… pensei que fosse outra pessoa.
— Sem problema — o ômega se aproximou à medida que analisava o cômodo. Ele estava segurando uma pequena caneca. — Sei que ainda está organizando suas coisas mas, você teria o chá de nenúfar?
— Ainda não. Eu vou fazer agora, se você quiser esperar — Taesung indicou uma cadeira. — Não sabia que você já…
— Não, não! — Hyun corrigiu rápido. — Eu ainda não tive… Mas o meu pai disse que eu devo tomar todos os dias.
O médico franziu as sobrancelhas, pensando no que o mais novo havia dito. Taesung já leu tantos livros sobre o assunto que logo percebeu a incoerência do que estava sendo feito. Mas se Jackson o instruiu para que fizesse isso, um motivo deveria ter.
— Ele disse o por quê? — O alfa indagou, fechando os potinhos.
— É pra atrasar o meu heat.
— Escuta… — se aproximou do ômega e sentou perto dele. — Na melhor das hipóteses, se você tomar esse chá todos os dias não vai acontecer nada. É como tomar remédio pra dor, sem sentir dor.
— E qual seria a pior?
— Você pode ficar estéril. Também pode acontecer o efeito contrário, ou seja, adiantaria seu heat e nem mesmo o chá poderia contê-lo, porque seu organismo já estaria saturado.
— Eu tomei ontem! O que eu faço?!
— Não precisa se preocupar, só foi um dia. Mas se quiser pode beber bastante água pra limpar o seu corpo naturalmente.
— Que vergonha… — Hyun cobriu o rosto com as duas mãos. — Eu não sabia.
— Tudo bem. Eu também não sei de tudo — o alfa deu de ombros. — Esse chá deve ser tomado quando você sentir pelo menos um dos sintomas que antecedem o heat. Você sabe quais são?
— Sim. Meu pai me contou… — Dessa vez, o ômega estava se referindo a Jisung.
— Perfeito. Eu vou fazer o chá e depois levo pra você. Deixa guardado no seu quarto, no primeiro sinal você já desce e toma.
— Obrigado, Taetae. — Hyun sorriu para ele.
— Não precisa agradecer, estou aqui pra isso. — O alfa também sorriu para ele, e em seguida aconselhou: — Na próxima parada que a gente fizer, se o seu pai perguntar se você tá tomando o chá, fala pra ele que tomar remédio por conta própria, sem uma orientação, pode trazer reações graves, incluindo a morte.
— Nossa, fiquei até com medo agora.
— Você vai ficar bem, mas é importante que as pessoas entendam isso.
— Pode deixar, vou avisar o meu pai. — Hyun olhou a sua volta, encontrando algumas caixas ainda fechadas e prateleiras vazias, em seguida, virou sua atenção para o alfa quando ofereceu: — Você quer ajuda?
— Na verdade sim — o alfa levantou e buscou uma caixa, em seguida abriu-a diante do mais novo. — Você pode ir colocando esses pontinhos nas prateleiras mais baixas. Organiza-se pelas cores dos rótulos, tá bom?
— Pode deixar.
Hyun finalmente sentiu-se útil em alguma coisa que não exigia habilidades de lutas ou saber atirar. Era simplesmente organizar potinhos nas prateleiras. Além do mais, Taesung era uma ótima companhia. O alfa era engraçado e, assim como ele, não apreciava atividades violentas.
— Eu tô fazendo certo? — O ômega parou, segurando dois potinhos com a etiqueta lilás, esperando pela resposta para continuar a organização.
— Está perfeito. — Respondeu, após analisar as prateleiras. Ele sorriu pela animação do mais novo e depois continuou a criar o antídoto para os ômegas.
Taesung fez o mesmo processo com o chá de nenúfar. Ainda que tivesse apenas Hyun e o próprio Capitão na tripulação, ele criou a mesma quantidade para caso o Luna tenha mais ômegas a bordo no futuro.
— Preciso da sua opinião… — Pancho, o mesmo alfa, da sífilis retornou. Assim que entrou na enfermaria já estava com o cinto removido, mas as calças continuavam acima dos quadris. — Eu acho que dei um jeito, deixa eu te mostrar…
O alfa pretendia abaixar as calças para revelar sua intimidade. Até segurou no cós e curvou o corpo para fazê-lo, mas Taesung o impediu.
— Não! — O médico olhou para trás e encontrou Hyun prestando atenção na conversa. Depois virou para o alfa e perguntou: — Você ficou maluco?
— Mas como você vai ver?
Taesung olhou para trás novamente, o ômega permanecia atento à discussão dos dois. Não iria pedir para que Hyun deixasse a enfermaria, por isso, o médico guiou Pancho até o corredor e encostou a porta de modo que o ômega não pudesse ver o que acontecia do lado de fora.
— Por que você não colocou aquele menino pra fora? O enfermo aqui sou eu…
— Mostra logo.
— Tá. — Pancho desceu as calças e mostrou o órgão coberto por um material duvidoso, que aparentava ser uma fina camada de pele. — O que acha? Com isso ninguém vai perceber.
— E o que é isso? — Taesung não disfarçou a expressão de asco, e teve medo de ouvir a resposta.
