[50] Azul e Cinza
Dezenas de jovens, Alfas e Betas, se encontravam enfileirados no quartel general da Marinha. Eles foram os aprendizes que permaneceram por cinco anos sendo treinados para servir e defender o Império Chinês.
As moças e rapazes que ali estavam, possuíam a idade de 20 anos, com exceção de um Alfa, Zhang Lian, que com apenas 17, seria o recruta mais jovem de toda a história da Marinha, após a cerimônia de formatura.
— Viemos de alguns anos sombrios com perdas irreparáveis na guerra. A nossa economia quebrou, assim como a esperança do nosso povo — o Almirante Wo Lee discursou. — Mas vocês, jovens recrutas, estão aqui para trazer de volta a chama que habita no coração do povo chinês. Com sua força e bravura, vocês serão o futuro e progresso…
Após o emocionante discurso do Almirante, o uniforme oficial da Marinha chinesa foi entregue aos aprendizes, e logo em seguida eles foram levados aos alojamentos do quartel. Quando retornaram, já estavam devidamente vestidos como os novos uniformes.
Foram recebidos por uma salva de palmas de todos os convidados, parentes, políticos e superiores da Marinha.
O Almirante Wo apertou a mão de cada um. Por último, ele puxou Lian para um abraço.
— Acha que meu pai estaria orgulhoso?
Wo moveu o olhar para alguém que se aproximava logo atrás do mais novo, depois olhou para ele e sorriu.
— Sua mãe está.
Quando olhou para trás, Lian recebeu sua mãe, Yue, com um forte abraço.
— Você está tão lindo! Olha pra você, já é um homem!
O Almirante riu, disfarçando. Yue abraçava e beijava o filho diante de todos, de maneira muito carinhosa e exagerada.
— Mãe, as pessoas estão olhando… — Lian sorriu nervoso.
— O quê? Elas nunca viram uma mãe orgulhosa de seu filho? — Ela ignorou e continuou a sua demonstração de afeto.
— Eu tenho que ir — o Almirante afirmou. — Estou orgulhoso, Lian.
— Obrigado, senhor.
Wo Lee serviu de grande apoio a Zhang Yue e seu filho, quando a Beta se tornou viúva do Almirante Zhang. Mesmo com as atribuições que tinha na época, ainda como Tenente, Wo não deixou de prestar suporte aos dois.
— Vem, vou te apresentar a algumas amigas que têm filhos Ômegas solteiros.
— Er… mãe, eu prefiro dormir. — Lian hesitou. — Amanhã já começo a servir…
— Eu sei bem que você está escalado para a tarde, acha que sou boba? Não, fica aqui mais um pouco. É só uma apresentação, nada demais.
— Mas mãe, eu-...
— Lian, você passou todos esses anos treinando, sem se divertir. Aquela namoradinha que você teve, terminou com você por causa disso.
— Mãe, eu só tenho dezessete anos. Tenho a vida toda pra encontrar um parceiro, não precisa fazer isso por mim. Eu prometo que depois você pode me apresentar a todas as amigas que quiser, mas agora eu só quero descansar.
— Tudo bem, me desculpe. Vamos para casa. — Ela cruzou o braço no dele. — Vou te fazer um chá que você vai dormir a noite toda.
Lian sorriu satisfeito e seguiu com a mãe para a saída do salão.
Com efeito, a bebida preparada por Yue deixou o Alfa com o corpo leve, e ele dormiu tranquilamente.
Na manhã seguinte, Lian acordou disposto para seu primeiro dia como um membro oficial da Marinha. Agora já não era mais um aprendiz e todas as suas ações poderiam impactar diretamente na vida dos cidadãos chineses.
O Alfa passou o dia se preparando para assumir o período da tarde, onde receberia do Tenente Yantao as ordens do que deveria ser feito no segundo turno.
— Hoje vamos coletar alguns impostos. — O Tenente informou dividindo os recém oficiais em grupos de quatro. O último grupo acabou se tornando um trio. — Jiang, Bruce e Lian, eu irei com vocês.
