43 - Nós precisamos de você
Cinco meses haviam se passado e tanto minha barriga quanto meus enjoos e desejos haviam crescido. — A barriga principalmente, afinal, eram trigêmeos. — Eu passava meus dias circulando entre o complexo e a nova Asgard, ajudando os moradores como eu podia a construir a cidade. Thor não deixava que eu fizesse muito, mesmo que eu estivesse bem para erguer até mesmo um tanque.
Naquele dia específico, uma vontade repentina e forte se fez presente em minha mente. Eu precisava de um pedaço de bolo. Mas não qualquer bolo, tinha que ser de cenoura, macio, com cobertura de chocolate que escorresse pelos meus dedos e preenchesse minhas papilas gustativas com a mais pura alegria. Acompanhando um copo de café preto com leite.
— Kira, são sete horas da manhã, não tem nada aberto. — Steve disse após ser acordado por mim.
Tentei procurar por Natasha ou por Bucky, que eram sempre minhas primeiras opções para atormentar, mas não os achei. Na verdade eu tinha bastante noção sobre onde eles estariam, já que a porta do quarto da Viúva Negra estava trancada, e o quarto de Bucky, vazio. Eu amava que eles estavam se dando bem, mas naquele momento eu só queria meu bolo.
— Tem sim, aquela loja naquela esquina com aquela mocinha simpática. Ela sempre, sempre abre cedo. — respondi, balançando o corpo de Steve mais uma vez.
— Não pode esperar mais um pouco? — Ele perguntou, com os olhos pequenos por conta do sono.
— Quer que meus filhos nasçam com cara de bolo de cenoura e café com leite? Levante, Capitão, não deixe uma mulher grávida e com fome sozinha.
Steve não negou dessa vez, fez o que eu queria e levantou-se da cama. Nem ao menos saí do quarto para que ele se trocasse, apenas virei de costas. — Mesmo que eu quisesse muito ver. Steve era uma verdadeira tentação.
Como a loja de doces era perto, fomos a pé. Eu podia muito bem nos teletransportar até lá, mas eu queria caminhar um pouco. Todos ao meu redor me impediam de fazer qualquer esforço como se eu fosse quebrar a qualquer momento, e ao mesmo tempo que eu achava fofo, achava extremamente irritante. Steve era o único que soltava um pouco as rédeas, mas porque eu conseguia convencê-lo.
Chegando lá, vimos a dona do estabelecimento arrumando as cadeiras e as mesas que ficavam dispostas pelo espaço, mas a placa na porta já estava virada para a palavra "Aberto". Muito provavelmente nenhum doce estaria pronto, o que me deixava um pouco nervosa e com mais vontade ainda, mas eu precisava e esperaria o tempo que fosse. De preferência, pouquíssimo tempo.
— Olá, sejam bem vindos ao Paraíso da Lupita, por favor fiquem a vontade. — A moça nos cumprimentou simpaticamente após ver que entramos. — Nem todos os doces estão prontos ainda, mas como posso ajudá-los, Sr. Rogers e Srta. Maximoff?
Não era novo para nós que alguém nos conhecesse, mas algo no cumprimento da mulher me deixava confortável. Talvez fosse porque ela não se jogava em cima de nós nem para nos abraçar e nem para tentar nos matar. — As opiniões da população eram bastante diferentes após a nossa derrota.
— Você tem bolo de cenoura? — Steve perguntou, apoiando os cotovelos no balcão.
— Com muito, muito chocolate, por favor. — Completei, um pouco impaciente. — Ah, e café preto com leite também. — Sorri como uma criança em sua direção.
— Faço tudo para a senhorita agora. Pode apenas esperar uns quarenta minutos pelo bolo? — Ela perguntou, fazendo uma careta engraçada.
— Quarenta minutos em ponto, querida. — respondi, sem soar grossa ou mandona, mas mostrando minha necessidade ao apontar para minha barriga um tanto visível.
— Sí, señorita. — A dona do espaço disse em espanhol, fazendo um cumprimento militar perfeito. Eu percebi que Steve notou, já que observou enquanto a moça se afastava até a cozinha.
