Prólogo
Corro por uma floresta.
Algo segue meu rastro, não sei o que é, paro pra pensar por um momento - figurativamente falando é claro, por que se eu parasse de correr agora, provavelmente não viveria por muito tempo - meus pensamentos estão a mil... Espere, não, não, não. Não pode ser...
Repentinamente sei o que está atrás de mim.
Desvio de uma das árvores, bem a tempo. Preciso pensar em alguma coisa, algo que possa me tirar dessa enrascada. Olho ao meu redor... Só me deparo com árvores, terra e mais árvores (é claro Melina, o que você esperava? Você está correndo em uma floresta). Sem sarcasmo agora consciência, precisamos trabalhar juntas ou não sairemos vivas.
Pensa... pensa...
A única ideia que me surge, é subir em uma das árvores. Pelo menos assim eu poderia me localizar. É, isso poderia ser um bom plano. Seria... se eu não tivesse medo de altura. Droga. Ok, novo plano. Vou correr o mais rápido que puder.
É nítido o som que os galhos fazem quando são quebrados por mim, assim como os sons que são produzidos pelos predadores. Sim, eu estou sendo caçada. E assim como eu, aparentemente eles estão mais rápidos. Bem mais rápidos.
Ouço o barulho de um motor de carro. Graças a Deus, isso só pode significar que há uma estrada por perto. Forço ainda mais meus pés. Assim que sinto-os tocando o asfalto, paro. Olho nas duas direções. Espera... Onde está o carro? Tenho certeza absoluta que o ouvi, olho novamente para trás e dou uma rápida checada na minha frente, nada.
Escuto um galho se partir. Droga. Eles me acharam.
Desvio meu olhar em direção a floresta, não vejo nada. Olho novamente, porém agora de uma forma minuciosa, uma forma escura se faz parecer. Um humano. Aos poucos vai saindo das sombras que o cerca, percebo que tem ombros largos, corpo definido, e cabelo curto. Definitivamente é um homem.
- Quem está aí? - pergunto, é óbvio que não era ele quem estava me seguindo. Minha voz saiu esganiçada, deve ser por estar respirando pela boca. Porém, não estou ofegante... Estranho.
Percebo que o homem se aproxima e por instinto me afasto.
- Fique calma. - diz, sua voz é suave e por alguma razão ao ouvi-la me senti mais calma. Ele pôs seus braços a frente do seu corpo, querendo demonstrar que não faria nada, que não me faria mal algum. - Deixe-me ajudá-la.
- Quem é você? - Insisto, afinal ele é um estranho, como saber se realmente vou poder confiar?
Penso em várias formas que poderiam me ajudar a escapar, caso ele fosse um assassino ou algo pior. Mas, todas as ideias, todos os planos que haviam passados em minha mente se dissiparam assim que o ouço gritar.
- CUIDADO!
***
Eu estou na escola, vendo a última matéria do dia, recolhi minhas coisas e fui em direção a porta da escola, estou caminhando com meus amigos, eles rirem alegres por mais uma dia de escola terminar, mas por mais que eu vejo eles sorrirem não escuto suas risadas. Despeço-me deles e vou para casa e a volta foi extremamente silenciosa.
Chego em casa e destranco a porta da frente, largo minha mochila em cima do sofá da sala e vou até a cozinha comer algo, pego um iogurte e fecho a porta, volto para a sala, o ambiente ainda se mantém sereno, parece que nem o ar se atreve a fazer barulho e a luz lá fora também se fora, deixando o ambiente sombrio, balanço a cabeça para espantar essa estranha sensação de morbidez que me atingiu, pego o controle e ligo a TV, ela também não emitia som algum, porém ainda entendia seus sons mudos, passo a mudar de canal procurando algo interessante, e paro no canal onde era o único a ter som.
"...A polícia ainda não se sabe ao certo o que exatamente aconteceu e nem deu detalhes do ocorrido, mas segundo os vizinhos, eles escutaram um grito esganiçado e sofrido de uma garota, eles afirmam que deveria ser a filha da proprietária da residência que deveria estar por lá, após a volta da escola, e esse era o horário que ela costumava voltar para casa, eles contaram também que ela estava saindo com um rapaz, aparentemente mais velho que ela é esse pode ser o maior suspeito no momento, porém nem um deles já viram o rosto do rapaz, não ao ponto de conseguirem descrever para a polícia, a mãe da possível garota está a caminho, mas parece que seus amigos vieram assim que souberam do ocorrido, mas nem eles tem estrutura para comentar sobre o acidente…"
Na reportagem foca na casa da 'vítima', e eu estranho, a casa se parece muito com a minha casa, eles acabam mostrando os 'amigos' da garota e me espanto, eles são os meus amigos, e eles estão chorando, tristes, desolados, como assim? O que está acontecendo? Ofego exasperada.
- Isso não pode ser verdade.
- Não pode? - Olho para trás ao ouvir essa voz. - Você já se esqueceu? - Ele se mantém escondido entre as sombras perto da porta da frente. - Se esqueceu do que fiz com você?
No instante seguinte vejo alguns flash de memórias: escuro, silêncio, dor, sangue, grito, minha vida se esvair pelos meus dedos. Ao sentir tudo isso, minhas pernas perdem a força de me sustentar e caio no chão, ficando sentada, sinto um dor em meu pescoço e levo a mão até lá, e sinto sangue escorrer por lá, olho para a escuridão novamente e de lá vejo seus olhos, e vermelhos vivos.
- Por.. quê? Por.. quê.. você fez isso?
- Por que? E por que não? Esse era o meu objetivo todo esse tempo, você não é mais que um mero corpo sem vida.
Arfo silenciosa, tento gritar, mas minha voz não sai ou emite som, sinto o ar faltar em meus pulmões, e uma pressão surgir em meu cérebro e a dor em meu pescoço, e todos dos meus membros eram tanta que eu tremia por inteira, convulsionando, e impossibilitada de conseguir sair do chão.
- Isso vai te fazer aprender. A não confiar em um mero rostinho bonito.
Vi ele dar as costas para mim e sair pela porta da casa, meu corpo ainda tremia todo e não conseguia ter uma visão clara de tudo, piscava tentando clarear, mas a cada piscada uma nova imagem vinha, a primeira: a cerca de casa, pisquei e a imagem mudou, mostrando agora uma floresta densa e sem muitos detalhes que passava de forma rápida por meus olhos, pisquei de novo, olhava para um bar de beira de estrada caindo aos pedaços, pisquei mais uma vez, e via árvores, mas agora estáticas, mas senti um desesperador pânico, mas um fechar de olhos e agora eu corria de novo, com a floresta ao meu lado, mais um piscar e no instante seguinte a abrir, olhava para uma estrada no meio de uma floresta, um som alto, algo de buzina e um carro a minha frente.
E depois escuridão.
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