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Capítulo 14

Desviei do cruzado de direita que ia macetar o tímpano. Contudo, focada demais, não tive reação para me defender da joelhada na boca do estômago. — Argh! — berrei. Ele me pegou pelo colarinho e o braço esquerdo e suspendeu meu corpo no ar. Me arremessou para longe.

Usei da mana para melhorar os reflexos, e evitar cair feio. Recobri a postura. Levantei.

— Está cansada? Senhorita Grozny? — debochou. — Não se recuperou da última surra?

— Vai à merda, Pavlov!

Expandi minha mana. Saltei para cima dele. Comecei a desferir uma sequência de socos retos. O desgraçado era capaz de desviar de todos eles. Movia o tronco para trás ou esquivava para baixo. Os ataques só acertavam o vento. Passavam próximo ao rosto dele sem sequer amedrontar os pelos.

— Querendo me vencer sob meus termos? — Dizia enquanto esquivava. — Saiba que há um tempo limite para continuar atacando, pois prendemos o ar para mantermos o ritmo. No boxe isso é o detalhe entre uma vitória.

Soltei a respiração. Precisava puxar ar. Acabei conseguindo, e junto a ele um soco no maxilar. Pavlov não parou ali. Deu mais três socos no rosto, e me empurrou num chute. A força bruta do tenente me arremessou no salão de treino como pano. Rachei parte da parede.

— Por que não utilizou nenhuma magia? — perguntou.

Descolei da parede. As costas doíam, assim como o rosto. Mesmo usando da mana para melhorar a defesa do corpo, Pavlov tinha uma força grosseira.

— Não é óbvio? Eu posso te matar. — Mexi o pescoço.

— Bom. Se for capaz de fazer isso significará que é capaz de matar Ivan. — contestou. — Você precisa gastar mais mana, esqueceu? Se não usar de ataques mais poderosos vai desmaiar antes mesmo de chegar ao ponto máximo.

— Para um não-mago você sabe muito. — ironizei.

— É que já matei vários do teu calibre.

Fez-me engolir saliva com desgosto. Ainda processava parte da ameaça na cabeça, mas a outra afirmação era certa. Estava querendo mostrar a ele que era capaz de me controlar, mas se perdesse antes de deixá-lo no sufoco, de nada adiantaria. Precisava assumir o desejo que tinha oculto. "A vontade de matar esse filho da mãe que tanto me bate."

Contrai os joelhos e segurei a mana na extensão dos braços como se estivesse de arco e flecha. Queimava a mana que tinha para deixá-la mais poderosa. Fechei os olhos por um instante para que pudesse me focar.

Recebi um chute na parte posterior do joelho. Desconcentrada, a flecha voou ao chão. A explosão alçou concreto estilhaçado em pequenas pedras para todos os lados. Pavlov chutou meu rosto, e acabei afundando outra parede.

— Mais forte. — Acentuou. — Imagina que Ivan ia ficar sentado esperando você carregar sua magia?

Cuspi sangue, junto a ele um dente do fundo da boca. Pavlov era forte, e apanhar me incomodava. Não só tomar tanta porrada, como ouvir logo após o nome do cachorro que queria matar. Ivan.

A cena da candelária voltava toda vez.

"Para de falar o nome dele, policial de merda." Fiz a mesma posição. A perna da frente doía pelo chute, mas não podia perder a base. Queimava mana com velocidade, não podia permiti-lo me atacar de novo.

Pavlov começou a correr para cima de mim. Era rápido. Sentia-me enjaulada com um tigre faminto. A potência dos pés no chão fazia tremor. Ele estava próximo demais. "Merda, não queimei mana o suficiente. Isso tem que bastar!" Gritei, e mirei no peito dele.

"Flecha Vehuiah!"

O calor da magia rasgou queimando tudo que encostou. Como um raio de lazer atravessou Pavlov, e por alguns segundos não pude enxergar a presença do tenente. "Caralho, matei ele." Por não ter mana, era impossível perceber a presença vital daquele homem, mas ninguém iria sobreviver a tanta magia assim.

