6 - Que tal uma trégua?
Loki ficou parado por alguns segundos, talvez um pouco surpreso, ou até mesmo irritado após minha fala. Afastei meu rosto lentamente, voltando a encarar seus olhos e sentindo a pressão da adaga em meu pescoço diminuir, porém em nenhum momento afastei meu corpo do dele.
O Deus olhava para algum ponto no chão, parecia totalmente perdido em pensamentos. Pude perceber que o aperto na mão que segurava a adaga havia suavizado e perguntei-me se ele havia feito de propósito ou era apenas mais uma reação involuntária de nossa mais recente conversa.
Analisei seu rosto por completo pela milésima vez naquele momento antes que Loki pudesse voltar seu olhar fixo ao meu. Parecia tão calmo e impassível que me assustou levemente, mas não deixei que ele percebesse. Tentei sentir sua energia, mas era muito confusa, muito contraditória. Estava tranquilo, porém algo se agitava. Se eu pudesse descrever de alguma maneira seria algo como uma calmaria extremamente caótica, ou talvez um caos pacífico? De um jeito ou de outro, era um pouco embaralhado.
Ergui um dos cantos dos lábios em um sorriso fraco, tentando tirar mais alguma reação do homem, já que seu rosto continuava relaxado e indecifrável. Loki não moveu um músculo por mais alguns segundos, até que, em um piscar de olhos, com a rapidez de uma flecha sendo disparada sua expressão foi tomada por uma careta raivosa enquanto ele segurava firmemente meus cabelos perto da nuca com a mão livre e voltava a colocar pressão tanto no aperto da adaga em sua palma quanto em meu pescoço.
Seu movimento repentino surpreendeu-me, então involuntariamente segurei um de seus braços e tentei dar um passo para trás, mas Loki acompanhou meu corpo, não deixando que eu me separasse dele nenhum centímetro. Ele puxava meus cabelos para baixo com certa força, fazendo com que eu inclinasse a cabeça por conta da leve dor que o gesto causava, e se ele pressionasse mais um pouco a adaga em meu pescoço, provavelmente deixaria um corte.
— Acha que está em posição de exigir alguma coisa, midgardiana medíocre? — Ele bradou entredentes. Seus olhos ardiam em raiva.
Ele encarou meus olhos intensamente, como se pudesse acabar com toda a minha existência apenas com o olhar. Fiquei em silêncio alguns segundos, com a minha melhor expressão assustada no rosto, antes de simplesmente relaxar e finalmente sorrir em sua direção, divertindo-me com a reação do homem. Confesso que esperava algo um pouco mais emocionante, pensei enquanto observava pura confusão misturar-se a sua raiva e irritação.
— Mas é claro que estou, Branca de Neve. — respondi de maneira sarcástica, ainda com um sorriso no rosto. Loki pareceu irritar-se ainda mais.
— Pare de me chamar assim. — A pressão da adaga aumentou levemente. — Eu sou o Rei, um Deus, quem você pensa que é achando que pode distribuir ordens e intimações?
— Oh, me desculpe, vossa majestade, será um prazer clarear sua mente. — Continuei com a ironia na voz e o sorriso no rosto, tentando ignorar a leve irritação que se formava em um possível machucado onde a adaga estava posicionada. — Sou a única que sabe que está vivo.
— Está me ameaçando? — Ele franziu as sobrancelhas.
— Não... — Fiz uma pausa, encarando o teto por alguns segundos enquanto torcia o nariz, pensativa, antes de voltar a buscar os olhos de Loki. — Bem, sim. Mas não precisamos ir pra esse lado, não acha?
— Eu mando você de volta para o buraco de onde veio.
— Eu continuaria voltando, para sua alegria.
— Eu poderia te matar agora mesmo. — Revirei os olhos, impaciente, começando a ficar com um pouco de dor na nuca por conta da inclinação da cabeça.
— Ah, por favor, se me quisesse morta já teria me matado desde quando descobri que não era Odin naquele trono. — disse, enquanto empurrava-o para longe de mim, afastando-o.