— Ela é bonita, não acha, Rogers? — perguntei, com um sorriso insinuante nos lábios.
— O que? Quem? — Ele me olhou um pouco atordoado. — Ah, ela? Sim, sim, ela é... Legal. — Fiz uma careta entortando o nariz com sua resposta.
— Legal? Steve, por favor, olhe pra ela.
E ele assim o fez, não que precisasse de muito, já que eu havia percebido uma leve atração em sua energia e expressão. Buscamos a dona com o olhar. Ela tinha os cabelos curtos e castanhos, assim como os olhos, presos em um meio rabo de cavalo. A pele era pouco bronzeada, e a postura do corpo era firme. Apenas vi posturas como aquela em Steve e Bucky, e levando em conta seu cumprimento mais cedo, apostei que ela fosse militar, ou relacionada a algum militar. Além disso tudo, ela era muito, muito bonita.
Olhei para Steve, e vi que ele ainda tinha os olhos fixos na mulher. Sorri divertida, me afastando suavemente para que ele pudesse ter seu momento. Steve havia gostado de verdade de apenas uma mulher em toda sua vida, e eu nunca o vi sair com outra ou até mesmo tentar alguma coisa. Queria que ele fosse feliz depois de tudo o que passou e tudo o que perdeu, e eu sentia que podia dar um empurrãozinho.
— Bolo no forno, señorita. — A mulher gritou de dentro da cozinha. Percebi Steve piscar os olhos várias vezes, como se saísse de um transe.
— Desculpe, querida. Não perguntamos seu nome. — Eu disse quando ela voltou a se aproximar do balcão.
— Ah, sou Guadalupe Fontane, mas podem me chamar de Lupita... Por isso o nome: Paraíso da Lupita. — Ela respondeu, sorridente, extrovertida e animada.
— E qual seu número? O Capitão estava perguntando. — Menti, arrancando um olhar assustado e reprovador de Steve em minha direção.
— Para entregas... Vocês fazem entregas? — Se saiu bem, Cap, pensei semicerrando os olhos em sua direção.
— Claro que sim. Bom, meus funcionários ainda não chegaram, não os obrigo a vir cedo comigo, mas a partir das dez da manhã às entregas começam, Capitão. — Ela respondeu, mas dessa vez manteve seu olhar e sorriso apenas para Steve enquanto estendia um cartão pequeno.
Após o gesto, Lupita caminhou novamente até a cozinha, provavelmente para arrumar ou preparar mais algum doce. Steve voltou a me olhar, e dessa vez a reprovação era mais intensa em seus olhos.
— O que está fazendo? — Ele perguntou, sussurrando.
— Você precisa viver, Steve, pelo amor dos Deuses. — respondi no mesmo tom de voz.
— Você nem ao menos sabe se ela é solteira. — Ergui as sobrancelhas e abri um sorriso enorme no rosto.
— Então quer saber se ela é solteira? Só um momento, eu descubro... — Estava pronta para chamar a moça de volta, mas Steve segurou meu braço firmemente, sem me machucar.
— Pare com isso, eu já estou vivendo. Veja, estou vivo. — Ele tocou em seu rosto algumas vezes como prova.
— Não é esse sentido de viver que eu quero dizer, Rogers. — Ele não teve tempo para responder, já que um apito fino se fez presente no ambiente.
Lupita voltou após alguns poucos minutos, trazendo consideráveis quatro fatias de bolo, repletas e abusadas de cobertura de chocolate, exatamente como eu havia pedido. Além do café, também servido em duas xícaras grandes e enfeitadas com chantilly. Meu estômago roncou, ao passo que minha boca encheu de água. Senti meus filhos se revirarem de felicidade, com as energias completamente agitadas. Apenas a cara daquilo estava maravilhosa, o cheiro então, estava esplêndido.
Mas o gosto... Ah, o gosto estava simplesmente perfeito. Com a ajuda de um garfo, já que o bolo ainda estava quente, coloquei um primeiro pedaço, consideravelmente grande, na boca, e precisei revirar os olhos com tamanha satisfação.