— Tripa de carneiro. — Informou. O médico fechou os olhos enquanto Pancho continuava explicando os detalhes: — Corty matou um pra cozinhar, eu vi aquilo e pensei: por que não?
— Meu Deus…
— Foi difícil de encaixar no começo, mas aí eu abri a tripa e…
— Não precisa continuar. — Taesung abriu os olhos esperando não ver aquilo na sua frente, mas ainda estava lá. — Vamos fazer o seguinte, você vai lá no convés e joga isso fora, depois finge que não me contou e eu finjo que não ouvi.
— E você quer que eu use o quê?!
— A noção?
— Eu não vou tirar porra nenhuma!
Além de tratar dos enfermos, era dever do médico tomar medidas preventivas para evitar doenças e manter a saúde da tripulação. A conduta de Pancho poderia colocar em risco todos que estavam a bordo. Taesung não iria permitir que um só marujo contaminasse todo o navio.
— Você vai tirar essa porcaria.
— Não!
Pancho virou-se para correr mas só conseguiu avançar 4 passos em sua fuga, ele tropeçou nas calças enroladas nos joelhos e caiu de frente para o chão. Com o barulho produzido, Hyun apareceu na porta sem entender o que estava acontecendo.
— Tá tudo bem aí?
— Sim! — Taesung estava abaixado, cobrindo a visão do ômega enquanto ajudava Pancho a vestir suas calças. Para que o ômega não se aproximasse, ele pediu: — Ainda tem algumas caixas com ataduras e bandagens, vai arrumar pra mim?
— Tá bom… — Hyun ainda continuou parado na porta por alguns segundos tentando entender o que estava acontecendo, mas com o médico cobrindo sua visão, era um pouco confuso. Ele desistiu e retornou para a enfermaria.
Ainda sentado, Pancho esticou as pernas para que as calças subissem, depois ficou em pé e continuou até que a roupa fosse encaixada na cintura. Ele segurou a peça que estava sem o cinto, para que não caísse conforme era guiado pelo médico até o pavimento superior.
Antes de bater na cabine, para não atrapalhar o capitão caso ele estivesse ocupado, Taesung buscou a sua volta e encontrou o irmão encostado no parapeito do navio, supervisionando o trabalho de alguns piratas.
— Jay! — Ele acenou, recebendo a atenção do mais velho. — Preciso da sua ajuda.
O contramestre assentiu, depois virou-se para os demais piratas:
— Se eu voltar aqui e o serviço não estiver do jeito que o Capitão indicou...
— Tá, tá, relaxa…
— Hum. — Jay os deixou para encontrar-se com o irmão, que estava acompanhado de outro alfa diante da cabine. — O que foi?
— Ele fez algo que pode trazer uma série de doenças pra tripulação — o médico foi direto. — E se recusa a tirar.
— Mostre.
— Uhm… é melhor que seja em uma local reservado… — Taesung aconselhou.
Jay suspirou e abriu a porta da cabine. Ele entrou sozinho e falou com Jungwon, depois abriu a porta um pouco mais para que os outros dois pudessem entrar. O capitão estava fazendo alguns cálculos e adicionando no caderno de registros.
Taesung explicou a situação. Jungwon levou algum tempo para assimilar, ou, tal como o médico, não queria acreditar no que acabou de ouvir. Quando Pancho mostrou a presepada feita em sua intimidade, o ômega mandou que ele retirasse aquilo imediatamente, mas o alfa continuou se negando.
— Eu não vou trazer doenças! — Ainda tentou argumentar. — Prometo que só vou usar quando a gente ancorar em algum lugar que tenha bordéis.
— Vai ficar necrosado até lá. — Taesung alegou.
— Tira isso agora. — Jungwon passou as mãos nos olhos e respirou fundo.
— Capitão? — Poncho insistiu. — Se um dos seus alfas tivesse sífilis até você iria querer usar.
A princípio, a decisão de fazê-lo retirar as vísceras da genitália era para o seu próprio bem, além de preservar a saúde da tripulação. Agora, aquela afirmação de Poncho foi o fator decisivo para que Jungwon decidisse a sentença.
— Joga ele pra fora do navio. — O Capitão ordenou com voz tranquila, e voltou a escrever no diário.
Jungwon tomou a decisão tão fácil quanto seu pai, Jungkook, tomaria se estivesse em seu lugar. Esse era o lado bom de ter herdado a consciência do alfa.
— Que palhaçada! — Poncho berrou. — Eu vou lavar todos os dias.
— Não adianta — Taesung contrapôs. — Se ao menos estivesse seca e limpa, mas os tecidos já estão morrendo…
Descrever a situação em que se encontrava a genitália do alfa era extremamente nojento e desnecessário mas, pode-se dizer, para se ter ideia, que haviam moscas sobrevoando perto da virilha de Pancho.
— Anotem as minhas palavras, com dois alfas, o capitão será o próximo que vai precisar usar.
— Por que esse estrupício ainda está na minha frente? — Jungwon fechou o livro, com um semblante sério.
Quando Jay precipitou-se para expulsá-lo do navio, Pancho adiantou-se e saiu correndo. Ele apanhou um pedaço de madeira que estava solto no convés e pulou no mar. Tudo isso para não se desfazer da tripa de carneiro.
Continua…
O desenho que Michele fez representando a aparência do trisal, ficou do jeito que imagino *-*
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