Ele não resistiu à minha ação, finalmente afrouxando o aperto dos meus fios de cabelo e da adaga contra meu pescoço, dando um pequeno passo para trás em seguida. Girei a cabeça e uma careta de dor surgiu em meu rosto pelo alongamento repentino dos músculos da nuca. Em seguida levei minha mão ao local onde a lâmina da adaga estava encostada no meu pescoço. Senti o relevo de um pequeno corte e ao afastar meus dedos, vi que estavam levemente sujos com uma coloração vermelha.
— O que quer aqui? — Ele perguntou. Parecia mais calmo, mas eu não confiaria, ele sabia esconder muito bem.
— Já disse. — respondi, voltando a fixar meus olhos nos seus. Já estava virando costume. — Algo muito forte me atrai pra cá. Eu não sei o que é, não sei o porquê e não sei por onde começar a procurar. — Fiz uma pausa. — Acredite, eu jamais deixaria tudo pra trás se não fosse importante. Preciso de ajuda.
(...)
Era impressionante o tanto que eu estava gastando a minha belíssima e normalmente duradoura paciência em dois dias com apenas uma única pessoa. Mais uma vez, Loki me deixou no quarto após simplesmente dizer: "Caso faça tudo o que eu mandar, eu penso em te ajudar. Não saia deste quarto", e saiu, me deixando ali sem a possibilidade de responder absolutamente nada.
As horas seguintes passaram-se tão vagarosamente quanto os movimentos de um caramujo. Ocupei mais duas páginas do caderno de desenhos com algumas paisagens e rabiscos, mas não foram o suficiente para distraírem minha cabeça ou para servirem como um entretenimento naquele momento, afinal, eu estava em Asgard. Eu não queria ficar trancada em um quarto, queria sair, explorar, descobrir o que diabos me atraía para aquele lugar, o porquê de eu sentir uma conexão tão grande a ponto de deixar minha irmã e meus amigos para trás. Toquei no colar que eu usava, com as fotos de Wanda e Pietro, sentindo a saudade consumir todo meu ser.
Dei mais uma volta pelo quarto, provavelmente a centésima do dia, antes de me direcionar ao banheiro. Não havia feito nada o dia inteiro, mas um banho seria bom para pelo menos poder afirmar que mesmo presa e sendo feita de idiota, estava limpa e cheirosa.
Ao terminar o banho morno e relativamente demorado, enrolei meu corpo na toalha bastante macia e caminhei até o grande guarda roupas que havia no quarto, percebendo naquele momento que era a primeira vez que eu abria ou sequer chegava perto do móvel. Até então não havia precisado, tinha trazido trocas de roupas na mochila, mas eram poucas e acabei precisando lavar todas durante o banho. Provavelmente eles não têm máquina de lavar em Asgard.
Fiquei até um pouco surpresa ao abrir o guarda roupa e encontrar alguns vestidos pendurados ali, não pensei que Loki pudesse ter separado roupas para mim, como se realmente se importasse. Observei um por um atentamente, eram todos muito bonitos, um pouco estranho caso eu estivesse na Terra, mas provavelmente eram comuns em Asgard. Após alguns minutos, puxei um de cor verde escuro, parecia ser o mais simples ali, além de ser uma cor que eu gostava bastante.
Fiz uma careta ao perceber que a peça caíra perfeitamente em meu corpo, mas apenas dei de ombros e caminhei até onde estavam meus sapatos. Eu não ia ficar naquele quarto. Sinto muito, majestade, mas vou ter que desobedecê-lo, pensei enquanto caminhava até a porta. Testei a maçaneta, e como eu pensava, estava trancada, mas não era problema. Eu lembrava do caminho para cá, era só eu me teletransportar para algum ponto onde os guardas não pudessem me ver. Simples.
Pensei em um dos corredores que passei, enormes e majestosos como tudo no palácio, e com o costumeiro movimento das mãos, estava lá em instantes. Olhei para os lados, certificando-me de que não havia ninguém, e de que nenhum dos guardas notaram que eu não estava mais no quarto, e quando eu vi que estava tudo vazio por enquanto, comecei a caminhar enquanto observava os arredores.
