[52] O Festival
Jungwon chegou no navio com muito entusiasmo. Ele entrou na cabine para entregar a Jungkook os documentos assinados por Yuri, mas ao invés dele, encontrou Jimin organizando uma pequena mesa, onde ficava a cama de Eunji, antes da Alfa ser alojada em um camarote junto a sua prima Sarah.
— Papai, eu posso ir ao festival?
— Que festival? — Jimin franziu o cenho.
Para surpresa de Jungwon, nem mesmo o seu pai sabia dessa informação. Contudo, para isso havia uma boa explicação. Desde que se juntou a tripulação, todas as vezes que o evento ocorria em Nabuco, o Black Swan se encontrava navegando distante da ilha.
O Ômega mais novo explicou rapidamente do que se tratava aquela festa, e sobre o convite que recebeu.
— E sabemos quem é este Alfa?
— Ele se chama Doug, tem dezessete anos é e filho dos donos da maior madeireira de Nabuco.
— É um rapaz loiro?
— Isso! Como sabe?
— Acredito que já o vi quando compramos madeira de ébano para consertar o navio… certo, você pode ir.
— Obrigado.
— Se ele oferecer bebidas, não aceite. — Jimin apanhou algumas moedas e colocou no bolso do menor. — Compre por conta própria, e não tire os olhos da sua caneca.
— Por que?
— Lembra-se de como fui levado para o leilão?
— Credo, papai… o Doug não faria algo desse tipo.
— Apenas faça o que estou dizendo, hm?
— Tudo bem, não se preocupe. Farei desse jeito.
Jimin sorriu, assentindo satisfeito. Ele segurou na mão do filho e o levou para uma cômoda com espelho, onde ajudou o mais novo a ficar ainda mais bonito.
— Não é porque somos piratas que temos de andar por aí com a aparência tão descuidada…
Jungwon sorriu nervoso. Andava sempre com o cabelo bagunçado, desde criança. Também não costumava se interessar em usar maquiagens ou jóias. Ele não foi criado entre bailes e festas no meio de aristocratas, como seu pai Jimin, mas entre piratas rudes, a bordo de um assombroso navio.
Quando se olhou no espelho, o sorriso cresceu automaticamente. Jimin não o deixou como aquelas pessoas que usam maquiagem tão exageradamente, que mal dava para ver suas expressões faciais. Ele apenas realçou a beleza natural de seu filho com algo leve.
Jungwon o deteve apenas quando Jimin tentou arrumar nele um colar de pérolas.
— Não… — O menino murmurou, tocando o próprio pescoço.
— Tudo bem — Jimin guardou o objeto de volta na caixinha. — Está lindo assim.
— Obrigado… já devo ir, não quero deixar o Doug esperando.
— Divirta-se, meu amor. Não volte tão tarde.
— Pode deixar.
Assim que deixou a cabine, Jungwon encontrou-se com Jay indo a procura do Capitão Jimin, a mando de Jungkook. Ele ficou pelo menos alguns segundos apenas encarando o Ômega, ele estava tão lindo que o Alfa não teve outra reação a não ser admirar.
— Oi? — Jungwon o trouxe de volta. — Você quer falar com meu pai?
— Sim, mas… você está tão… bonito.
— Ah, você gostou? Obrigado, Jay. Estou indo para o festival com um Alfa muito gentil que conheci hoje cedo.
— Hm… e o seu pai permitiu?
— Sim, estava com ele agora mesmo.
— Estou falando do Capitão Jeon.
— Ele… — Jungwon parou, observando o semblante chateado do mais novo. — Você parece bravo.
— Não estou. É só que essa coisa de festival é a maior bobagem, ninguém nunca ouviu falar. Eu não iria se eu fosse você.
— Ah, certo… você pode entrar, meu pai está organizando a cabine. — Jungwon contornou o mais novo e desceu a rampa, a caminho de seu primeiro encontro.
Jungkook transportou as coisinhas de Eunji para seu novo aposento e queria saber se já estava suficiente, por isso, pediu a Jay que chamasse Jimin para verificar. Mas o Alfa não retornou com a resposta, assim, ele mesmo subiu para saber o que tinha se passado.
Assim que entrou na cabine, ele encontrou Jay ainda dando seu recado ao Omega. O garoto deixou o cômodo quando viu o Capitão Jeon.
— Vou descer para ver como o quarto ficou — Jimin informou ao seu Alfa. — Jungwon trouxe os documentos assinados pelo Representante. Estão em cima da mesa.
