[36] Inaceitável
Boa leitura 💜
Chaerin manuseava o leme observando alerta todo o campo marítimo à sua volta, enquanto conversava animadamente com a mecânica. Dahyun estava com um folheto que adquiriu em Nabuco, que trazia novidades sobre o desenvolvimento de máquinas térmicas e outros grandes projetos.
— Eles querem construir uma ponte entre Nabuco e Folsom. — Dahyun comentou. — Para economizar nas viagens marítimas.
— Isso é possível? — A Alfa franziu as sobrancelhas.
A distância em milhas náuticas entre as duas ilhas era absurdamente grande. Dahyun suspirou analisando mentalmente.
— É um projeto ousado… Não diria que é impossível, mas também não é algo relativamente fácil de se fazer.
O mar estava agradavelmente calmo, sendo assim, a timoneira se deu ao luxo de travar o leme seguindo uma única direção, para sentar-se ao lado da Beta. Além do mais, Taehyung estava no alto da cesta do mastro em busca de algum galeão. Caso fosse visto, bastava o navegador soar o alarme e Chaerin prontamente tomaria o controle do navio outra vez.
Estavam navegando nas rotas utilizadas pelos navios que transportavam as maiores quantidades de moedas, a qualquer momento poderiam encontrar um galeão ou até mesmo uma frota inteira. Todos estavam prontos para qualquer uma das possibilidades.
O Capitão Jeon conferiu os canhões com Hoseok mais uma vez. Arata estava junto tomando nota e aprendendo um pouco mais sobre aquelas armas. Satisfeito com o preparo de cada aparelho, Jungkook seguiu para a cabine. Ele encontrou Jimin fazendo anotações no diário, e ficou parado apenas observando o que o loiro escrevia.
— Precisa de algo, kookie? — O Ômega indagou mantendo a atenção no livro.
— Não… só estava pensando comigo mesmo, que o novo membro da tripulação não faz nada além de comer e beber.
— Ele não sabe fazer as coisas… — Jimin encaixou a pena no tinteiro e fechou o diário. Ele suspirou antes de olhar para o Alfa. — Estou tentando encaixar ele em alguma atividade.
— Como assim, não sabe fazer as coisas?
— O Arata trabalhava pra uma família aristocrata, sabe cozinhar, foi fácil encaixá-lo em algo. Já o Eddie não.
— Arata está aprendendo a utilizar os canhões com Hoseok. Ele se interessa em aprender. Seria interessante se esse outro ao menos fizesse o mesmo.
— Eu perguntei pro Eddie, mas ele não se interessou em navegação, tem medo de conduzir o navio e não gosta de cozinhar. Não sei, Jungkookie.
O Alfa suspirou relaxando os ombros. Ele deu a volta na mesa, segurou as mãos de Jimin e o incentivou a levantar. Logo em seguida, ele ocupou a cadeira e puxou o Ômega para sentar de lado em seu colo. Jungkook encaixou um braço na cintura dele e tocou em sua bochecha com um dedo.
— Coração, você é um capitão muito bonzinho. Às vezes precisa ser mais firme.
— Não quero ser abusivo.
— Todo mundo que está a bordo desse navio tem um objetivo em comum; saquear navios e acumular riqueza. Fazer com que todos cooperem em alguma coisa não é ser abusivo, é ser justo.
— Você está certo.
— Se importa se eu atribuí-lo a alguma atividade?
— Claro que não — Jimin encaixou a mão no rosto dele. — Será de grande ajuda.
— Seja firme.
Jungkook sorriu para o Ômega, encostando a testa na dele suavemente. Do contrário que muitos marujos imaginaram, não havia disputa entre os capitães. Como todo casal, havia alguns desentendimentos que logo eram resolvidos.
A cumplicidade era algo que acontecia naturalmente entre eles. Jimin respeita seu Alfa pelo tempo em que esteve como o único líder do Black Swan, enquanto Jungkook, embora se preocupe algumas vezes, também respeita o fato de que seu Ômega está se tornando grande.