Os grupos saíram em direções opostas pela cidade, para recolher o tributo obrigatório cobrado pelo Imperador.
O grupo que ficou com o Tenente teve dificuldades quando chegaram no porto. Um Beta pescador informou que não possuía o valor naquele momento.
— Ele claramente está mentindo, senhor — Bruce rosnou, fazendo um movimento para assustar o Beta. — Pague o que está devendo, velho!
— Eu não tenho — o cidadão insistiu. — Não fui pescar essa semana por causa da tempestade, meus ossos doem no frio.
— Ele está falando a verdade. — A Omega dele tentou intervir.
— Só que o Imperador Ming não tem nada a ver com isso. — Bruce retrucou. — Hoje é o dia de pagarem os impostos.
— Que situação complicada — Jiang suspirou. — E agora, senhor? O que devemos fazer?
— Já que esse irresponsável não cumpriu com a obrigação do mês, não tenho outra alternativa… destruam tudo, para que fique como exemplo. Vagabundos aqui, não tem vez!
— Não, por favor! — o Beta tentou impedir.
Bruce ergueu o braço para agredir o pescador, mas foi parou quando Lian o impediu, colocando-se entre ele e o Beta.
— O que está fazendo?! — Bruce rosnou.
— Não vai bater nele.
— Lian, saia da frente. — O Tenente ordenou. Bruce sorriu.
— Senhor?
— É uma ordem. Se não é capaz de cumprir com suas obrigações, saia da frente do Bruce.
— Eu me recuso.
— O que disse?
— Não sirvo a Marinha que espanca civis indefesos.
— Todo aquele que não contribuir com os impostos deverá ser punido severamente. Você está contra a lei, logo, está contra o Imperador.
— A lei também diz que todo cidadão chinês pode pagar o que deve com uma semana de atraso, se forem adicionar alguns acréscimos.
O Tenente encarou Lian por um período que pareceu uma eternidade. Ele sorriu a contragosto, quando sua vontade foi de matar o mais novo bem ali.
— Ora, eu me esqueci desse detalhe. Que coisa… Tudo bem, hum, Jiang e Bruce, podem continuar cobrando os impostos daqui pra frente. Lian, venha comigo.
O grupo se separou, e pelo caminho tomado pelo Tenente Yantao, Lian sabia que o mesmo iria apresentar uma queixa contra sua conduta. Mas o jovem estava tranquilo com sua consciência, no máximo receberia uma advertência, era apenas seu primeiro dia.
Mesmo que fosse expulso, não seria uma grande perda. Nunca foi realmente o grande sonho de Lian se tornar um membro da Marinha. Isso foi imposto por seu pai durante tanto tempo e de maneira tão ferrenha, que o menino não se deu ao luxo de traçar seus próprios objetivos.
— Com licença, senhor — o Tenente entrou no gabinete do Almirante, sendo seguido pelo mais novo. — Venho solicitar a dispensa deste oficial.
— Qual o motivo? — Wo parou de escrever e passou a encarar o Tenente.
— A Marinha não é um local para crianças. Este jovem é três anos mais novo do que se é exigido para ser um oficial. Sua imaturidade pode colocar em risco a vida de seus companheiros.
— Foi aberta uma concessão pelo próprio Imperador. Zhang Lian passou com êxito em todas as provas da academia. Ele foi considerado o melhor aprendiz por todos os instrutores. — O Almirante pronunciou com orgulho. Yantao engoliu um rosnado de raiva. — Seu motivo não é válido. Pedido indeferido.
— Ele me desrespeitou! — O Tenente rosnou entre dentes, a beira de perder o controle. — Se recusou a seguir ordens. É um moleque insubordinado!
— Eu só-... — Lian tentou se defender.
— Calado! Não lhe foi dada permissão para abrir a boca.
— Deixe-o falar. — Wo Lee ordenou.
— Senhor, este garoto-...
— Tem direito a se defender — o Almirante afirmou. — Se já expressou tudo o que tinha a dizer, Tenente, agora quero ouvir a versão dele.
