Capítulo 18

Alessandro

— Ele é meu companheiro —, eu rosnei, olhando para a porta da sala de estar que tanto Vítor quanto Pablo estavam bloqueando. Eles só conseguiram me levar de volta ao apartamento de meus pais porque ameaçaram ativar a coleira de Miguel.

Ambos estavam lá também. Papai havia chamado todos os reforços e, até onde eu sabia, havia uma força-tarefa completa vigiando o quarto de Miguel, o que me fez querer ainda mais voltar para ele.

— Ele não está estável agora —, meu pai ômega insistiu, colocando as mãos nos meus ombros. — Ele está com medo, e eu sei que dói, mas dar um pouco de espaço é a melhor coisa que você pode fazer agora.

— Ele precisa de mim!

— Alessandro —, disse Esteban com firmeza, caminhando até nós. — Você precisa me ouvir. Com atenção.

Eu congelei. Era raro sua voz ser gentil e autoritária. Normalmente, ele mandava e pronto, mas naquele momento, eu sabia que ele não estava falando apenas como meu pai. Ele estava falando como meu alfa, mesmo se ele tivesse passado o título há um tempo.

— O que quer que esteja acontecendo com ele, você já fez o suficiente sozinho —, ele continuou colocando as mãos nos meus ombros. — Você veio aqui por um motivo. Nós podemos te proteger. E proteger Miguel, mas você tem que nos deixar fazer isso.

Algo sobre suas palavras me fez ceder, embora eu ainda estivesse com medo pelo que pode acontecer ao meu companheiro. Eu nunca tinha visto aquele olhar antes, e eu ainda não conseguia esquecer.

Relutantemente, eu assenti. Ele deu ao meu ombro um aperto reconfortante e sussurrou algo para Vítor antes de sair da sala. Pablo foi com ele.

Papai Danilo e Vítor me obrigaram a sentar e eu acabei com um copo de água em minhas mãos que eu não conseguia lembrar de pegar. Levei o copo aos lábios e o cheiro forte me disse que era vodca, não água. Tudo do melhor.

Percebi que ambos estavam me observando enquanto eu engolia minha bebida, ignorando a queimadura. Parecia que eu estava bebendo ácido, mas eu era um lobo e drogas ou álcool não tinham o mesmo efeito que teriam em um humano.

— Então —, disse Vítor. — Alessandro tem um companheiro caçador.

Papai deu-lhe um olhar. — Você sabe que suas regras desatualizadas sobre amor e casamento são impraticáveis entre uma espécie que quando encontra seu companheiro de alma acasala para a vida inteira.

— Não estamos discutindo política —, murmurou Vítor. Agora que ele era o alfa do bando, papai mudara de importunar seu próprio companheiro para incomodar seu enteado, papai Danilo era um ativista de qualquer causa, principalmente se envolvesse família. Eu só sabia que minhas ações não ajudaram em nada.

— Eu ainda não posso acreditar que você manteve isso de nós esse tempo todo —, disse papai, um toque de tristeza em sua voz. Isso doeu mais que tudo. Sabendo que eu era o motivo dessa dor.

— Eu não sabia mais o que fazer —, eu admiti. — Eu sabia que o que estava fazendo era errado. O vendo... deixando-o viver. Eu só...

— Você deveria ter me contado —, insistiu papai.

— Eu sei. — Eu fiz uma careta, lembrando do rosto dele naquela noite. Tanta decepção. Mesmo agora, eu ainda estava o machucando. Eu sempre o machucava.

Quando finalmente ousei encontrar seus olhos novamente, a suavidade neles me pegou de surpresa. —Todos nós cometemos erros —, disse ele em voz baixa. — Eu especialmente.

— Do que você está falando?

— A noite que você fugiu —, ele respondeu. Eu poderia dizer pela confusão no rosto de Vítor que ele ainda teria que contar ao meu irmão sobre essa história. — Quando te encontrei no beco, sei que o modo como reagi faz parte do motivo pelo qual você foi embora.

