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2 - Sangue

"Nunca é tão fácil perder-se como quando se julga conhecer o caminho."

Provérbio chinês.


Quando uma fada se afasta muito de sua origem mística, ela entra em um estado de banalidade, cada vez mais humana, perdendo seus poderes e esquecendo de onde veio. O maior pesadelo de uma criatura desse tipo é esquecer nossa preciosa Arcádia. Recobrei minha consciência em minha cela no templo. Não sei quantos dias haviam passado, mas a pequena janela do local indicava que já era noite.

Abri os olhos no exato momento que Devin me encarava de perto, sem entender que as coisas já estavam sob controle. Como pode imaginar, assustei-me com a proximidade dele, porque foi exatamente a última coisa que vi antes de perder a consciência. Involuntariamente eu o empurrei com força, usando as duas mãos em seu peito e me afastando para trás por impulso. De algum modo isso despertou meus poderes e Devin foi lançado com muito mais força, parando apenas quando suas costas atingiram a parede oposta.

Olhei para as minhas mãos em choque. Elas continuavam exatamente iguais. Minha saúde, no entanto, não, e senti que o lugar começava a desvanecer aos poucos. Devin, me encarava com medo e espanto, tocando o próprio peito como se sentisse uma dor acima do suportável. Não sei quanto da minha força eu usei nesse dia. Muito menos soube quão machucado meu amigo estava. Sei apenas que o olhar assustado dele me doeu bem mais do que a falta de energia que senti e assim, perdi a consciência de novo.

Um dos contatos que meu povo consegue ter com vocês, humanos, é através dos sonhos. A mente humana é uma das coisas mais lindas que vocês possuem, mesmo sem saber usar. A maioria dos homens acha que os sonhos são reflexos que a mente cria para que vocês possam assimilar e processar todos os conflitos que viveram ao longo do dia enquanto despertos. Parte disso é, sim, verdade. Mas na maioria das vezes somos nós interferindo na vida de vocês. Os sonhos mostram um pouco do que vivemos em Arcádia.

Já sonhou que voava, Christine? Ou que estava nua em frente à platéia que vai sempre te assistir no pub perto da universidade? Sonhos assim tem um pouco da nossa energia. Podemos inspirar arte, música, palavras, mas também temos a capacidade de passar medos e intuições. Não são apenas os seres feéricos que podem usar esse canal com os humanos, mas somos nós que temos as melhores habilidades para tal.

É através dos sonhos que nos mantemos longe da Banalidade porque os sonhos são a maior prova de que meu mundo existe. É assim, também, que conseguimos energia para nosso tipo de magia. Como pode ver, usei muito desse tipo de poder para me manter jovem e bonito, mas nunca se tratou apenas de vaidade. Por essa mesma energia é o que eu precisei durante todo meu período aqui para conseguir reabrir o portal e voltar para casa. Mas calma, vou chegar nessa parte da história logo.

Em meu segundo período inconsciente, finalmente pude tocar esse mundo maravilhoso dos sonhos. Obviamente minha mente deu um jeito de colocar Devin nesse lugar também, não fisicamente, mas numa espécie de projeção que pode acontecer às vezes.

Eu finalmente estava na minha forma real, lindo e grandioso como gostaria muito que visse, minha querida. Senti meus poderes de novo, bem fracos, mas reais e quando, andando pelo lugar onde eu vivia, meus olhos se depararam com a versão astral de Devin o vi em sua forma mais crua e assustadora. Sim, ele continuava diabolicamente lindo, mas seu olhar não era doce e gentil como eu estava acostumado. Tinha algo faminto por detrás do castanho. Quase como se ele me desejasse mais do que qualquer outra coisa no mundo. E ao invés de me assustar com esse desejo ávido, senti que o desejava com a mesma intensidade.

Nos encaramos por um longo tempo, sentindo todas as energias envolvidas entre nós e esse mundo fantástico que é a Arcádia. Tentei me aproximar, mas algo me segurava no mesmo lugar e pude ouvir sua voz pela segunda vez antes mesmo de te encontrar, décadas mais tarde. Você me pedia para não ir. Acredite, não estou dizendo isso apenas para que tenha pena de mim. É a verdade e quando me virei em direção à sua voz, não me surpreendi ao ver um rosto muito bonito se afastando. Não, não era o seu rosto, mas eu não sabia disso ainda.

Por segurança voltei a olhar para Devin, porque de alguma forma eu sentia que precisava dele tanto quanto precisava te obedecer e isso me deixou num paradoxo que me despertou. Devin já não estava na minha cela, aguardando que eu acordasse. Dessa vez eu estava sozinho e o sol já ia alto pela janela.