— Sim, senhor. — Yantao olhou ameaçadoramente para Lian. — Eu já terminei.
— Ótimo. — Lee assentiu para o mais jovem. — Prossiga.
— Eu me recusei a espancar um pescador e sua Ômega, ambos idosos, e também a destruir a casa deles, porque não tinham o valor para pagar os impostos.
— Eu esqueci que eles poderiam pagar com uma semana de atraso — o Tenente sorriu amarelo. — Mas nenhum dano foi feito ao casal ou a propriedade deles. Tudo já foi resolvido.
— Como se esqueceu? Você trabalha com isso há anos.
— Pois é, senhor. Tem tanta coisa na minha cabeça que ando desatento.
— Hum… — o Almirante retirou um papel de sua gaveta e escreveu alguma coisa. Logo em seguida entregou ao Tentente. — Está sendo suspenso de suas atividades pelo período de uma semana.
— Uma semana! — Yantao engoliu em seco. — Com todo o respeito, o senhor não está exagerando?
— Suspeito que não esteja em pleno uso de suas faculdades mentais. Além do seu comportamento repulsivo, ainda solicitou a baixa de um excelente oficial. Como você mesmo disse, está com tanta coisa na cabeça que anda desatento com as coisas… veja essa semana como uma oportunidade para colocar a cabeça no lugar.
— Mas senhor-...
— Isso é tudo, Tenente Yantao. Já pode ir.
Assim que o Alfa deixou o gabinete, Lian respirou aliviado.
— Achei que seria punido.
— Por que? Você agiu certo. Alguns oficiais por medo dos superiores ignoram seus atos ilícitos — Wo estava falando sobre si mesmo, na época em que servia o Almirante Zhang, como Tenente. — Estou feliz que não seja assim.
— Então posso voltar ao serviço?
— Sim. Procure sua equipe e continue coletando os tributos, como manda a lei.
Lian assentiu, deixando o gabinete logo em seguida.
O Tenente terminou de preencher alguns relatórios e prontamente solicitou a um sargento que abrisse uma investigação para apurar as condutas do Tenente Yantao.
🏴☠️
Sem intervenções da Marinha, a cabana erguida por Jungkook, Jimin e Jungwon ainda permanecia na ilha do naufrágio, no Triângulo da Morte. A pequena Eunji estava sendo apresentada à construção pelo pai Ômega e o irmão, enquanto o Capitão Jeon, junto à tripulação, ocultava mais moedas no esconderijo que eles haviam construído para esconder parte do Imperium.
Os piratas apontaram para os esqueletos de Bob e Dylan, que estavam jogados no chão, em torno das árvores em que haviam sido presos.
— Vocês deixaram eles aqui? — Diamante estremeceu. — Que horror.
— É, mas não fique com pena. Eles eram extremamente estúpidos — Fritz contou.
— Assim como você — Sven comentou. — Cuidado, para não ser a próxima.
Fritz ficou tão horrorizada com a ideia que nem se deu ao trabalho de responder, fugindo do assunto quando rumou para outro canto.
— Vamos explorar? — Taesung sugeriu, caminhando na direção da floresta. — Aqui parece cheio de ervas com propriedades curativas.
— Ele tá se achando o médico — o irmão dele riu quando Jungwon se juntou a eles. — Você vem?
— Não estou com vontade… — o Ômega sentou no chão, quieto.
— Ah! Por favor — Taesung voltou alguns passos. — Se você não for, o Jay também não vai. Eu só vou se alguém for comigo. Mas se nós três irmos, todo mundo fica feliz.
— De onde você tirou essa lógica? — Jay franziu o cenho.
— Sei lá — Taesung deu de ombros. — Eu tô improvisando.
Jungwon riu. Ele suspirou e voltou a ficar de pé, mesmo sentindo um ligeiro mal estar, ele mudou de ideia e decidiu explorar a floresta com os Alfas.
— Tudo bem, mas não vamos muito longe. Só até o laguinho.
