29 - São família
— O Ânus do Demônio? — Após Valkyrie dizer o nome do tal portal enorme, eu realmente confirmei que a ideia era péssima, mas infelizmente a única que tínhamos.
— Ânus? — Bruce gritou atrás de um balcão, onde comia um sanduíche que havia preparado. — Espera, espera, ânus de quem?
— Pra deixar claro, eu não sabia do nome quando escolhi. — Thor fez questão de se defender.
— Essa é realmente nossa única opção? — perguntei, fazendo uma careta enquanto encarava o tal portal.
— Aquilo parece uma estrela de nêutrons em colapso dentro de uma ponte de Einstein-Rosen. — Minha careta apenas piorou após a fala de Bruce.
— Que porra... — sussurrei para mim mesma e encarei Loki, que também possuía uma feição confusa no rosto.
— Precisamos de outra nave, aquilo ali destruiria a minha. — Valkyrie se apressou em dizer, encarando o portal com certo nojo, enquanto segurava uma garrafa de alguma bebida alcoólica.
— Na verdade. — Thor virou-se para mim. — Você se teletransporta para os lugares, e de algum jeito foi parar em Asgard. Então... Não consegue nos teletransportar? Sem que precisemos de naves. — Suspirei profundamente, negando com a cabeça.
— Eu até poderia, mas essa merda de lugar mexeu com todos os meus neurônios. — Comecei a explicação. — Tô toda desregulada, quase não consigo usar meus poderes direito. Tá uma bagunça. — O assunto me irritou mais uma vez, e meu ódio por tudo que existia em Sakaar aumentou.
— Tudo bem, então precisamos de uma nave que suporte a pressão geodésica da singularidade... — Thor começou.
— E com um sistema de direção assistida que também funcione sem o computador de bordo. — Bruce completou.
— E apoio para copos, porque vamos morrer, então, drinks. — A Valquíria acrescentou erguendo a garrafa de bebida, enquanto olhava para os dois.
Nesse resto de conversa eu havia entendido exato 0,1 por cento do que foi dito, e minha expressão confusa e desgostosa deixava bem claro.
— Acho que sou uma idiota... — sussurrei para mim mesma, baixo o bastante para que ninguém mais ouvisse.
— O que acham, Bruxinha, Bruce? — A voz de Thor fez com que eu voltasse minha atenção a ele. — Viagem metagaláctica através de um portal volátil. Uma grande aventura. — Ele sorriu para nós e fez um cumprimento com Bruce usando uma das mãos.
— Tudo bem, mas a única coisa que entendi dessa conversa sem pé nem cabeça, é que precisamos de uma nave. — Eu disse, recebendo um aceno positivo de cabeça por parte de Thor e Bruce.
— Há duas naves. — Valkyrie voltou a dizer, fazendo com que nós quatro nós juntássemos em uma roda. — Top de linha...
— Eu não quero me meter...
Loki cortou a fala da mulher, e em resposta ela jogou a garrafa que segurava, acertando a parede extremamente próxima do rosto do Deus. Não consegui controlar um olhar repreendedor e irritado para ela, que surgiu de forma completamente involuntária. Percebi só então que Thor me encarava com um sorriso e uma sobrancelha erguida.
— Eu vi esse olhar, Bruxinha. — disse ele, com ironia na voz. Revirei os olhos, mas não respondi.
— Mas, o Grão-Mestre possui muitas naves. — Loki continuou a dizer. — Eu posso até já ter roubado o código de acesso ao sistema de segurança. — Claro que ele roubou, pensei erguendo um dos cantos dos lábios enquanto o olhava.
— E de repente, resolveu fazer a coisa certa? — Valkyrie perguntou. Respirei profundamente, conseguindo controlar mais um olhar irritado a ela.
— Pelos Deuses, não. — Loki respondeu. Revirei os olhos percebendo que ele usava a máscara de Deus da Trapaça mais uma vez. — Não tenho mais o apreço de Grão-Mestre, e a única pessoa com quem me importava pra fazer aquele teatro já está a salvo, então, em troca do acesso a uma nave, quero atravessar em segurança através do Ânus. — Ele completou com um sorriso presunçoso nos lábios, deixando seu olhar em mim por alguns segundos, antes de encarar os outros. Não evitei um sorriso.
