[49] Apenas Um
Esse capítulo ficou muito grande, então eu dividi ele em dois. Isso significa que teremos duas atts hoje ^^
Boa leitura:
A pequena Eunji dormia tranquilamente em um espaço destinado a ela, dentro da cabine dos capitães. Após ter passado horas sob os cuidados de Seokjin e Sungjae, ambos ficaram satisfeitos com os resultados da série de exames que realizaram.
Eunji não apresentou qualquer sinal de que possuía alguma deficiência na visão. Fisicamente, a pequena Alfa era forte e saudável. A única razão encontrada para que ela tivesse a coloração diferente em seus olhos, era que em algum momento da gestação, as características de ambos os pais se sobressaíram igualmente.
— Contudo, eu acho interessante você levar a Eunji naquela Gama. — Sungjae aconselhou. — Ela poderá ver se for algo que não seja desse mundo…
— Agnes não sentiu nada do tipo quando estive com ela — Jimin esclareceu. — Ela não teria motivos para mentir, me pareceu bastante sincera.
— Nunca se sabe…
— Será?
— Pois deixem de bobagem! — Seokjin os interrompeu. — Me desculpem, mas eu não tenho essa inclinação para acreditar em misticismo. Acredito apenas no que se pode provar, e pelo meu conhecimento, Eunji não tem diferença alguma de qualquer um de nós aqui, a não ser a incomum coloração de seus olhos.
Jimin assistiu a pequena em seu berço, dormindo tranquilamente. Jungwon estava ao lado, observando a irmã em seu sono profundo e ouvindo a conversa dos mais velhos, dividindo sua atenção no que eles diziam e na calma respiração da Alfa.
— Jin tem razão. — O Capitão deliberou, acariciando a bochecha gordinha da bebê. A menina acordou, abrindo os olhos devagar. Jimin sorriu. — Vou atualizar os registros.
— Esse navio possui dois líderes — Sungjae tocou no ombro dele. — Deixe os registros pro Capitão Jeon. Descanse como um Ômega que acabou de dar à luz há pouco mais de vinte e quatro horas.
— Mas eu me sinto bem.
— Isso é um bom sinal, mas ainda precisa permanecer em repouso.
— Mas-...
— Pra cama! — Sungjae disse, já sem paciência.
— Você está vendo como eles tratam o Capitão deles? — Jimin perguntou ao Beta.
— Deu liberdade porque quis, agora aguenta.
— Não se preocupe, papai, eu fico aqui com a Eunji.
Todos os olhares se voltaram para Jungwon. Jimin acariciou os cabelos dele e sorriu para o mesmo.
— Você é um príncipe por ser tão atencioso, mas não precisa, vou deixá-la na cama comigo. Vá brincar com os meninos.
— Tá bom — Jungwon deu de ombros e deixou a cabine, juntamente com os dois médicos.
Jimin recolheu a recém-nascida em seus braços, com muito zelo, e cantarolou baixinho enquanto seguia para a cama. O Ômega costumava conversar com ela durante toda a gestação, por isso, a menina ficou tranquila o tempo inteiro e voltou a dormir sentindo o intrínseco aroma de jasmim.
Alguns minutos depois, Jungkook entrou na cabine para manter atualizadas as anotações do diário de bordo. O Alfa se aproximou da cama, e assistiu seu Ômega e filha dormindo profundamente.
Jimin estava deitado de lado e mantinha o braço sobre Eunji, como se a protegesse. Jungkook inclinou-se para beijar a bochecha do Ômega e logo em seguida puxou a manta para cobri-lo.
Posteriormente, o Alfa sentou diante da mesa, abriu o livro de registros e sorriu ao identificar alguns desenhos feitos por Jungwon. Eram pequenas ilustrações que o menino fazia no cantinho das páginas, para não ocupar o espaço utilizado por seus pais.
Após algum tempo preenchendo as informações do diário, Jungkook ouviu uma agitação vinda do lado de fora da cabine, quase próximo à porta. O Alfa guardou o livro e saiu, para identificar o que estava se passando.
— Mas o que é isso? — O Capitão Jeon percorreu seus olhos pelos que estavam espalhados pelo convés. Além da tripulação, havia um Ômega de cabelo cacheado, branco e meio acizentado.
— Diamante quer fazer parte da tripulação. — Jisung explicou.
— Estou pronto para o serviço, Capitão. — Diamante utilizou um tom de voz provocativo.
