[55] Feliz Aniversário
Eu sei, eu sei. Disse que não teria att antes do lançamento de Cisne Negro, mas estou tendo crises e escrever me deixa feliz, assim como admirar o sorriso desse homem:
Boa leitura:
Na pousada em Nabuco, onde a Marinha instaurou-se como como uma base provisória, os oficiais mantinham-se ociosos devido à suspensão do envio de navios mercantes. Havia pouco mais de um mês em que o Almirante enviou-lhes uma carta, informando sobre o intervalo que teriam até as próximas transações.
Estavam aguardando a chegada de seu líder, que ocorreu exatamente naquela tarde em que jogavam tempo fora. Assim que o Almirante adentrou no estabelecimento, os quatro oficiais colocaram-se de pé, para então recebê-lo.
— Bruce, há um navio no porto, acompanhe as trocas. Jiang, estaremos nos alojando em um casarão branco perto do grande mercado, preciso que você e Tiff organizem o local junto aos quatro oficiais que vieram comigo. Estão do lado de fora esperando. — o Almirante já chegou distribuindo novas tarefas. — Lian, venha comigo.
Cada oficial seguiu um caminho diferente para cumprir com as incumbências. Lian acompanhou Wo Lee até um cômodo mais particular, onde o Almirante utilizava como gabinete temporário.
Todos os objetos estavam exatamente como o Alfa havia deixado, antes de partir. Era estritamente proibido entrar naquela sala sem a sua devida autorização. O mais novo passou um olhar rápido sobre os papéis que estavam espalhados sobre a mesa, mas logo teve sua atenção voltada para o outro, quando Lee proferiu:
— Como estão as coisas por aqui?
— Escrevi um relatório pro senhor, está no meu quarto. Eu vou buscar.
— Agora não, depois você me entrega. — Após guardar os papéis, o Almirante sentou na cadeira, cruzou as mãos em cima da mesa e encarou o mais jovem. — Eu o chamei aqui porque há uma missão de extrema importância, que precisa ser executada sem falhas. Você é aquele em quem eu mais confio para isso.
Lian não fazia ideia do que poderia ser, mas pediu mentalmente que não fosse nada relacionado aos piratas.
— Agradeço a confiança. Estou à disposição.
— Muito bem. Eu preciso que você descubra qual das tripulações é a mais conveniente para aceitar suborno.
— O que pretende com isso? — Lian franziu o cenho, desconfiado. — Já não é suficiente o acordo que assinou?
— Isso não vem de mim. São ordens do próprio Imperador. Infelizmente eu ainda não vou poder te contar, pois se trata de um plano altamente sigiloso, mas é extremamente importante que você consiga essa informação. Eu posso contar com você?
— Sim, senhor.
— Sabia que daria essa resposta. — O Almirante sorriu. — Não há prazos, mas quanto antes você concluir, melhor.
O mais jovem assentiu, e deixou o gabinete. Haviam algumas tabernas onde ele poderia frequentar livremente, e ouvir a conversa dos piratas bêbados.
O oficial ocupou uma mesa vazia, em uma taverna onde o fluxo de clientes estava razoavelmente alto. O que dificultava era que a maioria das conversas eram irrelevantes, todos falavam absurdamente alto, enquanto ele tentava focar em um assunto que realmente aproveitasse.
— Olha só, Jay, a Marinha a toa por aí… — o sorriso veio instantâneo quando ouviu a voz de Jungwon.
— Eles te pagam pra ficar bebendo em tavernas? — Jay provocou.
Os dois não precisavam de convite para se juntar ao oficial. Eles ocuparam as outras duas cadeiras que estavam ao redor daquela mesa.
— Estou vigiando os piratas. — Lian brincou, mas a afirmação tinha um fundo de verdade.
— Boa sorte — Jungwon olhou ao seu redor. — Está faltando uma tripulação.
— É a do Capitão Joo Mentus. — Jay informou. — Eles ficaram responsáveis pela supervisão do navio que chegou mais cedo.
— Eles deviam ter ficado de fora das revistas.
— Por que? — Lian perguntou.
— Não são confiáveis. — Jungwon respondeu sincero, pois confiava no Alfa. — Se você balançar um saco de moedas na frente deles, serão capazes de entregar a própria mãe ao diabo.
O Almirante ficaria muito satisfeito em ouvir tal informação. Naquele momento, como um oficial da Marinha, Lian tinha o dever de se reportar ao líder e contar o que descobriu tão facilmente.