— E onde ele está? — O Alfa verificou os papéis.
— Foi ao festival com o Doug.
Jungkook devolveu os papéis para o mesmo lugar em que os encontrou, virou devagar e perguntou calmamente:
— E quem caralhos é Doug?
— Sabe onde compramos madeira de ébano? Ele é o filho dos donos daquele lugar.
— Não devia ter permitido. Aquele Alfa tem cara de ser um degenerado.
— Ah, céus. Você fala como se ele fosse um desses bêbados nojentos que frequentam as tabernas. O garoto é apenas um ano mais velho que nosso filho.
— Eu não confio nos Alfas dessa ilha. São todos uns depravados!
— Pelo amor de Deus, homem, pare com isso!
— Coração, me escute… — Jungkook se aproximou, tocando no rosto do Omega com suavidade. Jimin estava com os braços cruzados. — Você sabe que esse Alfa não quer ser apenas amiguinho do Jungwon… ele quer…
— Ele quer o que? Termine.
— Você sabe.
— E qual é o problema?
— Oi?
— Nosso filho é quase um Omega adulto, está começando a conhecer pessoas... Não vou criá-lo trancado a sete chaves como meu pai fazia comigo e o meu irmão. Isso não está em discussão!
— Tudo bem, você está certo — Jungkook ergueu as mãos. — Só estou sendo cauteloso...
— Seja, mas não exageradamente. — Jimin sorriu quando acariciou a bochecha do mais alto.
Jungkook assentiu, sorrindo de volta.
— Como sempre, meu Ômega cheio de razão…
Jimin suspirou satisfeito com o rumo daquela conversa, deixando a cabine para finalmente analisar se Eunji teria tudo que precisasse em seu cômodo.
Jungkook também foi junto, mas antes, ele indicou ao espadachim que jogava cartas com demais bucaneiros:
— Jungwon foi ao festival… fique de olho no Alfa que o acompanha.
Yoongi mostrou as cartas que estavam em sua posse aos piratas, e sorriu quando indicou:
— Pego minhas moedas quando voltar.
— Raios o partam! — Fritz bateu na mesa. — Esse desgraçado venceu de novo! Como pode?!
— Cala a boca e cata essas moedas… — Chaerin determinou.
Os piratas que perderam a jogada lamentaram ter insistido em uma revanche contra o espadachim.
Enquanto isso, Jungwon se encontrava no festival, mais precisamente na barraca do tiro ao alvo. Doug estava há vários minutos tentando ganhar um ursinho de pelúcia para o Omega, mas sem sucesso.
— Porra! Essa porcaria tá colada, só pode! — Doug resmungou. Não havia acertado uma única vez, das três que precisava para levar o prêmio. Ele virou para o Omega: — Eu acertei várias vezes, você viu né?
— Se tivesse acertado teria quebrado as garrafas — o Alfa que toma conta da barraca respondeu no lugar de Jungwon. — Vai tentar outra vez?
A fila para jogar naquela barraca estava enorme. Os Alfas já começaram a reclamar logo atrás:
— Amigão, vai ficar aí pra sempre?!
— Ainda estou na minha vez. — Doug mostrou o dedo do meio. — Só fica quieto aí… está atrapalhando.
— Eu quero tentar — Jungwon deixou uma moeda no balcão.
— Docinho — este foi o apelido criado por Doug, para substituir o nome do Omega que ele não sabia —, o mosquete é pesado e possui um recuo muito forte, pode machucar suas mãozinhas delicadas.
Jungwon ignorou. Quando o Alfa da barraca preparou a arma, ele aceitou, mirou e disparou seguidamente nos três alvos, levando apenas poucos segundos para fazer aquilo que Doug pretendia há uma eternidade.
— Segura pra mim? — Ele largou o mosquete nas mãos de Doug para receber o ursinho como prêmio.
O Alfa segurou a arma piscando boquiaberto. Jungwon viu que uma criança estava chorando porque seu pai não conseguiu ganhar um brinquedo para si. O Ômega sorriu para ele e o presenteou com o prêmio conquistado.
O menino agradeceu e saiu pulando com seu ursinho.
O Alfa que estava logo atrás de Doug, tomou o mosquete das mãos dele e pagou pela próxima tentativa.
— Estou com sede. — Jungwon afirmou.
— Eu hm é... — Doug gaguejou e limpou a garganta: — Humhum. Vou te levar em uma taberna, vamos.
O estabelecimento para o qual levou Jungwon não era como as demais, cheias de Alfas e Betas bêbados e brigões. Aquela era frequentada por gente mais comum, que desejava apenas conversar enquanto tomavam suas bebidas com moderação.
