ERA DE BRONZE - UM ANO ANTES DO FIM

Sangue pingou no chão. Ou brotou da terra, como se o solo estivesse vivo e ferido. Era difícil dizer quando sua visão estava turva de medo.

Mas medo de quê?

Estrith piscou, despertando.

O sangue jorrava dos lábios daquela criatura, aquilo que não era um homem, e tampouco sangrava como um. Borbulhava para fora de uma boca pálida entreaberta, uma coisa enegrecida e distorcida. Podre de poder.

Uma força tão esmagadora que apenas um olhar arrancou de Estrith a realidade, afundando-a em um transe profundo, como um sonho distante em que se perdia em pensamentos falsos e ilusões sorrateiras que, por pouco, não a engoliram até os ossos.

No horizonte, um relâmpago amarelo cortou o céu carregado, que escurecia conforme o sol se punha e as nuvens pesadas se aproximavam.

Aquele par de olhos negros e ávidos encarou-a, refletindo a luz dourada e então a engolindo, como se a escuridão por trás estivesse faminta.

Então Estrith entendeu que, se não fosse pela lâmina que acabara de enfiar no peito dele, ela seria a próxima a ser devorada.