Ao invés, ficou ali, sentado, conversando e sorrindo com Jay e Jungwon. Porque ele poderia, pelo menos por alguns minutos, ser o dono de suas próprias vontades, e não o menino ensinado desde criança — se é que ele teve infância —, a sujeitar-se aos desejos de terceiros.
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Alguns dias após, na proa do Black Swan, o Capitão Jeon assistia Jackson ensinando Hyun, Sarah e Eunji, a treinar suas habilidades com espadas. O ex caçador era exímio se tratando de usar aquela arma.
As duas Alfas, por serem lúpus, possuíam maior facilidade para absorver o treino, o único obstáculo que ainda enfrentavam era conseguir controlar a própria força. Sempre que uma das duas praticava com Hyun, o Ômega era levado ao chão com dureza.
— Desculpa! — Eunji caiu de joelhos ao lado do Ômega, que já tinha o bico nos lábios, pronto para chorar. Embora alguns ignorantes tivessem pavor de olhar em seus olhos, Eunji era tão gentil quanto seu pai, Jimin. — Eu não queria te atacar, só tentei me defender de seu ataque.
— Tudo bem, Eunji. Ele sabe disso — Jackson a tranquilizou. — Levanta e pega a sua espada, Hyun. Pode tentar outra vez, você consegue.
— Não quero… — o menino sussurrou.
— Não escutei. Fale mais alto.
— Ele não gosta — Sarah suspirou. Ela estava sentada ao lado do pai. — Ele prefere os pincéis.
— Não fale assim do seu irmão. — Jackson a repreendeu. — Ele só precisa de mais treino.
— Você não está entendendo, pai. — A lúpus insistiu. — Ele não gosta de armas. Dê a ele um dos mapas do Tae, que ele ficará muito feliz em colorir. Hyun prefere desenhos.
Jackson encarou o filho ainda sentado no chão se perguntando mentalmente se aquela dificuldade do filho era o método que ele estava utilizando, ou simplesmente porque não estava interessado em aprender a lutar. Talvez, Chanyeol que foi mentor por muito mais tempo, soubesse identificar.
Hyun manteve a cabeça baixa, sentindo-se tão ridículo ao ponto de não conseguir defender a si mesmo. Sarah falou por ele o que gostaria de dizer ao seu pai, mas não tinha coragem.
— Eu posso ir pro meu quarto? — Hyun tentou fazer sua voz sair um pouco mais alta. — O sol está muito quente.
— Está com calor? — Jackson se debruçou com os olhos arregalados. — O que mais está sentindo?! Tontura?!
— Não é aquilo… — Jungkook disse, se referindo ao Heat. — Ele só tem oito anos.
— Ah, é… É claro. — Jackson voltou a respirar. Ele sorriu para o pequeno quando o ajudou a se levantar. — Pode ir pro seu quarto.
Hyun manteve ainda a cabeça abaixada quando saiu ligeiro, muito envergonhado. Era o único Ômega entre quatro Alfas lupus, todos muito fortes e habilidosos, embora duas tivessem sua mesma idade.
— Patético! — Xingou a si mesmo enquanto descia as escadas.
À medida que seguia pelo corredor a caminho do quarto que dividia com Jungwon, ele ouviu dois Alfas brigando dentro de um dos cômodos. Eram os irmãos, Jay e Taesung.
— … a porcaria dos seus livros! — Era a voz do mais velho.
— Vai tomar o seu chá, estressadinho! — Taesung gritou de volta.
A porta foi aberta bruscamente quando Jay surgiu na porta. Ele era tão alto quanto Scott, e Hyun se assustou quando o Alfa surgiu de repente no corredor, ao deixar o quarto.
— Você foi avisado! — Jay rugiu com sua voz de Alfa.
Hyun encolheu os ombros e cobriu os ouvidos com as mãos. Ele se deu conta de que o Ômega estava ali, quando o pequeno saiu correndo para se esconder, batendo e trancando a porta do seu quarto assim que chegou até ele.
— Olha o que você fez, selvagem. — Taesung acusou.
— Foi sem querer.
— Você deve tomar o chá assim quando os sintomas surgem, não quando já está propriamente no rut. — O mais novo encostou no batente da porta e cruzou os braços. — Se o Capitão Jimin souber que você está importunando os Ômegas dele, eu não quero estar na sua pele…
— É melhor eu ir pra enfermaria… — Jay sorriu nervoso.
Taesung ficou parado, mas acompanhou com o olhar, até o mais velho desaparecer escada abaixo. Ele suspirou encarando a porta do quarto dos Ômegas, não estava ouvindo Hyun chorar, todavia, precisava se certificar de que o pequeno estava bem.
— Hyun? — Ele bateu suavemente na porta.