— Papai...

— Por favor —, ele interrompeu. — Eu te disse uma vez que queria que você me procurasse e falasse comigo com qualquer coisa. Não importa o que fosse, não importa o quão ruim, eu consertaria isso.

— Eu sei —, eu disse com voz rouca. — Você sempre esteve lá por mim.

— Eu não estive ... Não naquela noite — argumentou ele. — Não do jeito que você precisava que eu tivesse, e sinto muito. Eu carrego essa culpa desde que você se foi. — Ele pegou minha mão.

Eu peguei, surpreso com suas palavras. — Você não tem nada com o que se desculpar —, eu murmurei. — Eu teria ido de qualquer maneira. Percebendo o quão fodido eu me tornei, apenas me deu coragem para fazer isso mais cedo.

— Se nada mais, pelo menos você conseguiu isso sob controle —, disse Vítor.

Papai e eu olhamos para ele em confusão.

— Você acha que eu ia deixar você sumir da face da terra? — Vítor zombou.

— Você sabia onde eu estava? — Eu perguntei em descrença.

— Sim —, papai rosnou, golpeando seu braço. — Você sabia?

— Não exatamente, mas quando os rumores de um lobo caçando os seus começaram a circular, não foi difícil adivinhar —, ele respondeu.

— E você não disse nada? — Papai exigiu.

— Ele precisava de tempo —, disse Vítor com um encolher de ombros. — Ele é um jovem alfa. Todos nós temos que caminhar sozinhos. Descobrir quem somos. — Ele me deu um olhar conhecedor. — Mas depois voltamos para casa e deixamos de lado o passado, Alessandro. Espero que você esteja pronto.

— Eu estou —, eu disse a ele. — Enquanto Miguel tiver no meu futuro.

**

Miguel

No momento em que a porta se abriu, eu ainda estava tentando descobrir uma maneira de me controlar quando inevitavelmente perdi a guerra com o demônio em minha cabeça. Para meu alívio, não era Sandro. Para minha consternação, era Pablo e um homem de cabelos compridos que não reconheci.

— O que você quer? — Minha voz soou como a do diabo, crua e fervente. Eu ainda estava me segurando e provavelmente parecia um paciente transtornado, ou um demônio possuído. No momento, eu não sabia qual deles era mais adequado.

Ambos me estudaram em silêncio. O moreno foi o primeiro a falar. — Então. Você é Miguel.

— Deixe-me adivinhar. Você é Esteban? Eu zombei do nome dele. Marcos o odiava quase tanto quanto me odiava. Eu sempre senti uma ligação com o antigo alfa da matilha Zayas por causa disso.

— Parece que meu filho marcou você como companheiro —, disse ele calmamente, dando outro passo para a sala. Pablo fechou a porta atrás de si, mantendo um olho em mim o tempo todo.

— Percebendo que é um mau negócio para vocês?

— Lobos como animais podem acasalar-se por toda a vida, mas nossa espécie tem a mesma probabilidade de se separar que a sua —, respondeu Esteban. — A ligação de companheiros é a exceção. Então, novamente, parece que você é excepcional de diversas maneiras.

— Se você está se referindo ao fato de que eu sobrevivi à transformação, você pode enfiar suas felicitações no rabo —, eu cuspi.

Esteban me deu um sorriso conhecedor, mas havia algo ameaçador nele. Ele teria sido um caçador do caralho.

— Eu não esperaria que um caçador apreciasse o presente que você recebeu, mas desde que você é ligado ao meu filho, eu tenho medo que meu método usual de lidar com o seu tipo não seja uma possibilidade —, ele continuou. — Isso significa que você e eu precisamos chegar a um entendimento, e precisamos fazê-lo com uma certa rapidez.

— E aqui eu pensei que você tivesse desistido.