— Você não foi aceito ainda — Jungkook o lembrou. — Essa decisão cabe apenas ao meu Ômega.
— E não pode chamá-lo?
Jungkook abriu a boca para responder, mas fechou-a novamente assim que ouviu o choro de uma criança vindo do interior da cabine, em seguida, Jimin surgiu na porta com a recém-nascida no colo.
— Ela está com fome. — Disse, ao notar o olhar preocupado de Jungkook.
— Deixa que eu alimento ela, Jimin — Jisung ofereceu, recebendo a menina do irmão. — Sarah e Hyun devem estar querendo também, provavelmente o Jack tá perdido. — Ele riu, descendo as escadas.
— Este Ômega quer entrar pra tripulação — Jungkook trouxe o assunto pelo qual todos estavam ali.
— E quem é este Ômega?
— Sou Diamante — ele desfilou até parar diante do lúpus. — O mais precioso.
— Por que eu deveria aceitá-lo?
— Sou forte e esperto. Sou bom em tudo o que faço.
— Olha se não é o Senhor Perfeição — Sungjae provocou.
— Hmmm, Sungjae, o preferido de Long Vane.
— Você o conhece bem? — Jimin girou para o médico.
— Oh, sim. Ele se achava o rei do bordel.
— Me achava não, eu era. E não precisava mamar o dono pra subir de posto, como você.
— Ai, Deus! — Jimin rosnou. — Tenha modos!
— Me desculpe, Capitão, eu não frequentei escola de boas maneiras.
— Você deve conhecer a palavra respeito, então use-a com todos se quiser permanecer aqui.
— Isso significa que eu fui aceito?
O Capitão olhou para Sungjae esperando que se manifestasse. O médico suspirou indiferente, passando a mão no cabelo.
— Ele é bem desagradável, mas não acho que seja uma ameaça.
— Também te amo, Sung. — Diamante mandou um beijo para ele.
— Procure por Jisung. É o meu contramestre — Jimin decidiu. — Faça tudo o que ele mandar.
— Sim, senhor! — O novo integrante se afastou em busca do Ômega.
— Fique de olho nele. — Jimin pediu a Baekhyun.
— Se eu entender que ele é uma ameaça, eu posso acabar com ele?
Jimin viu as crianças brincando com o coelho perto da proa, depois voltou a atenção para o ruivo e autorizou balançando a cabeça.
Os cuidados do Capitão Jimin acerca de qualquer novo membro que aceitasse, haviam triplicado desde os últimos eventos sofridos. Mas isso não significava que iria passar a recusar Ômegas na tripulação.
Assim como Sungjae havia informado, Diamante era como uma versão sua do passado. Arrogante e prepotente. Porém, ele seguia as regras e contribuía realizando tarefas de acordo com seu nível de experiência e habilidade.
No ano de 1721, DOIS ANOS APÓS ser aceito no Black Swan, Diamante salvou a vida de Sarah, quando a pequena com cerca de 3 anos, se aventurou tentando subir em cima de um barril.
Algum pirata havia esquecido de travar a tampa do barril que continha água pela metade, quando a Alfa subiu na tampa mal apoiada, caiu dentro e quase se afogou. Ela foi salva quando Diamante foi buscar água para lavar o banheiro.
Sarah estava encolhida sentada na cama, enrolada em toalhas, Hyun estava bem ao lado. Enquanto Jisung terminava de se certificar de que todos os barris e recipientes que colocassem risco a vida das crianças, estivessem devidamente lacrados.
— Por que você não fica comportadinha como seu irmão? — Sarah deu de ombros.
Jackson procurava por uma escova quando encontrou uma pequena arca em cima de uma prateleira, e abriu. Para a sua surpresa, não era a escova que estava ali, mas uma tulipa roxa.
Não poderia ser a que recebeu de Jungwon, visto que já havia se passado muito tempo. A flor deveria estar murcha, no entanto, ela parecia tão vigorosa quanto no dia que a recebeu.
— Vocês colocaram isso aqui? — As crianças negaram.
O próprio Alfa se achou estupido fazendo aquela pergunta, os gêmeos tinham cerca de 3 anos, a estante era deveras alta, não poderiam ter colocado a tulipa ali. Apenas restavam duas alternativas, Jisung ou o próprio Jungwon.