Ambos sentiram o navio ranger com uma atividade enérgica que se iniciou do lado de fora. Posteriormente, batidas foram ouvidas na porta. O Capitão Jeon indicou que o pirata entrasse, era Billy, e o mesmo se aproximou encarando os dois lúpus ocupando o mesmo espaço.
— Há um galeão coreano e uma fragata seguindo pela proa a estibordo.
— O que meu contramestre acha? — Jungkook perguntou.
— A fragata está levando tesouro coreano e o galeão está protegendo.
Os lúpus trocaram olhares interessados.
— Aumente a velocidade. — Jimin instruiu.
Billy sorriu grandemente e correu ansioso para avisar a tripulação que o ataque foi autorizado. Assim que apareceram no convés, eles viram os bucaneiros armando-se até os dentes, todos ávidos para colocar as mãos no tesouro alheio. O vento batia nas velas e fazia o Black Swan mover-se rápido na direção dos alvos.
O comandante da fragata enxergou o navio pirata ainda ao longe. A decisão mais sábia seria render-se. Um galeão foi disponibilizado para proteger o transporte do tesouro, contra possíveis ataques piratas. Mas ninguém imaginava que eles iriam cruzar justamente com o Black Swan.
— Icem a bandeira branca! — O capitão da fragata indicou.
Antes que sua ordem fosse cumprida, o comandante do galeão gritou para que seus Alfas e Betas preparassem os canhões:
— Não vou me render aos malditos demônios do mar! Sejam firmes! Todo poder de fogo a bombordo!
O Capitão Jeon observava toda movimentação do galeão através de sua luneta. Eles certamente não iriam se render. Os piratas do Black Swan alimentaram cada canhão com duas bolas de ferro e pólvora. Hoseok estava na proa ao lado do Capitão.
— Destrua o mastro deles. — Jungkook indicou ao atirador.
Chaerin manteve o navio firme seguindo em frente. O galeão disparou seus canhões na direção do Black Swan, mas devido ao pânico dos tripulantes e distância mal calculadora, nenhum tiro acertou o navio de velas negras. Arata cobriu os ouvidos e se escondeu atrás de Hosoek. Mesmo sob a mira dos canhões inimigos, o Alfa mantinha-se calmo enquanto analisava o espaço entre as embarcações.
— Relaxe — Hoseok olhou para trás e viu o Ômega encolhido. — Nós vamos destruí-los.
Arata forçou um sorriso e assentiu.
O atirador colocou-se ao lado do canhão central da proa, e girou uma manivela para que o aparelho fosse posicionado ligeiramente alguns centímetros acima.
— Quer acender o pavio? — O Alfa perguntou. Ninguém respondeu. Ele olhou para trás novamente e viu o lugar em que Arata estava vazio. — Ué…
O Ômega entrou em pânico diante da rapidez com que o Black Swan avançou contra o galeão. O navio estava inteiramente virado de lado e com seus canhões contra a embarcação pirata. Arata imaginou que poderia atrapalhar o atirador com seu nervosismo e fazê-lo ser atingido por uma bola de canhão. Ele então correu para se esconder nas camadas mais baixas.
Não havia tempo para ir atrás dele. Hoseok o ignorou e ele mesmo acendeu o pavio. O canhão disparou duas bolas presas a uma corrente, e elas atingiram o mastro principal do galeão em cheio. A madeira se partiu imediatamente, derrubando algumas velas nos marujos que circulavam pelo convés.
— Pegamos eles, Capitão! — O atirador avisou.
— Chaerin, prepare-se! — Jungkook seguiu com Hoseok até o centro da embarcação.
A Alfa timoneira girou o leme quando o navio se aproximou o suficiente. Com o movimento, os 25 canhões laterais do Black Swan ficaram todos mirados no casco do galeão.
— Fogo! — O Capitão Jeon ordenou.
Dois tiros simultâneos partiram de cada canhão do Black Swan. Era inútil atacar de volta, o poder de fogo era visivelmente superior. Mas o comandante do galeão insistia enquanto a fragata estava do outro lado, se distanciando do ataque.
