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Capítulo 1

— Roma? — Caleb colocou meio pomo de adão na aresta da porta, e sorriu ao meu encontro. Dava para ver que meu irmão encarava abruptamente os instintos aos quais chamo de tremedeira na ponta dos dedos. — Nervosa?

O olhei de maneira cínica, ou o que chamamos de cara de bunda. Não era para menos, a resposta seria óbvia demais, principalmente pela careta que dispôs. Voltei a encarar a Roma do universo espelhado. Ela não estava nada confortável. Na verdade, via-se fracassada.

"Esse primeiro dia será um desastre" logo indaguei em silêncio.

Que merda estou pensando, é meu irmão, não posso decepcioná-lo.

— Seu primeiro dia também foi assim? — A pergunta o fez adentrar no cômodo. A presença dele era reconfortante, mas a altura dominava o recinto como um animal na savana.

— Não, eu matei um Slaaf e fui consagrado o Símbolo do Rio de Janeiro. — O gabar dele nos lábios grossos era tão soberbo. Meu corpo tremulava frente ao espelho. Era óbvio, aquele em definitivo estava longe de ser um dia comum. Mas por que ligar tanto para aparência? Talvez um instinto, construído em mim através dos venenos da sociedade para agradá-la. Aquilo que homens intelectuais chamam de Das-Man. Que porra de merda estou dizendo? É nervosismo, só pode. A mão tremia até para tocar no rosto ressecado. No meu reflexo não conseguia ver uma mulher de força, só uma amedrontada. — Depois fui para Lapa trepar com uma travesti.

— Isso foi motivador, Caleb. — Soquei forte no pomo. Parecia que havia batido numa parede de carne.

Retornei a encarar-me. As risadas tiraram pouco do anseio, ainda sim não o suficiente. "Merda, quantas vezes papai disse para fazer terapia..." Ouvi-lo me teria poupado de tantas enrascadas. Mas imaginava vê-los como Protetores. Na trilha de um caminho que fora dele. Trazia um sorriso no rosto indescritível. Era esquisito estar nervosa e animada.

— Se ele te visse agora, ia chorar. — Caleb chorava ao falar a frase. Ele havia copiado todos os trejeitos do papai.

— Não é legal me deixar emotiva agora, Caleb. — Quando encarei a Roma do universo espelhado uma última vez. Pude notar o ânimo nos lábios cerrados, que erguiam singelos, era verdadeiro. Falar de papai sempre me deixava bem.

Despojados de roupas leves, confortáveis o suficiente para qualquer confronto iminente. Sempre confiei que a cor turquesa combinava com meu estilo — Enquanto para Caleb, uma única calça de moletom bastava. Ele adorava esbanjar tatuagens em seu corpo cultivado pelo talento de briga. Acabamos por nos encontrar com os demais colegas no salão de nossa casa. A antiga casa do papai.

Era incrível ver a força da liderança de Caleb através de suas costas. Alguns dos magos que estavam ali trabalharam com papai antes mesmo do seu fim. Foram pupilos, que tinham pouco mais de três anos de diferença para meu irmão. Mesmo assim, o líder era o mais novo.

Ares, o leão de Deus.

Heliel, o justo.

Isadora, a domadora.

Henrique, o filho de Zeus.

Ruan, o inquebrável.

E o maior. Digo. O homem que sustenta a segurança do Rio de Janeiro através das próprias mãos. Caleb Grozny, o símbolo. Mesmo em poucos anos de convivência, após o legado de nosso pai, ainda era incrível visualizar aquilo. Os magos mais poderosos do Rio de Janeiro na minha frente. E agora, faria parte deles. Como uma Protetora. A equipe me acolheu entre abraços, apertos e saudações.

— Bem-vinda! Nova integrante dos protetores! — Ares foi o último a me dar o toque de pele. Assim como a magia que o compunha, ele era quente. Aconchegante por trás da estética esguia. Ficar tanto tempo segura em seus braços me deixava vermelha. Soltou-me.

— Agradeço a todos vocês! Isso aqui... — gaguejei — É o sonho do meu pai... E acima de tudo, o meu.

— Essa é a tua primeira patrulha oficial. — Caleb passou o braço pelo meu ombro. — Os outros tem eventos diferentes, então só lhe acompanhará eu, e...

— Eu! — Ruan o interrompeu. Era um antigo amigo de Caleb, e vivia junto a nossa família. Dava para perceber que eles já haviam planejado essa ideia.