Em vista disso, Jackson primeiramente saiu em busca de Jisung, talvez o Omega poderia ter trocado a tulipa depois de ter encontrado a outra murcha. Todavia, ele não fazia ideia sobre aquilo.
— Se eu fosse decorar o nosso cômodo com flores — o Ômega explicou —, eu deixaria elas exibidas em um vaso muito bonito, não dentro de uma caixa.
— Então…?
— Só pode ter sido você e não está lembrando.
— Nao, nao… — o Alfa ponderou consigo mesmo. — Será que…?
— Jack?
— É realmente curioso…. — Ele continuou pensando, encarando a tulipa.
— Jack, é normal que tenha se esquecido. O estranho é que já esteja caducando nessa idade.
— Quê? — O Alfa desviou o olhar para ele.
— Você estava falando sozinho.
— Viu o Jungwon por aí?
— Acho que o vi no convés. Por que?
— Depois eu te conto…
Jackson deu meia volta e subiu às pressas na direção do pavimento superior. Ele encontrou Jungwon ao lado da irmã e do Capitão Jeon. O Alfa estava tentando recolocar a cabeça do bonequinho de Jungwon, que Eunji por acidente tirou do encaixe.
— Pronto. — Jungkook entregou o boneco ao filho e observou a menina sorrir para o irmão, satisfeita por ver o brinquedo dele consertado. — É pra fazer a mesma coisa com seus inimigos — ele murmurou para a ela. — Arranque a cabeça deles!
— Se o papai te escutar falando isso… — Jungwon cantarolou.
— Boquinha de siri. — Jungkook passou o dedo sobre os lábios e piscou para ele.
Jungwon sorriu, negando com a cabeça, lembrando-se que Jungkook sempre fez o mesmo consigo. Ele passou a mão no cabelo e o jogou para trás, ato que aprendeu com seu pai Jimin de maneira inconsciente.
— Vem aqui um minuto. — Jackson o chamou assim que passou por eles, e logo foi seguido pelo menino. — Você lembra da tulipa que me deu há mais ou menos dois anos?
O Ômega estreitou os olhos, pensando um pouco antes de assentir positivamente.
— Sim, por que?
— Onde a encontrou?
— Você não acreditaria…
Jackson suspirou. Qualquer coisa que Jungwon dissesse não seria mais estranho do que uma flor cortada no caule, que não murcha nunca. Ele retirou a tulipa do bolso e a exibiu ao menor.
— Lembra de quando me deu isso há dois anos?
Jungwon franziu o cenho, olhou para a flor e pensou. Logo em seguida moveu os olhos para os do Alfa.
— Está falando sério? — Ele tocou uma pétala. O silêncio de Jackson foi resposta suficiente. — Bom… sei que pode parecer loucura, mas recebi do seu pai quando sonhei com ele.
— Ele disse pra você colher em algum lugar?
— Você não está entendendo. Eu disse que recebi dele, das próprias mãos dele. Bem do meu sonho direto pra realidade. Eu fui dormir na cama dos meus pais e acordei com essa tulipa em minhas mãos. — Jackson não respondeu a princípio. Ele cheirou a flor, e a mesma permanecia com seu suave perfume. — Eu sabia que não iria acreditar…
— Acredito em você. Ainda sabe onde fica a casa daquela Gama do mercado?
— Agnes? Sim.
— Leve-me até ela.
Jackson guardou a flor no bolso e seguiu até a rampa, esperando que o mais novo lhe seguisse.
— Pai, eu vou no mercado com o Jack. — Ele avisou e Jungkook apenas assentiu.
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A casa de Agnes não ficava tão distante ou escondida. Era uma construção que ficava à vista de todos, não apenas pela localização, mas também pelos adornos que enfeitavam a entrada. Objetos de valor estavam exibidos de maneira espalhafatosa, mas ninguém seria burro de roubar aquela casa. A Gama saberia quando aconteceu e quem foi o ladrão.
— Então veremos se estamos ficando loucos — Jackson olhou para o lado e assustou-se quando percebeu que a criança já não estava ao seu lado. Buscou ao redor e o viu em uma tenda, comprando algo.
O Alfa esperou alguns minutos, até o menino entregar uma moeda ao mercador e voltar correndo para o lado dele. Jungwon guardou alguma coisa em um de seus bolsos, mas Jackson ignorou, seguindo para uma das janelas.
— Acho que ela não está… — Ele comentou, espiando dentro da casa pela abertura de vidro. — Você consegue pular essa janela.