— Deixa que eu pego pra gente, o que você vai querer?
— Eu vou com você.
— Não precisa.
— Eu insisto.
— Tudo bem — o Alfa deu de ombros.
Jungwon se apoiou no balcão para fazer seu pedido, neste momento, o Alfa se aproveitou para dar mais uma olhada nas pernas dele. Doug passou a língua sob os lábios e sorriu malicioso, já imaginando o momento que iria colocar as mãos naquele Omega.
— Um suco, por favor — Jungwon pagou pela bebida quando a recebeu. — Obrigado.
— Suco?
— Meu pai não permite que eu beba nada além disso.
— Ah, sim… — o Alfa solicitou o seu: — Eu vou querer uma garrafa de tequila.
Assim que Doug pagou pelo que pediu, ambos escolheram uma mesa e sentaram.
— Você vai tomar isso tudo sozinho?
— Claro que não — o Alfa serviu uma caneca para si, em seguida, tentou adicionar tequila dentro do suco de Jungwon, mas o Ômega não permitiu. — O que foi? É apenas um pouco.
— Eu já disse que meu pai não permite. Ele confia em mim e eu dou muito valor a essa confiança.
— Tudo bem, docinho — o Alfa bebeu uma grande quantidade. — Não precisa ficar bravo.
— Tem certeza que vai continuar sóbrio pra assistir a apresentação?
— E se a gente pular essa parte? — Doug deslizou a mão e segurou a de Jungwon, em cima da mesa.
— Como assim?
O Alfa sorriu ainda mais interessado. Ora, ele iria se divertir a noite toda ensinando muitas coisas aquele Ômega. Ele olhou para uma silhueta que estava ocupando uma mesa logo atrás de Jungwon, e sentiu como se todos os ossos do seu corpo tivessem se transformado em geleia.
Havia um Alfa loiro com um semblante muito sério, olhando diretamente para ele. Este Alfa o mirava como se fosse tirar a sua vida a qualquer momento. Doug não tinha certeza se deveria sair correndo ou ficar de joelhos e implorar.
— O que foi? — Jungwon percebeu a repentina mudança nas feições dele.
— Não olha agora, tem um Alfa atrás de você olhando pra nós… acho que ele é um bandido.
O Ômega franziu o cenho e disfarçou coçando a nuca antes de olhar para trás. Quando viu que se tratava de Yoongi, ele respirou fundo e revirou os olhos, voltando a olhar para frente.
— Não estou acreditando nisso…
— Você o conhece?!
— É um dos Alfas da tripulação do meu pai.
— Ah, seu pai é dono de um navio mercante?
— Não. Ele é o Capitão dos Alfas e Betas do Black Swan.
Todo o sangue do interior de Doug deixou seu corpo naquele instante, assim como seu lobo que foi com Deus. Ele olhou novamente para o Alfa logo atrás de Jungwon e rapidamente ligou os pontos. O Capitão Jeon madou aquele Alfa para lhe matar e depois jogar os pedacinhos para os cães.
— Ah… e-eu não consigo respirar — ele apoiou a mão no peito. — Acho que meu coração parou!
— Fique calmo. Vai ficar tudo bem.
— Docinho, eu realmente sinto muito! — Doug largou a mão dele e se levantou repentinamente. — Na verdade, ninguém sente mais do que eu, mas eu esqueci completamente que tenho um compromisso inadiável. Eu preciso ir!
Doug não deu tempo para o Omega responder. Ele saiu correndo, deixando sua garrafa de tequila quase completamente cheia para trás.
Jungwon se levantou e seguiu até a mesa de Yoongi. O Alfa logo se adiantou:
— Nem vem brigar comigo, o seu pai que mandou.
— Ele me paga!
O Ômega deixou a taberna bastante irritado, seguindo pisando duro até chegar no Black Swan. Yoongi o acompanhou de longe.
Já a bordo do navio, Jungwon abriu a porta da cabine de supetão, encontrando justamente o Capitão Jeon fazendo algumas anotações.
— Por que você fez isso?! — O Ômega bateu as mãos na mesa e encarou o pai.
— Do que está falando?
— Vai bancar o sonso?
Jungkook ergueu os olhos para encará-lo de volta.
— Olha o respeito, mocinho.
— Você não podia fazer isso, pai. Eu não sou mais criança! Não pode ficar mandando esses bucaneiros idiotas ficarem me vigiando!
— Ah, isso… é apenas para a sua segurança.