Era confortável demais. Lar. Amigos. Família. Tudo em vista de apoiar a nova fase. Medo compunha as atitudes do corpo, mas não devia recuar. Não podia. Merda de sorriso...

Maldito seja esse tique. Sempre que estou em apuros sinto essa vontade de esboçar uma risada trevosa. Animada. Psicopata. Sem sentido. Com os companheiros prontos, saímos de casa, e fomos em direção ao centro carioca. Para iniciarmos uma ronda rotineira.

Saímos do Méier, zona norte. Lugar onde papai tinha tremendo afeto e recusava-se a fazer uma mudança. A família não nasceu de privilégios, nosso ascendente era escravo, mas o pai fez o caminho ficar mais fácil. "Só o respeito leva o preto para cima." Costumava dizer. Então sempre recusou nosso desejo infantil de morarmos na zona sul. Lar da burguesia carioca. Quando criança, pouco entendia, mas atualmente era apenas de se orgulhar. Nosso pai nos protegeu do veneno daquele lugar.

Íamos no carro do Ruan. O conforto do veículo grande e espaçoso me deixava afoita ao pensar atrás da janela. Os meninos colocaram pagode para tocar, num volume de tremer os tímpanos. Pelo trabalho de Caleb, era complicado vê-lo durante a semana. Por um singelo momento, contemplei vosso sorriso. As risadas das piadas escrotas. Alegria nos olhos.

— O que me olha tanto? — Me perguntou. Merda. Estava tão nostálgica. Era de fato a cara do papai.

— Nada. Só estou feliz... — Desabafei. Soltei o ar pesado do peito ansioso. Suava mesmo sem estar calor.

— Quero te dar isto. — Puxou do porta-malas uma caixinha. Ao abri-lá retirou uma pulseira. — papai havia me dado quando iniciei. Ele disse que me protegeria, pois era o amuleto da vovó quando ela era professora de magia.

No começo hesitei. A mão tremia até mesmo para avançar. Caleb era apegado a nossa vó. O amuleto era a única coisa que ele tinha de comunicável a ela. Nunca havia retirado do pulso. Ele puxou meu braço esquerdo, e com carinho pôs. A prata reluzia. O pomo de Eva bradava animado. Sorrimos um ao outro. Caleb era minha alma gêmea. Não era o amuleto da vovó que me dava segurança. Era ele.

A música da rádio parou. Tirou o transe. Os radialistas interromperam para comunicar uma notícia urgente. "Pedidos desculpas pela interrupção para um comunicado! A Igreja da Nossa Senhora da Candelária está sendo atacada por Slaafs! Segundo informações, a missa de páscoa foi cessada assim que dois viciados entraram na igreja e transformaram-se em Slaafs!"

— Ruan. — Caleb não precisou terminar a frase. O tom sério era decisivo. Ele olhou para mim, e despejou alegria — Fique conosco, e você salvará o dia hoje, tudo bem?

Acenei com a cabeça. Afirmei o desejo de Caleb. Mas o frio na barriga não passava. Ia para o combate no primeiro dia.

A cena era desoladora. Pessoas corriam em desespero. Fugiam dos prédios em que trabalhavam, e dos quiosques próximos. Os carros recuaram enquanto batiam uns nos outros. A fumaça subia tão veloz quanto os gritos alçaram o terror. Alguns mais corajosos — ou curiosos — mantinham-se numa distância nada segura. Filmavam com os celulares, faziam eventos aovivo. O desastre estava na mídia. Helicópteros sobrevoavam a candelária. Os jornais estavam de prontidão. Esperavam as ações dos Protetores.

Quem era capaz de parar os Slaafs?

Os magos mais poderosos do Rio.

Saímos do carro. Não dava para atravessar a pilha de engarrafamento. O resto do caminho seria a pé. — Para trás! Todo mundo para trás! — Ruan gritava imponente. Alguns respeitavam a ordem, outros, fofoqueiros, fingiam não ser com eles. — Volta seus porra! Volta caralho! — Ele berrou.

O grupo da esquerda, que filmava na calçada, não respeitou os urros de alerta. De repente, um pedaço de container voou na direção deles. Mais rápido do que podemos reagir. A força do metal arrancou os corpos para fora das pernas. Os membros inferiores ficaram ali, parados, como se olhassem o espetáculo. O sangue jorrou tão alto que tocou na minha bochecha. Pedaços de carne caíram sobre meu braço.