Ele zombou. — Eu não estou falando como o Alfa da matilha. Eu estou falando como pai. Felizmente para você.

Então essa era a família que Alessandro estava sempre fugindo. As pessoas que não o entendiam.

Deus, ele era tão idiota. Meu idiota, mas um idiota mesmo assim.

— Se você ama o Alessandro, então você vai mantê-lo longe de mim. — Quando vi o brilho de raiva nos olhos de Esteban, acrescentei: — Isso não é uma ameaça, é um aviso. Se eu quisesse machucá-lo, você realmente acha que estaríamos aqui?

Ele franziu a testa, confusão pontuando sua expressão irritada. — Alessandro tem sido uma bomba relógio toda a sua vida, mas você é provavelmente a única pessoa que nunca precisou se preocupar em ser ferido por ele. Você acha que ele fez isso com você? Que a escolha que ele fez foi fácil?

— Não é sobre isso —, eu retruquei. Minha paciência era instável, mas agora era papel molhado, pronto para se dissolver à menor provocação. — Estou tentando protegê-lo.

Esteban e Pablo ficaram em silêncio. Eu poderia dizer que seus cérebros alfa estavam lutando para processar o conceito de que alguém que não tinha um corpo de armário poderia ser uma ameaça para um deles e eu não estava ansioso para divulgar a sinfonia sombria da loucura constantemente tocando meus pensamentos, mas eu tinha pouca escolha. Eles eram especialistas em um mundo em que eu tinha sido jogado e eu precisava de informação, se os conselhos não fossem suficientes.

— Proteger Sandro? — Pablo esclareceu. — De que?

— De mim —, eu rosnei. — Desde que eu acordei, é como se houvesse uma parte de mim que sou eu e então o resto é essa coisa demoníaca ... essa coisa que quer ...

Eu parei, percebendo que não consegui terminar a frase. Não apenas porque seu pai e seu cunhado estavam ouvindo, mas porque eu não queria reconhecer que eu era capaz de ter esse tipo de pensamento em voz alta.

Pablo ainda parecia que não tinha a mínima ideia do que eu estava falando, mas a compreensão começou a surgir no olhar de Esteban. O desconforto que se seguiu imediatamente foi a confirmação de que ele entendia perfeitamente. — Você tem medo de machucá-lo.

— Sim —, eu gritei. Apenas falando sobre isso parecia que estava dando o poder ao demônio. Senti-o rastejando sobre a minha pele como um capuz escuro pronto para me apoiar nos ombros e assumir o controle. — Quando ele estava aqui, era tudo em que eu conseguia pensar. Afundando meus dentes no pescoço dele. Que diabo é isso?

Pablo arregalou os olhos em reconhecimento. — O reivindicando? — Ele olhou para Esteban buscando confirmação. — É isso...?

— Sim —, foi sua solene resposta à pergunta inacabada. —Se ele é um alfa.

— Um alfa? — Pablo perguntou em dúvida, avaliando-me mais uma vez. — Isso parece ... não tenho certeza.

— Foda-se —, eu murmurei. Eu não queria ser um lobo, ponto final, mas eu com certeza, não seria o ômega de ninguém. Pelo menos o fato de que eles não estavam totalmente horrorizados sugeria que isso era uma faceta de ser um alfa, ao invés de uma marca de corrupção em minha própria alma. O primeiro veio com muitas implicações perturbadoras, mas me deu uma base. — Isso é normal?

— De certa forma —, respondeu Esteban, cruzando os braços. — A maioria dos alfas tem uma vida inteira para se ajustar ao desenvolvimento de nossos impulsos mais ... primitivos. O que você está experimentando é uma inundação imediata de todos os traços hormonais e instintivos do nosso tipo.

— Em outras palavras, puberdade instantânea —, disse Pablo categoricamente. — Não queria estar no seu lugar.