— Taetae? — Ouviu a voz baixa do Ômega sussurrando do outro lado da madeira. — Seu irmão já foi embora?
— Sim, já foi.
O Ômega abriu a porta devagar. No momento em que o viu, Taesung sorriu para o menor. De certo modo, Hyun se identificava com Taesung, que ficou de fora das reinações de Jungwon e Jay, desde sempre. Às vezes tentava acompanhá-los, mas por ser muito novo, frequentemente era deixado para trás.
Do mesmo modo se dava com Hyun, que ficava sozinho toda vez que Sarah e Eunji se juntavam.
— Vem — o mais novo puxou Taesung pela mão, para que entrasse no quarto. — Olha e me diz se ficou bonito…
Receoso, ele mostrou um desenho que fez de Eunji. Estava perfeitamente detalhado. Desde os olhos bicolor até os fios do cabelo loiro ao vento. Ela estava sentada no parapeito do navio. Até mesmo as partes da embarcação o Ômega adicionou na ilustração.
— Tá muito lindo. — O Alfa admirou o desenho. — Deveria mostrar isso a ela. Eunji ficaria muito feliz.
— Você acha mesmo?
— Claro que sim.
O sorriso do Ômega desapareceu assim que viu Jay passando pelo corredor. O Alfa parou, na intenção de se desculpar, contudo, talvez ainda não fosse o melhor momento.
Taesung percebeu o menor ficar tenso, e se posicionou na frente dele, cortando a visão do Alfa mais velho.
— Agora não. — Ele murmurou para o irmão.
Jay apenas assentiu e seguiu seu caminho. Quando virou-se para o mais novo, ele notou que o braço de Hyun estava avermelhado, quando este passou a mão no local.
— Está doendo? — Ele apontou para a área lesionada.
— Só um pouquinho.
— Eu posso ver? — Hyun assentiu, deixando ele analisar o braço. — Pelo visto vai inchar um pouquinho. Vem comigo na enfermaria, a gente pode dar um jeito nisso lá.
O menor assentiu, e ambos seguiram para o recinto destinado ao tratamento de enfermos.
Seokjin estava sozinho, sentado com as pernas cruzadas enquanto se distraía com um livro.
— O que desejam? — Ele perguntou, sem tirar os olhos da leitura.
— Só um pouquinho de bálsamo. — Taesung respondeu, já na ponta dos pés enquanto buscava pelos medicamentos nas prateleiras. — Onde meu pai tá?
— Foi ao mercado buscar mais ervas para o chá que contém o rut. Seu irmão veio em busca, mas há tantos Alfas na tripulação que não nos demos conta de que havia acabado.
Assim que encontrou o produto, Taesung sentou perto de Hyun e passou o composto oleoso no braço dele.
Seokjin fechou o livro para verificar o que estavam fazendo. Ele notou a vermelhidão no braço do mais novo e perguntou:
— Como se machucou?
— Estava treinando com meu pai e as meninas.
— Oh, pobrezinho — o Beta lamentou. — Vez ou outra aparece com um machucadinho.
— Queria poder não pegar em uma espada nunca mais. — Hyun deixou escapar.
— Por que não diz isso aos seus pais?
— Não quero decepcionar eles.
— E quanto a você? — Tesung o encarou, mas o Ômega não soube como responder. — Eu também não gosto de lutas.
— Eles não falam nada? — Hyun perguntou em relação a tripulação, em particular Scott, o pai dele.
— Oh, se falam… um Alfa que não sabe lutar? Nossa! Onde já se viu!? Hum. Mas olha a minha cara de quem se importa… — Ele fez uma expressão exagerada de “não estou nem aí”, o Ômega riu. Taesung voltou as palmas para cima quando prosseguiu: — Prefiro usar minhas mãos para curar, e você?
Hyun fez o mesmo com as próprias mãos, deixando a palma voltada para cima.
— Gosto de desenhar.
— E desenha muito bem — Seokjin expressou. — Já vi suas ilustrações.
— Obrigado…
— Eu tive uma ideia — Seokjin animou-se. — Será que você poderia me desenhar, para que minha beleza fique eternizada nas folhas de um pergaminho?
Taesung cobriu os olhos com a mão e virou o rosto, escondendo a vontade de rir. O mais novo, porém, aprovou o pedido com entusiasmo, levando menos de um minuto quando correu até o quarto e buscou seu caderno de desenhos e um lápis grafite.
— Como eu fico? Assim? Ou desse jeito é melhor? — Seokjin começou a fazer poses diferentes. — Precisa de mais luzes? Taesung, trás mais uma lamparina.