— Você tem certeza? — Jay hesitou. — Não parece que está se sentindo bem.
— É só o calor… — o Ômega jogou o cabelo para trás. — Papai, eu vou até aquele laguinho com os meninos.
— Tenham cuidado. — Jimin autorizou.
Jungwon estava com a idade de 14 anos, portanto, o Capitão deixou de lado alguns cuidados básicos que tinha com o filho, à medida que ele foi crescendo.
Durante a caminhada dentro da floresta, Jay e Taesung seguiam na frente entusiasmados com uma discussão sobre tarântulas. Um pouco mais atrás, Jungwon parou para descansar, apoiando uma das mãos no tronco de uma árvore.
— Ai, Deus… por que eu vim? — Ele suspirou com os olhos fechados. — Tudo bem, é só continuar. Você está perto, Jungwon, é só continuar.
Jungwon voltou a caminhar, e dentro de alguns minutos ele finalmente chegou ao pequeno lago da ilha em questão. Jay já estava sentado na margem, enquanto o mais novo colhia alguns juncos do outro lado.
— Você demorou — o Alfa mais velho comentou. O sorriso diminuiu quando percebeu os passos incertos de Jungwon. — Deixa que eu te ajudo.
Jay se levantou oferecendo auxílio. Assim, o Ômega sentou na beira do lago e pode aliviar um pouco do calor que estava sentindo, jogando um pouco de água na nuca. Ele moveu os pés dentro da água, pensativo.
— Capitão Jeon vai ter que encontrar um outro lugar pra esconder o tesouro, tá ficando cheio aqui e nem é tão seguro assim. — O Alfa comentou. — Cabuga ta meio abandonado, bem que poderia ser lá.
— Uhum… — Jungwon suspirou e deitou de costas com os olhos fechados.
— Um lugar com várias armadilhas e explosivos, do jeito que só Hoseok e Dahyun poderiam arquitetar. Imagina só? — O Alfa teve silêncio como resposta. — Jun? — O mais velho virou para o lado e encolheu as pernas.
— Hm?
Jay se levantou e o contornou, para ficar de frente ao Omega. Ele estava respirando com dificuldade e suando muito. Jungwon estava no início de seu primeiro heat, o Alfa e seu irmão não conseguiam sentir porque não haviam passado pelo rut, apenas Alfas que já passaram pela experiência podiam identificar.
— Não me sinto bem… — Além do calor elevado, Jungwon sentiu tontura à medida que as cólicas pioravam.
— Vamos voltar à praia… — Jay murmurou, ajudando-o a se levantar — Eu te ajudo. Vamos, Taesung.
— Mas já! Se ele está doente eu posso ajudar, conheço ervas…
— Cala a boca e vai na frente! Avisa o Jin…
— Não… — Jungwon sussurrou. — Eu quero o papai.
— Tudo bem — a pedido do Omega, Jay mudou a narrativa. — avisa o Capitão Jimin.
Taesung assentiu e foi ligeiro na frente, enquanto seu irmão auxiliava Jungwon. Na visão do Omega o mundo estava girando, e à medida que se aproximavam da praia diversos aromas de Alfas o deixavam atordoado.
Os piratas ignoraram um menino de 9 anos que passou correndo por eles, seguindo direto para onde Jimin estava. Ao relatar os sintomas físicos de Jungwon, o Capitão logo identificou que aquilo se tratava do primeiro heat de seu filho.
Jimin pediu a Taehyung que fosse até o navio em busca do chá que impede o heat de um Omega, ou, quando o mesmo já teve seu início, pode controlar os sintomas.
Assim que chegaram no início da floresta, Jay e Jungwon foram rapidamente recebidos por Jimin. O Capitão guiou seu filho até a cabana e o deitou com a cabeça em seu colo.
— Ele vai ficar bem, Capitão Jimin?
— Não se preocupe, logo mais ele estará por aí com vocês — o lúpus sorriu. — Pode ir, Jay. Obrigado por cuidar dele.
