4 - Estou pronto para ouvir
⚠️alerta gatilho⚠️ (cenas de ansiedade)
Havia quase uma hora que eu estava presa naquela mesma cela sem graça, sem cor e completamente desconfortável. — Loki me jogara ali sem ao menos ouvir o que eu tinha para falar. — Alternava entre sentar no chão, caminhar em círculos olhando os arredores do calabouço e voltar a sentar e deitar no chão. O pior de tudo é que só existia eu de prisioneira ali, se houvesse uma alma a mais que fosse, pelo menos eu poderia falar alguma coisa e distrair a cabeça.
Ainda não contente, Loki também deixou-me separada de minha mochila, que possuía meus materiais, ou seja, nem mesmo desenhar eu poderia. Bufei irritada dando mais uma volta no quadrado. Pelo menos um detalhe eu tinha para usar ao meu favor caso eu quisesse conseguir a confiança do povo de Asgard e de Loki.
As paredes cintilantes que me prendiam eram puramente feitas de energia, como um campo de força, e com um movimento de minhas mãos, conseguiria desligá-las facilmente, ou então, eu poderia simplesmente me teletransportar para o lado de fora. Porém, eu não faria, para que eu pudesse mostrar a eles minhas reais intenções: alerta-los sobre o Ragnarok e descobrir o porquê de Asgard me atrair tanto para que eu chegasse ao ponto de caminhar por seu futuro.
Parei no meio da cela e voltei a deitar-me no chão. Encarei o teto branco e bufei mais uma vez. E se eu precisasse ir ao banheiro? Pensei, enquanto erguia uma das mãos e movia meus dedos aleatoriamente. A costumeira luz verde esmeralda se fez presente entre minhas falanges. Era um brilho bonito, lembrava-me da primeira vez que o vi saindo do meu próprio corpo e preenchendo a coloração dos meus olhos. De início eu me assustei, mas de algum jeito, não parecia como se não devesse estar ali. Parecia habitual.
Durante os dias que ficamos eu e meus irmãos nas celas na Hydra, — chamadas falsamente por eles de quartos. — após o contato com a Joia da Mente, era muito fácil eu ficar entediada. Sentia falta de ter meus irmãos por perto para que eu e Pietro pudéssemos saturar a mente de Wanda com quaisquer espécies de assuntos. Por conta disso, era muito comum mover minhas mãos e ativar minhas habilidades constantemente, porque encarar a luz esverdeada encantava-me e acalmava-me de algum jeito.
Continuei com a movimentação, eventualmente das duas mãos, acima do meu corpo, observando o espaço de teto e chão brancos tornarem-se esverdeados gradativamente, como se todos os objetos refletissem apenas a cor verde a partir daquele momento. Apenas parei minhas mãos ao sentir alguém se aproximando. Nunca mais confundiria aquela energia, era única demais.
Abaixei os braços e sentei-me, cruzando as pernas, observando a coloração branca e desinteressante do espaço retornar aos poucos. Loki contornava os limites da cela, com seus olhos fixos em minha figura a todo momento. Estava em sua forma original, com os olhos azuis faiscantes presentes, estava sozinho. Sorri sarcasticamente em sua direção, ele apenas devolveu o gesto com um semicerrar de olhos.
Levantei-me do chão, continuando com toda a minha atenção sobre ele, e aproximei-me de uma das paredes de energia, a que ele estava mais próximo. A cela ficava em uma espécie de plataforma, então eu estava um pouco mais alta, porém Loki não ergueu a cabeça, apenas olhou-me intensamente. Algo naquele olhar me assustava e me atraía exageradamente.
— Vai ficar só me encarando, Branca de Neve? — perguntei, erguendo uma das sobrancelhas. — Eu sei que é uma vista tentadora, mas você bem que podia ouvir o que eu tenho pra falar.
Ele não respondeu, apenas ergueu minimamente a cabeça. Pude ver um sorriso macabro quase imperceptível se formar no canto dos seus lábios. Ótimo, perdeu a língua, pensei enquanto cruzava meus braços, irritada.
— Pode pelo menos me levar pra algum lugar com um banheiro? — perguntei, erguendo uma das sobrancelhas. — Não sei como funciona com vocês, Deuses, mas nós, humanos, precisamos de um banheiro caso fiquemos apertados ou comecemos a cheirar mal. Banho, conhece? — Loki continuava em silêncio, mas seu olhar era intrigado e divertido.
— Humanos não fazem o que você estava fazendo com as mãos. — disse ele finalmente.
