47 - Me recuso
Você será a parte mais triste de mim
Uma parte de mim que nunca será minha
É obvio
Esta noite vai ser a mais solitária
Você ainda é o oxigênio que eu respiro
Eu vejo seu rosto quando fecho meus olhos
É torturante
Esta noite vai ser a mais solitária
(THE LONELIEST - Måneskin)
Faziam exatos cinco anos desde que Thanos eliminara metade das criaturas vivas do universo, e também cinco anos que eu dividia meus sentimentos entre a alegria de ter meus filhos e meus amigos que ainda restaram, e tristeza profunda de não ter minha irmã e a pessoa que eu amava conosco.
Minha energia cedia a todo momento. Eu poderia rir com meus filhos o dia inteiro, mas quando ia dormir, era sempre o mesmo pesar e angústia que se instalava em meu coração, me mantendo acordada por diversas noites opacas e solitárias, independente do lugar onde eu me encontrava.
Aquela não era uma noite diferente. Eu e os trigêmeos estávamos em Nova York dessa vez, no Complexo dos Vingadores. O quarto grande que me abrigava, e antigamente era meu e de Wanda, estava vazio demais. Frio demais. Solitário demais. Meus filhos haviam recebido outro quarto para dividirem já que estavam um pouco mais crescidos, e eu me controlava para não ir até eles e dormir entre seus corpos. Me controlava apenas porque se eu fosse, eles perceberiam minha angústia, eles sentiriam, e eu tentava poupa-los o máximo que eu conseguia, por esse motivo escondia tudo.
As vezes eu não conseguia, isso é fato, mas na maioria das vezes tentava não passar o quanto doía a falta dos que desapareceram. O quanto toda noite parecia a mais solitária noite de todas. Minha esperança era ter Loki ao meu lado quando eu acordasse, mas seguindo o mesmo padrão, minhas manhãs também eram as mais solitárias, e meu coração partia-se toda vez, mesmo que fosse impossível.
Respirei profundamente, sem conseguir pregar os olhos como de costume. Sai da cama e caminhei pelos corredores do Complexo. Meu instinto me guiou até a sala principal, onde existia um computador enorme e avançado, mas também havia uma pequena cozinha mais ao canto. Natasha estava lá, observando diversas telas abertas no aparelho, encarando as mesmas imagens que sempre costumava encarar, como se tudo fosse mudar em um passe de mágica.
Ela não me viu chegar, por isso observei enquanto ela olhava fixamente para a imagem de uma mulher na tela. Tinha os cabelos loiros e olhos verdes, em outras circunstâncias, eu perguntaria quem era com segundas intenções, mas sentir a energia pesada e angustiada de Natasha, parecida com a minha, nem me fazia pensar na situação anterior.
— Quem é essa? — perguntei, assustando-a levemente.
— Ninguém. — Ela disse, como se saísse de um transe, enquanto fechava a imagem da mulher e voltava a encarar outras coisas.
Me aproximei dela e puxei uma cadeira. Encarei seu rosto, esperando para que ela fizesse o mesmo. Ela sabia o que eu estava fazendo, então fez o possível para não me olhar de volta. Inclinei um pouco mais a cabeça, quase me colocando na frente dela, insistindo para que ela conversasse comigo. Natasha, após alguns segundos, se deu por vencida e me encarou, enquanto suspirava pesado.
— Sai da minha cabeça. — Ela pediu, segurando um risinho sem ânimo.
— Eu nunca entro na sua cabeça. — Fiz uma pausa. — Wanda fazia isso... E Loki. — Meu peito se apertou de novo, mas fiz o possível para espantar os pensamentos. — Então... Quem é aquela? — Natasha riu sem ânimo mais uma vez e logo colocou a foto da mulher de volta na tela.
— Minha irmã. — Ela disse simplesmente. Arregalei os olhos e lancei uma careta confusa em sua direção. Uma careta divertida aparentemente, já que consegui arrancar um sorriso verdadeiro dela dessa vez. — Yelena, o nome dela. Ela sumiu com o blip, e não passo um dia sem sentir sua falta.
Natasha me contou sobre como conheceu sua "irmã" mais nova, assim como sua família postiça. O amor que transbordava em seu coração era puro e verdadeiro, o que me deixou mais calma do que eu estava antes. Os olhos dela brilhavam ao falar de Yelena, com admiração e respeito.
— Por que nunca me contou sobre ela antes, Romanoff? — perguntei, dando um leve tapa em seu braço. Ela deu de ombros.
Perguntei mais alguns detalhes sobre a família dela; Yelena, Alexei e Melina, apenas para sentir aquela calma na energia que ela tinha sempre que falava ou pensava neles. Com certeza melhorou minha noite em mil por cento, para dizer o mínimo.