O Alfa lançou um último olhar preocupado, mas deixou a porta da cabana em seguida. Jimin passou a mão no cabelo escuro do filho, desejando estar sentindo aquela dor por ele.
— Vai passar, meu amor — Ele sussurrou. — Apenas continue respirando fundo.
Jungwon encolheu os ombros e assentiu. Estava aliviado por estar ali sob a proteção de seu pai, amparado por ele. Sentir a mão do mais velho deslizando por seus cabelos negros dava a sensação de que tudo ficaria bem.
Alguns minutos depois, os piratas que descansavam na praia após depositar as moedas e pedras preciosas no esconderijo provisório, começaram a sentir um cheiro doce se espalhando com o vento.
— Estão sentindo isso? — Yoongi questionou.
— Parece um Omega no heat. — Jared disse. — Mas quem seria?
Hyuk estava ao lado dele e negou balançando a cabeça, indicando que não era ele. Metade dos Ômegas adultos do Black Swan já estavam marcados, Rubi e Esmeralda estavam no navio, muito distante para serem elas.
— Deve ser o Diamante — Thon brincou. — Vou oferecer ajuda.
Alfas que já marcaram um Omega, não eram capazes de identificar um heat, por isso, o Capitão Jeon não se interessou pela conversa a princípio. Se tivesse um Omega no cio, Jimin daria conta disso, era o Capitão deles.
— Não é o Diamante — Fritz zombou de Thon. — Ele não tem aroma de chocolate.
A última frase da Alfa ligou uma centelha na mente dos piratas, e todos olharam devagar para o Capitão Jeon. Ninguém possuía guardada uma lista dos aromas de todos os Alfas e Ômegas da tripulação, mas quando Fritz lembrou do aroma, automaticamente todos os outros se lembraram também.
— Vamos levar os baús pro navio, pessoal?! — Um pirata sugeriu.
— Opa! Agora mesmo! — Outro levantou no mesmo instante.
O falso entusiasmo era só uma desculpa para se afastar da ilha antes que o próprio Capitão Jeon colocasse todos para fora, pessoalmente. Estavam cansados depois de levar os baús cheios de moedas e jóias até a praia? Jamais! Eles subiram nos botes e voltaram pro navio com mais disposição do que quando chegaram.
— Ele está no abrigo, com o Capitão Jimin. — Jay avisou quando viu o lúpus em busca do filho.
Sem demora, Jungkook seguiu até a cabana onde encontrou seu Omega propoxiomando tranquilidade ao filho.
Jimin franziu o cenho com o alvoroço do Alfa quando este abriu a porta, e fez sinal para que ele fosse embora. Jungkook apontou para o menino encolhido e com os olhos fechados. Jimin negou e novamente sinalizou para que ele deixasse a cabana.
Jungkook comprimiu os lábios e fez como ele disse. No momento em que fechava a porta, ele encontrou Taehyung trazendo o chá para que o menino tomasse. Ele permitiu que o Beta passasse por ele e saiu.
— Sungjae disse pra tomar tudo.
— Obrigado, Tae. — O Beta assentiu com um sorriso e deixou a cabana. — Tome, meu bem. Você vai se sentir melhor.
Jungwon abriu os olhos devagar, eles estavam prateados e a claridade do dia estava incomodando. O chá tinha um sabor amargo, mas seu pai disse que ficaria melhor tomando aquilo, então, se preciso fosse, ele tomaria um barril inteiro.
O Ômega voltou a deitar com a cabeça no colo de Jimin e fechou os olhos novamente.
— Como está se sentindo?
— Um pouco melhor.
— O efeito é rápido, logo estará bem.
Conforme a manifestação do cio se afastava, Jimin conversava com seu filho mais intimamente sobre o período do heat.
Jungkook caminhou até ficar um pouco distante, e sentou no chão encarando o mar. Ele percebeu quando Seokjin se aproximou ao lado.
— Vim correndo quando soube — o Beta informou, sentado ao lado do mais novo. — Imaginei que ficaria assim. Eu te conheço.
