[59] Um Lado Para Lutar
Boa leitura: 🥰
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Logo após instalarem-se em uma pousada, Taesung acompanhou seu irmão e Jungwon até um bosque que ficava depois da Fortaleza, com um caminho que dava para os rochedos perto da praia.
A intenção era ensinar Taesung a atirar usando uma pistola de verdade. O Alfa não sabia lutar, o que era extremamente necessário vivendo a bordo de um navio pirata. Também estavam ali para se divertir, embora aquele tipo de atividade não seja a preferida do mais novo.
— É só apertar o dedo no gatilho e pronto. — Taesung argumentou. — Não tem segredo.
— Não, Taetae. Precisa destravar a pistola antes — Jungwon mostrou a ele como se faz. — Tá vendo esse dispositivo? Aperta aqui pra mirar no seu alvo e só então atirar. Desse jeito…
Jungwon apontou a arma que empunhava na direção do tronco seco de uma árvore morta. Havia uma mancha em seu relevo, que foi substituída por um buraco quando o Ômega acertou o tiro bem no alvo.
— Você faz parecer fácil.
— Não é tão complicado.
— Talvez, mas como faz quando a mira não é tão boa?
— Nesse caso você faz assim… — Jay destravou a própria arma e disparou cinco vezes contra o pequeno buraco deixado pelo Ômega, agora ficando muito maior devido a força de fogo exercida sobre o alvo.
— Nossa… — Taesung agachou-se ao lado do tronco no chão, passando a ponta dos dedos na parte alvejada. — Se isso fosse uma pessoa, seria um milagre sobreviver.
— Essa é a intenção. — Jay afirmou com muita confiança, fazendo uma pose intimidadora e exibindo-se com a arma em punho. — Quanto mais agressivo você for, mais terá a chance de salvar aqueles que ama. Não tenha dó dos seus inimigos.
— Que másculo... — Eles ouviram uma voz brincalhona. Lian estava os observando encostado em uma árvore, um pouco distante. Assim que foi notado, ele se aproximou dos demais. — Eu ouvi tiros, vim saber o que era.
— Estamos ensinando o Taesung a usar uma pistola. — O Alfa explicou.
— Está fazendo errado. — Lian avisou.
— Pergunta pra aquele tronco ali se foi errado. — Jay brincou.
— O tronco tá parado, seus inimigos também ficarão imóveis em um ataque? Há um jeito mais seguro de usar uma pistola sem deixar ela cair sem querer, com o recuo, enquanto se movimenta. Eu posso te mostrar.
— Meu pai me ensinou a atirar. Sei o que estou fazendo.
— Não seja orgulhoso, deixa eu te mostrar…
Lian agarrou o cano da pistola e puxou, mas Jay não largou o cabo. Ambos disputaram um cabo-de-guerra com a arma, cada um puxando de um lado.
— Solta isso!
Nenhum tinha a intenção de ceder, pois, no entendimento deles, aquele que soltasse primeiro seria o mais fraco. Taesung e Jungwon observavam em silêncio, a infantil disputa de força entre os Alfas.
— A gente faz alguma coisa? — O mais novo perguntou, vendo-os girando ao redor deles.
— Definitivamente não. — Jungwon rolou os olhos e segurou na mão dele. — Vem. Vamos pra outro lugar.
— Mas e se a arma dispara por acidente? — Taesung preocupou-se, mas seguiu o Ômega.
— Seu irmão descarregou toda a pólvora, não se preocupe. Quando eles perceberem que a plateia se foi, vão parar com o espetáculo.
Os Alfas seguiram brigando para ver quem tomaria posse da pistola, desafiando um ao outro. Estavam concentrados de tal maneira que, conforme giravam tentando fazer o outro cair, esbarraram no próprio tronco no chão e caíram ao mesmo tempo.
— Ai, minhas costas… — Jay lamentou enquanto se levantava. — Perdi a arma.
— Se tivesse deixado eu te mostrar, não teria largado ela durante a queda.
— A culpa foi sua, seu exibido. Agora me ajuda a procurar.