— Entendi porque chama de paraíso. Me sinto nas nuvens. — disse ainda com a boca cheia, arrancando uma risada audível de Lupita. Percebi Steve olhar para ela mais uma vez.
— Fico muito feliz que tenha gostado, señorita. — O sorriso não saía de seu rosto em nenhum momento.
— E você é de onde, Lupita? — perguntei, após tomar um gole do maravilhoso café com leite, tentando descobrir mais alguma coisa.
— Sou do México, mais especificamente da Cidade do México. Vim pra Nova York pela faculdade, mas precisei deixar após a morte da minha mãe no atentado em 2012. — Ela contou, enquanto organizava alguns doces no mostruário de vidro. Engoli em seco lembrando-me de Loki.
— Sinto muito. — Steve falou, mas ela ainda tinha um sorriso no rosto.
— Não sinta, ela me deixou o suficiente para montar esse estabelecimento, e eu não poderia ser mais feliz com ele. Amo fazer doces e amo esse lugar. — Ela falava com brilho nos olhos, era fofo.
— Você tem a ajuda de alguém aqui? Namorado? Ou até mesmo seu pai? — perguntei, e recebi mais um olhar reprovador de Steve, porém não liguei.
— Eu não namoro... — Ergui as sobrancelhas e lancei um rápido e singelo olhar para o Capitão. — E meu pai também morreu em batalha quando eu tinha doze anos. Então, sou somente eu, com a ajuda de alguns funcionários que selecionei a dedo. — Ela colocou as mãos na cintura.
— Seu pai era soldado? — Steve perguntou, entretido.
— Capitão do Exército Mexicano. — Ela disse com brilho no olhar.
Deixei os dois conversarem a partir dali. Aquele bolo estava bom demais para que eu prestasse atenção em qualquer outra coisa que não fosse ele. Comi todas as quatro fatias e bebi as duas xícaras do café com leite, sem nem me importar se Steve iria querer. Ao terminar, suspirei e abri um sorriso leve nos lábios.
(...)
Dias depois, estava de volta a nova Asgard, na Noruega. As obras continuavam na mesma intensidade, porém Thor não era visto em lugar nenhum, algo que já estava ficando comum ultimamente. Pelos Deuses tínhamos Valkyrie para colocar ordem e segurança naquele lugar, já que o próprio rei sumia, muitas vezes para jogar freefire com adolescentes na internet, ou se embebedar em sua cabana recém construída.
A situação de Thor me preocupava e muito, tanto que em toda minha chegada em Asgard, sentia um peso enorme se fazer presente em minhas costas e meu peito. Odiava vê-lo daquele jeito, deprimido, buscando algum tipo de conforto falso em coisas banais. Thor estava fazendo mal para ele mesmo, e ver o tio dos meus filhos daquele jeito me despedaçava.
— Thor..? — perguntei a Valkyrie assim que a avistei.
— Mesmo lugar de sempre.
Suspirei pesado após sua fala e caminhei diretamente até a casa onde ele sempre ficava com Korg e Miek. Alonguei a coluna antes de entrar, já que minha barriga começava a ficar um tanto pesada. O cheiro de álcool e salgadinhos atingiu minhas narinas em cheio, e tive que me controlar muito para não ficar enjoada.
— Bruxinha! — Thor disse com a voz falsamente animada.
Ele abriu os braços em minha direção, e ao me envolver em um abraço eu tive certeza absoluta de que ele não tomava banho há dias. O moletom que usava estava sujo e ensebado, e seu cabelo conseguia ficar ainda pior. Já estava um pouco mais comprido do que antes, mal feito, além da barba também grande e feia.
— Há quanto tempo não toma banho? — perguntei empurrando-o para longe gentilmente.
— Banho... Tomei... Ahn... Ontem! — E sorriu cínico. Mentira, nem precisei sentir sua energia para isso.
— Korg? — perguntei ao ser feito de pedra sentado no sofá.
— Já fazem duas semanas, dois dias, sete horas e dois segundos... Três... Quatro... Cinco... — Ele continuou contando, mas não prestei mais atenção quando lancei um olhar reprovador ao Deus.
— Não pode continuar fazendo isso. — disse buscando seus olhos, mas ele sempre evitava o contato visual.