— Faz alguma coisa — disse irritado. — O meu pequeno tá crescendo rápido demais.
— E você acha que eu sou um bruxo ou um deus pra controlar isso?
— Se vira.
— Jungkook, você devia saber que isso iria acontecer — o Beta riu.
— Ele devia ter nascido Alfa…
Seokjin ergueu as sobrancelhas e riu soprado. Ele sabia que o lúpus estava dizendo aquilo apenas porque não estava sabendo lidar com a situação.
— Está sendo alfista.
— Foda-se. — Seokjin acertou um forte tapa na cabeça dele. — Ai!
— Tome jeito! Isso não é o fim dos tempos. Jungwon está ficando mocinho, acostume-se. Logo virão os interesses amorosos… — O Beta parou quando Jungkook gargalhou alto. — Endoidou?
O lúpus continuou rindo, até parar aos poucos. Quando se recuperou completamente da crise de riso, ele respondeu:
— Está na hora de afiar a lâmina das minhas adagas.
Dito isso, Jungkook se levantou tranquilo e seguiu em direção ao navio. Seokjin olhou para o alto e rezou mentalmente:
“Oh, Deus, proteja as pobres criaturas que se aproximarem desse menino.”
Quando a noite chegou, o navio pirata deixou a ilha e navegava rumo ao pacífico sul, sem uma rota determinada. Na realidade, estava na época em que os grandes navios mercantes levavam mercadorias do Japão até os reinos que o Oceano Índico banhavam.
O Black Swan estava por ali, apenas esperando para abordar alguns deles, e logo em seguida retornar para a República pirata de Nabuco.
Após comer um pouco por insistência de Jimin, Jungwon se afastou brevemente para refletir sobre o momento em que estava passando. Com os braços apoiados no parapeito, ele ouviu passos logo atrás de si. Era o Capitão Jeon. Ele parou ao lado do menor e também ficou encarando o oceano por um tempo.
Através da visão periférica, Jungwon podia notar que seu pai estava olhando para si. Jungkook estava parado como uma estátua, apenas seus olhos se moviam, uma hora para o menino, outra para o mar. Quando Jungwon olhou para ele, instantaneamente Jungkook virou os olhos para frente.
— Que foi?
— Hm? — Jungkook franziu o cenho e limpou a garganta exageradamente. — HUMHUM…Nada.
— Você poderia pelo menos tentar disfarçar melhor? — O Ômega suspirou revirando os olhos. — Eu sei que você sabe.
— Hm… Você não está seguindo os planos .
— Que planos?
— Eu disse pra você não crescer.
— Pai… — Jungwon não teve outra reação a não ser rir. — Eu não tenho controle sobre isso. Mas eu sou e sempre serei aquele que roubava suas adagas escondido pra brincar.
Jungkook olhou para ele e o observou por um tempo em silêncio, lembrando-se do dia em que o pegou nos braços pela primeira vez. Ele tinha os cabelos negros assim como os olhos, ate o sorriso lembrava o de Jungkook. Era como uma versão sua mais jovem, só que Omega.
O Alfa passou o braço pelo ombro dele e o abraçou de lado. Ele entendeu que não importava quantos anos se passassem, Jungwon poderia ter a idade que fosse mas sempre seria seu garotinho, a quem ele daria a própria vida para proteger.
🏴☠️
LOGO APÓS TRÊS SEMANAS saqueando navios próximos a costa australiana, o Black Swan levou MAIS 10 DIAS navegando até finalmente ancorar no Porto de Nabuco.
O porão estava repleto de mercadorias valiosas, que os piratas ansiosos logo trataram de descarregar no deque, para negociar com o Representante.
Jungwon arrumava as armas no cinto para ir junto com seu pai, quando foi parado por Hyun. Após a notícia de que Sarah era uma lúpus se espalhar pelo navio, o menino sentiu receio de não ser um, pelo fato de possuir a mesma idade que ela e não ter manifestado nenhum sinal.
— Jun, pode me emprestar seu mapa? — Hyun perguntou sussurrando.