A cada passo que eu dava, tudo parecia cada vez maior, mas ao mesmo tempo sentia uma energia extremamente familiar e confortável, como se estivesse em casa. Estranhei esse fato, mas não dei muita importância já que algo a mais me chamou a atenção. Uma sala igualmente enorme, com uma mesa comprida e cheia de comida. Meu estômago se apertou ao anunciar que precisava de uma refeição.
Adentrei a sala de jantar lentamente, encarando todos os lados certificando-me de que não havia ninguém ali. Pude perceber que além da mesa, a sala era totalmente aberta, como uma sacada gigantesca, com a vista do céu de Asgard gritando todo seu esplendor e sua magnitude bem diante de mim. Aparentemente fiquei distraída demais com a mistura de sensações que aquele lugar sempre me proporcionava, já que não senti ou ouvi quando algumas pessoas entraram logo depois de mim.
— Quem é você?
Uma voz bradou atrás de mim. Virei-me rapidamente para encarar quatro pessoas, guerreiros ao julgar pelas armaduras que usavam e armas que carregavam. Três homens e uma mulher. Ergui as mãos ao lado da cabeça e encarei todos. A última chamou um pouco mais minha atenção. Seus olhos verdes transmitiam a mais pura coragem e confiança, tive que controlar minha personalidade para não abrir um sorriso de canto e lançar-lhe meu melhor olhar insinuante.
— Meu nome é Kira. — disse, ainda com os braços erguidos. — Conheço Thor...
— Ah, é a convidada especial de Thor. — Um deles, o maior, me cortou e lançou um sorriso aos outros, relaxando um pouco a postura.
— Convidada especial? — perguntei, um tanto confusa com tal frase.
— Pai de Todos disse que era uma visitante especial. — Um loiro disse enquanto se aproximava e erguia uma das mãos em minha direção. Aceitei seu cumprimento e observei enquanto ele depositava um beijo no dorso da minha mão. — É um prazer, Lady Kira. Sou Fandral. Estes são Volstagg, Hogun e Sif.
Então, Loki avisara a todos sobre minha presença. Mas por que não dizer a eles que eu era uma prisioneira que havia invadido as terras de Asgard de uma maneira nada convencional? Lancei um sorriso a todos eles, especialmente a mulher, Sif. Ela era realmente muito bonita.
— Junte-se a nós no jantar. — disse ela, aproximando-se de mim e tocando levemente em meu ombro para que eu a seguisse.
Apesar da mesa ser extremamente comprida, não nos sentamos longe uns dos outros. Pude finalmente me servir e acabar com toda a inquietação e anarquia que meu estômago proporcionava, e assim como tudo em Asgard, a comida estava maravilhosa. Ou talvez fosse apenas a minha fome, mas no momento, estava delicioso.
— O que está achando de Asgard, Lady Kira? — Volstagg, o maior deles, perguntou após terminar sua refeição.
Ah, não sei, Loki me trancou a todo momento, e a propósito, ele está vivo...
— Não tenho palavras para descrever. — respondi simplesmente, arrancando um sorriso de cada um ali. — Aliás, achei um tanto... singular aquela escultura na frente do palácio. — continuei, tentando conseguir alguma informação a mais sobre o Deus da Trapaça que pudesse me ajudar.
As reações dos quatro foram bastante parecidas. Sif ergueu as sobrancelhas e revirou os olhos. Hogun, que não havia falado muito ainda, soltou uma risada fraca, irônica e desanimada ao mesmo tempo. Fandral puxou uma grande quantidade de ar aos pulmões, soltando em seguida de forma pesada. E Volstagg apenas passou uma das mãos pela barba enquanto balançava a cabeça suavemente de um lado ao outro. Precisei controlar uma risada divertida.
— Odin pediu para que construíssem em homenagem ao seu filho, Loki, após sua morte honrosa e heróica de acordo com ele. — Sif respondeu, com a voz carregada de ironia.