Os dois puseram-se com as mãos e os joelhos apoiados no chão, e passaram a procurar a arma por entre as folhas secas e a vegetação rasteira.
Já um pouco mais distante, Jungwon continuou ajudando o cunhado a manusear a pistola.
— Não consigo. — O Alfa se negou a tentar quando Jungwon o incentivou.
— Tudo bem, não precisa fazer isso — Ele a travou novamente e entregou ao mais novo. — Apenas segura ela por um instante.
— Tá bom — um pouco sem jeito, ele segurou o objeto pelo cabo. — Você acha que eles ainda estão brigando?
— Acredito que não. — Ele olhou na direção em que deixaram os Alfas, depois para o mais novo, que ainda segurava a pistola com certo cuidado. — Você tem medo de armas?
— Bom, elas machucam as pessoas… quer dizer, não são exatamente elas, são as pessoas que machucam outras pessoas. Mas elas utilizam as armas para isso. Você entende?
— Sim.
— Elas são assustadoras.
— Você tem razão nisso. — Para a surpresa do Alfa, Jungwon concordou. — Nunca se sabe realmente o dano que será causado com um único disparo. — Ele puxou uma das adagas, a lâmina afiada brilhou em contato com a luz do sol. — É por isso que eu prefiro isso aqui. Com elas eu tenho um melhor controle do impacto, da profundidade, da força, do estrago…
— Você gosta de adagas por causa do Capitão Jeon?
— Pode-se dizer que ele teve uma forte influência nisso. Sim. Ele é minha inspiração de força e poder.
— Pensei que fosse o Capitão Jimin.
— Também. Ele é um exemplo do que eu posso fazer, como Ômega. Com ele eu entendo que posso sempre ir além.
— Tenho certeza que você pode.
Jungwon sorriu para ele.
— Por que você aceitou treinar com armas, se não gosta delas?
— O Jin certa vez me contou que o meu pai passou por muitas situações ruins… — Taesung se referiu ao pai Ômega. — Ele passou literalmente por um inferno inimaginável. Teve todas as chances pra desistir, mas superou todo o sofrimento e se tornou o médico da maior tripulação do nosso século… você tem noção do quanto eu o admiro?
— Posso ver em seus olhos.
— Ele é a minha inspiração… é por isso que aceitei vir até aqui. — O Alfa encarou a pistola e respirou fundo, para então decidir: — Eu quero tentar.
— Eu te ajudo. — Jungwon se colocou atrás do Alfa, com o peito colado às costas dele. Taesung deixou-se ser guiado, até ficar com os braços esticados, segurando a pistola com as duas mãos. O Ômega também estava segurando, com as mãos por cima. — Lembre-se que ela não pode fazer nada sem seus comandos.
— Certo. — Jungwon posicionou o dedo polegar sobre o dele e apertou o dispositivo. — O que foi isso?!
— Você a destravou.
— Ah…
— É apenas uma medida de segurança… — Ele guiou a mira do mais novo para a raiz exposta de uma árvore. — Agora só precisa apertar o gatilho. Quando você quiser…
O Alfa puxou grande quantidade de oxigênio. Bastante concentrado, ele encarou o alvo fixo no chão. O dedo roçou o gatilho, mas ele não apertou. Sentiu frio na barriga, estava com um pouco de medo, mas não o suficiente para impedi-lo de tentar.
Jungwon estava com ele. Permaneceu parado com toda calma, apenas esperando por ele. Embora não tenha dito mais nada, a presença do Ômega soava poderosa, para o mais novo, e o medo aos poucos foi se dissolvendo.
Taesung sentiu o recuo da arma quando apertou o gatilho. O disparo atravessou a raiz, deixando para trás um espaço indicando que ele acertou o alvo.
— Eu consegui! — Girou de frente para o Ômega. — Posso fazer de novo?! Quero tentar sozinho!
— Vá em frente. — Jungwon abriu caminho para ele. — Sabe o que fazer.
O Alfa mirou a arma contra a raiz novamente, demorou apenas alguns instantes para ter certeza de que estava segurando corretamente e logo em seguida apertou o gatilho, deixando outro buraco, um pouco distante do anterior.