— Por que? — Sussurrou de volta.
— Quero saber se sou lúpus também.
— Ah, isso? — Jungwon removeu uma adaga da bainha e virou o cabo na direção do menor. — Aqui. Esse cabo tá cheio de runas, consegue vê como brilham?
Hyun encarou o cabo preto da adaga, não havia nada ali a não ser um certo relevo da mesma cor da arma. Ele balançou a cabeça em negação.
— Isso significa que eu não sou, não é? — Hyun suspirou entristecido.
— Uhm… eu acho que… olha, a nossa tripulação está cheia de Ômegas comuns, e você pode ser tão forte quanto eles. — Jungwon notou os olhos do mais novo acompanhando quando ele embainhou a adaga. — Depois te mostro como se usa elas, que tal?
— Sério?!
— Sim. Está combinado! Agora eu tenho que ir.
— Tchau, Jungwon! — Hyun subiu em uma pequena caixa e acenou para o primo de longe. — Até mais tarde!
O Ômega lúpus sorriu para ele e acenou de volta, em seguida, virou-se para frente e acompanhou Jungkook pelas ruas da República de Nabuco.
Hyun desceu do caixote e seguiu pelo convés. Ele encontrou Sarah e Eunji conversando enquanto assistiam os piratas descarregando os produtos no deque.
Quando correu para junto das meninas, o Ômega tropeçou e caiu com as mãos e joelhos no chão. O bico de choro se formou instantaneamente quando sentiu uma farpa presa no dedo indicador.
— Pronto, agora o bebê vai chorar a tarde toda. — Sarah rolou os olhos.
— Não fala assim com seu irmão — Eunji ajudou o Omega a levantar. — Você está bem?
Hyun ergueu o dedo e mostrou a pontinha um pouco vermelha, e uma pequena lasca de madeira presa.
— Tá doendo… — Ele lamentou, com lágrimas rolando pelas bochechas.
— Vamos na enfermaria, o tio Jin vai curar pra você.
— Deixa esse bebê chorão.
— Sarah! — Eunji virou para ela. — Por que você é tão má às vezes?
Enquanto as Alfas discutiam, Hyun saiu segurando o dedo e chorando em silêncio.
— Eu só queria que ele fosse mais forte. Mas o Hyun sempre chora por qualquer motivo bobo.
— Já parou pra pensar que, para ele, o motivo pode não ser bobo?
— Tem razão… — Sarah refletiu. — Vou pedir desculpas.
— É bom mesmo.
Hyun passou pelos Alfas e Betas que seguiam levando as cargas pelo corredor, passando reto e descendo mais algumas escadas que levavam até o porão.
Esses mesmos Alfas foram parados na porta da enfermaria, quando Seokjin os chamou.
— Há uma caixa no porão com alguns itens médicos que roubamos de um navio mercante, vocês não levaram pro deque, não é?
— Não temos certeza… — Os piratas trocaram olhares confusos.
— Você acha que a gente vai ficar abrindo cada caixa pra saber o que tem dentro?
— Estão vendo isso aqui? — O médico exibiu uma grande seringa de metal. — Sabem onde vou enfiar vocês caso percam os materiais?
— Você quer que eu veja se ainda estão no porão, Jin? — Taesung se ofereceu.
O menino passava a maior parte do seu tempo ajudando e aprendendo com os médicos da tripulação. O Beta assentiu.
— Quero sim. Você é um bom menino, Taesung, continue assim. Vá.
O Alfa passou pelo corredor e desceu as escadas para chegar ao porão. Ele abriu cada caixa que tinha à procura dos materiais, e logo encontrou algumas ataduras e outros itens.
Quando estava prestes a retornar com a caixa para a enfermaria, escutou alguns fungados provenientes do cantinho daquele cômodo.
— Oi? — Ele inclinou o corpo tentando enxergar as partes escuras. Ele suspirou tentando afastar o medo: — Deve ser o Puffy…
Girou o corpo para subir as escadas, quando sobressaltou quase derrubando a caixa com o barulho de algum objeto de vidro caindo no chão.