Quando o assunto morreu, ficamos em silêncio por alguns segundos, até eu pensar em outra coisa completamente aleatória, mas ainda sim com o foco em Natasha. Ela provavelmente iria querer me matar, pois odeia conversas onde o foco era ela, mas abri minha boca mesmo assim.
— Então... Você e Bucky...? — Deixei a pergunta em aberto, lançando um olhar sugestivo a ela.
— Eu sei o que está fazendo, Maximoff, e já pode parar. — Ela comentou, mas soltou uma risadinha em seguida.
— Ah, por favor, eu praticamente fiz vocês dois acontecerem. — Insisti. Minha energia voltava a ficar leve, completamente o oposto que estava minutos antes. Natasha negou com a cabeça, mas tinha uma expressão divertida no rosto.
— Ele é legal... — Ela disse. Lancei outro olhar, esperando que ela continuasse. Nat revirou os olhos. — É complicado, Kira... Bucky já treinou as Viúvas na Sala Vermelha, enquanto ainda era o Soldado. — Ergui as sobrancelhas.
— Natalia Alianovna Romanova. — Chamei seu nome completo, em russo. — Por que nunca me conta as coisas? Minha vida é um livro aberto pra você. — Coloquei as mãos na cintura, forçando uma careta dramática.
— Posso continuar? — Ela perguntou, mas riu novamente. Fiz um gesto com as mãos em resposta. — São muitos traumas, Kira, você sabe. — Ela fez uma pausa. — Mas acho que nos damos bem justamente por isso. — Sua energia também ficava leve ao falar de Bucky. — Ele me entende e eu o entendo.
A conversa continuou, mas dessa vez o foco foi nos trigêmeos. Nem ao menos percebemos o dia nascer, só nos demos conta quando justamente os três pequenos correram em nossa direção. Pietro abraçou a mim e a Natasha, ao passo que Bryndís me deu um beijo da bochecha e Frigga só se colocou próxima, como se dissesse que estava ali também. Meu coração, que já estava mais leve, se encheu de amor de novo. Era isso que eles me causavam, graças aos Deuses.
(...)
Mais tarde naquele dia, após assistir um filme de terror — o tipo favorito das crianças — com Natasha, Bucky e Steve, que havia vindo visitar, já que não morava mais lá fazia menos de um ano. As crianças me pediram para mostrar o pai delas mais uma vez. Eu sempre deixava que elas entrassem em minha mente para poder observar as minhas melhores memórias com Loki, para que assim, pudessem conhecer o pai delas e pudessem criar um carinho especial. Ele não estava aqui fisicamente, mas devia estar no meu coração e nos corações delas.
Thor as vezes também deixava, já que tinha muito mais memórias com Loki do que eu. Ele fazia questão, na verdade, que seus sobrinhos conhecessem seu irmão mais novo, e costumava sempre ser o primeiro a sugerir o passeio por suas memórias.
Assim ficamos o resto do dia, eu respondia as perguntas dos trigêmeos sobre Loki e mostrava para eles diversas vezes algumas memórias, dentre elas, o dia que Loki fez o jardim para mim em Asgard. Minha saudade apertava toda vez, mas eu fazia aquilo com gosto para as crianças. Quando olhei o relógio marcando dez e vinte, falei às crianças que era hora de dormirem. Elas já não discutiam mais, conforme cresciam sabiam me respeitar e conseguiam se controlar mais do que quando eram bebês. Agradecia aos Deuses e principalmente à Bryndís, que dividia a alma comigo e sempre esteve aqui por mim. Tanto é que dei seu nome a uma de minhas filhas.
Levei os três até o quarto deles e esperei que deitassem nas três camas de solteiro que estavam dispostas uma ao lado da outra, porém mais espaçadas.
— Podemos dormir juntos hoje? — Pietro perguntou, era sempre ele que nunca queria desgrudar das irmãs.
Mas, ao mesmo tempo, Frigga era a que mais valorizava seu espaço pessoal, então os outros dois lançaram um olhar a ela, após Bryndis dar de ombros, já que ela era a que menos se importava com isso. Frigga encarou os dois e depois me lançou um olhar. Sorri para ela, transmitindo todo o conforto que eu conseguia, e também a deixando a vontade para escolher.
— Eu vou na ponta. — Ela disse simplesmente, antes de empurrar sua cama até a cama de Pietro, que com certeza seria o voluntário a ir no lugar do meio.
Sorri abertamente enquanto os observava arrumar suas camas na posição que queriam. Ajudei os três a colocar pijama e esperei que finalmente se deitassem. Com um aceno da cabeça, perguntei se estavam prontos. Eles me responderam com um sorriso cada um, mas com suas particularidades. Ao passo que Pietro mostrou todos os dentes, Bryndís não mostrou os dela, e Frigga ergueu levemente um dos cantos dos lábios apenas.
— Boa noite, meus Deuses.