— Está bom assim — Hyun abriu em uma folha em branco e indicou ao Beta antes de começar: — Pode ficar à vontade.
No momento que o Ômega iniciou, três Alfas entraram na enfermaria. Um deles estava sendo amparado com uma entorse na região do tornozelo. Ele foi deixado em uma cama pelos demais, que saíram da enfermaria logo em seguida.
O leito ficava de frente onde Hyun se encontrava sentado, e a posição que Seokjin ficou para tratar do bucaneiro, não interferiu em nada no desenvolver da ilustração. O Ômega manteve-se observando e desenhando, enquanto Taesung se colocou ao lado do médico.
— Oh, meu bom Deus! — o pirata gemeu. — Seokjin, salve-me! Eu estou morrendo!
O Beta segurou o tornozelo dele com firmeza, e com um rápido movimento o colocou de volta no lugar. O pirata sobressaltou com o ato, mas o corpo relaxou no instante seguinte, ao sentir o imediato alívio da dor.
— Deixa eu enfaixar? — Taesung pediu ansioso.
— Não.
— Por favor?
— Não!
— Mas eu já vi você e o meu pai fazendo isso milhares de vezes.
— Não importa quantas vezes tenha visto, treze anos não é idade para praticar medicina. Quando crescer um pouco mais eu posso permitir.
Taesung suspirou indignado. Ele não estava pedindo para fazer um procedimento cirúrgico nem nada do tipo. Era apenas passar algumas bandagens na perna de um bucaneiro.
Seokjin preparava a perna do pirata quando Taesung, bem ao lado do Beta e disposto a vencê-lo pelo cansaço, iniciou a cantoria:
— Uma baleia incomoda muita gente, duas baleias incomodam, incomodam muito mais. Três baleias incomodam muita gente, quatro baleias incomodam, incomodam, incomodam, incomodam muito mais… — Seokjin suspirou incomodado. Taesung foi aumentando o tom da voz gradativamente enquanto continuava a cantoria: — Cinco baleias incomodam muita gente, seis baleias incomodam, incomodam, incoMODAM, INCOMODAM, INCO-...
— TÁ! — O Beta cedeu. — Menino chato! Vai pegar as bandagens.
Taesung correu para recolher os materiais. Hyun acompanhou toda a cena, divertindo-se. Em sua ilustração, estava o pirata na cama se lamentando, Seokjin com uma expressão brava e Taesung sorrindo cínico enquanto cantava descaradamente.
— Não aperte muito. — O Beta indicou.
Bastante concentrado, Taesung apenas assentiu e continuou, até finalmente concluir a bandagem.
— Viu só? Nenhum mistério. — O Alfa exibiu-se. — Sei fazer isso de olhos fechados.
— Exibido. Você é mesmo uma cópia do seu pai — Seokjin sorriu. — Só que versão Alfa.
— Oh! Estou vendo um longo túnel escuro — o pirata na cama gemeu mais uma vez. — Será que sigo a luz?
— Já pode ir, Lafayette.
— Nossa, Seokjin… — O Alfa sentou na cama e testou o pé no chão. — Você tem mãos de anjo, eu nem senti quando enfaixou meu tornozelo.
Lafayette se levantou de vez e saiu caminhando com pouca dificuldade. Quando virou-se para Taesung, Seokjin encontrou o mais novo com um sorriso vaidoso.
— Não fique tão acostumado com isso — o Beta avisou. — Ainda é muito jovem para o ofício.
Apesar da advertência, Seokjin estava sim muito feliz e orgulhoso, em ver que a vontade de Taesung em seguir com a medicina não era apenas um desejo de criança, que vê o pai e quer imitar. Ele tinha o dom para aquilo.
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Alguns piratas estavam matando o tempo espalhados pelo pavimento superior do navio, assim como Jay, que aguardava Sungjae retornar do mercado. Os sinais do seu rut estavam ficando cada vez mais evidentes.
Para a sua sorte, a maioria dos Ômegas não marcados, não estavam no navio naquele momento.
Para o seu azar, Jungwon estava.
— Hey! Você tá muito serelepe — ele brincou, afastando o Alfa de si. — Seu pai tá demorando muito.
— Fica longe não — Jay o abraçou novamente.
— Não acha melhor ficar um pouquinho no porão? — Jungwon segurou nos ombros dele e o afastou um pouco mais. — Até, sei lá, o seu pai voltar…?
— Você quer que eu fique trancado igual um bicho, no meu aniversário?
— Aniversário? — Taehyung inclinou-se na escada para olhar os dois no alto do convés superior. Jungwon assentiu confirmando, o Beta virou-se para o restante da tripulação: — Tragam o rum!