— Ai ai ai! Pensa que eu tenho medo, é?! — O menino tentou soar firme, mas estava com medo que fosse um fantasma. Taesung deixou a caixa em cima de outra, apanhou uma lamparina e engoliu em seco quando decidiu averiguar. Ele sussurrou baixo para si mesmo: — Por favor, que seja o Billy procurando ratos…
Mas não era Billy e muito menos um fantasma. Alguns passos em direção ao fundo do porão, o cantinho escuro foi iluminado e o Alfa pode ver Hyun sentado no canto, entre o fundo da embarcação e um baú.
— O que está fazendo aqui sozinho? — Taesung se aproximou. Hyun abaixou a cabeça e mirou o próprio colo, assim o Alfa pôde ver que ele estava segurando o próprio dedo, cuja ponta estava avermelhada com uma farpa presa. — Seu dedo… deixa eu tirar pra você.
— Não! — Hyun se encolheu ainda mais no cantinho. — Vai doer muito.
Taesung apoiou a lamparina no chão e sentou ao lado de alguns pedaços de vidro. Ele recolheu os cacos com cuidado e os colocou dentro de um balde.
— Foi eu… — o Ômega confessou. — Eu derrubei a lamparina. Sou um pouco desastrado.
— Está tudo bem. — Taesung mostrou o pavimento livre do vidro quebrado e sorriu. — Agora ninguém vai se machucar.
— Uhum. — Hyun assentiu, sorrindo de volta.
— Eu posso ver seu dedo? — Hyun ficou tenso novamente. — Eu só quero ver.
— Promete que não vai tirar a farpinha?
— Prometo.
O Ômega confiou e esticou o braço para apoiar o dorso da mão em cima da palma de Taesung. Com a outra mão, o Alfa segurou o dedinho do mais novo com cuidado e analisou o machucado.
— Ainda ta doendo? — Hyun assentiu movendo a cabeça. — Uma vez eu bati o meu dedinho do pé na escada da enfermaria, a unha ficou pendurada e saiu muito sangue. Achei que eu fosse perder a perna, igual o meu pai.
— Você chorou? — O Ômega arregalou os olhos.
— Hyun, eu choro até hoje só de lembrar — os dois riram. — Mas eu lembro que enquanto a unha estava lá, o meu dedo ficava doendo o dia inteirinho.
— E o que você fez?
— Deixei o meu papai tirar o que sobrou da unha, e então curou mais rápido. — Ele removeu a bota e mostrou. — Viu só? Até já nasceu outra no lugar.
— Você foi muito corajoso.
— Se você deixar eu tirar a farpa, seu dedo também vai curar mais rápido e assim vai parar de doer.
Hyun hesitou por um momento, mas logo em seguida aceitou a proposta. Ele fechou os olhos e nem sentiu quando o Alfa puxou a lasca de madeira.
— Pronto, pode abrir os olhos. — Assim que olhou para o próprio dedo, Hyun abriu um enorme sorriso quando viu que estava livre daquela tortura. — Espera aqui, eu já volto.
O Ômega permaneceu sentado enquanto Taesung se ausentou por alguns segundos, retornando logo em seguida com a caixa de utensílios médicos. Ele enfaixou a ponta do dedo de Hyun e fez um lacinho quando terminou.
— Quando essa bandagem cair, significa que seu dedo está curado.
— Obrigado, Taesung.
— Vamos voltar lá pra cima? — Ele entregou a lamparina ao mais novo, e pegou a caixa novamente. — Me ajuda a iluminar o caminho. Cuidado pra não cair.
— Tá bom.
Hyun seguiu na frente, com muita cautela, evitando esbarrar em mais algum objeto do porão e tentando iluminar o caminho para que Taesung passasse com a caixa em segurança.
Continua…
Eu acabei me empolgando e o Jungwon não terminou com 18 anos nesse capitulo... Mas no próximo ele e o Jay se encontram com o Lian novamente, e novas passagens de tempo irão acontecer...
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