— Está dizendo que pode nos dar acesso à garagem, sem acionar alarmes? — Thor perguntou, porém eu não consegui tirar os olhos da figura de Loki.
— Certo, irmão. Eu posso.
— Tudo bem, posso só... Uma reunião rapidinha. — Bruce nos chamou a atenção, juntando nós quatro em uma nova roda, um pouco menor que a anterior. Só então desviei meu olhar. — Conversei com ele agora mesmo, e ele estava prontinho pra nos matar.
— Ele já tentou me matar. — Valkyrie informou.
— É, e a mim também. Várias vezes. — Thor concordou e contou uma história sobre Loki virar uma cobra e esfaquea-lo quando eles tinham oito anos. Ergui as sobrancelhas com a história e encarei Loki, que segurava uma risada divertida pela lembrança. Sorri também, enquanto os outros tinham expressões assustadas e raivosas.
— Esperem só um momento, eu também já tentei matar vocês dois, e aí? — perguntei, colocando as mãos na cintura, sentindo o peso do olhar de Loki sobre mim, além de uma energia orgulhosa vinda dele.
— Sim, mas agora você é uma Vingadora e já até transou com Natasha Romanoff. — Thor tomou a palavra, colocando aquele sorrisinho cínico que ele possuía no rosto.
— O que? — A pergunta veio de Bruce e Loki em uníssono. O cientista parecia surpreso, mas o Deus estava completamente furioso.
— Certo. — Encarei Thor, quase o fuzilando com meus próprios olhos. — Não é bem a hora pra esse tipo de conversa, não acham? — Semicerrei os olhos em sua direção, mas ele não diminuiu o sorrisinho em nenhum momento. — De volta ao ponto principal, por favor. — Bati palmas, e por sorte nenhum deles voltou a tocar no assunto, por hora.
— Bom, se vamos roubar uma nave, precisamos tirar os guardas do palácio. — Valkyrie disse, mudando o foco da conversa. Agradeci mentalmente a ela.
— Por que não usamos o grandão? — perguntei dando de ombros, recebendo um olhar repreendedor de Thor e Bruce. Franzi as sobrancelhas.
— Que grandão? Vocês têm um grandão? — Valkyrie animou-se, colocando um sorriso no rosto.
— Não, não temos nenhum grandão, somos só nós, não é mesmo, Bruxinha?
Por alguns segundos troquei um olhar profundo com Thor. Poderia ser minha chance de dar o troco por simplesmente expor minha vida sexual a todos, mas também envolvia Banner, e apenas por ele, eu mantive minha boca fechada.
— Vamos começar uma revolução.
(...)
Após decidir o plano, Valkyrie e Bruce foram fazer a parte deles, que era libertar os prisioneiros para que eles começassem a tal revolução. Já eu, Loki e Thor ficamos responsáveis por ir atrás da nave que roubaríamos de Grão-Mestre. Em nenhum momento pelo caminho, Loki olhou para mim, e percebi sua energia em uma anarquia extremamente agitada, então antes que pudéssemos colocar o plano em prática, toquei seu ombro.
— O que foi? — perguntei. Thor provavelmente ouvia, mas estava mais afastado.
— Natasha Romanoff, sério? — Ele soltou, finalmente colocando os olhos em mim. — Também teve o tal do Soldado Invernal, e quem mais? Steve Rogers? Tony Stark? — Ergui as sobrancelhas com sua fala repentina, não conseguindo segurar um sorriso divertido no rosto.
— E se eu fiquei com todos eles, qual seria o problema? — perguntei. Eu sabia que ia apenas deixá-lo mais enraivecido ainda, mas eu tive que provocar.
— Eles são midgardianos. — Ele tentou não mostrar que o problema era o ciúmes, mas falhou miseravelmente.
— Eu sou midgardiana. — Continuei sorrindo. — Nasci na Terra, e você não tava reclamando nem um pouco disso quando estava na minha cama.
Loki bufou, mas não respondeu, apenas sustentou meu olhar de maneira intensa. Em poucos segundos ele se entregou aos meus olhos, assim como eu aos dele, como sempre fazíamos. Senti meu interior ferver e agitar-se, assim como o dele, e em um momento quase nos tornamos um único ser, apenas com a intensidade e profundidade de nossos olhares um no outro. Tive vontade de sentir seu gosto de novo, seu toque, seu cheiro, seu corpo...