— Ou, a gente pode sentar aqui e esperar ela chegar pra abrir a porta. — O Omega estava próximo do batente da varanda.
— Jungwon tem mais noção do que você. — Agnes havia acabado de cruzar o portão que dava acesso a casa.
— Agnes! — O menino abriu um sorriso quando a viu se aproximar.
Jackson foi ligeiro quando saiu da janela e se colocou entre a Gama e Jungwon, antes que ela pudesse chegar mais perto do menor. O olhar do Alfa sobre a mulher era de um aviso silencioso e ameaçador. Mas Agnes seguiu tranquila até a porta, abriu e deu passagem para ambos.
Jungwon foi o primeiro a passar, Jackson seguiu logo atrás com uma mão apoiada no ombro dele, a outra próxima do cabo da espada, sempre observando a Gama com um olhar duro.
— Quem olha pra essa de lobo feroz, nem imagina que você carrega uma florzinha no bolso — Ela brincou, Jungwon riu. — Vai morder alguém aqui? Relaxe. — Ela sentou em uma poltrona, indicando o sofá para os dois.
— Agnes, o Puffy vai viver por muitos anos? — Jungwon perguntou, entregando uma moeda de ouro. — Eu li que coelhos não vivem muito…
A Gama encarou a moeda do menino e suspirou. Ela fechou a mão dele e recusou o valor, sorrindo para ele quando respondeu:
— Aqueles que amamos nunca nos deixam.
Satisfeito, o menino guardou a moeda e relaxou o corpo no sofá. Ao lado dele, Jackson removeu a tulipa do bolso e quando abriu a boca Agnes o interrompeu antes mesmo de perguntar algo, esticando a mão com a palma virada para cima.
— De você eu aceito pagamento.
— Eu não trouxe nada.
— Achou que eu iria trabalhar de graça?
— Mas você é uma Gama.
— Sim, uma Gama, não a Madre Teresa. Mas eu aceito esse colar de lua.
Qualquer grosseria que viesse da boca do Alfa foi interrompida quando Jungwon entregou a moeda para ele.
— Toma, eu te empresto. Mas eu quero com juros.
Pelo visto não era apenas na aparência que o Omega se parecia com Jungkook, mas até mesmo na esperteza para negociar.
Após acertar as contas com a Gama, Jackson finalmente pode ir ao motivo de estarem ali. Ele entregou a tulipa para Agnes, que a recebeu com muita excitação.
— É uma flor etérea — ela informou, tocando na planta com muita delicadeza. — Que fascinante poder tocar em uma assim. E você a carrega em seu bolso como se fosse um trapo qualquer.
— Eu deveria saber o que é isso?
— É um objeto puro. Algo que não pertence a este mundo. — Ela concluiu, devolvendo a flor: — É um presente sublime.
— Nossa… — Jungwon admirou com os olhos brilhantes. — E o Fran a deu pra você.
— Ela não murcha.
— Ela faz muito mais do que isso, Jackson Wang Bonny. — Agnes disse com firmeza. — Ela cura feridas que não podem ser tratadas por mãos humanas, e pode inclusive trazer de volta aqueles que deixaram este mundo.
— Pode ser feito com pessoas que se foram há muito tempo?
Agnes assentiu.
— Mas você tem apenas uma flor, portanto só pode usar uma única vez… Jungwon, eu acho que esqueci a porta dos fundos aberta, você poderia verificar para mim?
— Claro.
Assim que o Ômega deixou o cômodo, Agnes esclareceu:
— Sarah deixou este mundo pela ausência do seu pai, se a trouxer, ela virá com uma ferida em seu peito que será incurável. Jungwon e Francis dividem o mesmo lobo, se o trouxer de volta o menino cairá morto na terra. — A Gama respirou fazendo uma pausa. — Estou curiosa para saber o que você vai fazer.
— Estava bem fechada, Agnes. — Jungwon retornou.
Jackson e a Gama olharam na direção do menino.
— Vai trocar ele pelo seu pai? — Ela murmurou.
Jackson encarou a Gama com seriedade.
— Essa pergunta é tão estúpida quanto a decoração da sua casa.
Agnes sorriu, satisfeita com a resposta.
Jungwon e Jackson deixaram a casa da Gama, e seguiram de volta para o Black Swan. O Alfa desceu para as cobertas inferiores, onde encontrou Jisung e explicou a ele sobre a flor etérea.