— Eu não posso — Jay avisou.
— Ninguém lamenta mais do que eu… — Taehyung sorriu em apoio, no mesmo segundo apressou os bucaneiros: — Vamos, meus amigos, as bebidas estão no porão!
Sem demora, o convés inferior estava cheio de piratas bebendo e cantando ao som da banda. Alguns barris de rum estavam disponíveis para que nenhuma caneca permanecesse vazia por muito tempo.
— Não fica assim… — Jungwon murmurou com jeitinho. Jay estava amuado. Geralmente ele não se comportava dessa maneira, mas com os feromônios sendo liberados com uma carga muito elevada, suas emoções ficam à flor da pele. — Ano que vem você vai poder!
— Hm… então deixa eu experimentar de outro jeito — prestes a perguntar como ele faria aquilo, Jungwon foi pego de surpresa quando o mais novo lhe beijou.
Ainda estavam no convés superior. O Ômega entre Jay e o parapeito de madeira. A mão do Alfa puxou o cabelo dele para trás, mantendo-o com o rosto virado para cima.
A doçura da boca do Ômega era como uma passagem direto para o precipício, mas no auge de seu rut, o Alfa só pensava em uma coisa: tê-lo para si. A outra mão desceu até a cintura e o trouxe mais para si, enquanto intensificava o beijo.
A baderna no convés inferior chegou aos ouvidos do Capitão Jeon, que acordou confuso, perguntando-se o que era aquela farra. Ele deixou a cabine e indagou ao primeiro que encontrou:
— Onde está Namjoon?
— No Forte com o Capitão Jimin e o Jisung — Jared que comunicou. — Acho que estão consertando as torres, algo assim.
— E por isso resolveram dar uma festa por conta própria?
— Ah, Capitão — Taehyung chegou junto. — É o aniversário do Jay.
Jungkook assentiu. Neste caso, só dessa vez, ele poderia deixar passar. Quando girou o corpo para retornar ao seu descanso, o lúpus viu uma movimentação acima da cabine que lhe chamou a atenção. Ele olhou para o alto e quase teve um infarto quando viu Jay cheio de mãos agarrando seu filhotinho como se fosse um lobo faminto.
— Mas que pouca vergonha é essa?! — O lúpus rosnou.
— Meu Deus! — Jungwon se escondeu envergonhado.
— Hey, sogrão — Jay o puxou novamente pela cintura. — Pega uma caneca de rum e relaxa um pouco.
Aquilo foi o estopim. Jungkook piscou algumas vezes, ainda processando o modo como o mais jovem havia lhe chamado. O lobo respondeu com mais rapidez, e seus olhos ficaram vermelhos antes mesmo dele decidir que aquele seria o último dia do Alfa na Terra.
— Meu Deus, ele vai te matar — Jungwon virou-se para Jay. — Só foge!
Jay, muito despreocupado, ainda conseguiu um selinho dele antes de pular aterrissando no convés inferior assim que Jungkook subiu. O Alfa mais novo estava com seus olhos cor de âmbar, quando virou e piscou para Jungwon com um sorriso audacioso, antes de descer para as camadas inferiores do navio.
Capitão Jeon ainda pretendia seguir logo atrás, mas foi impedido pelo filho.
— Não, pai! Não mata ele… é o rut! — Jungwon se colocou em seu caminho.
— O quê?!
— Acabou o chá e o Sungjae foi comprar mais, só que ainda não voltou… ah, olha ele ali.
Jungkook relaxou mais assim que viu o médico retornando para o navio. Sungjae nem ao menos parou quando alguns piratas o chamaram para farrear, seguindo diretamente para a enfermaria, na intenção de preparar o chá.
— Não chegue perto de um Alfa no rut! — Jungkook impôs.
— Estava tudo sob controle…
— Eu vi bem o controle.
— Aff. — Jungwon desviou o rosto, constrangido.
— Não se aproxime dele até que o chá faça cem por cento de efeito. — Exigiu novamente. O Ômega apenas balançou a cabeça, assentindo. Mas não foi suficiente para o Alfa. — Está me ouvindo, Jungwon?!
— Sim! Eu não vou. Já entendi. Não acredito que você quase matou o Jay no aniversário dele.
— Acontece… — o Alfa deu de ombros, retornando para a cabine.
Jungwon esperou por algumas horas, até por fim receber a informação de Seokjin, que Jay já havia tomado o chá há um bom tempo. Desconfiado de que o Alfa estivesse temendo encontrar o Capitão Jeon, Jungwon desceu até os dormitórios em busca dele. Ele bateu na porta, sendo atendido por Taesung. O menor abriu e fechou assim que o Ômega entrou no quarto.