Foi a última coisa que eu disse antes de fechar meus olhos e me concentrar nos meus poderes mais uma vez. Abri os olhos e observei o brilho verde esmeralda me envolver, e em seguida, envolver os três deitados na cama. Transmiti a eles todo o amor e carinho que eu sentia, além de toda gratidão que tinha por tê-los comigo. Sempre fazia isso antes de eles dormirem, para que tivessem uma melhor noite de sono.
Saí do quarto quando vi que eles pegaram no sono, e caminhei até o meu próprio, que era ao lado. Porém, no meio do corredor, após fechar a porta do quarto dos trigêmeos, fui atingida por uma pontada extremamente forte na cabeça. Fechei os olhos fortemente e levei as mãos as têmporas, indo de joelhos ao chão com a dor. Eu sabia o que aquilo significava, já havia acontecido duas vezes antes. Ainda de olhos fechados, esperei as primeiras imagens surgirem.
Ainda não conseguia decifrar onde eu estava. Parecia que uma explosão havia acontecido ali. Os escombros me rodeavam, tentei olhar mais um pouco em volta e finalmente pude ver o que um dia foi o Complexo dos Vingadores. Apenas uma parte da enorme construção ainda estava de pé, porém quase cedendo como o resto.
Olhei em volta mais uma vez, tentando enxergar mais alguma coisa, e finalmente pude vê-lo. O filho da puta que me assombrava, que havia me tirado tudo o que mais amava na vida. Thanos estava lá, com uma manopla encaixada na mão direita. Mas algo estava diferente, não era a mesma manopla que ele usava quando nos dizimou, e outra; como ele ainda estava vivo?
Ele dizia algo que eu não saberia dizer o que era, não havia conseguido focar ainda, mas estava prestes a estalar os dedos de novo. Tentei me mexer, para tentar impedir mas meus pés não se moviam, como se estivessem grudados no chão. Olhei em volta mais uma vez, com mais atenção, e pude ver Steve caído de um lado, Carol Danvers de outro, e Thor de outro. Meu coração acelerou, principalmente porque eu não podia fazer nada.
Thanos estalou os dedos e eu gritei, mas ninguém pode me ouvir porque nem som saía de mim, deixando-me mais agoniada ainda. Porém, absolutamente nada aconteceu. Olhei de novo, e finalmente consegui ver Tony Stark ajoelhado na frente de Thanos. Concentrando minha atenção mais ainda, vi que as Joias do Infinito estavam grudadas em seu traje, como se ele tivesse planejado a armadura para que pudesse sustentar o poder das Joias, mas a questão era: será que ele sustentaria?
Tony estalou os dedos, e eu pude sentir a mesma energia avassaladora que as Joias causavam, mas nem liguei para aquilo ou para o exército de Thanos, junto com ele mesmo, sumindo pelo vento. Minha única atenção era no corpo parcialmente destruído de Tony, e logo em seguida, uma dor absurda se formando em meu peito. Não só a minha dor, como a dor de outros que podiam estar ali mas eu não conseguia ver.
Gritei de novo, enquanto sentia a energia de Tony diminuir, até o momento em que eu não sentia nada, exatamente como aconteceu com Pietro e com Sari. Tony estava morto, e eu, mais uma vez, não fiz nada para impedir. Mais um grito vindo da minha garganta mas ainda sem sair som nenhum. O desespero tomava conta de mim ao passo que eu fechava os olhos e segurava minha cabeça fortemente.
Abri os olhos, ainda sentindo uma pontada na cabeça, mas dessa vez não tão forte. Voltei a enxergar o corredor, felizmente vazio, do Complexo. Encarei os dois lados, e quando percebi que ninguém estava perto, pude desabar de verdade. Deixei as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, sentindo minha garganta queimar e meu coração pesar de forma absurda.
— Não posso deixar isso acontecer. — Sussurrei para mim mesma, ainda em lágrimas.
Caminhei rapidamente até meu quarto e fechei a porta, esperando toda aquela angústia e tristeza diminuírem aos poucos. Já havia deixado Asgard ser destruída, Loki havia morrido, mesmo que não como eu previra, mas ainda assim, ele não estava mais aqui. Eu não podia deixar que aquilo acontecesse com Tony. Não quando ele tinha uma família linda. Eu não deixaria Morgan sem um pai e nem Pepper sem um marido. Me recuso. Dessa vez eu me recuso.
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Autora: OIEEEE, como prometido, VOLTEI!! espero demais que gostem do capítulo.
⚠️Informação Importante⚠️ No próximo, teremos o crossover que eu venho falando com a obra de uma amiga mto mto mto querida. Vou indicar tudo pra vcs, mas já tô avisando!
é isso, espero mto q estejam gostando! não esqueçam da estrelinha e de comentarem bastante, me ajuda mto
Bjin procêis💚
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