Mal percebi. Estava suja de sangue. Dos inocentes fofoqueiros. Os da direita fugiram. Viram que logo seriam eles os próximos. Não dava para mentir. Tremia como uma criança. Não observava mais as ações dos Protetores através de uma tela colorida. Era a realidade. Vida ou morte. Mesmo uma maga, não significava que era imortal.

— Roma! — Ouvi uma voz sussurrar. Tentava penetrar o zunido que acumulou nos tímpanos. — Roma! — A respiração acelerou. Ainda encarava as pernas prostradas em pé. Era desesperador. — Roma! — Caleb me balançou. Trouxe minha alma de volta ao presente. — Ajude a recuar a população! — Parada, ainda o olhava. — Vai!

O último grito me despertou de fato. Era para valer. O sentimento de estar tão próxima à morte. Como fazer a população recuar com educação? Se o retrato na candelária era brutal por causa dos monstros, a Avenida Marechal só piorava. Homens e mulheres pisoteavam crianças de rua como se fossem pedaços de papelão jogados ao chão. Sangue e carne dos moradores de rua esparramavam no asfalto quente. Como pedir para que parassem? O que era aquilo?

O lixo jogado ao chão. Corpos empobrecidos esmagados por sapatos de couro. Crianças gritavam por socorro, esmagadas pelos carros capotados enquanto viam seus corpos perfurados pelo metal. Uma em exclusiva tentava juntar suas tripas, que estavam espalhadas pela rua. Usava as mãos de modo desesperado, e puxava a ponta do órgão para tentar alcançar as pernas.

A crua humanidade carioca.

Ouvi um barulho nas costas. Virei o queixo, para observar de canto de olho. Um pedaço de coluna voava pelos céus. "Era a coluna da igreja?" Enorme. Ia cair pouco adiante de onde as pessoas fugiam. Logo olhei para frente. Uma mulher com crianças de colo, de roupa rasgada, com os seios de fora e panos sujos de lama e poeira da rua. Corria e chorava. Não ia conseguir fugir de ser esmagada.

Agi por instinto. Disparei na direção dela. Não podia ver mais corpos destroçados sem que mexesse um único músculo. Meus pés pareciam pesados, como se pisassem na areia movediça. Lutava contra a distância e velocidade. "A magia sua imbecil do caralho! Usa a porra da magia!" Não foi difícil me xingar pela falta de atenção.

Há um metro de distância de esmagar a cabeça dos inocentes. Consegui espatifar a coluna em pedaços. Usei do meu próprio corpo. Os fragmentos despedaçados voaram como gotículas de chuva ao redor. Pela falta de gritos, não machucaram ninguém.

— Obrigada! — Ela me agradeceu, antes de voltar a correr.

Era isso. O significado de ser um Protetor. A morte ao redor, e a sensação de alívio em salvar uma única vida. A ambiguidade do fracasso e sucesso. E todas as vidas cariocas que não somos capazes de abraçar.

O tremor fugiu do corpo. A adrenalina deixou os sentidos aguçados. Sentia a energia mágica fluindo no torso. O medo da morte. Da falha. A recompensa de salvar alguém. Tudo aquilo era o que Caleb sentia todos os dias — Caleb!? — Voltei à realidade.

Disparei para procurar meu irmão. Havia enfrentado uma coluna voadora. Era ele quem teria de matar os Slaafs.

Quando voltei ao epicentro do caos pude ver a pintura viva de um embate de deuses. O Slaaf tinha entre três e quatro metros de altura. O braço da criatura era composto das partes esquartejadas dos seres humanos que havia sido trucidado dentro da paróquia. Cabeças, pernas, braços, tripas. O conjunto da carne pendurada faziam moscas rodearem o monstro. Alguns urubus aventuravam as vidas para arrancarem a carne fresca. As pernas esguias tinham aspecto humano. O tronco era composto por enormes bocas que berravam um choramingo feminino desesperador. Como o choro de uma mulher em trabalho de parto. A pele do torso estava do avesso. Tudo que compunha o Slaaf era carne ensanguentada e dente pútrido.

Os urubus grasnavam. Buscavam espaço dentre os panteões, para alcançar os órgãos jogados no cenário de guerra.