— Hoseok? — Jimin chamou do mesmo lado observando-os fugir. — Será que a gente alcança eles?
O Alfa correu até ele. Por isso a importância de ter alguém para auxiliar o atirador. Alguém que tivesse o mesmo olhar estratégico. Ao menos a precisão perfeita. Em um ataque, Hoseok desdobrava-se em muitos para a necessidade de tantos canhões.
— Temos os morteiros.
Jungkook cuidava de destruir o que sobrou do galeão coreano. Ignorando os tripulantes tentando fugir através dos botes, o Alfa líder do Black Swan mantinha os disparos despedaçando cada parte da embarcação, enquanto Jimin se ocupava com a fragata em fuga.
— Estamos muito longe, Hoseok — o Ômega analisou. — Acho que não vamos alcançar.
— Ah, a gente alcança sim... — O atirador sorriu cantarolando, conforme girava a manivela com entusiasmo. Jimin entregou a luneta a ele, mas o Alfa negou. — Pode ficar.
Jimin usou o objeto para avaliar o navio em fuga um pouco distante, enquanto Hoseok mirava o morteiro para o alto, apenas alguns centímetros inclinado na direção em que a fragata seguia. O tiro foi disparado. O Ômega que estava concentrado na fragata olhou assustado para o lado, Hoseok fez sinal de positivo para ele.
Jimin voltou a observar o navio com a luneta, quando o balaço carregado com pólvora que foi lançado para o alto caiu poucos segundos após, exatamente na popa da fragata, causando uma forte explosão.
A água invadiu o interior do galeão devido às inúmeras perfurações causadas pelos canhões do Black Swan. Logo estava sendo engolido pelo mar, restando apenas a ponta de algumas velas quando o navio pirata rumou atrás da fragata, deixando-o para trás.
Fumaça subia da fragata enquanto os marujos tentavam apagar o fogo que se espalhava pela popa. Chaerin guiou o Black Swan na direção deles. Assim que o navio pirata se aproximou, uma bandeira branca foi erguida indicando a rendição.
— Eles poderiam ter feito isso antes. Evitaria tantos estragos. — Jimin afirmou guardando a luneta. Quando olhou para trás e não viu nenhum sinal do galeão, ele acompanhou Jungkook quando o Alfa se dirigiu à prancha posta entre as duas embarcações. — Você afundou o galeão?
— Sim. — O Alfa deu de omrbos. — Não queriam se render. Agora vão pensar duas vezes antes de atacar o Black Swan outra vez. — Ele olhou na direção em que alguns botes estavam espalhados onde o galeão afundou. — Pelo menos os que sobraram.
Jimin sorriu, negando com a cabeça. Ele sabia que o Alfa gostava de afundar navios. Foi para isso que Jungkook adicionou tantas armas no Black Swan. Por isso era tão conveniente quando eles não se rendiam, desse modo, o Capitão Jeon poderia contra-atacar com todo seu poder de fogo, já que ele não atacava navios cuja bandeira branca estava erguida.
Jungkook deu alguns passos no convés da fragata, os tripulantes regressaram se afastando um pouco mais do lúpus.
— E-eu queria me render — o comandante daquele navio gaguejou —, mas o galeão atacou e nós fugimos. Nosso ouro é todo seu!
— Pare de tremer, homem. — Namjoon revirou os olhos. — Está passando vergonha diante de seus Alfas e Betas.
— Tem algum Ômega a bordo? — Jimin quis saber.
O comandante o observou dos pés à cabeça. O loiro possuía uma pistola em sua mão direita. Os olhos do Alfa seguiram da arma até os olhos de Jimin.
— Não, apenas Alfas e Betas. Vai nos matar?
— Não, comandante — Jimin respondeu. — Você foi inteligente em se render. Levaremos apenas os objetos de valor.
— Obrigado! — O Alfa curvou o corpo em uma reverência.
Em seguida, Jimin foi direto para a cabine do comandante enquanto Jungkook e outros bucaneiros iniciaram o transporte do tesouro coreano para o porão do Black Swan.