Dessa vez meu despertar me trouxe de novo a sensação de que o mundo tinha várias camadas. As cores estavam novamente se fundindo antes de mostrarem sua realidade e os sons me pregavam peça a todo momento, como se eu pudesse ouvir tudo o que já houvesse sido conversado dentro do meu quarto. Foi como se eu tivesse voltado ao meu estado mais jovem antes de deixar meu mundo. A diferença é que agora eu entendia do que se tratava tudo. Bastou uma "visita" rápida ao mundo dos sonho para entender que as coisas "diferentes" que eu via eram na verdade a energia mágica de cada objeto. Foi assim que eu entendi finalmente que era capaz de voltar. Bastava coletar e acumular isso para combinar com meus poderes e reabrir o portal. Infelizmente não era tão simples como parecia.

Pensei em procurar Devin, mas pensei que talvez ele não quisesse me ver, provavelmente por medo do que havia descoberto sobre mim. Decidi fazer uma caminhada e depois me limpar de todos aqueles dias inconsciente com um banho. O Templo das Almas fica numa montanha rodeada por uma floresta que os escritores descreveriam como encantada. E como toda floresta "encantada", ela tem sua cota de fontes e cascatas. Minha intenção era me banhar em uma delas, mesmo com a casa de banhos que os monges usavam dentro do templo.

Quanto mais em contato com a natureza, melhor seria para desanuviar minha mente confusa. Os anos junto dos monges, vivendo como humano, me aproximaram muito da Banalidade - um estado onde os faes começam a perder sua magia. De certo modo eu estava me tornando humano e o que quer que tenha acontecido junto dos budas sonolentos despertou o resto de energia mágica que havia em meu sangue.

Eu podia sentir com a mesma força os budas me chamando para aquele lugar de novo, mas forcei meus pés a irem na direção contrária e dei por mim num pequeno riacho à leste do templo. Os monges usam o lugar para lavar suas túnicas, minha intuição dizia que eu devia meditar ali.

Sentei-me numa pedra qualquer, cruzei as pernas e fechei os olhos, absorto nos sons novos que aquele lugar e minha nova condição me davam. Tentei ignorar o sopro do vento que vinha da direção de onde havia aquela estátua gorducha e suas réplicas ocultas, mas quanto mais eu entrava nas profundezas da minha própria mente, mais eu me aproximava deles espiritualmente. Talvez seja essa a verdadeira razão porque tantas pessoas gostam da meditação, a capacidade que ela dá à mente de viajar de alguma forma.

Respirei fundo e fiz como os monges haviam ensinado, desviando dos pensamentos mundanos e tentando me conectar ao criador. Não ha exatamente um desse tipo para a minha espécie, mas no meu desespero para entender as pistas que eu tinha, apelar para o deus humano as vezes é útil.

— Você não é humano, é? — uma voz sussurrou em meu ouvido depois de algum tempo. O susto me fez abrir os olhos e os braços e então cai com tudo no riacho. Tive a impressão de que pouco antes do susto estivesse flutuando, mas acreditei que fosse apenas a minha mente perdida na meditação.

A risada de Devin me trouxe de volta à cena e me peguei rindo junto com ele, aliviado porque aparentemente ele não tinha medo de mim. Um dos meus maiores receios era perder o apreço que ele tinha por mim dentre todos os outros monges. Fiquei muito dependente disso e confesso que não via meu caminho com clareza se ele não estivesse presente.

Quando ele esticou o braço para me ajudar a sair da água, segui meu instinto e o puxei para junto de mim, espalhando água em todas as direções quando caímos juntos. O riacho não era muito profundo, era como uma piscina rasa, e era limpo em todo o seu redor por ser usado para as roupas e túnicas do templo.

— O irmão Kai vai nos matar! — gritou ele rindo e jogando mais água em minha direção. Tentou sair, mas me joguei sobre ele, ainda brincando e o puxei de volta.

— O irmão Kai está ocupado cuidando da horta.

— E por isso vamos ficar aqui como duas crianças?

— É. — respondi com simplicidade, sorrindo e o abraçando para logo em seguida empurrá-lo de novo para dentro da água.

Devin é um homem forte, como já disse no começo, mas achei que fosse ceder ao meu peso quando brinquei. Ele não se moveu um centímetro. Apenas segurou-me abaixo dos braços e me colocou de pé a sua frente, sério de repente. Imediatamente me lembrei do sonho, da beleza dele e de como estava assustadoramente lindo. A versão a minha frente era mais branda, gentil e com os olhos amendoados mais amigáveis que eu podia ter me encarando.

— Não respondeu minha pergunta. — falou ainda me encarando. Não percebi, mas as mãos dele ainda estavam em minha cintura. A única coisa que eu via era o rosto dele. Acompanhei com o olhar quando uma gota escorreu do cabelo na testa, para a sobrancelha e depois para as têmporas e o maxilar.

— O que disse? — perguntei finalmente olhando-o nos olhos.

— Você não é humano, é?

— Eu não... o que quer dizer?

— Taehyung... você estava agora ha pouco flutuando sobre o riacho. Eu vi.