— Ele tá uma fera, né? — Jay supôs, sentado em uma cadeira próximo a mesinha. — Pode dizer, a prancha já deve ter sido colocada…
— Ai, quanto drama — Jungwon se debruçou sobre ele e beijou carinhosamente os cabelos castanhos. — Ele não está mais… já expliquei a ele.
— Eu chamei ele de sogrão.
Taesung começou a rir.
— Queria ter estado lá pra ter visto — quando se recuperou, ele suspirou e encarou o irmão: — Ainda bem que eu não sou você.
— Eu não queria dizer, Taesung, era segredo — Jay provocou. — Não somos irmãos de verdade. Você foi encontrado no lixo.
— Isso não tem a menor graça. Mas sabe o que teria? Se o Capitão Jeon soubesse que o filho dele tá aqui no nosso quarto. — Taesung cruzou os braços. — Aí sim, seria o seu funeral.
— Pirralho miserável… — Jay rosnou entre dentes.
— Taetae, você não faria isso, né? — Jungwon entrou na discussão. — Será que não poderia dar uma voltinha por aí e fingir que não me viu aqui, hm?
— Hum… — Taesung desarmou a postura firme. — Eu só vou fazer isso porque você é muito legal, Jungwon.
— Você é um amorzinho. Obrigado.— Jungwon beijou a bochecha dele. Com um sorrisinho tímido, o mais novo deixou o quarto. — Por que implica tanto com ele? Seu irmão é um fofo.
— Um fofo? Taesung é o satanás.
— Pare com isso. — Ele se certificou de que a porta estaria fechada, e então voltou para perto do Alfa.
— Se algum dia eu perder o controle por causa do rut, não deixa eu te machucar — Jay pediu quando o menor sentou de lado no colo dele. — Promete pra mim que vai enfiar uma adaga no meio do meu peito.
— Não vou fazer isso. Posso contê-lo sem precisar te ferir.
— Será que o Lian já perdeu o controle alguma vez?
— Eu acho que não. Ele é todo cheio de regras e certinho.
— Somos bem o oposto um do outro. — Jay riu. — Eu sou desajeitado e um pouco medroso, já o Lian é todo regrado e corajoso. Desde criança. Ele enfrentou o próprio pai para ajudar a gente.
— E eu?
— Você é o nosso equilíbrio.
— Isso foi muito fofo. — Jungwon o abraçou fortemente. — Somos um bom trio.
— Somos sim.
— Eu tive uma ideia!
— Cristo… quando você tem ideias, Jungwon…
— Você vai gostar. Vem comigo. — O Ômega abriu a porta mas Jay hesitou.
— Com seu pai lá em cima? Eu não vou sair daqui até que meu rut passe.
— Mas você já tomou o chá.
— Eu sei. Mas prefiro evitar.
— Tudo bem… — Jungwon suspirou e caminhou devagar. — Então eu vou sozinho com o Lian…
— Tá, eu vou. — O Alfa se levantou no mesmo instante, mudando de ideia.
— Eu te amo tanto! — o sorriso foi enorme. Ele ficou na ponta dos pés e abraçou o Alfa pelo pescoço. — Eu não o deixaria sozinho, logo em seu aniversário. Bobinho.
— Será que agora eu posso mudar de ideia e ficar aqui no quarto, com você?
— Não, prometo que você vai gostar. Chama o Lian e me espera no cais.
Jay assentiu, os dois saíram do quarto mas seguiram por caminhos diferentes. Jungwon procurou Arata na cozinha enquanto o Alfa subiu as escadas, torcendo para não encontrar o Capitão Jeon no convés.
Mas para sua contrariedade, Jungkook estava bem próximo a rampa de saída do navio. E era exatamente por ali, que o mais novo teria que passar. Contudo, ele não estava de todo perdido, o Capitão Jimin acabara de chegar. Essa era sua chance.
Jay aproveitou o momento em que Jimin contava a Jungkook sobre as mudanças que fizeram no Forte, e tentou passar despercebido. Mas o Capitão Alfa notou sua presença obviamente, e perguntou sem mover sua atenção do Ômega:
— Já tomou o seu chá?
— Sim, senhor.
— Está em seu rut? — Jimin perguntou, o mais jovem assentiu. — Como se sente?
— Estou bem, Capitão. Uhm, eu tenho que ir… com licença. — Ele passou devagar, evitando olhar na direção do Alfa lúpus, que certamente estava olhando para ele.
— Se liga, hein. — Jungkook avisou.