— Jack, você não pode…
— Você acha que eu seria capaz de sacrificar o Jungwon assim?
— Tem razão, me desculpe.
— Além do mais, não acho que ele deu a flor para este fim.
Acreditando que recebeu o presente etéreo do pai, para usar quando alguém que ele ama fosse ferido gravemente, o Alfa guardou a flor dentro de um recipiente, embaixo de uma madeira solta no assoalho do quarto.
Apenas ele, Jisung e Jungwon tinham conhecimento sobre ela, já sobre as habilidades mágicas da planta, somente os dois mais velhos saberiam, e jamais voltariam a tocar no assunto novamente.
Jungwon levou para sua irmã uma bonequinha de pano, e antes de entregar a mais nova, ele pintou um dos olhos, deixando-os bicolor, como os de Eunji.
— Tá vendo? Ela é linda como você.
Eunji sorriu, mexendo no olho de cor diferente na boneca. Ambos estavam na cama.
— O que foi fazer com o Jackson no mercado? — Jimin também estava na cabine.
— Fomos à casa da Agnes. Ele queria fazer perguntas sobre um presente que recebeu do pai dele. Uma flor.
— Hmmm… — Jimin ponderou, imaginando que seria algo comum. — Terminou suas tarefas?
— Sim. — Jimin estreitou os olhos, achando muito estranho. Não era falta de confiança no filho, mas ele sempre deixava suas atividades para a última hora. — Pode conferir.
Jimin fez como o mais novo sugeriu e verificou os livros que Jungwon deixou em cima da mesa. Como ele havia dito, estavam todas respondidas, e o Capitão sorriu muito orgulhoso.
— Muito bem, estão corretas… meu bebê tá virando um mocinho responsável.
— Posso ir brincar?
Jimin foi até ele e o beijou carinhosamente.
— Pode.
Jungwon desceu da cama e moveu-se ligeiro para o lado de fora. Já no convés, a postura comportada do menino deu lugar ao Ômega travesso, e um sorriso ansioso quando parou ao lado de Jungkook.
— Pai, você quer ver o que eu consigo fazer com o Krazinho?
— Onde seu pai tá? — Os olhos já estavam brilhando.
— Na cabine com Eunji.
— Mostre. — Sorriu ansioso.
O Ômega posicionou o pai no centro do convés, perto de um mastro, e subiu no parapeito da proa, que estava voltada para o oceano.
Jungkook assistiu atentamente esperando algum movimento super poderoso do Kraken, como levantar uma grande onda, porém, seus olhos saltaram quando viu Jungwon esticar os braços e com um grande sorriso, ele se jogou despreocupadamente de costas para o mar.
O Alfa correu até o parapeito de onde o menino se jogou, mas encontrou as águas calmas e nem sinal do Omega.
Antes de ir de encontro ao mar, o Kraken moveu os tentáculos e abriu um espaço na água para receber o Ômega, e o envolveu submerso dentro de uma bolha de ar, desse modo, Jungwon nem sequer molhou suas roupas.
O Kraken moveu-se suavemente por baixo do corpo imenso do Black Swan, Jungwon pode enxergar claramente o fundo da embarcação cheio de cracas, animais que grudam suas pequenas conchas à madeira úmida do casco do navio.
A bolha se desfez quando a criatura emergiu do outro lado da embarcação, Jungwon subiu correndo através de um tentáculo erguido e pulou dentro do convés. Tudo aconteceu muito rápido e suave, ele ainda pode ver seu pai debruçado no parapeito, procurando por ele.
— Estou aqui, pai. — O menino se revelou atrás do Alfa.
Jungkook girou para dar-se de frente com o filho. Ele apontou para o local em que o Ômega havia se jogado e depois para ele, com as sobrancelhas franzidas e um sorriso que transmitia orgulho e perplexidade.
— Como você…?
— Na primeira vez foi um acidente… — o Ômega explicou movendo um pé no chão. — Eu estava brincando com o Puffy e ele pulou rápido quando fui agarrar ele, perdi o equilíbrio e caí no mar. O Krazinho me salvou, me envolvendo em uma bolha de ar embaixo da água. Ele sentiu que eu estava caindo.
— Incrível.
— Sim! Ele é muito forte, pai! — Jungwon contava cheio de entusiasmo. — Você sabia que o Kraken adora maçã?
— Então é por isso que elas sumiram tão rapidamente da última vez que fomos a Cabuga?
— Não sei do que está falando. — Jungwon ergueu as sobrancelhas e desviou o olhar.
O Ômega rapidamente tomou outro rumo, fingindo estar preocupado com o coelho que roía as cordas largadas no chão, ao lado dos barris.
Não eram apenas pequenos truques. A ligação entre o Ômega e a criatura abissal ficava cada vez mais profunda, a cada dia que se passava. Haviam ocasiões em que o Kraken sentia a aproximação de navios, e Jungwon percebia por meio de seus pensamentos conectados ao dele.
🏴☠️
NO PASSAR DE MAIS DOIS ANOS, agora com quatorze anos de idade, Jungwon tinha a permissão de seus pais para participar de alguns ataques. O garoto não invadia os navios mercantes através das vigas de madeira, como os outros piratas, ele surgia com o Kraken, causando pânico nas tripulações rendidas.
O navio mercante estava cercado, de um lado o Black Swan e seus canhões apontados em sua direção, do outro estava o Kraken.
— AAAHH! — Os marujos correram para se esconder atrás de alguns barris, quando viram a criatura espalhando seus tentáculos pelo pavimento.
Jungwon desceu com uma pistola na mão, as adagas presas em seu cinto, exibindo um brilho prateado que apenas ele e seu pai Ômega podiam ver. Ele estava entre os tentáculos da criatura, imóveis sobre o chão do convés.
A tripulação do navio mercante estava toda encolhida na traseira da embarcação, com medo dos piratas e também do animal marinho. Entre pular no mar e ser morto pelo Kraken, e ficar para negociar com os piratas, a segunda opção era de longe a melhor.
— T-temos p-porcelana e seda no porão. — O comandante se aproximou temeroso.
— Pare de tremer — Namjoon suspirou. — Não vai morrer se não fizer nenhuma estupidez.
— Ah, não senhor! Fique tranquilo! — O comandante fez várias referências. — Nossas cargas são suas, mas podemos ficar com os suprimentos?
Namjoon assentiu, indicando que os piratas levassem apenas as cargas de valor.
— Vocês têm maçãs? — Jungwon parou ao lado de Namjoon.
— Sim, duas caixas no porão.
— Não faça-... — o Ômega tentou pedir ao Kraken que não fizesse estragos na estrutura daquele navio, mas ao escutar a palavra maçã, ele ergueu um dos braços e o moveu como uma lança no convés, abrindo caminho até uma das preciosas caixas.
Algumas maçãs caíram no chão, quando o Kraken jogou a caixa na direção da própria boca.
— Pode levar a outra se quiser. — O comandante disse. Ele estava agachado com as mãos cobrindo a cabeça.
— Ele já está satisfeito, obrigado. — Diferente do que o Ômega informou, um braço do Kraken já estava deslizando pelo buraco deixado no pavimento, indo em direção a outra caixa. — Não seja guloso! Olha só o que você fez, destruiu o navio mercante!
“Foi apenas uma pequena rachadura…” — O Kraken respondeu na mente dele.
— Você chama essa cratera no convés de pequena rachadura? — Os marujos assistiam o Ômega bravo, aparentemente falando sozinho, pois não ouviam a voz do Kraken. — Se o papai souber disso vai proibir a gente de participar das invasões!
“Ele não pode me proibir de nada.”
— Mas a mim ele pode!
“Agora você chegou aonde eu queria.”
— Ah, sua lula traidora.
O comandante, assim como Betas e Alfas do navio mercante, estremeceram ao perceber que o jovem estava falando com o Kraken. A criatura marinha poderia destruir aquele Omega a qualquer segundo por tanta insolência, a não ser que os boatos de que realmente um garoto havia controlado a fera cerca de 6 anos atrás, na guerra por Nabuco, eram de fato verdadeiros.
— Ei, garoto — o comandante se rastejou. — Você é aquele garotinho que controlou a besta contra a Marinha chinesa? Você realmente tem poder sobre ele?
— Ele é o meu amigo, eu não controlo ele. Você controla seus amigos? Eu acho que não.
— Então é verdade…
— Jungwon — Namjoon o chamou. — Volte pro Black Swan.
— Mas meu pai deixou-...
— Quem está no comando da invasão sou eu, volte pro navio.
Jungwon suspirou contra, mas obedeceu. Embora fosse filho de ambos os capitães, ele aprendeu desde pequeno que não era mais especial que ninguém. Deveria seguir as regras, assim como todos os outros.
Mesmo com a permissão de Jimin e Jungkook para participar das invasões, se Namjoon, o contramestre responsável por abordar e pilhar os navios mercantes, soltasse uma ordem durante o ataque, ela deveria ser obedecida.
Após roubar todos os itens de valor, o Black Swan ancorou brevemente em uma ilha pequena, que servia apenas para abastecer embarcações que navegavam por aquela região. Chegaram em Nabuco UMA SEMANA APÓS deixarem a ilha.
Depois que Chaerin ancorou o Black Swan no porto de Nabuco, os piratas iniciaram o trabalho de levar as cargas para o deque. Eles comentavam entre si como Jungwon ajudou em alguns dos saques.
— Aquele garoto é incrível! — Thon comentou com Emma.
— É óbvio, o que você esperava? — Fritz questionou. — Ele é treinado desde criança pelo próprio Capitão Jeon.
— Agora imaginem quando ele for mais velho. — Jared segurou o outro lado da caixa e a levou com Emma.
Eunji estava brincando com sua boneca que ganhou de Jungwon, perto dos piratas e também das cargas que seriam vendidas. Ela estava sorrindo enquanto ouvia os elogios destinados a Jungwon. Seu irmão era forte, e ela desejava ser como ele quando crescer.
— Isso cala a boca de todos, certo? — Thon falou com Fritz. O Alfa franziu o cenho. — Não me venha com essa cara de pateta. Todo mundo achou que a filha Alfa do Capitão tomaria o lugar de Jungwon, mas ela nasceu com defeito.
— Não fala alto, sua idiota, a menina está ouvindo. — Thon apontou na direção em que Eunji estava olhando para eles.
— Ai, credo! Não olha pra cá assim! — Fritz rosnou. — Esse seu olho preto é monstruoso!
Eunji recuou alguns passos, já não estava estampando o mesmo sorriso de minutos atrás. Estava acostumada com certos olhares intolerantes, mas ouvir que era um monstro a deixava muito triste.
Nos livros de historinhas que seu pai lia para ela, os monstros eram descritos como criaturas más, e ela não era assim. Não queria ser comparada a eles.
— Eu não sou um monstro…
— Não foi o que eu quis dizer, mas é a realidade. Seu irmão nasceu para ser grande, ele é lindo e talentoso. Você é uma aberração, nasceu pra assustar as pessoas.
Sem perceber que a boneca havia caído de suas mãos, Eunji correu para se esconder no porão.
— E você nem deveria ter nascido, sua nojenta! — Fritz e Thon olharam para trás, ao ouvirem a voz de Sarah.
A Alfa possuía o cabelo escuro como o de Jackson, exceto por duas mechas loiras que cresceram na parte da frente do cabelo. Por trás das mechas, um par de olhos vermelhos e furiosos encaravam os piratas.
— Eita, porra! Ela é uma lúpus também.
A exclamação de Thon deixou a menina ligeiramente atordoada. Um ano havia se passado desde que ela e Hyun chegaram a idade onde se descobre se uma criança é lúpus ou não, e como ela nem Hyun haviam manifestado características de um lobo dominante, acreditavam que os gêmeos eram um Ômega e uma Alfa comum.
Agora, aos 5, pelo menos Sarah havia acabado de descobrir que é uma lúpus, assim como seu pai Jackson.
Quando voltou a si, os piratas já estavam levando uma caixa para o deque. Pensou em correr e contar aos pais que era uma Alfa lúpus, mas a boneca largada no chão lhe deu uma outra ideia do que fazer.
Eunji estava no porão amarrando um lenço no rosto, quando ouviu alguém se aproximar. Era Sarah, que logo lhe entregou a boneca assim que chegou perto.
— Por que está cobrindo seu olho? — Ela perguntou ao notar o lenço ocultando o lado do olho negro.
— Não quero assustar as pessoas.
Sarah suspirou irritada. Ela desfez o nó que Eunji fez e amarrou o lenço no pulso dela.
— Não vai assustar ninguém. Você não é um monstro ou uma aberração. — Sarah tirou o cabelo loiro da frente dos olhos e sorriu para a mais nova. — Você é tão normal quanto eu.
Eunji sorriu de volta, e deixou o local escuro, ao lado da prima.
Continua…
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