— Sei cuidar de mim mesmo!
Jungkook relaxou o corpo apoiando-se nas costas da cadeira. Sim, Jungwon era bastante forte, mas o Alfa sabia bem disso, já que foi ele mesmo que o treinou. Contudo, ele não iria facilitar para nenhum palhaço que se aproximasse de seu filhotinho.
Jungwon era uma das três maiores preciosidades de Jungkook. Para ele, o Alfa teria de ser muito digno para então, talvez, merecê-lo.
— Sei disso. — O Capitão afirmou despreocupado.
Jungwon entendeu que de nada iria adiantar manter aquela discussão. Para evitar um conflito maior, o Ômega deu meia volta para sair da cabine.
— Não bata a porta! — Jungkook determinou, mas o estrondo da porta sendo trancada bruscamente veio logo em seguida. O Alfa suspirou, molhou a pena no tinteiro e voltou a escrever. — Aiai, essas crianças de hoje em dia…
Já no convés, Jungwon seguiu irritado até parar na traseira da embarcação, onde sempre gostava de meditar sem a presença de ninguém por perto. No entanto, ele não estava sozinho, e só percebeu quando Jay saiu de trás de uma caixa e se aproximou dele.
— O festival já acabou? — Jungwon respondeu negando com a cabeça. — Por que voltou tão cedo?
— Meu pai assustou o Doug.
Jay não queria ver o Ômega triste, mas de certa forma sentiu-se feliz pelo que aconteceu.
— Hmm… Mas você não precisava dele para ver o festival. Poderia continuar lá, e se divertir mesmo sozinho.
— Você não entenderia…
— Pss! — Alguém chiou
Os dois olharam para trás e viram Taesung chamando seu irmão logo atrás de uma caixa.
— Eu já volto. — Jay avisou antes de ir para onde o mais novo estava. — Que foi?
— Chama ele pro festival.
— Você tava ouvindo a conversa?!
— Fala baixo, animal! — Taesung sussurrou. — Jungwon vai ouvir a gente.
— Eu vou te bater, pirralho enxerido.
— Se encostar um dedo em mim eu vou contar pro papai, e ele vai arrancar seu couro. — O mais velho revirou os olhos. — Estou aqui pra te ajudar.
— Ajudar em quê exatamente? — Jay cruzou os braços.
— Pensa que sou burro? Eu sei que você quer ir com ele.
Os irmãos olharam na direção da popa, Jungwon estava com o cenho franzido, olhando eles de longe. Em seguida, o Ômega voltou a encarar o oceano.
— Deixa de ser lerdo e chama ele logo. — Taesung insistiu.
— Eu acho que ele não quer ir, do contrário ele ainda estaria lá.
— Meu Deus, eu não sei se tenho pena de você ou apenas vergonha por ser seu parente… Você não vê o Arata? Ele cuida dos canhões a bombordo do navio, como se não fossem nada. Mas o tio Sven às vezes acompanha ele nos lugares, pra ele não ir sozinho. Mesmo que não precise, os Ômegas tem dessas coisas…
— E se ele não aceitar ir comigo?
— Não seria nenhuma surpresa, ele é bonito e inteligente. Você parece mais um bocó. Só tem tamanho.
O mais velho respirou profundamente.
— Ta vendo isso aqui? — Ele exibiu o punho. — Vou acertar sua cara se não parar com isso.
— Então deixa de ser idiota, e convida ele! — Taesung rosnou.
— Shhh!
— Está tudo bem aí? — Jungwon olhou para trás novamente.
— Ta sim. — Jay respondeu, rebocando o irmão para longe. — Taesung já está de saída.
— Faz o que eu falei! — O Alfa mais novo ainda indicou, antes de sumir escada abaixo.
— O que ele queria? — Jungwon perguntou quando Jay voltou para a popa.
— Disse pra eu te chamar pro festival. — O Omega não reagiu, ele apenas esperou. — Você quer ir comigo?
— Você está com pena de mim?
— Não! É claro que não.
— Eu pensei que essas coisas fossem a maior bobagem pra você, e que você não gosta…
— Eu gosto se você estiver comigo.
O Ômega ficou sem saber o que dizer, por um curto tempo. Para Jay, ele estava demorando porque pensava em como iria negar, quando o mais velho finalmente respondeu:
— Eu quero.
O Alfa foi de um enorme sorriso a uma expressão que demonstrava incerteza.
— Não imaginei que iria aceitar. Agora não sei o que fazer…
— Acredito que seja a parte onde a gente vai pro festival…?