— Só preciso ajustar um pouco a mira… — reconheceu, um pouco encabulado.
O farfalhar entre a vegetação e o som de folhas secas sendo pisoteadas, entregaram a aproximação dos outros dois, que antes estavam brigando pela posse da pistola.
— Você conseguiu! — Jay comemorou ao notar a arma com o irmão. — Foi difícil?
— Não. O Jungwon me ajudou.
— Viu só? — Lian parou ao lado do Ômega. — Não há nenhuma dificuldade em receber ajuda.
— Mas eu não pedi.
— Vocês vão começar outra vez?! — Jungwon se manifestou.
— Esse enxerido que já tem a própria pistola, e fica querendo pegar a minha! — O jeito com que Jay se pronunciou soou de modo que fez o Alfa mais velho sorrir, encarando-o de um jeito malicioso. — Não estou falando nesse sentido, seu indecente.
Jay tentou se manter sério, mas não conseguiu. Ele então jogou uma pedrinha no oficial, Lian se defendeu e ambos começaram a rir.
— Taesung sendo mais novo é mais maduro que vocês dois juntos.
— Nossa, essa doeu.
— É assim mesmo, Lian. Ele sempre defende o Taesung.
— Claro. Você fala como se ele fosse uma peste. — Jungwon se defendeu. — Seu irmão é fofinho.
Taesung estava um pouco mais atrás do Ômega. Ele sorria de modo endiabrado para o irmão mais velho. Quase podia-se ver dois chifres em sua testa. Assim que Jungwon girou para ele, o mais novo voltou a possuir uma expressão inocente.
— Ele sempre implica comigo… — lamentou muito sonso.
— Não fica assim — quando Jungwon o abraçou, o Alfa sorriu para Jay novamente, provocando-o em silêncio.
— Olha que diabo — Lian riu e tentou jogar mais lenha na fogueira: — você vai deixar!?
— Deixa, por hora… — Jay afirmou, sorrindo tranquilo — Depois ele vai ver só uma coisa...
— Não vai ver nada, senhor Jongseong! — O Ômega desfez o abraçou e o encarou ameaçador. — Você não se atreva a bater no seu irmão mais novo!
— Eu disse… — Jay sussurrou para o outro Alfa, que riu de imediato.
— O que vocês dois estão cochichando aí, hein? — Jungwon perguntou com as mãos na cintura.
— Nada, nada…
Jay tentou amenizar, mas o outro Alfa estava disposto a ver o circo pegando fogo:
— A gente tava comentando que você parece um tigre de bolso, muito bravo.
[N/A: Tigre de bolso: uma referência ao anime Toradora, onde a protagonista é baixinha e tsundere (agressiva e amável), por isso ela é chamada de “tigresa de bolso''.]
Jungwon demorou um pouco até assimilar o apelido à sua altura. Mas foi rápido quando reagiu:
— Taesung, me dá minha arma…
— Corre, Jay! — Lian foi o primeiro a levantar e seguir ligeiro na direção contrária em que o Ômega estava.
O Alfa mais novo reagiu mais devagar. Quando deu por si, Jungwon havia notado que não havia mais pólvora em sua pistola. Jay e ele trocaram olhares quando o Alfa se levantou lentamente, para logo em seguida girar o corpo e sair correndo atrás do oficial da Marinha.
Ambos foram perseguidos pelo Ômega. Estavam rindo da situação, mas torcendo para que ele não conseguisse alcançá-los.
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Uma semana havia se passado, desde que o Black Swan zarpou do Porto de Nabuco em direção à Arbolgreen. A situação na Ilha permaneceu constante, com navios mercantes ancorando e fazendo seus negócios com os piratas.
O último navio a aportar no embarcadouro, trouxe consigo a bordo o Almirante Wo. Desde o acordo firmado pós-guerra, apenas 5 oficiais eram permitidos desembarcar em Nabuco. De modo que Lian, Jiang, Bruce e Tiff já estavam na ilha, o Almirante foi o único oficial que veio na viagem.
— Bem vindo de volta. — Jiang o recebeu. — Temos novidades. Há um relatório em cima da sua mesa.