Não me olhe com essa cara, Christine. Eu gosto de uma boa história, você sabe disso. Pensei que fosse gostar de saber como foi quando Devin descobriu que eu não sou humano. Ele foi mais compreensível do que você, na minha opinião. Mas ainda não é a hora de você entrar nessa história. Terá seu momento, prometo.

Meu coração, no momento em que ouvi as palavras saindo da boca de Devin, batia freneticamente no peito. Eu não sabia dizer se era por conta da brincadeira, da proximidade entre mim e ele ou se era pela descoberta em si. Algo me dizia que Devin já sabia disso desde o primeiro dia, mas meu coração insistia em acreditar que isso havia acontecido no campo dos budas.

— Eu posso explicar. — respondi tentando me afastar. Ele me segurou com firmeza, passando os braços ao redor da minha cintura e me aproximando mais de si, para que eu não fugisse.

— Não fuja. — sussurrou.

— Eu não ia... — mas não consegui responder, preso no olhar dele em minha boca. — Por favor, me solte. — pedi, ansioso.

— Eu que deveria ter medo.

— E não tem?

Devin olhou fundo em minha alma, naquele momento, respondendo com os olhos que não. A segurança com que ele me mantinha em seus braços era bem evidente também. Era como se ele estivesse esperando alguma reação minha. Alguma reação mágica, entende? Mas tudo o que eu consegui foi sentir meu corpo humano reagindo.

Em Arcádia nos entregamos ao desejo e ao amor apenas por ser, não por conveniências ou tradições retrógradas. Desejo é desejo. E pela primeira vez senti meu corpo humano tendo desejo. Em vez de respondê-lo eu completei a distância entre nós e o beijei. Foi com simplicidade, verdade, mas senti minha mente expandindo mais ainda assim que nossos lábios se tocaram, então me afastei rápido, confuso.

— Sinto muito. — falei tentando andar até a margem do riacho para sair e me secar. — Acho que ainda não me recuperei totalmente do mal estar. — completei já me afastando.

Ele me alcançou com muita facilidade e segurou meu braço antes que eu finalmente pisasse em solo seco e firme.

— Taehyung, espere eu...

— Tudo bem. Eu perdi o controle. O sol está muito forte, talvez tenha afetado nós dois. — respondi sem realmente olhá-lo nos olhos.

— O que?

— Aposto que deve ter sido bem assustador achar que eu estava flutuando. — brinquei abaixando a cabeça e tentando tirar um pouco de água dos olhos.

— Eu vi... hoje não foi a primeira vez que o vi fazendo algo assim e...

— Você está apenas confuso. — falei com mais firmeza, tirando a mão dele do meu braço e esboçando um sorriso sem jeito. — Estou cansado e com fome. Preciso entrar. — completei saindo do riacho.

Eu sabia que ele não tinha acreditado em minha "brincadeira", mas naquele momento eu ainda estava me acostumando com as sensações desse corpo humano, provocadas pela proximidade com Devin. Não sabia, mas já estava apaixonado por ele e foi isso que me afastou naquele momento.

Andei apenas alguns metros até que ele realmente me alcançasse. Não disse nada, apenas andou comigo por um tempo, me observando de perto enquanto eu torcia a barra da minha túnica e fingia que não o via. Foi nesse momento que reparamos que havia mais alguém ali e pelo olhar de espanto havia visto tudo, desde minha meditação até o beijo tímido que troquei com Devin.

Os olhos dele ficaram enormes em choque e eu parei no mesmo lugar sem saber o que fazer. Ficamos os três nos encarando por longos minutos, até que o monge decidiu fugir e eu apenas senti a rapidez com que Devin o perseguiu.

— Devin! — gritei, mas ele já estava longe.

Fiz menção de ir atrás dos dois, mas meus pés permaneceram no mesmo lugar em choque. É difícil decidir o que fazer quando alguém descobre sua verdadeira natureza. Fugir passou pela minha cabeça várias vezes, ao mesmo tempo que eu lembrava o tempo todo de como havia sido bem recebido pelos monges ali. O templo não era naquele lugar sem motivo, e tenho certeza de que os mais velhos sabem que há muita energia mágica naquela montanha, ou não teriam tantos lugares estratégicos para meditação, oração e treinamento. Do mesmo jeito que eles não sabiam algo sobre mim, eu não sabia muito sobre eles, mesmo vivendo ali há algum tempo.

Realmente fiquei sem saber o que fazer, então forcei meus pés a se moverem devagar, em direção ao meu quarto. Ia definir se fugiria ou não assim que alcançasse a paz dos meus aposentos. Claro que não cheguei a ir muito longe. Um movimento na mata me fez congelar no lugar, esperando que meus irmãos saíssem depois de terem se entendido. Fui inocente em meu julgamento. Devin saiu sozinho. Lavado em sangue. 


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Nota da autora: a ilustração da mídia desse capítulo foi feita por Mr Einikis e eu achei ela no Pinterest. 

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