— Não acho que aquele magricela mereça tudo isso, nem filho de Odin ele era. — Volstagg tomou a palavra, gesticulando impacientemente com as mãos.
— Além disso, ele quase destruiu uma cidade em Midgard, sem contar que já tentou nos matar e tomar o trono. — Fandral continuou. A energia da conversa me deu uma sensação estranha, um pouco incômoda, mas decidi ignorar.
— E quem era o pai de Loki? — perguntei, apoiando os cotovelos na mesa.
— Um Gigante de Gelo. — Hogun respondeu simplesmente. Franzi as sobrancelhas, já que eu não fazia ideia do que ele havia acabado de falar.
— Há muito tempo Asgard travou uma guerra contra um dos Nove Reinos: Jotunheim. — Sif disse, percebendo minha confusão. — Foram Laufey e os Gigantes de Gelo contra Odin e Asgard. Foi bem difícil, uma batalha árdua, mas Odin conseguiu derrota-los, e como oferta de paz, trouxe Loki, filho de Laufey, para que crescesse em Asgard e fosse criado pelo próprio Pai de Todos. — A mesma sensação de instantes antes, estranha e incômoda, se fez presente novamente, um pouco mais forte.
— Loki basicamente cresceu com o peso de ser um prêmio? — perguntei sem nem pensar.
— Odin nunca disse a ele. — Fandral respondeu após lançar-me um olhar confuso. — Ele o criou como seu próprio filho. — Ele fez uma pausa. — Bom, até Loki descobrir e tudo desandar.
Eu pensei em dizer alguma coisa, mas antes que eu pudesse sequer raciocinar, senti mais uma energia se aproximar. Eu não precisaria me concentrar para saber exatamente de quem era. Encolhi os ombros e mordi o lábio, apenas esperando que a figura furiosa de Loki aparecesse. Ou deveria dizer: Odin.
Como previsto, Odin chegou na sala de jantar, acompanhado de dois guardas. Parecia afobado, e principalmente tentava esconder toda a raiva e fúria que sentia naquele momento. Os outros quatro que estavam ali levantaram-se de suas cadeiras e ajoelharam ao perceber a presença do rei. Fiquei um tempo parada, com as sobrancelhas franzidas encarando-os antes de me tomar por vencida e fazer o mesmo.
— Lady Kira. — Ouvi Odin dizer. Ergui meu olhar para encara-lo. — Vejo que já conheceu os amigos de meu filho. — Sua voz parecia calma, mas só eu conseguia sentir Loki por baixo do feitiço. Provavelmente queria me esganar. — Sobre o que estavam falando? — perguntou. Percebi os quatro se levantarem e fiz o mesmo, ainda em silêncio.
— Pai de Todos, estávamos falando sobre sua bondade e honra por trazer e acolher Loki, primeiramente um inimigo, após a guerra contra os Gigantes de Gelo. — Fandral respondeu.
Odin ergueu a cabeça, e demorou alguns segundos para responder. Pude sentir uma agitação desconfortável na pessoa por trás do feitiço. Loki estava incomodado, sua energia tornou-se pesada de um instante a outro, como se começasse a segurar algum material muito pesado, quase impossível de ser erguido.
— Sim. Loki foi... o meu melhor filho. — respondeu finalmente, arrancando algumas expressões confusas dos outros presentes. — Bom, vou deixá-los a vontade.
Odin lançou um último aceno com a cabeça para cada um, e antes de sair, encarou-me com o mais puro olhar de raiva e irritação. A forma do homem era realmente ameaçadora, mas tudo o que me vinha a cabeça era o quanto eu tive vontade de ver aquele mesmo olhar com os olhos de oceano do próprio Loki.
— Isso foi estranho. — Hougun disse, tirando-me de todos os meus pensamentos.
— Odin deve ter batido a cabeça, ou algo parecido. — Volstagg comentou, arrancando uma risada de Fandral e conseguindo um leve soco no braço dado por Sif.
— Bom, acho que vou voltar ao meu quarto. Estou um pouco cansada. — disse.