— É! Claro! — O Alfa sorriu nervoso. Ele observou o que vestia e saiu correndo. — Eu vou vestir outra roupa!
— Certo… — quando respondeu já estava sozinho.
No quarto dos Alfas, Jay fazia a maior bagunça procurando por uma vestimenta mais apropriada. Taesung estava sentado em sua cama, e parou a leitura para assistir o irmão.
— Como estou? — O mais velho virou para ele.
— Parece que um navio te atropelou… — Taesung pegou um espelho e segurou de frente ao irmão. — Olha seu cabelo como tá horrível.
Jay passou rapidamente os dedos entre os cabelos castanhos.
— E agora?
Taesung analisou.
— Agora você até parece gente. — Se defendeu quando o outro lançou uma camisa nele. — É assim que você agradece?!
— Valeu, tampinha. Eu te devo uma…
— E eu vou cobrar.
Quando finalmente retornou ao convés, Jay encontrou-se com o Omega e juntos eles desceram até a cidade.
Para todos os lados que olhavam, a maioria das pessoas que circulavam pela área em que acontecia o festival, eram casais. Os dois estavam um pouco sem jeito, e a caminhada seguiu em silêncio por alguns minutos.
— Uhm… o que você quer fazer? — O Alfa quebrou o silêncio.
— Eles montaram um palco para uma apresentação…
— Vamos ver?
— Vamos.
Os dois seguiram entre a multidão até encontrar um grupo de pessoas, de frente a uma plataforma onde algumas cenas estavam sendo apresentadas, contando a história da ilha.
O último ato foi a queda do Submundo. Jungwon estava sorrindo abertamente quando chegou ao fim, e Jay o admirou por um tempo. As pessoas que assistiram a apresentação, bateram palmas e se retiraram para outros lugares.
Jay e Jungwon fizeram o mesmo, e foram caminhando onde se divertiram em barracas de joguinhos, compraram alguns docinhos, riram, e finalmente seguiram em direção a um chafariz no meio da praça, onde sentaram um ao lado do outro para apreciar a parte final da festa, quando lanternas foram acesas e flutuavam até o céu.
— Isso é tão lindo… — Jay comentou.
Jungwon assentiu, observando o Alfa ao seu lado e também as lanternas. Sentiu-se feliz por estar com ele, e não com Doug. Jay não se comportava de maneira estranha e não o chamava de “docinho”.
Seu lobo não ficou em alerta como quando estava com Doug. Com Jay ele pode aproveitar mais cada pequeno detalhe daquele festival. As pessoas sorrindo e se divertindo, o ambiente ficou mais leve.
Jungwon olhou para o Alfa enquanto o mais novo ainda admirava as luzes subindo. O Omega se aproximou um pouco mais e beijou a bochecha dele carinhosamente.
Automaticamente o Alfa olhou para o lado, e encontrou Jungwon sorrindo para si. Ele sorriu de volta. Os dois voltaram a admirar o festival das lanternas. O mais novo moveu sua mão e adicionou suavemente em cima da de Jungwon. O Ômega virou a palma para cima e eles cruzaram os dedos.
Um tempo após o fim do festival, os dois voltaram caminhando pelo deque, ainda com as mãos dadas. Só então quando retornaram ao navio eles soltaram as mãos.
— Obrigado por hoje. — Jungwon o beijou na bochecha outra vez antes de descer, todo sorridente, para o cômodo que estava dividindo com Hyun.
Jay suspirou. Ainda podia sentir o aroma do chocolate na sua bochecha. O sorriso murchou quando ouviu a voz do Capitão Jeon:
— Jongseong!
Ninguém, em todos seus 14 anos de existência, havia lhe chamado pelo seu nome antes. Com exceção de seu pai, Sungjae, quando o Alfa aprontava das suas na infância.
— Senhor? — O mais novo girou devagar.
Jungkook se aproximou vagarosamente, com um semblante imparcial. Jay não conseguia saber se ele estava bravo ou muito bravo.
— Vocês foram para o festival? — Jungkook perguntou, parado de frente ao menor.
— Sim. — Ficou feliz por não gaguejar, o Capitão Jeon era um lúpus muito intimidante.
— E como foi?
— Uhm… Compramos alguns doces, vimos uma apresentação, lanternas… — “ele beijou minha bochecha e agora sinto peixes voadores no meu estômago”, pensou consigo mesmo. — Foi divertido.
— Algum Alfa tentou se aproximar dele de modo que parecesse suspeito?