Como assim, em cima da mesa? Lian perguntou-se mentalmente. A entrada de nenhum deles era permitida no gabinete do Almirante. O próprio carregava uma chave que, supostamente, apenas ele possuía uma cópia.
— Obrigado, Jiang.
— Não trouxe bagagem alguma… — Lian observou.
— Minhas malas estão no navio, ainda tenho muitas roupas aqui. O que foi utilizado durante a viagem, será levado de volta.
— O que houve com o Tenente que seria enviado a Nabuco?
— Uma coisa de cada vez… desde quando você é frenético assim? — O Almirante sorriu para ele. — Calma. Primeiro, darei uma olhada no relatório feito por Jiang, mais tarde explicarei melhor. Estejam prontos.
— Prontos pra quê? — Até Bruce estava confuso.
— Para deixar Nabuco. — Dito isso, o Almirante não respondeu mais nenhum questionamento, seguindo diretamente para seu gabinete.
— Finalmente vamos embora dessa Ilha vulgar. — Tiff largou o corpo no sofá. — Estou fedendo a piratas.
Bruce concordou, lamentando não poder levar nenhum pirata para a execução. Eles subiram para organizar seus pertences sem ter certeza de quando exatamente deixariam a Ilha. Precisavam estar prontos, logo, poderia ser naquele mesmo dia.
Um tempo depois, todos os 4 se encontravam juntos no aposento de descanso. Quando o Almirante finalmente abriu a porta do gabinete, chamou apenas Jiang, Bruce e Tiff para acompanhá-lo na reunião, com a desculpa de que depois informaria o oficial mais novo quanto às decisões.
Evidentemente, tal comportamento não foi bem visto pelos olhos de Lian. Enquanto a reunião acontecia, o Alfa subiu para seu quarto novamente, e observou o Sol se pondo do outro lado da Ilha. Ele sabia que sua aproximação com os piratas foi o motivo de ter sido excluído dos demais, e perguntou-se até que ponto aquela situação iria chegar.
Jungwon e Jay confiavam nele sem nenhuma hesitação, ignoravam completamente o fato de que ele era um oficial da Marinha. Sempre que Lian fazia alguma pergunta em relação aos negócios envolvendo os piratas, os garotos respondiam sem ao menos questionar seu interesse.
Quando o Sol finalmente desapareceu no horizonte, trouxe consigo o frio do anoitecer e um sentimento amargo queimando o interior do Alfa. Estava tão focado em seus pensamentos, que não percebeu a chegada do Almirante naquele cômodo.
— Deve estar se perguntando o que foi dito na reunião. — Ele afirmou, tendo a atenção do mais novo no mesmo instante.
— E o senhor veio aqui pra me contar? — O Almirante desviou a atenção para a janela. Lian suspirou cansado. — Como imaginei...
— Já arrumou suas coisas? Partiremos hoje mesmo.
— É tão urgente assim que não podemos nem sequer esperar o amanhecer?
— Não seria assim, mas o relatório me fez perceber a urgência de aproveitar quando se tem uma vantagem.
— Não acho que seja prudente iniciar uma viagem durante a noite. A tripulação pode se desviar da rota…
— Temos um excelente navegador. — O Almirante interrompeu. Ele entendia a incerteza, mas sabia que em grande parte tinha relação com os piratas. — Quando um oficial recebe a ordem de um superior ele não questiona, ele obedece.
— Quer que eu me jogue em uma tempestade, sem saber o que vai acontecer?
— Filho… — tocou no ombro dele, mas Lian se afastou.
— Não sou seu filho. — As palavras saíram dolorosas para o Almirante. — Sou um oficial que recebe ordens.
— Entendo sua frustração, mas tudo o que faço é para proteger você.
— Me proteger do quê?! — Lian aumentou o tom da voz um pouco mais.
— Das suas escolhas. Quando criança, você escolheu ajudar aqueles dois e foi severamente castigado. Agora que você é um adulto, um oficial da Marinha… as consequências serão muito piores.
O Almirante não estava pronto para ver aquele Alfa, o qual tinha como um filho, ser condenado à morte por traição. Mesmo que fosse odiado, estava disposto a sustentar aquela decisão. Se dependesse dele, Lian só saberia o que estava para acontecer, quando estivesse longe da Ilha.