Caleb a encarava, parado. Sem temor do horrível. O Slaaf alçou um dos braços, e o martelou para esmagar Caleb. O símbolo ergueu a palma da mão, como se quisesse tocar a criatura. Quando o ataque ficou próximo, meu coração palpitou em desespero. Tive vontade de gritar, fantasiando a morte do mais velho.

Ele contraiu os dedos, e o braço da criatura se espatifou em migalhas. O sangue banhou todo o corpo tatuado do Protetor. Pude vê-lo levantar o queixo para apreciar a chuva vermelha. Enquanto o Slaaf urrava de dor. O som estridente me doía os ouvidos, mas Caleb estava acostumado. Na verdade, ele parecia ter prazer.

Era o que todos queriam no fim. Ver Caleb destruir os vossos adversários. A magia dele era tão destrutiva que chegava a ser impossível enxergar brechas. O Slaaf recuou por instinto. Podiam ser deformados, mas não eram nada burros. Movia o tronco como se analisasse o cenário. Logo correu para a abertura criada no sul da igreja. Usou da paróquia para proteger a retaguarda. Dali retirou outros pedaços de concreto. Usou alguns blocos advindos da rua também.

O slaaf havia percebido que a curta distância era perigoso de enfrentar Caleb, então utilizou de objetos. — Merda... A ideia foi genial. — Caleb possuía dificuldades com a distância, e com múltiplos objetos, até porque só possuía duas mãos. O Protetor começou a ficar na defensiva. Fragmentos de diversos tamanhos eram arremessados. Ele direcionava as mãos para despedaçá-los numa distância segura, mesmo sem tocá-los.

— Caleb! — O gritei, mas estava distante, pouco provável de ser ouvida.

Comecei a correr pela lateral, precisava chegar atrás do Slaaf e ajudar meu irmão de algum modo. Com o uso da magia, eu consegui dar a volta na batalha num tempo hábil. Num lado onde a paróquia não estava destruída. O barulho intenso do monstro ainda me causava calafrios, mas precisava arriscar. Não podia perder meu irmão. Perderia a todos daquela cidade, menos meu irmão.

A magia fluía em cada célula, como se estivesse em transe. Era gostoso, e assustador, usar de tanto poder.

— É só isso!? Seu merda! — Caleb conseguia sobrepujar o choramingo do Slaaf, que parecia se irritar pelos xingamentos dele. — Eu pouco estou sangrando! Entretenha-me!

Num empurrão, eu destruí a parede da igreja, e assim que cheguei próxima do Slaaf, saltei. Por azar do destino. O monstro possuía um enorme olho nas costas, que me encarou no ato falho furtivo. "Merda, por que não fui pela entrada da capela?" Ela parou de jogar destroços em Caleb, e o braço deformado veio em minha direção.

Com tantas bocas, seria devorada se tentasse destruí-la a socos e chutes. Uma estratégia nada vantajosa. Estava com medo. Fechei os olhos. Aguardei o fim da minha vida fracassada. Consegui proteger uma família, enquanto outras morreram no caminho.

Senti um toque abaixo dos seios. Um abraço. Quando abri os olhos, era como se estivesse num sonho. Protegida por Caleb, que me segurava num dos braços. Com o outro havia espatifado o braço direito da criatura.

— E ai, irmã. Vamos acabar com ele juntos!? — O sorriso confiante. A característica cafajeste do papai.

Não tinha mais medo. Não mais.

Usei do poder guardado em mim para segurá-lo na madeira do teto. Joguei Caleb para o canto da igreja. Longe do perigo de ser devorado. Desprendi-me, indo a queda em direção ao Slaaf enraivecido. A energia mágica não conseguia ser contida em meu corpo. Ela escapava através da pele numa aura azulada ardente.

O Slaaf me engoliu. Ele me abocanhou com tanta vontade que os dentes trincaram. Ficou em silêncio. Ele digeriu a refeição. Até ser tarde demais para notar o veneno que tomou. Atravessei o estômago do Slaaf a socos. O sangue me banhou. E as tripas que desciam atrás de mim deixavam claro. A criatura espatifou-se no chão. Ele não ia mais se levantar.

Olhei para Caleb, possuída pela adrenalina. Animada. Ele retribuiu um sorriso. Parabenizou-me. A magia dele fazia-o criar asas verdejantes, e naquele cenário, era como estivesse na presença de um anjo que lutou defendendo a casa do pai.

— Acho que estou um pouco atrasado... — Olhei para a abertura macedônica feita pela criatura no lado sul da igreja.