— Não… — ele engoliu em seco quando arriscou: — Eu protegeria o Jungwon com minha vida.
Jay respirou aliviado quando percebeu o semblante do Capitão relaxar um pouco. Podia jurar que viu um pequeno sorriso.
— Muito bem… — o menor ficou rígido quando Jungkook apoiou a mão em seu ombro. — Pode ir.
— Boa noite, Capitão.
Jay contornou o lúpus e desceu para os dormitórios, onde encontrou seu irmão ainda acordado, pronto para lhe fazer milhares de perguntas.
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DURANTE O PERÍODO DE DOIS ANOS, a tripulação do Black Swan revezava entre alguns saques ali mesmo, junto a costa asiática, troca de mercadorias e transporte de suas riquezas que estavam guardadas em lugares distintos, até o arquipélago de Arbolgreen.
O local parecia mais uma Fortaleza, sendo protegida pelos Alfas e Betas, enquanto a estrutura do esconderijo era montada. Eles aproveitaram as cavidades naturais da ilha para armazenar o tesouro no maior salão do interior de uma das passagens.
Mas para chegar até a riqueza, era necessário passar pelas armadilhas montadas por Hoseok e Dahyun, do contrário, o infeliz que tentasse invadir aquele local, seria mandado pelos ares pelos diversos explosivos ocultos.
— Isso é pouco, Tae! — Jungwon argumentou. Ele e o navegador estavam conversando na taberna de uma pousada sobre o local do esconderijo. — Meu pai poderia colocar algumas coisinhas… tipo duas alavancas em outras ilhas, aí pra abrir uma das passagem, duas pessoas teriam de ativá-las ao mesmo tempo.
— Hmm… — Taehyung ponderou. — Como as partes saberiam o momento certo para ativá-las?
— Alfas e Ômegas marcados possuem uma ligação… poderíamos começar a partir disso.
— Então seriam três mapas, correto? Um para cada alavanca e o outro para o local do tesouro.
— Nesse caso, sim. Porém, e se além das alavancas, a gente colocar um dispositivo tipo o colar do Jack, em outro local?
— Você adora isso, não é? — O Beta sorriu. — Fica bastante empolgado, além de ser muito inteligente.
O Ômega sorriu, movendo os olhos para outra direção. Ele não sabia lidar com elogios, então sempre corava envergonhado.
Quando ergueu o rosto novamente, Jungwon viu uma silhueta passar por trás do Beta, e sorriu para o que estava passando, acompanhando-o com o olhar. Taehyung percebeu, e sorriu já sabendo de quem se tratava.
— Sua atenção ainda está na conversa ou ela pulou para um certo Alfa de cabelo castanho e olhos verdes?
Jungwon o encarou chocado. O Beta nem sequer havia olhado para trás.
— Como você…?
— Seus olhinhos brilhantes. — Taehyung respondeu antes dele concluir a pergunta.
— Ele tá me chamando.
— Vai lá. Gostei da ideia que teve. Há um certo magnetismo no Triângulo da Morte, que faz aquelas coisas estranhas acontecerem. Vou estudar sobre isso pra ver como podemos usar.
— Você é brilhante!
— Você me deixou empolgado também… Agora vai, não deixe ele esperando.
Jungwon assentiu e foi ao encontro do Alfa. Jay estava encostado no batente da porta lateral, e saiu logo depois que o Ômega passou, saindo diretamente para a rua.
— Você tava bebendo rum ? — O Alfa puxou assunto.
— Por que? Estou fedendo?!
— Não! Você cheira muito bem na verdade.
— Então eu cheiro muito bem? — O Ômega sorriu atrevido.
— Você sabe que sim… — Jay olhou para os transeuntes, evitando focar demais no Omega e perder a capacidade de raciocinar. — É que eu vi duas garrafas na mesa, então pensei…
— Não é porque eu tenho dezoito anos e meu pai permite, que eu vou sair tomando todas por aí… — o Ômega riu. — As bebidas que você viu eram do Taehyung.
— Ah, sim… mas quero que saiba que se estivesse, não teria problemas.
— Que ótimo. — Sorriu, tentando segurar na mão dele, mas o Alfa se esquivou. — Que foi?
— Aqui não, alguém pode ver… ainda está de dia.
— Quê que tem?
— E se chegar aos ouvidos do seu pai? Eu não quero caminhar na prancha. — Jungwon tentou controlar o riso, cobrindo a boca com a mão. — Para de rir! Eu tô falando sério, poxa…
— Tá, desculpa… — Eles voltaram a caminhar até entrarem em uma nova taverna, que costumavam frequentar.