O Ômega vasculhou rapidamente os documentos que estavam jogados em cima da mesa, mas somente deu atenção ao diário de bordo da fragata. Lá estavam as informações sobre toda movimentação financeira em detalhes. Porém, em uma data específica continha apenas “gastos eventuais”, para uma quantia extremamente alta.
Desconfiado que se tratava de um dos compradores do leilão, Jimin saiu da cabine com o livro em uma mão e a pistola na outra. Ele caminhou diretamente até o comandante, que ao ver o quanto o lúpus estava furioso, tropeçou alguns passos para trás.
— Que gastos eventuais são estes?
— Não sei do que tá falando… — O Alfa tentou disfarçar.
Jimin mirou a pistola na cabeça do comandante. O dedo estava encaixado no gatilho.
— Não queira testar a minha paciência!
— Foi em Folsom! — O Comandante confessou com os olhos fechados. — Nos bordéis.
— Jimin? — Jungkook se aproximou dele, sem entender.
— Desconfio que ele é um dos que compraram Ômegas no leilão. — O Ômega explicou.
— Não, eu nunca fiz isso! — O comandante explicou quase desesperado.
Jimin suspirou.
— Na dúvida é só matar. — Capitão Jeon aconselhou.
O comandante arregalou os olhos.
— Hmm… — O Ômega ponderou. — Baek, trás o livro de registros do leilão, por favor? Vamos tirar essa história a limpo.
O Ômega ruivo assentiu e seguiu até a cabine do Black Swan, onde se encontrava guardado o livro em questão. Em menos de um minuto, Baekhyun retornou entregando o objeto ao seu Capitão.
Jimin folheou o livro até encontrar os registros da data em que havia os gastos exacerbados da fragata. Tinham vários codinomes que escondia a identidade dos verdadeiros compradores, e números que representavam o preço de cada Ômega, no entanto, nenhum valor correspondia ao do diário da fragata.
— Parece que ele está falando a verdade — Jimin fechou o livro e entregou a Baekhyun.
— Sim! — O comandante arquejou. — Gastamos nos bordéis de Folsom. Se meu superior souber disso, estaremos na fossa. Por isso escondi a verdadeira razão dos gastos. Mas eu nunca comprei um Ômega.
— E nunca vai comprar. — Jimin avisou.
— Sim. Q-quer dizer, não, não! Nunca, jamais!
— Espero que sim, comandante. Do contrário, eu irei atrás de você até o inferno.
— Entendido. — O Alfa engoliu em seco.
Jimin suspirou e mudou a postura para uma mais suave. Guardando a pistola no coldre, ele voltou a atenção para o Capitão Jeon:
— Já acabei por aqui, e você?
— Levamos todos os baús pro nosso porão.
— Capitão — Sven o chamou. — Devemos destruir algumas velas?
— Meu Deus! — O comandante lamentou. — Não temos tanta comida e água disponível para ficarmos à deriva consertando as avarias.
— Problema seu. — O Capitão Jeon pensou em voz alta.
Era costumeiro destruir algumas velas, para impedir que o navio atacado encontrasse ajuda rapidamente para seguir o navio pirata.
— Não faça isso... — Jimin pediu em baixo tom.
Jungkook o encarou. Ao mesmo tempo que seu Ômega estava a cada dia mais forte e temido, ele continuava tão piedoso quanto antes. O Alfa mirou Sven e negou com a cabeça, respondendo a pergunta do bucaneiro.
Após deixarem a fragata intacta, porém, vazia de moedas, os piratas içaram as velas do Black Swan e seguiram em busca de mais saques.
🏴☠️
Alguns dias depois, logo após um segundo saque, os piratas estavam organizando uma enorme quantidade de moedas de prata e jóias roubadas. Cada um ajudava em alguma coisa, menos Eddie. O Ômega passava a maior parte do tempo pelo convés, apenas assistindo a atividade dos piratas.