— Quando tudo isso acabar, você vai me agradecer. — Lee Wo deixou o cômodo e o jovem oficial ainda mais inquieto e confuso.
Lian estava sentado na cama, com a cartinha que havia recebido de Jungwon, anos atrás, em suas mãos. Quase a deixou cair quando Jiang bateu na porta, perguntando se poderia entrar.
— Ouvi sua voz exaltada do corredor. — Ela afirmou, quando chegou perto. — Você parece um pouco chateado…
— Ah, você acha? — Jiang não respondeu. Ele suspirou quando a encarou arrependido. — Desculpa. Às vezes parece que o destino não vai muito com a minha cara.
— Não existe destino. O que existe são nossas escolhas e as consequências que vêm delas.
— O Almirante que te mandou aqui?
— Não. Você acha que eu sou burra? Eu sei bem o conflito que você deve tá sentindo aí dentro. É diferente o jeito que você age quando está com a gente, e de quando está com aqueles dois — Jiang estava se referindo a Jay e Jungwon.
— O que está querendo dizer?
— Não posso dizer mais do que isso, mas não cabe ao Almirante escolher por você. Ele me entregou uma cópia de todas as chaves do casarão. Estão na gaveta da minha mesa de cabeceira.
— Pra onde você vai? — Ele perguntou quando a Alfa se levantou.
— O Almirante vai a uma rápida reunião secreta com o Capitão Joo Mentus e alguns outros, Bruce e eu vamos acompanhá-lo. A Tiff ficará com você, mas acredito que saiba como lidar com ela.
Lian permaneceu pensativo quando a Alfa deixou o cômodo. Da janela, ele viu o que ela havia dito se concretizando. O Almirante e mais dois oficiais subiram em uma diligência, e seguiram a caminho do suposto encontro.
Primeiramente, ele queria saber o que de fato estava acontecendo. Tinha suas suspeitas, mas era preciso uma confirmação antes de tomar alguma decisão precipitada. No quarto ao lado, ele encontrou um molho de chaves assim como Jiang lhe contou.
O gabinete do Almirante ficava em uma sala ao lado do aposento de descanso, exatamente onde Tiff se encontrava. E pelo jeito que estava acomodada no sofá, não pretendia se levantar tão cedo.
— Oi. — Ele a cumprimentou, como quem não queria nada.
— Aí está você! — Tiff ficou animada assim que o viu. — Senta aqui, me faz companhia. Faz tempo que não ficamos sozinhos…
— Desde a academia, eu acho — ele sentou ao lado dela no sofá. — Hoje em dia sempre tem algum serviço pra nos afastar.
— Ou alguém… — ela se referiu a Jungwon. — Mas todos se foram e cá estamos nós.
Lian passou o braço sobre os ombros da Beta, fazendo com que ambos ficassem mais próximos um do outro. Tiff sentiu o coração saltar em êxtase. Ele a encarava de um jeito intenso que a deixou ligeiramente avermelhada.
— Você está tão perto… — ela sorriu tímida.
— Quer que eu me afaste?
— Não! — Foi quase um berro desesperado. — Está muito bom assim.
— E pode ficar ainda melhor… — ele sorriu sugestivo, desceu os olhos pelo corpo dela e depois a encarou novamente, observando sua reação.
Tiff estava nas nuvens. Sempre nutriu uma “paixonite” pelo Alfa, desde a escola de aprendizes. É claro que nunca teve chance, a Beta fazia parte do grupo de Bruce e compartilhava dos mesmos interesses mesquinhos.
— Do que você tá falando? — Bancou a sonsa.
— Você sabe. Por que não vai na frente e me espera no seu quarto?
— Ain, você é sempre tão direto — a Beta mordeu o lábio, mal acreditando que finalmente teria aquele Alfa para si. — Tenho uma colônia de flores…
— Anda logo, Tiff — ele olhou para a porta. — Não temos todo o tempo do mundo.
— Tem razão, logo eles estarão de volta. — Tiff deixou o mais novo e subiu as escadas pulando alguns degraus.
