Capítulo 13: É melhor estar morta
Roma
"A dor de um tiro é realmente horrível." Era tudo que conseguia pensar enquanto estava em queda livre. Gotículas ínfimas do meu sangue fugiam do buraco criado em minha barriga. "Em queda, por um calibre doze... Pelo menos não vou precisar pagar o conserto do apartamento." Que estilo de morte nada agradável. Podia sentir parte dos meus órgãos tentando saltar pela ferida. Pousei a mão sob ela para que evitasse ficar pior.
Uma sombra atravessou a abertura do apartamento. Sombria e veloz. Com o vigor de um felino caçador. O indivíduo pisou em meu peito para que caíssemos em maior velocidade.
Assim que colidimos com o chão, minhas costas serviram de amortecedor ao rapaz. Meu corpo afundou no cimento.
— Extremamente resistente. Realmente é a maga mais poderosa do Rio.
Ele usava um traje preto pouco colado ao corpo, sobreposto por uma camisa e calça carmesim. Com uma das pernas pressionava o coturno contra meu braço, para que eu continuasse acordada e fosse torturada pela dor da ferida.
— Está doendo? — Continuava a desdenhar.
— Que merda de pergunta é essa. — Cuspi o acúmulo de sangue tão forte que resvalou no rosto dele. — Sua mãe por acaso te pariu pelo rabo!?
— Provida de uma família tão elevada, imaginei ser mais educada. — Ele tinha um rosto delicado, angelical e romântico, quase como o de uma menina. Os cabelos loiros cacheados que desciam o rosto o davam um aspecto andrógeno. — Senhorita Grozny.
Deitei novamente minha nuca contra o concreto. Os olhos estavam começando a pesar, e a visão embaçava aos poucos. Talvez não devesse ter prometido tantos avanços contra Heliel como havia feito. Ia morrer antes mesmo de concluir tudo que prometi.
— Acorda. — Ele pisou mais forte em minha mão, e em meus órgãos. — O lobo vai querer falar com você. Ele tem esse fetiche em humilhar os outros.
O garoto saiu de cima de mim. Usava luvas de couro, e fez questão de retirar uma delas. Suas unhas eram grandes e pontiagudas. Ele furou a lateral do pescoço com elas, e deixou o sangue escorrer. Em seguida se agachou e me pôs em seu colo. Me segurava com certa facilidade — Estranha força para seu porte físico. — E gentileza.
— Chupe.
Fiquei estática com o comando.
— Chupe meu pescoço, puta. — Me encarou. — Meu sangue vai te ajudar a continuar viva.
Obedeci a seu comando, sem contestá-lo. Ele tinha mana fluindo no corpo. Era claramente um mago, e nem um pouco fraco. Caminhou para dentro do prédio, e começou a caminhar comigo para o elevador. Enquanto eu o chupava como se tivesse encontrado água na fresta de uma rocha no meio da floresta.
Assim que chegamos no andar, ele continuou a me carregar no colo para dentro do apartamento. Ele me colocou sentada na poltrona. Assim que parei de sugar seu sangue, a dor em minha ferida voltou a apontar.
Fiquei acordada, ainda segurando meus órgãos, enquanto olhava para um velho de aparentes 60 anos, com corpo bruto, apontava uma pistola para a cabeça da adormecida Dandara. Ouvi alguns barulhos vindo do corredor, enquanto seu comparsa trazia Bruno e Gael. — Faz qualquer merda e a gente explode os miolos dela! — Dizia a respeito da Dandara. Os outros tinham sido algemados com algemas de anulação de magia.
— Coloque o Gael do lado dela. — O velho pediu. — São os únicos que preciso conversar.
Olhei aos meus aliados. Imobilizados. Que patético, nem parecíamos magos. Tão pouco podia-se dizer que éramos fortes. Todos subjugados por um mago e dois homens comuns. Um velho e um sociopata.
— Algemas anula-magia. Armas de alto calibre. Bombas de uso militar. — Pontuei. — Vocês devem ter anos de experiência no exército.