Mas eu ainda preciso de um lugar para as minhas necessidades, pensei puxando uma grande quantidade de ar para meus pulmões.
— Pelo menos pode me dar minha mochila? — perguntei novamente, e dessa vez o olhar de Loki era confuso e desconfiado. — Não tem nada demais lá, apenas roupas, um caderno e canetas. — Ele ergueu uma sobrancelha. — Pode olhar, se quiser.
Loki, novamente, não respondeu, apenas intensificou o olhar no meu. Ele semicerrou os olhos por uma segunda vez naquele dia e ergueu mais a cabeça, como se tentasse, de alguma maneira, enxergar através de mim. Eu sabia o que ele estava fazendo, afinal, minha irmã sabia fazer o mesmo, e depois de tanto tempo de convivência com ela e seus poderes, pude aprender a criar algumas barreiras em minha mente.
— Sai da minha cabeça. — pedi, com a voz um pouco mais tensa. Qualquer resquício de sorriso sumiu do meu rosto.
O Deus piscou algumas vezes, seu semblante parecia confuso mas ao mesmo tempo intrigado e sua energia dizia o mesmo. Ele estava calmamente agitado em um perfeito paradoxo. Eu ainda podia senti-lo vasculhar pela minha mente, e mantive a concentração para que não conseguisse ver absolutamente nada. Muita coisa rondava meus pensamentos, tais como lembranças e principalmente meus medos.
Senti meu peito apertar-se, lançando uma pressão absurda por todo meu corpo, tornando cada vez mais difícil o simples ato de respirar. Um leve tremor fez-se presente em minhas mãos, e por mais que eu estivesse acostumada e familiarizada com a sensação que minhas ansiedades me causavam, continuava sempre doendo e dilacerando meu coração como o inferno.
Wanda sempre me ajudava, já que esses momentos aconteciam normalmente ao acordar de um pesadelo ou quando algum fato engatilhava minhas memórias, como havia acabado de acontecer, e quando ela não estava por perto, minha última saída era desenhar ou pintar. Naquele momento, nenhum dos dois estavam ao meu alcance, e a simples ideia de alguém além de minha irmã me ver naquele estado me assustava intensamente.
Tentei ao máximo esconder aquela sensação, como se ao mesmo tempo que algo me apertava vigorosamente, também puxava todas as extremidades do meu corpo como se quisesse separa-las. Fechei as mãos em punhos, tentando conter o tremor que intensificava-se cada vez mais. Em algum momento que eu não sabia exatamente, prendi a respiração, e torci para que estivesse sozinha e pudesse desabar sem que ninguém percebesse.
Talvez eu tenha deixado essa parte bastante explícita em meus pensamentos, porque Loki simplesmente começou a caminhar pelo mesmo rumo de onde havia vindo inicialmente, ainda sem dizer uma palavra. Já não sentia mais sua presença em minha mente, mas seu olhar continuava em mim enquanto sumia, aos poucos, pelas sombras do calabouço.
Ao perdê-lo do meu campo de visão, e finalmente não sentir mais sua energia por perto, estando finalmente sozinha, pude soltar, com força, o ar que prendia. Curvei meu corpo e levei uma das mãos ao peito, puxando imensas quantidades de ar para meus pulmões. Fechei os olhos, agoniada, desejando que minha irmã estivesse comigo.
(...)
Não sabia dizer quanto tempo havia se passado desde que Loki viera no calabouço. O tremor e ansiedade que eu sentia antes ainda estavam ali, mas eu havia conseguido acalma-lós o suficiente para respirar em ritmo normal, apenas um pouco pesado. Estava deitada no chão, em posição fetal, com a cabeça apoiada em um dos braços, e apenas me movi ao sentir, novamente, o Deus se aproximando. Não me levantei ou sentei daquela vez, apenas acompanhava seus passos com os olhos.
— Levante-se. — Ele pediu. Estava novamente em sua forma original. — Quer sair daí ou não? — perguntou ao ver que eu não iria me mover.
Fiz, então, o que ele pediu. Apressei meu corpo para se levantar e caminhei rapidamente até uma das paredes de energia. O momento perfeito para minha carta na manga, pensei ao mover minhas mãos antes que ele pudesse fazer algo, e desligar o que antes me prendia naquele cubículo. Não havia sido difícil, como eu pensava, e o olhar surpreso e alerta que Loki possuía fez um sorriso voltar a se fazer presente em meu rosto.
— Podia sair a todo momento? — Ele perguntou, após conjurar uma adaga e apontar para o meu rosto.
— Sim. — disse, erguendo os braços ao lado da cabeça. — Mas quis te provar que não quero fazer nada de mal, e que pode confiar em mim, por isso não saí.