Só que eu não estava falando de qualquer homem. "Existem... Em raras ocasiões... Alguns nascimentos que nem mesmo nós, deuses, somos capazes de preceder. Esse feioso é um deles." O maldito aviso de Heket.

A camisa dele havia evaporado. Despojar do físico atlético e viril, que mostrava o poder através dos músculos da definição. Ele tinha colocado a mão no centro da magia, e a palma havia ficado um pouco queimada. Foi esse o efeito da magia.

"Só pode estar brincando. Essa flecha explodiu um Slaaf." Eu estava encarando um outro tipo de monstro?

— Eu não gosto deste teu rosto. — balançou a mão, como se tivesse adormecido.

Tive de parar de admirar o corpo dele, e me preparar para o pior. — Q-Que rosto?

— Você fica paralisada sempre que algo dá errado. Então esboça um rosto de frustração.

— Como eu não vou ficar frustrada? Usei muita mana e mal te fiz cócegas!

— Mas sou eu quem você precisa derrotar? — Ele alertou. — Você odeia o Ivan, ou a si mesma? Por não ter conseguido salvar o próprio irmão.

— O que!? — aumentei o tom de voz. — Cala a porra da boca Pavlov! Que tipo de golpe baixo você está usando!

— Ele não vai voltar.

— Para!

— Ele morreu.

A mana queimava ao meu redor mesmo sem tomar controle da flecha. Queria matar Pavlov antes que ele falasse algo a mais sobre Caleb. Nunca gostou dos Protetores, e fazia questão de amassar a realidade na minha cara. Então que se exploda. Destruiria ele se fosse necessário.

Desta vez, a magia estava toda concentrada num braço.

A flecha carregava num vermelho escuro, e misturava numa energia mágica que não era comum. A mesma que me deu quando lutei contra ele no Bar. Junto a ela sensações antigas retornavam. Uma sede por sangue subia, como se almeja a violência.

— Essa mana que você carrega. — Não saia da frente. — Os sentimentos. Não são seus. O Caleb colocou a mana dele dentro de ti. É por isso que você perde o controle. Além de o teu irmão ter uma mana poderosa, por instinto ela ativa emoções violentas.

Ele puxou a língua de Heket. Surgiu o número 6. Materializou-se no braço direito um cano acoplado ao membro. Metálico, é ligado a um cabo em algo redondo e pequeno nas costas.

"Besta Vehuiah!"

Quando soltei, o braço ricocheteou. Foi como se estivesse lançado um míssil. Magia forte o suficiente para destruir metade da B.M.O.E. Não me importava. Próximo a ele, Pavlov ligou a arma. Uma cobra de fogo saiu da boca do cano e bateu de encontro à flecha. Fogo e magia duelavam entre si para ver qual possuía mais poder para ultrapassar.

Até que a flecha ficou, aos poucos, fraca. O fogo a consumiu por completo e a magia desapareceu. Um lança-chamas. A segunda arma de Pavlov que estava tomando ciência. Não era como se eu tivesse pouca mana, mas gastei muito poder na última flecha. Sentia-me esgotada.

Ele se aproximava, e minhas pernas haviam travado no chão. Conforme a distância encurtava, meu peito era tomado pela sensação de morte. O cano bufou chamas, e o rosto dele não cedia. Estava com medo.

Então, Pavlov me abraçou. Jogou minha cabeça em seus peitos, enquanto fazia carinho na nuca com os dedos grossos. — Pare de ter medo de falhar. Eu estou aqui.

Nos encaramos.

— Se afaste! — Empurrei. — Eu ainda não acabei contigo!

"Eu... ele não me deixou perder o controle."

— Ainda tem algo aí dentro? Parabéns, não é tão verme quanto pensei.

Estava renovada. Sentia a magia fluir no braço. — Para sujeitos como você, tenho mana de sobra! 

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