— Com licença. — A fala de Thor interrompeu meus pensamentos, e por um breve momento quis soca-lo. — Não quero interromper o... momento de vocês, mas precisamos ir.
Só então me lembrei para que estávamos ali, e mesmo desejando observar Loki por tempo indeterminado, concentrei-me no que precisaríamos fazer. E assim fomos, Thor e Loki carregavam duas armas, as quais conseguimos obter posse após as roubarmos, e eu ia simplesmente confiando em meus poderes desregulados, ou então usaria o combate corpo a corpo.
Chegamos na primeira porta, e Loki logo começou a digitar o código para abri-la, e foi quando Thor quis iniciar uma conversa com o irmão. Para ser bem sincera, decidi não me importar com ela no início, já que era muito interna e de família para o meu gosto, então deixei que conversassem a vontade. Eles foram interrompidos quando as portas se abriram e os guardas que existiam do outro lado nos viram.
— Olá. — Thor disse.
— Oi. — Loki completou. Eles realmente eram irmãos, mesmo que não fossem de sangue.
Eles abateram alguns deles, e deixaram mais uns quatro para mim. A maioria consegui nocautear apenas com uma rajada de energia dos meus poderes, mas como sempre em momentos cruciais tudo tem de dar errado, minha energia falhou, então tive que improvisar. Primeiro nos escondemos nos batentes das paredes, já que os guardas atiravam também.
— Não era hora pra vocês falharem. — comentei encarando minhas mãos enquanto bufava nervosa. Thor e Loki ainda discutiam "a relação" entre as pausas para nos escondermos.
Finalmente saímos de novo do esconderijo, e Thor e Loki continuaram atirando, dando-me cobertura para que eu passasse, até conseguirmos chegar a mais uma porta que precisávamos inserir o código, porém, nenhum dos dois viu um dos guardas que se aproximavam de mim. Vai ter que ser no soco, pensei enquanto me preparava.
Consegui chutar seu abdômen com força o suficiente para que ele se curvasse, e foi quando eu apoiei minhas mãos no chão, para que eu conseguisse pegar mais impulso em uma das pernas e finalmente chuta-lo na nuca, conseguindo também desacorda-lo.
Quando levantei, procurei os irmãos Deuses com o olhar, enquanto arrumava minhas roupas e saía de perto do guarda. Encontrei ambos me encarando com divertimento no olhar, e também com orgulho. Suas energias estavam do mesmo jeito, porém a de Thor era um pouco mais surpresa.
— Muito bom, Bruxinha. — Thor comentou, fazendo um movimento de aprovação com as mãos.
— Já disse que ela é uma Deusa, irmão. — Loki comentou, ainda sem tirar os olhos de mim. — De qualquer jeito...
E ambos continuaram a conversa, que eu mais uma vez não me importei em escutar. Após a porta ser finalmente aberta, um dos guardas apareceu apontando a arma diretamente para Loki. Meu sangue ferveu, o que me fez pegar uma das armas no chão de maneira rápida e atirar no filho da puta, que caiu ao lado de Loki e Thor. Sorri enquanto o fazia, percebendo que o tal guarda não teve nem chance para puxar o gatilho.
Conseguimos passar de todos os obstáculos até chegarmos em um elevador, e como eu não tinha mais nada para fazer, comecei a finalmente prestar atenção na conversa dos irmãos, que realmente me gerou desconforto.
— Talvez seja melhor eu ficar aqui em Sakaar. — Loki disse. Controlei minha vontade de contesta-lo.
— Pensei a mesma coisa. — Thor concordou. O mais novo virou o rosto em sua direção, com uma expressão confusa e surpresa.
— Você concordou comigo? — Ele perguntou, realmente estranhando a atitude do mais velho.
— Este lugar é perfeito pra você. — Thor continuou, dando um leve tapinha nas costas do irmão. — É selvagem, caótico, anárquico. Vai se dar muito bem aqui. — Tensionei o maxilar, atingindo meu limite de controle pessoal.