Loki passou seus olhos por toda extensão do meu corpo, e algo naquele gesto fez com que um arrepio, quase como uma corrente elétrica, percorresse meus ossos. Sorri sugestiva e involuntariamente com um dos cantos dos lábios. Loki guardou a adaga após alguns segundos.
— Vamos. — disse ele, dando um passo para o lado e esperando que eu passasse.
Abaixei as mãos e passei pelo espaço que ele havia deixado, e aproveitei para afundar minhas orbes em seus olhos de oceano mais uma vez, daquela vez mais próximos. Ele era alto, então precisei levantar um pouco o rosto. Algum detalhe mudou em sua energia ao retribuir toda a intensidade do meu olhar, e se pudéssemos, eu acreditava que poderíamos ficar presos naquele momento infinitamente.
Segui pelo caminho apontado por ele, direcionando-me para a saída do calabouço. Ao passo que eu me aproximava das portas, senti mais duas energias do lado de fora, talvez fossem guardas, ou apenas mais duas pessoas aleatórias, de um jeito ou de outro, provavelmente Loki não iria querer que elas o vissem em sua verdadeira forma, afinal, era para ele estar morto. Talvez algo em nossa profunda troca de olhares o tenha feito se distrair levemente, já que ainda não havia assumido a forma do pai.
Em um movimento rápido, virei-me em sua direção, já que estava atrás de mim, e ergui uma das mãos na mesma altura do seu peito. Como fora um movimento inesperado, nossos corpos acabaram se aproximando um pouco mais, e novamente, Loki ergueu a adaga e apontou para a minha garganta, tentando esconder a surpresa. Revirei os olhos.
— Pare de apontar esse negócio pra mim. — pedi, empurrando a arma branca para o lado. — Está querendo que todos saibam que você está vivo?
Uma linha formou-se em seu cenho franzido. A adaga continuava firme em sua mão, mas não apontava mais para mim. Fiz um gesto com os dedos, apontando para seu corpo, e depois de alguns instantes ele pareceu perceber, já que ergueu as sobrancelhas e balançou suavemente a cabeça. Em seguida, um sorriso presunçoso surgiu em seus lábios.
— Por que me alertou, e não simplesmente deixou que me vissem? — Ele perguntou, voltando a guardar a adaga.
— Já disse que não vim fazer nada de mal. — respondi, dando de ombros, mas em momento algum me afastei de seu corpo, próximo ao meu. — E provavelmente iriam querer te matar. — continuei, e involuntariamente me aproximei mais. — Seria um desperdício.
Fiz questão de passar meus olhos por toda sua imagem, conseguindo deixar claro exatamente o que eu queria, já que o olhar de Loki pareceu se tornar ávido e ardente em contato com o meu. Ele sorriu, e sua energia se agitou drasticamente. Talvez eu apenas houvesse inflado seu ego, ou então algo o atraía até mim, do mesmo jeito que me atraía até ele.
Esperei mais alguns instantes antes de me afastar, como uma provocação ou algo parecido. Loki piscou uma vez, em seguida moveu o corpo, assumindo a forma e aparência de seu pai em segundos. Decepcionei-me levemente por não poder encarar mais sua forma original, por enquanto. Porém, seus olhos continuavam pregados em minha mente.
Loki abriu as portas do calabouço, em seguida, dois guardas, que esperavam do outro lado, seguraram meus braços, um de cada lado. Eu sei andar sozinha, pensei enquanto fazia uma careta para ambos, mas eles não deram a mínima importância, apenas continuaram com o aperto firme.
Eles me guiaram por inúmeros corredores, com Loki caminhando na frente. Meu encanto com aquele lugar se fez presente mais uma vez, aumentando a cada passo que eu dava e a cada vista que aparecia diante dos meus olhos. Não demorou para chegarmos em frente a uma porta enorme e toda decorada com galhos das mais diversas e bonitas flores, tudo aquilo em ouro. Queria minhas tintas, pensei novamente, controlando um sorriso infantil e animado com toda a beleza do local.
Loki, ainda na forma de Odin, abriu uma das portas e deu passagem para que eu entrasse. Por incrível que pudesse parecer, eles me levaram a um quarto, igualmente enorme e majestoso, com uma cama um tanto grande, uma cômoda delicada ao lado e um guarda roupa de madeira também com entalhes em formato de flores. Em cima da cama estava minha mochila, e mais à frente vi uma porta menor, ainda assim grande.
— Esse é um dos quartos menores. Considere como sua nova cela. — Ela ouviu a voz de Odin dizer.