Lian aguardou somente a Beta sumir das suas vistas, para sem demora entrar no gabinete. Com certa agilidade, passou a buscar entre os papéis em cima da mesa algo que fornecesse as informações que almejava.
Haviam alguns relatórios sobre o encontro do Almirante com o Imperador, mas o que chamou a atenção do Alfa foram ilustrações elaborando a execução do Kraken. Um navio carregado com pólvora, piche e alcatrão em todos os compartimentos.
Uma Frota estava à disposição do Almirante para atacar Nabuco, quando o líder supremo da Marinha decidisse o momento certo. Algumas observações foram feitas a partir do relatório feito por Jiang, e Lian descobriu que o ataque à República dos Piratas seria feito em duas semanas.
Pelo tempo que passou com Jay e Jungwon nos últimos dias, Lian sabia que os Ômegas do Black Swan estavam hospedados dentro da Fortaleza, e que ele não tinha autorização para entrar naquele território. Apesar disso, ignorou as restrições e foi justamente para aquele lugar em busca de alertar aqueles que ele considerava sua prioridade.
Como era de se esperar, sua entrada não foi autorizada pelos Alfas que guardam os portões, a mando do Representante.
— É muita petulância vir vestido assim e querer entrar!
— O problema é o meu uniforme? Eu tiro se for o caso.
— O problema é você insistindo, porra. — Um dos piratas riu. — Dê o fora daqui!
— Pode ao menos chamar o Capitão Jimin ou o filho dele?
— Você vai sair sozinho ou precisa de ajuda? — Ameaçou mostrando a arma.
Se não fosse pela intenção de proteger Jay e Jungwon do ataque que seria feito, Lian teria desistido e mandado os piratas para o raio que os partam. Mas o objetivo pelo qual estava ali, era muito maior do que qualquer inimizade que possa ter contra aqueles bastardos.
Dessa forma, o oficial tentou um outro jeito de entrar naquela Fortaleza. Ele buscou nos arredores algum acesso que o levasse para dentro do local, sem que sua presença fosse notada. No muro que dava para as margens do bosque, Lian encontrou uma pequena ruptura na parede. O problema era que perto dela, havia um Ômega loirinho colhendo algumas flores amarelas.
Se aproximou devagar para não assustá-lo, porém, o vento espalhou seu aroma de modo que fez o pequeno Hyun constatar que Puffy não era o único a lhe fazer companhia. Ele girou a cabeça devagar, até que viu um Alfa da Marinha parado logo atrás de si.
— Calma... — Lian ergueu as mãos devagar. — Não precisa ficar com me-...
— Papai!! — Hyun o ignorou e gritou, correndo na direção da fenda na parede.
Não havia tempo para explicar aquele mal entendido, isso se fosse permitido que ele o fizesse. Se o Almirante descobrisse que ele estava ali, tudo estaria perdido. Isso posto, Lian o alcançou antes que pudesse escapar pela abertura, impedindo-o de gritar ainda mais.
— Não faz isso, por favor, eu não vou te machucar — o Ômega continuou lutando, e só parou quando ouviu a explicação: — Meu nome é Lian, sou amigo do Jungwon e do Jay.
Hyun ficou quieto, mesmo quando ele o colocou no chão. Não se lembrava de ter visto aquele Alfa antes, mas já ouvira seu primo falando aquele nome, com muito esmero, por diversas vezes.
— Por que você não se apresentou antes?
— E você deixou?! Saiu correndo e gritando.
— Você me assustou.
— Desculpe, não foi minha intenção. O que tenho pra falar é muito urgente, preciso que chame o Jungwon aqui.
— Ele não está. Saiu com o meu tio Jimin.
— Você sabe pra onde eles foram? — O Ômega negou balançando a cabeça. — E o Jay?
— Acho que está em uma das torres.
— Diga a ele que estou no cais, perto das docas. Preciso falar com ele urgentemente.
— Tá bom. — O Ômega deu meia volta e seguiu caminhando para dentro da Fortaleza.
— É muito importante. Por favor, vá depressa.
— Tá bom! — Com a insistência do Alfa, ele apressou os passos.