— Diferente do teu irmão, você fez carreira militar antes de se tornar uma piada heroica. — O velho respondeu. — Só um militar para reconhecer o outro.
— O que devo as honras... — Não sabia a patente dele.
— Lobo. Coronel Lobo. — Respondeu. O que não devia ser o nome verdadeiro. — Vim vingar o meu antigo aluno. Soube que vocês auxiliaram na execução dele.
— Depende. — Debochei. — Viu como está o Rio de Janeiro. Muita gente morreu.
Lobo trincou os dentes, o bigode chegou a eriçar. Ele ergueu a pistola e disparou contra o meu ombro. A bala rasgou meus tendões. Dei um grito de lamúria, mas tentei aos poucos controlar o escárnio.
— Para com essa merda! — Gael gritou, assustado.
— A próxima. — Voltou a apontar a Dandara. — É nela.
— Calma Gael. — Cansada, encarei a íris do Coronel — Quem é seu antigo aluno? — O perguntei.
Pude ver ele voltar a ficar com raiva na expressão feroz que tinha no rosto.
— Para de fingir que não sabe de quem eu estou falando!
Ele estava indignado. Não saber, de fato, quem pudesse ser, o deixava angustiado. Era como se estivesse desonrando a memória dessa pessoa. Mas quem? Quem era esse aluno? Militares, de alta patente, com poderes militares acima do normal.
Quem?
Quem?
Ah! Claro...
Soltei o ar preso no peito. Era óbvio. Não existia como aquela criatura que chamavam de homem ter amigos diferentes destes que me apresentam. Até mesmo a forma de tratar os magos era igual. Era tão óbvio.
— Você é o mestre do Pavlov. — Respondi. Pude ver a expressão de surpresa no rosto de Gael. — Nosso falecido Tenente.
— E vocês estavam com ele antes da prisão. Possuem ligação indireta das acusações feitas pela operação dele com a morte do Governador e a prisão indevida por parte da corporação corrupta da B.M.O.E
Eu fiquei tão obcecada naquela época em seguir o Ivan, em atacar o meu irmão. Em ir no procedimento com a vingança, que mal dei importância dos acontecimentos que culminaram na morte de Pavlov.
"Se eu tivesse ido lá, poderia ter salvo ele." Era óbvio. Muito mais fácil que ele vivesse como um foragido, do que morto. Eu soltei uma risada, nada animada. — Puta merda.
— Luana disse que foi um pedido dele para que não fosse salvo. — Gael respondeu ao Lobo. — Desde que o Barão tinha descoberto os planos de ataque do Pavlov ao tráfico de drogas, ele sabia que teria de eliminá-lo algum momento.
— Nós não o colocamos dentro da cadeia. — Complementei. — Mas somos culpados... culpados em não termos o salvo. Desrespeitado a ordem dele uma única vez.
Lobo olhou frenético para a própria pistola. Irritadiço com nossas falas. Como se não quisesse crer que era verdade. Mesmo a sinceridade tendo atravessado seu peito. Ele não queria. Com tudo que fosse mais sagrado. Lobo só queria matar todos aqueles próximos de seu amado aluno. Ele apontou a arma pra mim, outra vez.
— Lobo. — Ícaro o chamou. Trouxe o coronel a realidade. — A gente tinha estudado todas as informações. Eles não estão mentindo, você sabe.
... — Permaneceu em silêncio.
— O que vocês planejam fazer? — O novato me perguntou. — Com magos federais isso com certeza não é uma festa de boas-vindas.
— Vamos atrás dele. Em Brasília. — Olhei ao lobo. — Venham conosco.
Lobo soltou a Dandara, e caminhou para próximo de nós. Ele pegou a calibre doze que estava solta no balcão da cozinha. Seus aliados compreenderam que era o momento de sair de lá. Começaram a se dirigir para o portão do apartamento.
— Me encontra quando melhorar. Na B.M.O.E. Conversaremos sobre isso. — Lobo respondeu. — Eu preciso contar a você uma coisa sobre o Barão. E também sobre o Pavlov.
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