• Uno
09/01/2024
Terça-feira
Vi o cais de longe, naquele dia, Daniel havia me chamado para passear de iate, e eu prontamente aceitei, adoro andar de iate e sentir o vento sobre os meus cabelos.
O dia estava ensolarado, e confesso que adoro esse clima, pois me traz uma sensação de liberdade e renovação, e o céu azul, com poucas nuvens à vista, parecia mostrar que seria um ótimo dia.
Enquanto caminhávamos em direção à doca, Daniel segurou a minha mão, e eu senti o calor suave do sol aquecendo minha pele, o canto dos pássaros me lembrava das manhãs que passava com meu avô e eu logo dei um sorriso ao pensar nele. Era como se o mundo inteiro sorrisse para mim naquele momento e me convidasse a deixar as preocupações de lado e aproveitar cada instante.
Não demorou, e logo chegamos no pequeno iate que era do pai de Daniel, ancorado no pequeno cais de madeira. O azul das listras já estava um pouco desgastado pelo tempo, mas ainda assim o iate parecia sólido. Olhei para a embarcação com um misto de nostalgia, e logo me lembrei das vezes que nós dois passeamos nele e tudo que havíamos vivido ali.
— Pronta para zarpar? — ele perguntou, me tirando dos meus pensamentos.
— Claro que sim, adoro essas viagens.
Senti a brisa do mar me abraçar, e o cheiro salgado que sempre me acalma veio sobre mim sem pedir licença. Aquele dia prometia ser especial, e, de alguma forma, eu sabia que aquela viagem mudaria tudo.
Subimos no iate e logo fomos para a parte superior onde havia um pequeno deck que continha assentos acolchoados, já na proa, havia duas espreguiçadeiras ideais para aproveitar o sol e pegar um bronzeado.
Me sentei no banco, e Daniel colocou a cesta de piquenique que carregava no chão, ele logo foi até a cabine e começou a pilotar o iate com a mesma destreza e calma que sempre admirei.
Eu me levantei de onde estou e logo o segui, o vento bagunçou os meus cabelos, e os meus fios ruivos balançaram furiosamente. Cheguei perto de Daniel, e ele se virou para me olhar, seus olhos estavam brilhando sob a luz do sol, e sem dizer uma palavra, ele me puxou suavemente para mais perto e me deu um beijo nos lábios, o tipo de beijo que fez o coração acelerar.
Daniel pilotou para mais longe e quando estávamos um pouco mais afastados do cais, ele largou o controle e me chamou de volta à parte superior, e ali preparamos a mesa com as comidas que havíamos levado, e depois que tudo estava arrumado, nos sentamos nos bancos e ele me olhou com admiração.
— Tu estás linda, hoje.
Dei um sorriso e me inclinei para beijá-lo nos lábios, nós então começamos a conversar amenidades enquanto comíamos calmamente, e quando terminamos, eu me acheguei nos seus braços, sentindo o calor do abraço dele me envolver, e ficamos ali, em silêncio, observando o mar calmo se estender até o horizonte.
A brisa suave vinha ao nosso encontro, trazendo o cheiro salgado do oceano e fazendo o iate balançar levemente. O som das ondas chegava como uma melodia que só o mar sabia cantar, Daniel acariciava meus cabelos, e eu podia sentir seu coração bater junto ao meu. Não era preciso dizer nada, o momento falava por si só.
— Tá gostando do passeio? — ele perguntou.
— Estou amando, adoro passear contigo.
Daniel soltou meu corpo do seu, mas o seu cheiro ainda ficou impregnado em mim, logo vi ele dar um passo para trás buscando algo no bolso da sua calça enquanto mantinha um sorriso misterioso no rosto. Meu coração começou a bater mais rápido, e uma onda de antecipação tomou conta de mim.
Ele então se ajoelhou na minha frente, seus olhos se fixaram nos meus, cheios de emoção. Naquele instante, tudo ao redor pareceu sumir: o som das ondas, o vento suave, até o balanço do iate. Só existíamos nós dois, e percebi tudo antes mesmo de ele dizer uma palavra.