O fluxo de transeuntes pelo cais estava reduzido, desde que os comerciantes se recolheram ao entardecer. Ainda assim, Lian teve cuidado para que ninguém o visse à espera do pirata. Nos papéis que estavam na mesa do Almirante, havia o nome de alguns capitães que estavam colaborando com a Marinha. Ele não estava disposto a ser visto por nenhum membro dessas tripulações.
— Eu vim correndo, é bom que seja realmente importante — Jay se aproximou ofegante.
Lian olhou para o mais novo e sorriu. Possivelmente, aquela poderia ser a última vez que o veria, neste caso, ele decidiu brincar com o Alfa, caso não tivesse outra oportunidade novamente:
— Então quer dizer que eu chamo e você vem correndo... — Sorriu vaidoso. — É bom saber.
— Eu não… aliás, o que é tão urgente assim?
O semblante divertido no rosto do mais velho deu lugar a uma expressão preocupante quando revelou:
— Nabuco sofrerá um ataque dentro de duas semanas.
— O quê?!!
— Há um galeão cheio de todo tipo de material inflamável que você possa conhecer. Eles pretendem usá-lo para abater o Kraken.
— Não… isso não pode acontecer. Nenhuma tripulação vai permitir isso.
— Temo que nem todas pensam desse jeito. Alguns capitães estão servindo a Marinha, se bem me lembro a do capitão Joo, Bray, Lai e Abigail. Estão todos servindo os propósitos do Imperador Ming.
— E você… — aquele seria um ataque da China, Lian não estava apenas ligado à Marinha mas ao próprio Império. Ele era chinês e pertencia àquele Reino — de qual lado vai ficar?
— Estou aqui, não é? — Respondeu sem hesitação.
Jay respirou como se fosse pela primeira vez, tamanho foi o alívio em ouvir aquela confirmação. No fundo ele sabia que Lian jamais estaria contra ele e Jungwon, e a recíproca era verdadeira.
— Você precisa vir comigo. — Segurou na mão do mais velho e tentou levá-lo consigo para a Fortaleza. Contudo, Lian puxou seu braço de volta, e Jay o encarou confuso. — Se a Marinha souber o que está fazendo…
— Eu tenho que ver minha mãe. Ela não pode pensar que o filho dela sumiu no mundo, ou morreu...
— Mas é muito perigoso. Você se arriscou demais vindo até aqui!
— Eu não tenho escolha, Jay. Preciso dizer a ela pessoalmente que ficarei bem, e que talvez não a veja por muito tempo.
— Que merda! Há alguma coisa que eu possa fazer?
— Sim… — ele observou o mais novo, bem diante dele, esperando pelo pedido que faria. E se aquela fosse a última vez? Lian não queria pensar nisso, mas infelizmente era uma possibilidade. No mais, caso não o visse outra vez, ele poderia ao menos guardar na lembrança algo que se perguntava há algum tempo. — Quero que dê um recado ao Jungwon...
— Sim. O que você quiser. — Jay esperou atentamente, mas o que veio a seguir não foram palavras.
O Alfa da Marinha encaixou ambas as mãos no rosto dele e se aproximou devagar, sempre observando as feições do mais novo, que permaneceu parado apenas esperando pelo que ele iria fazer.
Lian chegou cada vez mais perto, até que comprimiu seus lábios docemente contra os do mais novo, permaneceu alguns segundos e depois se afastou. Jay continuou parado, estava com os olhos bem abertos, seu coração batia ligeiramente acelerado.
— Até a próxima vez... — Lian sorriu para ele e logo após seguiu seu caminho de volta ao casarão, o mais rápido possível.
Jay ainda permaneceu parado por alguns instantes, apenas acompanhando com os olhos enquanto o Alfa se distanciava cada vez mais. Lentamente, levou a mão até os lábios, onde tocou suavemente o local em que havia sido beijado. Ainda podia sentir o leve aroma de sândalo deixado pelo mais velho.
Continua…
Esse print é pra vc, Jay 😝
Por hoje é isso, até a próxima, que se eu tiver tempo será nesse sábado mesmo 💞
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