Era mentira, eu só queria ir porque sabia que Loki estaria me esperando em algum lugar para apontar sua adaga ao meu pescoço mais uma vez e encher meus ouvidos com ameaças e frases como "eu sou um Deus" ou algo parecido, e por algum motivo, meu corpo faiscou em animação.
— Foi ótimo conhecer vocês, muito obrigada pela companhia no jantar. — completei. — Boa noite.
— Boa noite, Lady Kira. — Eles disseram quase que em uníssono.
— Por favor, apenas Kira.
Sorri para todos mais uma vez, demorando-me quando encarei Sif. Dessa vez não controlei minha personalidade e acabei deslizando meus olhos por toda a figura da mulher, erguendo uma das sobrancelhas em seguida. Ela pareceu perceber, já que vi um dos cantos dos seus lábios erguer-se um pouco mais.
Virei-me em direção a porta e direcionei-me ao caminho do meu quarto, encarando os arredores, tentando sentir a energia de Loki em algum canto. Contornei vários corredores até chegar ao mesmo ponto onde estava após me teletransportar do meu quarto, parando em uma espécie de encruzilhada que se formava ali.
— Sei que está aí, Branca de Neve. — disse, olhando por todos os lados tentando enxergar alguma coisa.
Loki foi mais rápido, já que puxou meu braço com certa força. Não o vi até que ele me empurrasse contra uma das paredes, fazendo com que eu batesse minhas costas de forma bruta, e em seguida, segurasse meu pescoço com uma das próprias mãos. Segurei seu braço como instinto, mesmo que ele não estivesse me apertando forte o suficiente para me sufocar. Pelo menos não tinha adagas dessa vez, pensei enquanto lançava-lhe um sorriso cínico ao vê-lo em sua forma original.
— Majestade...
— Você realmente não tem noção nenhuma de perigo, não é mesmo? — Ele me interrompeu, com a voz rouca e carregada de fúria. — Por que me desobedeceu?
— Por que disse a todos que eu era uma convidada especial? — rebati com outra pergunta.
Loki não respondeu, apenas largou meu pescoço e se afastou do meu corpo, suspirando de forma pesada. Observei enquanto ele parou do outro lado do corredor e voltou a fixar seus olhos nos meus. Era sempre indescritível a intensidade e pressão no olhar de Loki. Um olhar que normalmente assustaria ou afastaria qualquer um, mas de algum jeito, apenas me prendia mais e mais, e a cada segundo encarando o oceano de suas orbes, mais sentia a necessidade de mergulhar e afundar, sem me importar com ar ou com a profundidade.
Fui obrigada a desviar minha atenção de seus olhos, a contragosto, quando senti uma energia a mais se aproximando. Olhei para a direção de onde alguém vinha e em passos largos caminhei até Loki do outro lado do corredor. Ele franziu as sobrancelhas quando toquei em seu ombro com uma das mãos, mas não me importei. Com a mão que havia sobrado, balancei os dedos da mesma forma sistemática, podendo sentir a energia fluir por todas as minha células, como de costume, então em instantes, estávamos eu e Loki de volta ao meu enorme quarto.
— Por que fez isso? — Ele perguntou, afastando minha mão do seu ombro.
— Tinha alguém vindo, e você não está como Odin. — respondi, como se fosse óbvio.
— Por que simplesmente não disse que tinha alguém vindo? Na verdade, como sabia que tinha alguém vindo? — Ele deu alguns passos em minha direção, com as sobrancelhas ainda franzidas.
— Eu entrei em pânico, foi a primeira coisa que pensei. — Dei de ombros e fiz uma pausa. — Eu senti alguém chegando.
A expressão confusa de Loki apenas piorou com minha última fala. Eu não havia mentido, mas era uma explicação mais complexa do que eu gostaria de dar naquele momento, então antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, apressei-me:
— Olha só, eu realmente não quero problemas, e preciso muito de ajuda. — Loki ergueu a cabeça, mas seus olhos continuavam atentos em mim. — Que tal uma trégua?
— Trégua? — Ele cruzou os braços enquanto eu simplesmente assentia com a cabeça. — O que sugere?