— Cuidado com esses baús — Namjoon orientou. — Estão gastos demais, podem ceder a qualquer momento e vocês terão de catar cada moeda que se espalhar pelo navio.
— Podemos colocar as moedas em outras caixas no porão?
— Façam isso. — O contramestre concordou. Ele enxergou algo em sua visão periférica e quando virou-se para o lado, encontrou Eddie mexendo nas unhas das mãos. — E você? Vai ficar aí sentado o dia todo?
— E se eu for? — O Ômega perguntou, achando suas unhas mais importantes que o contramestre. — Isso vai impactar em algo na sua vida?
Namjoon ergueu as sobrancelhas, boquiaberto.
— Vai impactar na sua se continuar sendo um inútil aqui dentro. — O Alfa respondeu. — Não faz porra nenhuma além de comer e dormir.
— O Jimin sabe que eu não estou familiarizado com as atividades de um navio pirata — Eddie respondeu entediado. — Não há nada que eu possa fazer.
— Você certamente sabe como usar um esfregão — O Capitão Jeon afirmou ao se aproximar, com isso, o Ômega finalmente deixou as unhas de lado para encarar os Alfas. — Limpe o convés.
O lúpus continuou seguindo seu caminho e deu as costas, certo de que aquele Ômega iria obedecer a sua ordem. Ao invés disso, Eddie negou:
— Você não é meu Capitão.
Jungkook parou no mesmo instante. Até mesmo Namjoon se afastou um pouco mais quando o Capitão Jeon girou lentamente. Suas íris estavam completamente vermelhas.
— O que disse?
— Eu vou limpar, me desculpe! — Eddie pulou no convés e pegou um balde onde havia um esfregão dentro.
— Folgado. — Namjoon avaliou.
— Fique de olho nele — Jungkook ordenou. Depois, voltou-se para o Ômega: — Se eu tiver que voltar aqui mais uma vez, não importa quem seja seu capitão, eu vou jogar você no mar, entendeu?
— Sim. — Eddie permaneceu de cabeça baixa, olhando para o chão onde limpava.
Mesmo após o Capitão Jeon se retirar, o Ômega continuou limpando o chão do convés, sob a vistoria atenta de Namjoon.
Nas camadas inferiores, Arata mantinha-se no quarto que estava dividindo com Eddie. Ele estava evitando Hoseok há dias, imaginando que seria repreendido pelo atirador por ter abandonado seu posto durante o primeiro saque.
É verdade que Hoseok estava procurando por ele, mas não com a intenção que o Ômega imaginava. Ele apenas queria entender o que aconteceu, já que Arata parecia tão ansioso a cada coisa nova que aprendia sobre os canhões.
O Alfa não era o único à sua procura. Jisung também sentiu falta dos treinos com a espada. O Ômega loiro desceu a procura de Arata, disposto a encontrá-lo a qualquer custo.
Sabendo que Jisung estava a sua procura, Arata deixou o quarto para se esconder em outro compartimento, mas mudou de ideia quando ouviu o Ômega lamentando no corredor:
— Arata, por favor, apareça. Eu estou cansado de tanto subir e descer as escadas… — Ele não estava, de fato, mas a voz de Jisung saiu tão pesarosa como se realmente estivesse muito fatigado. — Não faça isso com um Ômega grávido, poxa...
— Desculpa, Ji! — Arata saiu de um quarto qualquer. — Eu não queria… você não parece cansado.
Jisung estava com os braços cruzados e uma aparência ótima. Com um pequeno sorriso.
— Aí está você, não é? Vem! — O loiro agarrou a mão de Arata e o puxou junto consigo para o primeiro cômodo à sua frente. — Por que está se escondendo de todo mundo?
— Não estou me escondendo… Apenas evitando.
— Por que?
— Você já deve saber — Arata sentou envergonhado, com os olhos baixos. — Eu fugi no ataque. Hoseok deve estar decepcionado, o Jimin nem se fala… agora você.
— Não estou — Jisung sentou ao lado dele. — Meu irmão também não, e tenho certeza que o Hoseok pensa o mesmo.