Jay voltou a respirar normalmente assim que se viu longe do olhar fatal do Capitão Jeon. Ele apressou os passos até se encontrar diante do casarão pertencente à Marinha Real.
Ficou um tempo parado na porta, não queria ver a cara do oficial Seboso, mas foi justamente a voz do infeliz, que o Alfa escutou:
— Ai ai Lian, ele te deu um fora porque percebeu que você gosta de chupar pau de Alfas— Bruce gargalhou.
Enfurecido pelo jeito desdenhoso que o Seboso estava falando com Lian, Jay bateu na porta com força. Bruce sobressaltou assustado e parou de ir no mesmo instante. Ele agarrou a pistola e abriu a porta devagar e hesitante.
— O que você quer? — Bruce mirou a pistola no mais novo.
— Abaixa essa arma.
Bruce sorriu, mas fez o que ele disse. Ele saiu do caminho quando Lian chegou na porta.
— Oi… — Jay sorriu quando viu o mais velho. — Por vir comigo?
— Claro.
Lian fechou a porta e acompanhou o pirata até o cais. No caminho, Jay lhe contou todo ansioso que naquele dia estava ficando mais velho.
— Feliz aniversário. Posso te dar um abraço?
— Claro que pode! — Jay abriu os braços para receber o amigo.
O abraço foi demorado. Lian manteve os braços firmemente em volta do outro. O mais novo ficou tenso, sentiu até mesmo o coração acelerar. Lian sorriu, quando sussurrou próximo do ouvido dele:
— Eu não vou te morder.
Jay pigarreou quando finalmente o abraço foi desfeito. Ele olhou para os lados e suspirou aliviado quando viu Jungwon se aproximando através do cais.
— Demorei muito? — O Ômega exibiu uma cestinha com frutas. — Estava escolhendo as melhores.
— Você chegou no momento certo... — Jay limpou as mãos úmidas ao lado das calças.
Lian olhou para o oceano e riu. Era divertido quando o Alfa mais novo ficava todo sem jeito.
— Vamos? — Jungwon subiu em um bote, apoiou a cestinha no meio e sentou do outro lado.
Os Alfas subiram logo atrás, soltaram a corda que prendia a embarcação e uma pequena discussão se formou, sobre quem sentaria perto de Jungwon.
— Você fica perto dele quase vinte e quatro horas por dia — Lian argumentou. — Fica aqui, que eu sento ali.
— Não. Eu que vou sentar perto dele.
— Por que os dois não sentam aqui? Eu posso-...— Jungwon tentou intervir, mas eles não ouviram.
— De jeito nenhum. — Lian passou por ele. — Foi namorar, perdeu o lugar!
Mas não conseguiu se sentar. Jay foi rápido quando o puxou de volta, e tentou passar para tomar o lugar. À medida que o barco se distanciava da margem, ia balançando enquanto o atrito entre os Alfas continuava.
Não se sabe exatamente quem foi, mas uma perna bateu na cestinha e ela foi jogada no mar, e consequentemente levando todas as frutas junto.
A raiva que Jungwon sentiu tornou-se visível quando oito tentáculos, quatro de cada lado do bote, surgiram prontos para destruir a embarcação. Os Alfas observaram o menor encarando-os tão irritado, quanto seus olhos prateados transpareciam.
— Se você destruir o bote, vai se molhar junto… — Lian pronunciou com muito cuidado.
— Quer saber de uma coisa… — Jay sentou do outro lado, sorrindo nervoso. — Aqui está ótimo.
— De verdade? — Lian também sorriu e sentou ao lado dele. — Neste caso, também ficarei por aqui mesmo.
Jungwon cruzou os braços, enquanto os da criatura sumiram debaixo das águas novamente. Jay cochichou com Lian, que o Ômega parecia tão assustador quando ficava irritado, quanto o Capitão Jeon era.
— Você acha que ele tá muito bravo? — Sussurrou para o Alfa mais velho.
— Eu não sei — Lian sussurrou de volta. — Mas olha as bochechas dele como ficam gordinhas quando ele faz bico.
— Dá vontade de apertar, né?
— Vai lá e aperta — o mais velho sugeriu. — Se ele te bater é porque ainda tá chateado.
— Vai tu!
Jungwon comprimiu os lábios, segurando a vontade de rir. A raiva se dissolveu ligeiramente com os cochichos dos Alfas.
— Olha lá, Jay, ele sorriu!
— Não sorri, não!
— Sorriu sim, olha só, ele vai rir de novo.
Os Alfas inclinaram-se para frente, Jungwon tentou mas não conseguiu. Logo estava sorrindo, exibindo os dentes.