— Você me considera tão pouco assim? — Não deixei que Thor respondesse, já que aquela conversa havia me dado nos nervos o suficiente.
— Não, Loki, ele não te considera pouco. — disse, chamando a atenção deles para mim. — Ele é seu irmão, e ele ama você, pelo amor dos Deuses. — Fiz uma pausa, agora voltando meu olhar até o mais velho. — E esse lugar não é perfeito pra ele. Loki não é caótico, não é selvagem. Na verdade, ele merece muito mais. Merece todo esse universo, mas você, Loki... — Apontei para o mais novo com o indicador. — Você ainda não enxerga isso de si mesmo. — Mais uma pausa. — Vocês dois estão errados. E vocês dois precisam um do outro. São família, porra.
Encerrei meu discurso apenas encarando algum ponto aleatório do elevador, que com certeza demorava demais para chegar onde queríamos. Eu devia ter me controlado e não ter me metido, mas foi impossível ficar quieta, precisava abrir os olhos de ambos, para que pudessem finalmente aprender a trabalhar juntos. O silêncio reinou por longos segundos, até Thor quebrá-lo, felizmente mudando de assunto.
— Ei, vamos fazer o "ajuda aqui". — disse ele, virando a cabeça para Loki, que franziu as sobrancelhas e também encarou o irmão.
— O que? — Loki não parecia feliz com a ideia.
— "Ajuda aqui".
— Não.
— Ah, vamos lá, você ama.
— Eu odeio.
— É ótimo, sempre funciona.
— É humilhante.
— Você tem um plano melhor?
— Não.
— Vamos fazer.
— Nós não vamos fazer o "ajuda aqui". — Loki encerrou a conversa. Não consegui controlar uma risada divertida, logo percebendo que eu poderia me aproveitar disso.
— "Ajuda aqui" parece ótimo, não? — perguntei, percebendo que o elevador finalmente chegava em nosso destino.
Thor sorriu presunçoso em direção ao irmão mais novo, que apenas me lançou um olhar irritado antes de revirar os olhos e ceder finalmente ao desejo do mais velho. Loki ergueu um dos braços e Thor o passou pelos seus ombros. Loki logo assumiu uma postura fraca, apoiando o peso em seu irmão, como se tivesse passando mal e prestes a desmaiar.
O elevador finalmente chegou onde queríamos, e Thor também assumiu um papel, estava preocupado e implorava por ajuda. Permaneci um pouco mais escondida ainda no elevador, para que os guardas presentes no local não vissem que eu também estava ali.
— Ajuda aqui. Por favor. Meu irmão, está morrendo. — Thor correu para o interior da garagem, ainda com Loki nos braços. Segurei uma risada fraca. — Ajuda aqui... Ajudem-no!
Com a última frase, Thor jogou Loki em cima de todos os guardas. Dessa vez não controlei uma risada divertida ao ver Loki parecer uma bola de boliche. Pelo menos conseguiu nocautear todos.
— Clássico. — Thor comentou, com um sorriso no rosto. — Você viu, Bruxinha? — Minha risada já foi uma resposta ótima, o que fez Thor se juntar a mim, enquanto Loki levantava e ajeitava as roupas com um semblante sério.
— Ainda odeio. — disse o mais novo. — É humilhante. — Ele não me encarava com uma expressão muito bacana, mas não escondi a risada, e apenas ajeitei uma mecha de seu cabelo que caíra em seu rosto.
— Não, pra mim não é. — Thor comentou, ainda rindo. — Qual foi a nave que ela mandou a gente pegar? — perguntou ao irmão.
— A Comodoro. — respondeu o mais novo, apontando pra uma nave de modelo circular e colorida.
Começamos a andar até ali, porém eu senti que algo começava a ficar errado. Percebi a energia de Loki se afastando conforme caminhávamos, e não precisei ouvir ele dizer nada para perceber que estava prestes a simplesmente arruinar o plano, assumindo sua máscara de Deus da Trapaça mais uma vez.
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Autora: OI GENTEEE, mds eu tô mto rápida eu sei, mas tô animadíssima escrevendo, ent tá aí mais um capítulo!!
Não vou me estender muito aqui, então só vou pedir que comentem bastante e que não esqueçam da estrelinha, espero mto que estejam gostando
Bjin procêis💚
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