— Ótimo. — Agora que eu tinha uma resposta, eu não tinha certeza se isso melhorava as coisas. — Então você deve entender porque eu não posso estar perto dele.

— Não é tão simples —, disse Pablo. — Quanto mais tempo você estiver separado dele, mais intensos serão esses instintos. Deus, não posso acreditar nisso. Ele passou a mão sobre a cabeça zumbida.

Esteban respondeu ao meu olhar de confusão. — Vítor e Pablo também marcaram um ao outro. Ambos são alfas, o que é ... extremamente raro, para dizer o mínimo.

— Acho que eu acabei de acertar o grande prêmio na loteria dos lobisomens e é uma merda do caralho.

O alfa mais velho, na verdade, soltou uma risada. — Bem-vindo ao clube. Infelizmente, se minhas suspeitas estiverem corretas, isso dificulta as coisas.

— Como você sabe se alguém é um alfa ou não? — Eu perguntei, quase com medo de ouvir a resposta. — Não há um teste ou algo assim?

Agora foi a vez de Pablo rir. — Há exceções, mas na maioria das vezes, você simplesmente sabe.

— Como? — Eu pressionei.

— Energia, por um lado —, respondeu Esteban. — É difícil explicar, mas espero que você venha a desenvolver um sentido para isso, como Danilo fez, ao longo do tempo. Cheiro é outro. Não há diferença significativa entre os betas e os alfas, mas um ômega no calor emite feromônios que os tornam irresistíveis para qualquer alfa não treinado na área.

— Eu sabia sobre isso —, admiti de má vontade. Marcos costumava brincar que se pudéssemos colocar nossas mãos em um ômega, poderíamos acabar com a espécie inteira em pouco tempo. Acho que imaginei que eu me tornaria o tipo de lobo que ele consideraria inútil.

— Como eu disse, é óbvio na maioria dos casos, mas há um espectro —, disse Pablo. — A maioria de nós tem formas de lobos bípedes, mas não todos. Então, há o bom e velho teste decisivo.

— Qual é?

O óbvio desconforto de Esteban me disse que eu também não ia gostar dessa resposta.

— Alfas fazem um nó quando fodem alguém, então... é bem direto —, Pablo respondeu.

A humilhação penetrou na raiva que parecia ser meu novo padrão emocional. Então, a confusão se instalou. — Sandro é um alfa?

Parecia ridículo que eu nunca tivesse perguntado, mas sabia que sua forma de animal era bípede, então eu sempre supus. Ainda assim ... ele não tinha mostrado nenhum sinal de ter um nó quando nós fodemos, mas isso não era algo que eu estava ansioso para discutir com sua família.

— Sim —, disse Esteban cautelosamente. — Por quê?

— Nada —, eu grunhi. — Apenas me diga o que eu preciso fazer para não o machucar.

— Mudar para o seu lobo seria um bom começo —, disse Pablo. — Precisamos saber como é a sua forma animal e do que você é capaz. A partir daí, podemos trabalhar para queimar parte dessa energia e colocá-lo em alinhamento com essa sua parte, em vez de lutar contra ela.

Era óbvio? Era uma luta constante, mas se houvesse outra opção além de lutar com cada respiração e deixar o monstro assumir, eu estava aberto a isso, mesmo que isso significasse entrar em alinhamento com o que eu mais odiava.

— Bem. Vamos acabar logo com isso.

— Mudar a primeira vez é um processo doloroso —, Pablo me avisou. — Especialmente para alguém com ancestralidade mínima.

— O que você quer fazer, me convidar para um drinque primeiro? — Eu atirei de volta.

Esteban bufou. — Você sabe, eu acho que ele pode realmente se encaixar na família.

** 

Olá lobinhes,

ai ai.. Miguel não sacou que ele quer marcar o Sandro como companheiro. hahahahaha. e o Esteban gostou do genro. hahahaha. bora ver o que vai acontecer agora.

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bjokas e até a próxima att.