— Eu passei um tempão com o Arata juntando as melhores frutas, sabiam?
“E estavam uma delícia.” — O Kraken revelou.
— Pelo menos você gostou… — Jungwon respondeu.
Jay se levantou e sentou ao lado do Ômega.
— Desculpa ter estragado tudo.
Lian se levantou e sentou do outro.
— Se você quiser, a gente vai até o mercado e compra mais.
— Eu só queria que o aniversário do Jay fosse docinho e divertido. — Jungwon lamentou, encarando o mais novo.
— Esse é o melhor aniversário que já tive. — Jay o tranquilizou. — Porque você e o Lian estão aqui, comigo. Eu desejei tanto isso, desde a última vez que nos vimos.
— Ai, que fofo — Jungwon o abraçou. O Alfa mais velho fez o mesmo, esforçando-se para que o abraço alcançasse Jay também, que o ajudou, abraçando de volta. Jungwon ficou encolhido entre os dois. — Vocês estão me apertando!
— Desculpa. — O abraço em trio foi desfeito.
Os três moveram-se de onde estavam sentados, para deitar de costas no chão do bote, e observar as nuvens no céu.
— Ah, esquecemos do bolo! — O Ômega lamentou.
— Tudo bem, Jun — o mais novo sorriu. — Está perfeito assim.
Jungwon alcançou a mão dele e cruzou os dedos com o mesmo. Ele encontrou a mão de Lian e fez o mesmo. O oficial olhou para o outro Alfa, atento à reação dele, que poderia não gostar. Mas Jay sorriu para si, e ambos voltaram a observar o céu.
— Faz um pedido. — Jungwon incentivou o aniversariante.
— Certo… — Jay fechou os olhos e pensou por breves instantes. — Pronto.
— O que você pediu?
— Ele não pode dizer — o Ômega afirmou. — Assim não vai se realizar.
— Ah… seria bom se esse barco fosse levado pelo mar, né? — Lian mudou o assunto. — Até parar em uma ilha bem longe e distante de todo mundo.
Jay e Jungwon trocaram olhares confusos. O Ômega questionou:
— Por que está falando essas coisas?
— Sei lá… seria bom estar em um lugar onde eu poderia fazer as coisas do meu jeito.
— E quem falou que você não pode? — Jay perguntou.
— Minhas obrigações com a Marinha.
— Lian, presta atenção — Jungwon o chamou. — Observe bem o céu.
— Certo. — O Alfa respirou fundo e se concentrou no infinito azul.
— O que você vê entre você e ele?
Lian moveu a mão para frente de seu rosto. Os dedos estavam distantes um do outro, e ele podia ver algumas nuvens passando. Mas não havia nada mais além disso. Ele respondeu:
— Não há nada.
— Exatamente. — Jungwon se levantou e o encarou. — É isso o que pode te impedir de fazer qualquer coisa. Nada!
— Você falou como um verdadeiro Capitão — Jay admirou.
— Capitão desse bote, só se for — o Ômega brincou, fazendo os outros rirem.
— Eu o seguiria — Lian afirmou. — Mesmo que se tornasse o Capitão Jeon Jungwon, do pequeno bote.
— Eu também ficaria. — Jay riu. — O bote não é tão pequeno assim.
— Isso, continuem rindo mesmo — Jungwon cruzou os braços quando voltou a deitar-se entre os dois. — No dia que eu aparecer com meu navio enorme e magnífico, vou escolher outros para timoneiro e contramestre.
— Tem o Black Swan — Lian disse. — Sempre imaginei que, futuramente, você seria o líder deles.
— Também pensei muito nisso, quando era criança — o Ômega confessou. — Mas quero que meus pais continuem como capitães por muuuuito tempo!
— Você pode ter seu próprio navio — Jay afirmou.
— Acho bem difícil de acontecer… — Jungwon observou as nuvens passando.
“Você sabe que há outro.” — O Kraken falou na mente dele.
— Outro? — O Ômega franziu o cenho.
Os Alfas olharam para ele, curiosos.
“Um navio que jaz solitário há muito tempo no fundo do Pacífico.” — A criatura afirmou.
Jungwon parou, pensativo. Ele não fazia ideia sobre qual embarcação o Kraken estava falando, mas era em relação ao Luna. Navio de Francis Bonny, que foi propositalmente naufragado, levando toda a tripulação de traidores ao abismo profundo, no fundo do oceano.
Continua…
Pra quem leu o bônus sobre o Francis Bonny, foi exatamente por isso que eu fiz o Luna afundar. Pensou que ele seria esquecido? Hahaha pensou errado 😋
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