— Fazendo o que? — Ele fingiu uma careta confusa enquanto pegava uma garrafa de cerveja e a levava à boca.
— Você sabe do que eu tô falando... Thanos conseguiu, já está feito.
Dessa vez ele me olhou, e pude simplesmente ver toda dor e sofrimento que ele carregava dentro de si, além da culpa, que corroía sua alma e todo seu corpo de forma intensa. Senti meu estômago revirar com a imagem que seus olhos transmitiam, sem contar sua energia. Caótica, conturbada, feroz e extremamente entristecida.
— Não fale esse nome. — Ele me repreendeu, com a voz grossa e irritada. Eu precisava força-lo.
— Por que não? Ele está morto, Thor, mas mesmo assim ainda perdemos. — Doía ver sua reação com minhas palavras.
— E é tudo culpa minha, eu sei... — Interrompi sua fala na hora.
— PARE COM ESSA MERDA. — gritei, conseguindo sua mais pura atenção. — Nós perdemos juntos. Tá me entendendo? Juntos. Todos nós perdemos e a culpa foi toda e inteiramente de Thanos, não nossa. — Fiz uma pausa, sentindo uma certa ânsia atingir minha garganta. A energia do ambiente não estava me ajudando. — A grande maioria perdeu quem mais amava, e não estamos fora dessa, tudo bem?
O cheiro, junto com o peso do local, e com os sentimentos vindo a tona em meu coração, fizeram com que eu apoiasse a mão na parede e cobrisse minha boca, tentando me concentrar o suficiente para não colocar tudo em meu estômago para fora. Meu coração doía como o inferno, e eu odiava quando isso acontecia, porque meus filhos também sentiam.
— Kira, o que foi? — Thor veio em minha direção e segurou meus ombros.
Gentilmente ele me ajudou a caminhar até a porta e sair da casa. Apoiei novamente a mão no concreto do lado de fora e fechei os olhos, soltando um suspiro longo, exausto e pesado. Senti o toque suave de Thor em meu ombro, e pude também sentir a preocupação exalando de sua energia.
— Eu perdi meus pais, meu país, meu irmão, minha irmã, e o amor da minha vida... Você também perdeu, então sabe do que eu tô falando. — comecei, sem tirar o apoio da parede. — Não posso te perder também... Você é minha família, o único que carrega a cultura dos meus filhos, e preciso que você ensine tudo a eles. — Mais uma pausa, enquanto eu ajustava minha postura e olhava para ele. — Nós precisamos de você. — Apoiei a mão na barriga enquanto falava.
— E eu estou aqui, não vou a lugar nenhum. — Ele forçou um sorriso. Suspirei mais uma vez.
— Não é disso que estou falando. — Toquei em seu rosto gentilmente. — Não quero que perca sua alma, sua essência. — Fiz uma pausa. — E, por favor, tome um banho e coma mais saladas.
Vi uma lágrima brotar em seus olhos enquanto ele ria verdadeiramente com minha última frase. Já fazia tanto tempo que eu não via um sorriso verdadeiro no rosto do Deus, e aquela imagem me acalmou um pouco. Ele tentou me abraçar, e eu até deixaria, mas ele continuava sujo e fedido, então ergui uma mão em seu peito e com a outra apontei para a porta da casa.
— Banho. Agora! — mandei. Thor balançou a cabeça e foi, mas antes me lançou mais um sorriso, tão verdadeiro quanto o anterior.
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Autora: OI ANJOS!! consegui voltar mais cedoooo, quem amou! kkkkkkk
gente, queria apresentar essa personagem nova pra vocês, que assim como a Akin, é mto mto querida e também criada por uma amiga MUITO especial!
LuizaMarques969 foi a criadora dela, e pensou em cada detalhe especial. Espero muito que gostem dela tanto quando eu amo. Ah, nós imaginamos ela como a Naomi Scott (la do primeiro gif) mas podem imaginar como quiserem!🫶🏼
é issoooo, não esqueçam da estrelinha e dos comentários, não sejam tímidossss, eu não mordo kkkkkk
Bjin procêis💚
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