— Um dos menores? Isso aqui é imenso. — disse, adentrando o cômodo. Olhei ao redor, maravilhada, com os lábios entreabertos em surpresa.
Caminhei em direção à porta menor que havia visto, e ao girar a maçaneta vi um banheiro. Ergui as sobrancelhas, um tanto surpresa com a aparência bastante terrestre do lugar. Um chuveiro, com um box de vidro grande, uma privada e uma pia. Virei meu rosto para encarar o de Odin mais uma vez.
— Não sabia que os banheiros dos Deuses fossem iguais ao meu. — comentei, inclinando levemente a cabeça e franzindo o cenho.
— Temos tecnologia o suficiente para montarmos um banheiro que fosse tão simples e midgardiano. — disse ele, direcionando-se para a saída. — Não foi difícil, vocês são um tanto retrógrados.
E saiu. Após dar um comando aos guardas, vi as portas enormes se fechando, e pude ouvir um clic agudo da tranca sendo ativada. Por mim estava ótimo ficar trancada naquele lugar, era extremamente maravilhoso.
Olhei ao redor mais uma vez e percebi uma janela, que assim como tudo em Asgard, tinha seu tamanho considerável. Como não notei ela ali antes? Pensei, aproximando-me e encarando a vista que ela proporcionava.
Arfei quando meu campo de visão foi atingido por uma paisagem incrivelmente brilhante. Observei todo o dourado que aquele lugar possuía, que reluzia de forma esplêndida com a luz do sol. Além do ouro, também havia muitos verdes, em consequência das árvores saudáveis e vistosas vindas da mata que cercava a cidade, se é que eu poderia chamar assim.
Corri para a mochila em cima da cama e tratei de tirar o caderno de lá, e com o lápis e borracha já posicionados de forma costumeira em minhas mãos, voltei à vista da janela. Mesmo que nenhum tipo de caneta, lápis de cor ou tinta pudesse parecer retratar aquele lugar de forma tão extraordinária, eu precisava passar tudo aquilo pelo menos para o papel, e assim o fiz, maravilhada.
DIA SEGUINTE
Acordei novamente com um pesadelo. Daquela vez, havia visto Wanda e Pietro, presos em uma cela na instalação da Hydra em Sokovia. Eu estava do lado de fora, apenas encarando enquanto eles batiam no vidro que nos separava. Eles pareciam berrar enquanto me encaravam com o mais puro ódio nos olhos. Minha mente gritava, e eu fazia a maior força que conseguia na tentativa de acabar com tudo aquilo, mas meu corpo continuava estático, observando, vendo-os destruirem-se aos poucos.
Respirei profundamente, sentindo mais uma vez o aperto estrondoso no peito e a sensação de desespero. Fechei os olhos, tentando me concentrar em qualquer coisa que não fosse a imagem de meus irmãos gritando, porém nada parecia tirá-los de lá.
Levantei da cama em um salto, correndo até a grande janela de Asgard em seguida, tentando entorpecer meus sentidos com toda a luz e vivacidade da cidade dourada. Inspirei profundo novamente, e percebi que a solução havia funcionado, pelo menos minimamente. Pude finalmente soltar o aperto no batente da janela, que eu nem percebi que havia colocado.
Olhei em direção ao banheiro, pronta para seguir meu rumo até lá e apenas jogar uma água no corpo, mas o barulho da porta do quarto se abrindo fez com que minha atenção fosse desviada até lá. A imagem de Odin se fez presente, e após ele fechar as portas, moveu a cabeça, como ele havia feito no dia anterior, trazendo a figura de Loki de volta.
Um sorriso sugestivo formou-se involuntariamente em meus lábios e pensei que provavelmente jamais me cansaria de ver aquela transformação. De ver Loki tomar toda a minha atenção cada vez que assumia sua forma original. Seus olhos pararam nos meus, como sempre acontecia desde a primeira vez que nos vimos. Ele ergueu a cabeça e me olhou por cima, mas ainda parecia entretido.
— Estou pronto para ouvir o que tem a dizer.
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Autora: oi, marvetes. A estreia de Loki me inspirou hoje pra postar mais um capítulo (enquanto posto, ainda não assisti, tô ansiosa kkkk)
Bom, mais um pouquinho da Kira, agora com seu "primeiro contato" com o nosso Deus da Trapaça.
Espero muito que tenham gostado e que estejam gostando.
Deixa a estrelinha pra mim, por favor, e se quiserem comentar, fiquem a vontade, eu não mordo kkkkk
Bjin proceis♥️
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