O estabelecimento não era ocupado por piratas, por este motivo, ambos tinham o local como sua taberna preferida. Sem bêbados arruaceiros e hostis.
— Acho que você se preocupa à toa, meu pai não faria isso. — Jungwon comentou assim que ocuparam uma das mesas. — Ele gosta de você.
— Ele gosta de mim porque não sabe quais são minhas intenções.
Jungwon franziu as sobrancelhas.
— E quais são as suas intenções?
O Alfa não respondeu a princípio. Ele encarou os lábios do mais velho, depois desviou o olhar e pigarrou, secando as mãos úmidas de suor no tecido da própria calça.
Jungwon o bateu no braço.
— Ai! Por que fez isso? — Jay sorriu dissimulado, passando a mão no local atingido. — Eu não disse nada...
— Sei muito bem o que está pensando. — Jungwon desviou o olhar para a saída, levando um susto pelo que viu.
Repentinamente, ele puxou o Alfa pela mão e entrou na primeira porta que encontrou. Era o depósito da taberna. Estava cheio de caixotes com bebidas, outros objetos e possuía uma única janela que dava para uma viela.
— O que houve?! — Jay olhou desconfiado enquanto o Ômega colocava uma cadeira para travar a porta.
— Eu vi oficiais da Marinha entrando aqui.
Aquela afirmação deixou o Alfa igualmente alarmado. 10 anos haviam se passado desde o fim da guerra por Nabuco e, desde então, nenhuma Marinha era permitida ancorar naquela ilha.
— Você tem certeza?
— Eu vi aquele Tenente Wo, e outros logo atrás.
— Por que estamos fugindo? Essa ilha pertence aos piratas agora.
— Eu sei, mas se eles estão aqui é porque alguma coisa aconteceu. Eu não quero ser levado por eles novamente.
— Abram a porta! — Alguém bateu na madeira. — Vamos, saiam daí! Já!
O Ômega correu para o outro lado do depósito, enquanto o Alfa verificava se a trava na porta estava firme. Jungwon usou uma cadeira para quebrar a janela de vidro e quando passou pela mesma, ele chamou o Alfa:
— Deixa essa porta e vem logo!
Jay fez como o Ômega indicou e largou a cadeira que prendia a porta, para logo em seguida fugir pela janela. Os dois correram pela única passagem da viela e se ocultaram pelas ruas estreitas por trás do mercado.
Assim que Bruce conseguiu abrir a porta, já era tarde demais. Ele tentou correr até a janela, mas já não havia sinal de quem quer que fossem aqueles dois. Quando retornou a taberna, ele comunicou:
— Eu vi dois piratas, Almirante. Mas eles fugiram pela janela. Se me der permissão, eu posso encontrá-los.
— Você viu dois piratas, na ilha dos piratas — Lian bateu palmas com sarcasmo. — Impressionante.
— Nabuco não é a ilha dos piratas! — Bruce bateu na mesa. — É um centro comercial para navios mercantes. Não para o contrabando desses demônios!
— Mas no momento ela pertence aos piratas — o Almirante Wo pronunciou. — E agora, talvez você tenha colocado a perder meses de negociação com o Representante.
Bruce se calou no momento em que percebeu os que havia provocado. O Almirante Wo, a mando do Imperador, entrou na ilha há alguns meses, disfarçado como um simples mercador. Após alguns encontros com Yuri, ele conseguiu permissão para começar a negociar os carregamentos da China.
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Taehyung estava lendo um livro que explicava um pouco sobre a excêntrica atividade do Triângulo da Morte, quando foi surpreendido por Jay e Jungwon. Ambos ofegantes por terem percorrido as pressas um longo caminho.
— A Marinha está aqui. — O Ômega informou.
— Como disse? — Taehyung olhou pela janela. — Não há navios ancorados no porto.
— Eu sei… mas vi quando o Tenente Wo entrou na taberna, e também outros oficiais.
— Ele não é mais o Tenente. É um Almirante.
— Então ele deve tá aqui pra tomar a ilha pra Marinha! — Jay supôs.
— Mas ninguém percebeu que eles estão na ilha — Taehyung ponderou.
— Eles estão do lado norte, onde vivem os locais. Não há muita movimentação de piratas por lá, já que não existe um porto. — Jungwon argumentou. — Eles devem ter ancorado em uma enseada.