— Você é muito gentil. Jimin foi muito bom me aceitando na tripulação, mas a verdade é que sou mesmo um inútil pra vocês.
Jisung o observou em silêncio por um tempo. Era estranho, fazia muito tempo que não se sentia daquele jeito, mas de alguma forma conseguia se identificar com Arata. Pelo menos o Jisung de alguns anos atrás, que pensava exatamente o mesmo de si.
— Sabia que quem me deu essa katana foi o Yoongi? — O loiro a desembainhou e exibiu ao outro Ômega.
— Ela é tão linda — Arata admirou a arma. — E você sabe exatamente o que fazer com ela. Você é tão-...
— Forte? — Jisung completou com uma pergunta, Arata assentiu confirmando. — Nem sempre eu fui assim… quando ganhei essa katana eu também me considerava um inútil. Mas o Yoongi acreditou em mim, e me deu ela de presente.
— Uau…
— Meu Alfa me treinou e me ensinou quase tudo o que sei. Mesmo que eu tenha duvidado, ele nunca me subestimou, nunca duvidou.
— Ele é um bom Alfa.
Jisung sorriu, assentindo.
— Quando ele me instruiu a matar eu hesitei. Não consegui. Mesmo assim ele continuou acreditando em mim. Um dia eu cortei a garganta do Alfa que mais me assustou na vida. — Os olhos dele ficaram cegos momentaneamente, pelas lágrimas.
— Você está bem?
— Sim, desculpe… — Jisung secou as lágrimas. — Fiquei estranhamente mais sensível depois que engravidei.
— Você quer um pouco de água? Posso buscar se você quiser.
— Não precisa, estou bem. — O loiro respirou profundamente antes de continuar: — Você pode ter hesitado lá em cima, mas eu continuo acreditando em você.
— Jisung…
— Você não é inútil, Arata. É tão forte quanto qualquer Ômega.
Arata ficou em silêncio, mas seu semblante expressava a gratidão que sentiu naquele momento. Não podendo manifestar qualquer palavra, ele apenas abraçou o outro Ômega.
— Ai…
— Desculpa!
— Tudo bem, não foi você. — Jisung abriu alguns botões da camisa. — Essa criaturinha começou a ficar um pouquinho inquieta, sabe?
— Quando vai descansar?
— Em oito semanas mais ou menos. Estou com cerca de cinco meses. Ai… — O Ômega passou as mãos gentilmente pela circunferência. — Calma, meu amor. Papai está aqui.
— Ele entende você?
— Às vezes eu acho que sim. Ultimamente eu tenho sentido bastante. Quando começo a falar, parece que se acalma.
— Isso é muito lindo.
— É sim… — Jisung suspirou. — Pegue a sua espada.
— Por que? — Arata o olhou com surpresa, pela repentina mudança de foco do Ômega.
— Vamos treinar no porão, já que está fugindo do Hoseok e eu do Jack — Jisung instruiu, ainda de costas para a porta. Quando virou para sair do quarto, deu de frente com Jackson. — Vixe!
— Bonito — o lúpus cruzou os braços. — Muito bonito.
Arata pretendia buscar a espada que estava pendurada na parede de seu quarto, presa em seu cinto. Mas antes que pudesse passar pela porta, o Alfa ergueu Jisung no colo e o levou para fora do cômodo.
— Me coloca no chão, Jackson! — Os dois saíram do quarto.
Logo após alguns segundos de silêncio no corredor, Arata ouviu:
— Ai! — Era a voz do Alfa.
Quando se deu conta de que o dormitório em que estava era novamente o de Jared e Billy, Arata saiu do quarto e rumou para seu próprio. Na porta, ele encontrou outro Ômega resmungando pelo corredor, e não era Jisung. O loiro já estava tentando se esquivar de Jackson no cômodo em que dividia com o mesmo.
— Que ódio… — Eddie arrastava dois baldes e um esfregão.
— Posso te ajudar?
— Quê?
— Perguntei se posso te ajudar com isso.