— Eu sempre soube que queria passar o resto da minha vida contigo desde o primeiro momento que te vi — ele disse, com a voz trêmula, mas firme. — Quer se casar comigo, Heloísa Marques?
Meu coração pareceu querer sair do peito, senti meus olhos se encherem d'água e um sorriso se formou no meu rosto. Tudo naquele momento era perfeito, como se o universo tivesse conspirado para que estivéssemos ali, naquele iate, sob o céu infinito, selando um futuro que, no fundo, eu já sabia que queria ao lado dele.
— Sim, claro que sim.
Daniel pegou a minha mão direita e colocou o anel no meu dedo, eu então o puxei para lhe dar um beijo intenso, ele me pegou com cuidado e me levou até o pequeno quarto, a cama estreita encostada no canto estava coberta com uma manta nova, e percebi o cuidado que ele teve para arrumar tudo e fazer com que tudo ficasse perfeito.
Daniel me deitou na cama com cuidado, e ali, naquele quarto que compartilhou vários momentos entre nós dois, não consegui disfarçar o sorriso. Tudo estava perfeito: o mar lá fora, o céu infinito que parecia nos abençoar, e nós dois, juntos, compartilhando um momento que parecia tirado de um sonho.
Daniel acariciou meu rosto, seus dedos traçando caminhos que ele já conhecia como ninguém, e seus olhos encontraram os meus, cheios de promessas silenciosas.
— Tu és tudo o que eu sempre quis — ele sussurrou...
— Helô... — ouço uma voz me tirar dos meus pensamentos e logo avisto minha avó se aproximar de mim. — Estava longe, Rouxinol, estava pensando em que?
— Estava me lembrando de quando o Daniel me pediu em casamento no iate do pai dele.
— O seu casamento está perto, não é!? — ela pergunta e eu afirmo com a cabeça. — Mas tu pareces tão desanimada, não era o que tu sempre querias?
— Não sei — respondi, com a voz baixa. — No começo, acho que sim. Era tudo o que eu sonhava, mas depois percebi que eu funciono melhor sozinha. Gosto de ser livre, não sei se estou pronta para dividir a minha vida e o meu espaço com outra pessoa.
Minha avó me analisa com seus olhos que sempre souberam me ler como ninguém. Ela sempre soube quem eu era, talvez até melhor do que eu mesma, sempre soube que eu nunca me encaixava nas expectativas dos outros e sempre fui eu mesma, sem me preocupar com o que os outros esperavam de mim.
Eu tinha o espírito livre, e ela sabia bem disso, talvez fosse um pouco rebelde, mas não gostava de me apegar com ninguém. Não porque fosse insensível, mas porque me sentia mais inteira quando podia andar sozinha, sem amarras.
Ela sorri levemente, como quem entendesse tudo o que estava acontecendo.
— Tu sempre foi assim, minha filha — ela diz, com aquela voz que sempre me acalmava. — Livre. Confesso que até hoje nunca compreendi como tu ficaste tanto tempo com Daniel e aceitado o pedido de casamento dele.
— Acho que aceitei por conta do calor do momento, mas depois percebi que tinha feito algo errado, e agora, parece que estou entrando em algo que não sei se posso controlar. Eu sinto falta de mim mesma, de quem eu sou sem precisar dar explicações.
— Isso não é ruim, e só tu pode saber o que é melhor para ti.
Dou um sorriso ao ouvir as palavras da minha avó, ela então me observa mais uma vez, e me chama com entusiasmo como se uma luz estivesse brilhando na cabeça dela.
— Vamos ali, quero te mostrar uma coisa.
— O quê? — pergunto com curiosidade.
— Surpresa.
Acompanho minha avó que seguiu até a garagem, e logo nós adentramos no seu carro e partimos para o lugar desconhecido, vovó continua atenta na viagem, e logo vejo ela seguir para mais longe, e então percebo que estamos indo para o sítio que ela tinha.
— Estamos indo no Pétala de Rosa?
Ela concorda com a cabeça e voltamos a conversar sobre os últimos acontecimentos que rondava a nossa família, meu pai, filho dela, trabalhava como médico e empresário de um grande ramo hospitalar de Porto Alegre, e estava muito animado com o meu casamento com Daniel, principalmente porque o meu sogro era um possível sócio que o ajudaria na sua empresa.
Minha mãe, Patrícia, era uma renomada empresária dona de uma rede de lojas de bolsas, adorava se arrumar e ao contrário de mim, era completamente vaidosa, mas apesar das nossas diferenças, ela era uma pessoa adorável.
Já os meus irmãos, Victor e Rodrigo, eram como água e óleo, não se pareciam em nada, Victor era mais ambicioso, era cardiologista e secretário executivo da empresa de papai, e mesmo que ele não dissesse, sabíamos que ele esperava que um dia a empresa fosse para o seu nome.
Rodrigo era completamente diferente, e era o mais apegado comigo. Nós dois éramos unidos desde a infância, nos entendíamos apenas com o olhar, e ele sabia me ler como ninguém. Ele era o caos onde eu encontrava calma, e eu era o silêncio que acalmava a tempestade dentro dele.
Não demora muito e chegamos no sítio de vovó, vejo ela pegar o celular e logo ela liga para o caseiro que morava e cuidava do local, e depois de pedir para que ele fosse abrir o portão para nós duas, ela encerra a ligação.
Alguns segundos depois, vimos um homem alto e forte aparecer na nossa frente, vovó dirige para dentro do sítio e o caseiro fecha o portão em seguida. Ela estaciona o carro embaixo de um grande cajueiro, e nós duas saímos do automóvel ao mesmo tempo.
— Bom dia, Joca — vovó o cumprimenta com um sorriso. — Tudo bem por aqui?
— Bom dia, dona Helena, tudo em ordem.
— E onde está Lúcia com as crianças?
— As crianças estão para a escola — ele responde enquanto cruza os braços. — Lúcia está lá dentro.
— Daqui a pouco vamos aonde ela — vovó comenta, e logo direciona a palavra para Joaquim. — Vamos lá no fundo, quero mostrar uma coisa pra Helô.
— Ela não quis me dizer o que é, seu Joca.
— O que a senhora vai mostrar pra menina Heloísa? — ele pergunta com curiosidade e minha avó chega mais perto dele para sussurrar sem que eu escute. — Ah, ela vai gostar.
— Vamos logo — eu os apresso —, quero ver o que é.
Os dois dão um sorriso e eu os sigo para o fundo do sítio. No local, havia uma varanda com algumas tralhas cobertas de poeira, havia algumas ferramentas antigas, cadeiras de balanço desgastadas e vasos de plantas esquecidos que ocupavam os cantos, cada objeto parecendo carregar histórias antigas que acabaram esquecidas pelo tempo.
Meu olhar então vai para o canto da parede, e ali eu vejo um objeto enorme coberto por uma lona grossa, seu Joca logo vai até ele e tira o plástico dali e meus olhos avistam um Kombi velha e desgastada pelo tempo. A pintura, que um dia havia sido branca e vibrante, agora estava amarelada e cheia de manchas de ferrugem.
Mas apesar do estado, havia algo de encantador nela, como se aquele veículo guardasse memórias preciosas, e eu então imagino as aventuras que foram vividas nela. Vovó logo percebe meu interesse e sorri, com um brilho nos olhos.
— Gostou da Kombi, Rouxinol? — eu concordo com a cabeça, e ela termina de falar. — Era do seu avô, e agora ela é sua.
— Sério? — pergunto sem acreditar. — Minha?
— Sim, eu estava pensando no que fazer com ela, mas com o seu jeito livre de ser, eu não encontraria pessoa melhor para tomar de conta dela do que tu.
— Meu Deus, vó. Obrigada, obrigada. Prometo que vou cuidar muito bem dela.
— Sei que vai — ela afirma com um sorriso, e logo pergunta para Joaquim. — E aí, Joca, acha que depois de uma reforma ela fica boa.
— Vai ficar como nova, às vezes eu ligo para fazer o motor funcionar, mas é melhor fazer uma verificação geral.
— Vamos deixar na oficina e pedir para reformarem.
Concordo com a cabeça e olho para a Kombi mais uma vez, deixo minha imaginação correr solta, e penso nas diversas histórias que iria viver com ela: viagens sem destino certo, noites estreladas em alguma estrada deserta, risos compartilhados entre amigos e aventuras memoráveis.
— Tá pensando nas aventuras que vai ter com a Kombi? — Vovó pergunta com um sorriso no rosto, e eu concordo com a cabeça.
Aquela Kombi, velha e desgastada, despertou algo dentro de mim. Uma vontade incontrolável de usá-la o mais rápido possível e criar memórias que um dia seriam apenas mais algumas marcas em sua lataria, mas que, para mim, seriam histórias que valem a pena ser contadas.
— Vamos trazê-la de volta à vida? — Vovó pergunta com entusiasmo.
— Vamos.
Depois de deixarmos a Kombi na oficina, eu e vovó retornamos para casa com uma alegria tremenda, não paramos de conversar nenhum minuto, falávamos sobre tudo: o passado, as viagens que ela fez quando jovem, e os planos que agora surgiam em minha mente como pequenos sonhos que eu ansiava para se tornar realidade.
Não demora muito e chegamos em casa, o local estava em silêncio, e logo nos perguntamos onde estava todo mundo, afinal, já era quase hora do almoço. Ouço minha avó falar que vai tomar um banho e que logo desceria para almoçarmos juntas, eu decido ir, também, mas vejo Rodrigo aparecer no local com uma expressão preocupada.
— Onde tu estavas? — ele pergunta com inquietação.
— Saí com vovó, o que aconteceu?
— Vem cá — ele me puxa pelo braço —, quero te mostrar uma coisa.
Sigo Rodrigo até o seu quarto e me sento na cama dele enquanto ele procura algo no seu celular, mas antes de me mostrar o que estava procurando, ele se senta ao meu lado e segura as minhas mãos.
— Lolô, antes de eu te mostrar o que eu vou te mostrar, saiba que tu és muito especial e merece as coisas mais lindas desse mundo.
— Rod, fala logo, eu tô ficando nervosa.
Rodrigo aperta os lábios como se buscasse alguma coragem para soltar as palavras que estavam presas na sua garganta.
— Então, eu fui ao pub ontem com o Fred, e quando entramos lá, eu vi o Daniel junto com a Carolina.
— Mas qual o problema? — pergunto com medo da sua resposta. — Eles são amigos.
— Eles não estavam como amigos, olha. — Ele me entrega o celular e ali eu vejo o que eu não queria ver. — Eles estavam como casal, desculpa, Lolô.
Fui passando as fotos enquanto sentia o mundo parar ao meu redor, meu coração começou a bater mais forte, e eu não estava querendo acreditar naquela traição dupla.
— Não pode ser — eu sussurro com a voz trêmula.
— Eu queria estar errado — Rodrigo responde com chateação. — Mas... eu não poderia deixar tu seres enganada assim.
Entrego o celular para Rodrigo que o guarda no bolso, logo eu o sinto se aproximar de mim para me dar um abraço forte, e o silêncio se instala entre nós dois. Sinto uma lágrima quente escorrer pelo meu rosto, mas não a enxugo, deixo ela cair enquanto olho para o chão me sentindo perdida em um turbilhão de sentimentos.
— Eu estou aqui, Lolô. Não importa o que aconteça.
— Obrigada.
— O que você vai fazer agora? — Ele pergunta com receio. — Vai terminar com ele?
Eu reflito por alguns segundos, e logo uma ideia vem à minha mente como uma promessa silenciosa de que aquela história ainda não havia terminado.
— Não!
Capítulo 1 postado, aqui vemos o pedido de casamento do Daniel para a Heloísa.
E os conselhos sábios da Helena para Heloísa? Ela conhece bem a neta que tem.
Conhece tão bem que deu um baita presente para ela. 🚐❤️
E a Helô descobrindo a traição dupla? O que acham que ela vai fazer? 🤔
Não demoro voltar, beijinhos. ✨❤️
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