— Logo quando a tripulação está em Arbolgreen… — O Beta lamentou, ficaram na ilha de Nabuco apenas Jungwon, Jay e ele. — Vamos andar fora de vista por enquanto. Eu vou especular com as outras tripulações o que eles estão fazendo aqui.
Jungwon agarrou uma das garrafas que estavam na mesa quando teve uma ideia.
— E eu vou tentar avisar os meus pais.
— Tenham cuidado. — Taehyung se separou dos meninos.
A dupla subiu para um dos quartos, onde Jungwon escreveu resumidamente em um pedaço de papel, o que presenciou em uma das tabernas de Nabuco. Ele enrolou como um pergaminho, colocou dentro da garrafa e usou uma rolha para tampar.
Posteriormente, ele e Jay seguiram até o cais, onde o Ômega se comunicou com seu amigo abismal:
— Pode levar isso pros meus pais em Arbolgreen? — Ele jogou a garrafa no mar.
A garrafa flutuou por alguns segundos, até a extremidade de um enorme tentáculo puxar o objeto para dentro das águas.
“O que eu ganho com isso?” — O Kraken perguntou em sua mente.
— Uma caixa com muitas maçãs suculentas.
“Três.” — Negociou.
— Uma e meia.
“Duas.”
— Fechado!
Uma onda contrária seguiu em direção ao oceano, quando o Kraken moveu-se com extrema velocidade a caminho do arquipélago de Arbolgreen.
— E agora, o que a gente faz?
— Fica de olho nos oficiais daquela taberna, eu vou falar com Yuri — Jungwon não deu a ele tempo para resposta, e logo seguiu pelo longo caminho através do cais.
Em certa parte do percurso, o Ômega sentiu que estava sendo seguido. Ele esperou até entrar em um desvio por meios de costões rochosos, onde outrora, piratas usavam a rota para fuga.
Jungwon encaixou a mão no cabo da pistola e girou quando a puxou do coldre. Havia um oficial da Marinha com uma arma já apontada para ele.
— Lian!
— Pego de surpresa, pirata. — Ele sorriu, em seguida, afirmou sobre a arma que estava mirando no Omega: — Não está carregada.
— Mas a minha está — Jay murmurou logo atrás dele, encostando o cano da pistola na nuca do mais velho. Ele sentiu Lian ficar ligeiramente tenso. — Eu acho que você sujou as calças, não?
Quando o oficial abaixou a mão que segurava a pistola, Jay fez o mesmo. Os três guardaram as armas novamente, e Jungwon se aproximou devagar, até finalmente abraçá-lo, quando o susto passou.
— Sabia que o veria novamente! — O Ômega expressou.
Os dois separaram o contato e, dessa vez, os dois Alfas se abraçaram.
— Passamos pelo Black Swan a cerca de dois anos — Lian contou. — Mas o Almirante não permitiu o ataque.
— Então era você? — Jay perguntou, recebendo uma confirmação.
— Nossa, você cresceu mesmo, hm? — Lian ficou ao lado do Alfa. — Está do mesmo tamanho que eu.
— Você achou que eu ficaria um toquinho de gente pra sempre? — Jay brincou, ambos riram.
Quando os dois olharam ao mesmo tempo para Jungwon, que era mais baixo que eles, o Ômega estreitou os olhos e logo se pronunciou:
— Sem comentários. — Ele tratou de mudar o assunto: — Por que a Marinha está em Nabuco?
— Negociar produtos.
— Sem querer ofender mas, vocês da Marinha não são bem vindos aqui. — Jay expressou.
— Não é o que o Representante acha.
— O Representante não fala por nós, ele apenas gerencia os negócios entre os comerciantes e piratas. Nabuco é a nossa República! Não temos um líder, mas todos estão de acordo com o que o Jay falou.
— Yuri fez um acordo com o Almirante Wo. Galeões da Marinha não podem se aproximar da costa, e o máximo de oficiais permitidos para desembarcar são cinco em cada navio.
— Como vocês chegaram aqui?
— Através de navios mercantes. É o que foi combinado com o Representante.
— Meu pai vai ficar puto com Yuri… — Jungwon falou com Jay, se referindo ao Capitão Jeon.
— Onde ele está? — Lian perguntou. — Não vi o Black Swan ancorado.
— Não muito longe — o Ômega respondeu.
— Vamos voltar à cidade — Lian sugeriu. — O que pretendia por este caminho?
— Estava indo conversar com Yuri, mas você já contou o que está acontecendo.
— O Taehyung precisa saber — Jay afirmou.
Jungwon assentiu. Assim, os três seguiram rumo ao centro de Nabuco.
Continua…
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