— Onde você estava enquanto eu limpava o convés sozinho? Não, obrigado! Eu já acabei se você não percebeu — Eddie lançou os baldes em um canto qualquer. — Você viu o quanto esses piratas são nojentos? Que nojo. E ainda aquele Alfa idiota me fez limpar tudo sozinho!
— Que Alfa?
— E isso importa? Eu vou relatar isso pro Jimin. Não é isso o que ele faz? Onde está ele quando se precisa?
— Se não estiver em lugar algum aqui embaixo ou no convés, deve estar na cabine.
— Não me diga. Que gênio você é.
Arata rolou os olhos e deixou o Ômega sozinho no corredor quando rumou para dentro do quarto.
Instantes depois, Eddie estava de volta no piso superior, em busca de Jimin. Ele o encontrou no mesmo lugar indicado por Arata, na cabine, sozinho, enquanto preparava algumas lições para seu filho.
— Nossa, te procurei em todos os lugares.
Jimin terminou de escrever alguma coisa, depois virou-se para o Ômega com um sorriso cortês:
— Encontrou. O que houve?
— O Jungkook me obrigou a limpar todo o convés sozinho! Estava imundo-...
— Como é?
— Pois é! Absurdo! Ele-...
— Não, não… — Jimin piscou com a testa franzida. — Como é que você chamou ele?
— Jungkook.
O lúpus cruzou os braços.
— Que intimidade é essa que você acha que tem com meu Alfa?
— E não é esse o nome dele?
— Pra você e qualquer outro desse navio é Capitão Jeon.
— Eu achei que você fosse o líder dos Ômegas.
— E sou. É a mim que são subordinados, mas isso não dá a vocês o direito de tratá-lo como um igual. Ele também é o Capitão do Black Swan. Ele tem um nome e uma história aqui, tenho certeza que você sabe disso.
— Certamente.
— E é bom que respeite isso, como eu lhe expliquei, insubordinação é uma falta grave.
— Claro. Eu só confundi um pouco as coisas.
— Tudo bem, você é novo aqui, normal que fique confuso. Eu só vou deixar claro para que não haja dúvidas, mesmo que eu seja o Capitão dos Ômegas o Jungkook continua sendo o que é. Eu o respeito muito por isso e espero que de sua parte aconteça o mesmo de agora em diante.
— Sim, claro. Ele é uma lenda vida.
— Que bom que você entendeu. Ah, e antes que eu esqueça, ele me consultou se podia atribuir você a alguma atividade, já que estava perdido aqui dentro. Eu autorizei.
— Então sou eu que vou fazer sozinho toda a limpeza do navio agora?
— Não. Outros piratas também ajudam, às vezes. Mas como todos estavam ocupados trabalhando e você era o único à toa, acabou limpando sozinho.
— Eu poderia ter ajudado com outra coisa.
— Mas não ajudou.
— Entendi. Então todo mundo precisa cooperar com alguma coisa aqui dentro. Eu juro que não sabia.
— Agora sabe. Tem algo mais a acrescentar à sua queixa?
— Não, não foi uma queixa. Foi apenas uma observação que você ajudou a compreender. Muito obrigado. — O Ômega sorriu fazendo uma reverência. Jimin o analisou em silêncio. — Eu vou procurar alguma atividade onde eu possa me encaixar. Com licença.
Eddie saiu da cabine deixando o lúpus pensativo para trás. As palavras de Jisung e Baekhyun faziam bastante sentido levando em conta a personalidade daquele Ômega. Jimin não tinha certeza quando ele estava sendo sincero ou sarcástico.
O Ômega era arrogante para alguém que acabou de ser aceito em um lugar onde há uma hierarquia estabelecida. Poderia ser apenas seu jeito orgulhoso, como era Sungjae há alguns anos. Jimin não queria pensar assim, mas a semente de desconfiança que Jisung e Baekhyun plantaram estava lhe incomodando.
Jimin esperava que, com o tempo, Eddie se mostrasse diferente do que as primeiras impressões indicavam.
Continua...
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro