Seguindo rumo ao Norte, o Black Swan cruzou com alguns navios que rumavam na direção de Cabuga, a ilha de domínio pirata, provavelmente para fazer reparos. Alguns estavam vindo de Nabuco, e informaram ao Capitão Jeon sobre a dificuldade em ancorar na ilha em questão.

O Black Swan não temia ataques dos corsários, mas redobrou a atenção quanto a outros navios. No alto da cesta do mastro, Jared enxergou uma embarcação ao longe com sua luneta, mas a bandeira preta indicava que não era da Marinha Real, muito menos corsários.

— Navio pirata a bombordo! — O bucaneiro gritou lá de cima.

Capitão Jeon analisava o mapa onde havia escondido uma parte do Imperium no Triângulo da Morte, junto ao contramestre e o navegador, ao escutar o aviso do pirata, ele sacou sua luneta e confirmou o navio se aproximando. 

Se considerasse o novo código pirata, aquele navio não pretendia ataca-los. E nem poderiam, visto que a embarcação era bem menor que o Black Swan. Eles apenas sinalizaram com uma bandeira que gostariam de se apeoximar. O Capitão indicou para que Chaerin permitisse. 

Assim sendo, a outra embarcação pirata se aproximou do Black Swan e colocou uma prancha entre eles, para que o contramestre atravessasse até o navio de velas negras.

— Capitão Jeon, Namjoon — o pirata os cumprimentou.

— Olá, Dill — o contramestre acenou. 

— O que quer? — Jungkook foi direto ao ponto.

— Nossa… Sempre tão direto — o Alfa suspirou, observando o Capitão Jeon da cabeça aos pés. Ele umedeceu os lábios quando encarou o lúpus novamente. — Há certa dificuldade para ancorar perto de Nabuco, pelo menos para nós, que somos pequenos. Estou aqui em nome da minha capitã para pedir ajuda do Black Swan.

— O que eu ganho com isso?

O Alfa olhou para Namjoon, depois para o Capitão Jeon e respondeu:

— O nosso muito obrigado? — Ele riu.

Namjoon também riu, logo em seguida ficou sério. Aquilo só poderia ser uma piada. Usar o Black Swan como escudo, sem nada em troca? Piratas não fazem favores.

— Não é assim que funciona — o contramestre do Black Swan cruzou os braços. — É preciso dar para receber. É o justo.

— Oh, se este é o caso eu posso dar... — o Alfa se aproximou do Capitão e deslizou as mãos sobre os ombros dele. — Somos Alfas, mas você sendo lúpus me deixa com muito tesão.

— Não estou interessado.

— Você está me recusando? 

— Tire suas mãos de mim. 

Sem outra reação, o Alfa recuou. Estava irritado e envergonhado por ter sido recusado, logo ele, que era um mestre na arte da sedução. Pelo menos, era como ele imaginava.

— Temos tabaco — o Alfa afirmou seco. — Podem levar uma caixa.

— Duas.

O Alfa engoliu um rosnado, mas concordou. Assim que as mercadorias foram transportadas para o Black Swan, ambos os navios seguiram juntos para Nabuco. 

O Capitão ordenou que algumas velas fossem baixadas para que a outra embarcação pudesse acompanhar a velocidade do Black Swan, e o que deveria ter levado três dias de viagem se estendeu por uma semana.

Mas os dias adicionados não foram de todo ruim. Com isso, Seokjin e Sungjae tiveram mais tempo para examinar os materiais coletados dos Alfas. Não possuíam as ferramentas mais eficientes, mas com muito estudo e observação conseguiram chegar a uma conclusão.

— Nós temos uma notícia boa e outra ruim — Sungjae contou a Jisung. — Qual você quer primeiro?

— Comece pela ruim.

— Você não engravidou ainda por causa do seu Alfa. 

— Como isso é possível?

— Veja, estes são os resultados das nossas análises — Seokjin abriu um caderno e o folheou conforme explicava ao Ômega: — Esses gráficos mostram as comparações que fizemos durante esses dias. Esse aqui é do Jungkook e esse do Scott, ambos Alfas que tiveram filhotes. A coleta do Chanyeol permaneceu sem alterações assim como a deles. 

— Esse daqui é do Jackson — Sungjae explicou. Jisung não precisava ser médico para perceber a diferença. — A notícia boa é que nós temos uma solução.

— Existem algumas plantas, flores e ervas que podem ajudar.

— E onde os encontramos?! 

— Adivinhe… — Seokjin trocou olhares com Sungjae e sorriu. 

— Não me diga que… — os olhos de Jisung brilharam. — Nabuco?

O Ômega mais velho confirmou, balançando a cabeça.

— Conheço um empório que vende todas as plantas que você imaginar.

Jisung fechou os olhos e respirou profundamente. Ele manteve a calma e controlou a empolgação. Dessa vez, não correria feito um louco já tendo a certeza de tudo. Iria devagar, um passo de cada vez. 

— Vou contar para o Jack — Jisung abriu os olhos novamente e sorriu agradecido.

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Como muitas tripulações avisaram, o porto de Nabuco continha diversos navios corsários, que poderiam ser ou não uma ameaça para as embarcações pirata. 

Por via das dúvidas, o navio que acompanhou o Black Swan durante a viagem ficou entre algumas ilhas menores e sem movimentações. Seria mais complicado transportar as cargas até a ilha maior, mas pelo menos estariam mais seguros.

Já o Black Swan, ancorou em uma baía mais próxima de Nabuco. Os navios corsários que estavam na ilha que se atrevessem a atacá-los. As cargas foram descidas para os botes e estes, levados diretamente para o porto.

— Olá, meus caros — uma comerciante da ilha se aproximou do Capitão e seu contramestre. — Que tal descansar em minha pousada enquanto falamos de negócios?

— De quanto estamos falando? — Namjoon quais logo saber para não perder tempo.

— Que tal dez por cento dos lucros? — A Beta propôs. — Não vão encontrar um valor melhor.

A porcentagem oferecida seria os lucros para o Black Swan. Ou seja, se uma caixa com tabaco daria o valor de 1000 moedas de prata, a comerciante lucraria 900 moedas com a venda da carga, enquanto a tripulação pirata apenas 100.

Na época que Barba-Ruiva controla a ilha, os piratas lucravam acima de 80%. Com a Marinha governando, 70%.

— Você só pode estar brincando… — Namjoon refletiu em voz alta.

— Cinquenta por cento — o Jungkook ofereceu.

— Pff, Capitão — A Beta abriu os braços, com um semblante convencido. — Nabuco é nossa! Não vai encontrar esse valor nunca. Aceite os dez antes que caia para cinco.

O Capitão não se deu ao trabalho de responder. Ele deu as costas a Beta e Namjoon o seguiu. A comerciante piscou desacreditada e correu até alcançar os Alfas.

— Certo, que tal quinze?

— Não. 

— Não vai encontrar outro comerciante disposto a vender seus contrabandos por metade do preço.

— Então vai ficar sem as cargas. — O Capitão afirmou simples.

O Black Swan era um dos navios que mais trazia produtos para a ilha. Conseguir um acordo com o Capitão Jeon era lucro na certa. Ele era um dos poucos que ainda poderiam exigir um aumento na porcentagem absurda. 

— Trinta. — Foi ignorada. — Trinta e cinco! Capitão, pense bem.

— Vamos lá — Jungkook cruzou os braços e olhou para as muitas cargas em sua posse que estavam no porto. — Você pode fazer melhor do que isso.

Os olhos da Beta cresceram em cima dos diversos produtos expostos. Ela sabia que em breve o Black Swan retornaria com muito mais. Era um navio com uma tripulação temida e respeitada. Conhecida por obter sucesso em todos os seus saques.

— Quarenta… Mas só farão negócios comigo. Sempre que ancorar em Nabuco a minha taberna será o primeiro lugar que irão procurar. Nós temos um acordo?

O Capitão olhou de soslaio para Namjoon, em seguida assentiu para a Beta, apertando a mão dela.

— Temos. — Ele ordenou ao contramestre: — Cuide das trocas.

Namjoon e a Beta seguiram para o estaleiro onde as cargas estavam. Quase toda a tripulação desembarcou na ilha, o último barco vinha com Jimin, Seokjin, Sungjae, Jisung, as crianças e mais quatro Alfas.

O Capitão esperou até que Jimin e o filho se aproximassem dele. Ele beijou com um selinho os lábios do Ômega mais velho quando o recebeu.

— Levarei Jungwon em um ferreiro. — Jungkook avisou.

Jimin suspirou um pouco incomodado com a ideia, mas finalmente cedeu. Entendia a necessidade do pequeno saber se defender, mas ainda tinha algumas condições.

— Tudo bem. Mas ele irá utilizar protetores de peito e cabeça.

Jungkook assentiu e beijou o Ômega novamente, antes de segurar na mão do filho e seguir com ele pelas ruas de Nabuco.

Não era a primeira vez que Jungwon frequentava aquela ilha, mas como em todas elas, sempre ficava entusiasmado. Seus olhos praticamente brilharam quando viu alguns coelhos à venda no mercado.

— Eu quero um coelhinho, pai! 

— O quê? — O Alfa procurou pelo mercado enquanto eles caminhavam.

— Por favor, compra pra mim!? Ele pode ser o nosso mascote.

— Um coelho?

— Sim! 

Jungkook continuou procurando pelo mercado até ver a tenda montada, com alguns coelhos à venda. Definitivamente não era um animal para se ter como mascote de um navio pirata.

— Na volta a gente compra — Jungkook disse.

Jungwon assentiu muito feliz, e eles seguiram até a casa de forjas. Seria muito óbvio afirmar que haviam muitos metais espalhados pelo recinto, mas em tempos de guerra o trabalho aumentou de tal maneira, ao ponto do ferreiro ser praticamente engolido pelos próprios materiais de trabalho.

Um Alfa robusto e de cabelos inteiramente brancos surgiu detrás do forno. Ele estava coberto por fuligem e possuía bigodes grandes e espessos, assim como as sobrancelhas. 

— Capitão Jeon, a que devo a honra!? Veio trocar suas armas?

— Quero que forje um par de adagas para ele.

— Hmmm, certo, certo. — O Velho pegou um banco alto de madeira e o colocou diante do Ômega. — Suba para que eu possa tirar as medidas dos seus braços.

Com ajuda do pai, Jungwon ficou em cima do banco de três pernas. Ele esticou bem os braços para que as medidas fossem maiores.

— O cabo pode ser entalhado com runas da lua? — Jungwon perguntou ao ferreiro.

— Eu já entalhei o cabo de uma espada com essas runas para um Ômega há muito tempo. Ele desenhou, e eu fiz do jeito que ele indicou. Então posso fazer. Mas não as tenho — o Ferreiro afirmou, e girou a atenção para o Capitão: — Mas elas podem ser encontradas no submundo de Nabuco.

O lugar mais abominável que se tem conhecimento. Poucas eram as pessoas que tinham coragem de se aventurar pelo submundo daquela ilha. Onde os mais cruéis criminosos frequentavam, para negociar as mais diversas mercadorias. Sendo uma delas, Ômegas sequestrados e vendidos como escravos.

Certamente não era um local adequado para um pequeno Ômega estar. Mas Jungkook não queria perder mais tempo ainda procurando por Jimin, para deixar o filho aos seus cuidados. Sem falar que, sem Jungwon, ele não teria certeza se estaria comprando o produto certo.

Em vista disso, levou seu filho até o local que conhecia como sendo a entrada para o submundo da ilha. A última vez que o Capitão entrou neste local foi para resgatar Jimin há muito tempo, mas tudo estava do mesmo jeito que sempre foi. Um lugar frio, escuro e cheio de Alfas e Betas desprezíveis.

A mão do Alfa segurava com firmeza a do pequeno Jungwon, conforme seguiram pelas entranhas do lugar. Depois de muito procurar, Jungkook finalmente encontrou alguém que se dizia vender as runas da lua.

— Quinhentas moedas de ouro. — O preço foi anunciado

O vendedor  tentou pegar o saco com as moedas, mas o Capitão as tirou de seu alcance. Jungkook exibiu a arca com as runas para que Jungwon confirmasse. O pequeno as observou com seus olhos prateados e negou com a cabeça.

Jungkook jogou a arca contra o vendedor e o puxou pela gola da roupa com pouca paciência.

— Está tentando me enganar?! — Jeon rosnou profundo. — Acredite, não sou alguém que vai querer irritar.

— D-desculpe, eu devo ter me enganado! — O vendedor gaguejou em desespero.

Jungkook o soltou lançando seu corpo para trás. O vendedor bateu com as costas contra a parede e gemeu assustado. Ele então buscou em seus produtos e dessa vez entregou a mercadoria correta.

Porém, o Capitão Jeon obviamente não iria confiar naquele vendedor outra vez, e quando foi mostrar as runas para Jungwon, se assustou ao notar que a criança não estava mais ao seu lado. Ele soltou a mão do filho por apenas alguns segundos, para segurar e lançar a arca contra o vendedor e a outra para agarrá-lo pela camisa. 

— Jungwon?! — Gritou, buscando ao seu redor desesperado. 

Um Alfa que observava o Capitão e Jungwon agiu rápido quando se aproveitou do desentendimento do lúpus com o vendedor, para puxar o Ômega e correr através de um corredor. Ele impediu o pequeno de gritar com sua mão pressionada contra a boca dele e utilizou da escuridão ao seu favor.

Mesmo com os sentidos mais apurados que as demais, a pouca iluminação e o cheiro nauseante do lugar deixavam as buscas mais complicadas. Entretanto, Jungkook conseguiu sentir um fino aroma de chocolate se distanciar por uma única direção. E foi por este mesmo caminho que ele seguiu, derrubando todos que encontrava pelo caminho.

Seus olhos chamejavam tão vermelhos quanto o próprio sangue, quando ele destruiu a porta que ocultava uma sala próxima de onde os Ômegas tinham suas roupas trocadas por túnicas, para serem vendidos no leilão.

O Alfa usou a faca que iria utilizar para rasgar as roupas de Jungwon, para atacar o Capitão Jeon. Ele ergueu o braço para cravar a lâmina no peito de Jungkook, mas o lúpus agarrou o pulso dele e acertou seu nariz com um soco tão forte que o quebrou, quando o mesmo foi lançado para trás.

Jungkook não se deu ao trabalho de puxar suas adagas, ele ergueu o sequestrador pelos cabelos e bateu a cabeça dele contra a parede repetidas vezes, até quebrar o crânio completamente e o corpo do Alfa cair sem vida.

Jungwon estava no cantinho da parede, e quando seu pai se voltou na sua direção e caiu de joelhos, o pequeno correu para ser recebido por seu forte abraço. Jungkook nada disse. Apenas o abraçou respirando profundamente aliviado por ter conseguido.

— Pai! — A voz de choro deixou o Alfa com mais raiva. Não devia ter matado aquele maldito tao rápido. — Eu fiquei com tanto medo!

— Shh, não chore… Estou aqui — Jungkook murmurou, ficando de pé logo em seguida, e erguendo o Ômega em seus braços. — Vamos embora desse lugar.

Jungwon apoiou a cabeça no ombro do Alfa e o abraçou com mais força, mantendo os olhos fechados à medida que era levado para fora do submundo de Nabuco.

Continua...