— Bom, já entendi que você precisa confiar em mim antes de sequer pensar em me ajudar. — comecei, e com isso, meus passos de um lado para o outro também começaram. — Então talvez pudéssemos nos conhecer aos poucos, e quem sabe manter uma convivência pacífica, na medida do possível. — Percebi que Loki já me olhava irritado novamente por conta da minha inquietação. — Soube algumas coisas sobre você hoje, então pode saber algo sobre mim também. O que acha?
Finalmente parei, voltando a encara-lo enquanto abria os braços e lançava-lhe um sorriso, como se pedisse por uma resposta. Loki me encarou por alguns segundos, pensativo, até suspirar e revirar os olhos.
— Não tenho outra escolha. — Ele disse. Abri um sorriso muito maior. — Você é muito irritante.
— O que quer saber sobre mim? — perguntei, ignorando sua última fala. Loki encarou o teto e semicerrou os olhos, pensando em silêncio por alguns segundos.
— Quem é Wanda? — perguntou. Ergui uma das sobrancelhas lembrando-me de horas antes quando Loki tentou vasculhar por minha mente. — Fiquei curioso. — disse ele dando de ombros.
— Wanda é minha irmã trigêmea. — respondi alcançando a corrente que usava no pescoço.
Caminhei até ficar próxima o bastante de Loki para mostrar a ele as fotos que existiam dentro do pingente. Meu coração apertou-se drasticamente ao ver os rostos de meus irmãos, principalmente de Pietro. Loki encarou as imagens atentamente, antes de voltar a observar meus olhos.
— O outro trigêmeo? — perguntou apontando para Pietro com o dedo indicador.
— Pietro. — disse enquanto encarava a foto.
Meu irmão carregava um sorriso enorme ali. Lembro-me que tiramos as fotos para os colares antes mesmo dos testes para a Hydra. Fora um jeito simples para termos sempre a presença uns dos outros conosco e sempre nos lembrarmos do quanto nos amávamos e o quanto nos protegíamos.
— Ele faleceu há um ano. — Não sabia bem o porquê de dar detalhes sobre isso a Loki, mas não me importei. — E eu o senti a todo momento... enquanto ele morria.
Fiquei em silêncio, e Loki também não se atreveu a dizer nada. Fechei o pingente do colar e senti o habitual aperto no peito e a falta de ar querendo surgir em meu interior, então em um movimento involuntário, busquei pelos olhos de oceano de Loki. E lá estavam, fixos nos meus. Continuavam extremamente intensos, mas ao mesmo tempo eram leves e macios como uma nuvem. Surpreendentemente, foram o suficiente para acalmarem minha mente e minha ansiedade.
— Sinto muito pelo seu irmão. — disse ele finalmente. Consegui sorrir fracamente em resposta.
— Bom, já sabe algo sobre mim. O que achou da trégua? — perguntei cruzando os braços, mas sem me afastar.
— Você pode ser convincentemente irritante, midgardiana. — disse ele, e pela primeira vez pude ver um suave sorriso sincero em seus lábios. Senti vontade de sorrir junto.
— Eu tenho um nome, você sabe, né, Branca de Neve? — provoquei, mas dessa vez não recebi nenhum olhar irritado ou adagas apontadas para o pescoço.
— Eu também tenho, Kira. — respondeu sem diminuir o sorriso.
Ele não disse mais nada, apenas se afastou alguns passos e caminhou em direção a porta, observei enquanto movimentava seu corpo e acessava sua mágica de forma deslumbrante para tomar a forma de seu pai.
— Boa noite, Loki.
————————————
Autora: ooooiii, marvetes, tudo bem??
Cá está mais um capítulo com bastante tensão, alguns personagens "novos", e uma trégua??? Será que as coisas vão se ajeitar com esses dois?
Esse capítulo teve bastante diálogo, espero que não tenha ficado massante!
Espero muuuuito que tenham gostado e que estejam gostando!
Não se esqueçam da estrelinha e dos comentários
Bjin procêis💚
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