Um negro, de dread branco, nos encarava. O sol que batia em vossa pele o endeusava no cenário caótico. Em seu olho esquerdo havia uma cicatriz que verticalizou até metade da bochecha. Na orelha direita uma argola pequena que tinha na ponta um crucifixo. Não só o sangue, mas a vestimenta também era carmesim.

Numa das mãos, pude logo notar. Ele segurava uma cabeça. — Espera... — Não era qualquer cabeça.

Logo suspirei desesperada. Levei a mão à boca para não gritar. Era a cabeça de Ruan. Ele usava os cabelos do Protetor morto para segurar o escalpo. O rosto do desconhecido era frívolo. De olhar tão enegrecido que parecia o abismo.

Era o próprio demônio.

Fitei Caleb, em busca de possuir dele uma posição para que pudéssemos atacar o inimigo. Só que ele estava irreconhecível. Caleb estava sério. Com medo. Um ato daqueles, em cima do melhor amigo, provavelmente o faria entrar em fúria. Apenas cautela, tudo que Caleb esbanjava era cautela. "O que é isso? Essa sensação de uma presença demoníaca. Tão poderosa."

— Ivan. — Caleb caminhou para minha frente. Gesticulava pelas mãos. Pedia calma. — Não precisamos chegar a isso.

— Acabou, Caleb. Todos dessa sociedade acreditam estarem combatendo o mal por causa de um símbolo. — Ivan arremessou a cabeça de Ruan sobre nossos pés — Esse símbolo precisa ser destruído.

Não houve tempo de uma tréplica. Ivan partiu como uma bala para cima de nós. Caleb não teve reação para atacá-lo. Eu estava na zona de ameaça. Senti o abraço dele, enquanto era jogada para o ponto de onde Ivan entrou.

Caleb usou da magia para me arremessar, e o uso me zuniu para fora da igreja. Não forte o suficiente para me matar, mas ele me machucou. Fiquei desnorteada no chão. Ouvia os barulhos e sentia os impactos das magias e socos trocados dentro da paróquia.

Caleb ameaçado? Quem ameaçaria o mago número um do Rio de Janeiro? Medonho imaginar.

Levantei meu semblante. Tentei me arrastar para dentro da igreja. "Preciso ajudar meu irmão! Preciso salvá-lo!" Proferia sem abrir a boca. Babava sangue como um cachorro ferido na estrada. Parecia estar com uma tonelada nas costas. "Merda! Usei muita magia! Levanta filha da puta! Levanta!" O desespero da incapacidade só me deixou a lacrimejar. O choro descia sem controle. Ouvia bramidos e gritos, alguns de desalento.

— Roma! — Meu nome, ressoado do alto da igreja.

— Caleb! — O respondi, feliz por ouvi-lo, mas ao ver seu rosto, o terror só teve a aumentar.

A boca babava sangue. O braço direito havia sido arrancado. Derramava sangue como uma cascata sobre a pele manchada pela batalha. Com o esquerdo, trêmulo e fraco, clamava por ajuda de maneira instintiva. Nunca imaginei ver isso do meu irmão. Não do Caleb. Minha alma gêmea. Não.

No meio do pomo de adão, possuía duas mãos com as palmas viradas para fora. Elas atravessavam o corpo de Caleb.

— Caleb! — Berrei.

As mãos fizeram força. Como um porco rasgado, elas partiram Caleb em dois. De modo moribundo, meu irmão foi jogado de cima da igreja. Um pedaço caiu próximo ao jardim amassado, e sujou as flores. O outro caiu na minha frente. Dava para ver o desespero dele. O último pedido de ajuda retratado no olho e na boca.

Ivan, o demônio. Permaneceu em cima da cruz. Olhava-me com desdém enquanto todo o Rio de Janeiro assistia.

A queda do símbolo de paz.

— Sociedade carioca! — Ivan berrava. Olhava para os helicópteros dos repórteres. — Esse é o início do fim das tuas violências contra negros e favelados para exaltação de magos que protegem uma burguesia racista e hipócrita! — Ele apontou aos céus — Matarei a todos os magos e policiais se preciso! Não permitirei mais operações policiais nas favelas! É o início de uma Era de libertação! O início de meu reinado!

Gritei em fúria. A raiva tomou conta de mim enquanto a magia se alastrava como uma névoa densa. A partir deste momento, pouco soube do meu destino.

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