26 - Doeria menos
"Você pode ver minhas cicatrizes?
Pode sentir meu coração?
Isso é tudo de mim
Para todo esse mundo ver
Então quem vai ser
Aquele que você só precisa
Eu dei tudo e tudo o que você deu
Foi uma doce miséria
Então quem vai nos salvar agora?
Quando as cinzas atingirem o chão"
(Scars - Boy Epic)
Algumas semanas haviam passado, na verdade eu achava que havia sido algumas semanas, já que eu não tinha noção alguma de tempo naquele lugar horrível e desprezível. Inclusive, durante esse tempo, meu pesadelo apenas aumentava a cada dia.
Eventualmente, Grão-Mestre me fazia passar de novo e de novo por aquele mesmo aparelho que havia me mostrado meus irmãos inicialmente. Além de ver Pietro e Wanda mais algumas milhares de vezes, meu subconsciente acabava me mostrando também a época em que eu estava presa na Hydra, e consequentemente me mostrava o Soldado Invernal.
A cada experiência, a dor apenas aumentava em meu coração e o desespero e angústia consumiam todos os meus sentidos, principalmente pelas visões e lembranças tornarem-se extremamente reais a cada experiência. Grão-Mestre me torturava cada vez mais, deixando-me mais quebrada do que já estava.
Cada missão, cada sangue derramado por minha causa, cada sofrimento causado pelos meus poderes, entravam em minha mente de forma violenta e intensa, e a cada vez que aquilo terminava, uma crise diferente era desencadeada em mim, levando-me a inconsciência algumas vezes por falta de ar e desespero.
E por falar em meus poderes, continuava sem senti-los, por um lado estava tudo tão quieto, silencioso e calmo, eu não sentia mais ambientes e lugares de forma exagerada como antes, mas por outro, sentia tanta falta deles, como se não fossem feitos para estar longe de mim. Minha mente sempre lembrava-se de Bryndís nesses momentos, e o que ela pensaria sobre mim por simplesmente ter perdido os poderes que ela havia me confiado. Os poderes que ela tanto cuidou e evoluiu, depois de fazer tanta coisa e tantos feitos. Além de angústia, também sentia vergonha.
Não ouvir nada sobre Loki nesse meio tempo apenas deixava tudo pior, trazendo-me a confirmação de que ele realmente havia me trocado com Grão-Mestre para poder estar em uma posição favorável apenas para ele. Eu não saberia descrever o tanto que doía, e o quanto eu sentia raiva por isso. Raiva de mim mesma, além dele, afinal, ele era o Deus da Trapaça, não é mesmo? Por que não me trapacearia? Talvez porque ele não fosse desse jeito... Não saberia dizer mais, estava perdida demais, perdida em todos os sentidos, perdida de mim mesma.
Além das torturas psicológicas, Grão-Mestre me colocava para lutar esporadicamente, e chamava-me para todos de "minha belíssima campeã", juntamente de Hulk. Para a plateia, éramos seus protegidos, suas estrelas, mas ninguém sabia o que se passava por baixo dos panos, principalmente comigo. As lutas eram mais um problema que eu enfrentava. Mais um gatilho, já que eu era obrigada a matar cada um que entrasse na arena comigo.
Depois de alguns dias, começara a ficar mais fácil ver todos aqueles corpos, que fui obrigada a tirar a vida, e isso me assustava cada vez mais, me aterrorizava e me deixava enjoada comigo mesma. Eu estava me tornando um dos mais desprezíveis monstros já existentes e o pior: eu sabia, e não fazia nada para que mudasse. Um, porque Grão-Mestre não deixaria, e dois, porque eu estava confortável com isso... Ou apenas pensava estar confortável, já que havia se tornado rotina. Uma rotina extremamente fodida e nojenta.
Havia voltado de mais uma luta, mais uma vitória, e estava pronta para limpar todo o sangue que havia em meu corpo, tanto meu quanto de qualquer outro ser que eu tivesse enfrentado, porém o som da porta sendo aberta me chamou a atenção. Permaneci parada, de costas, esperando quem quer que fosse se pronunciar. A voz, conhecida por mim, ferveu meu sangue.
— Kira. — Era Loki. Depois de tanto tempo, tantas torturas, Loki estava ali. Não me virei completamente, apenas a cabeça, demonstrando que eu estava escutando.
— Olha só quem resolveu aparecer. — Minha voz soou fria e dura, e eu já não me lembrava mais dela sem ser assim.
— Kira, como você está? — Ele teve a audácia de perguntar.
Ergui uma das sobrancelhas enquanto me virava de forma lenta, até ficar cara a cara com o Deus. Ao alcançar seus olhos, senti meu interior se remexer, mas dessa vez havia sido por conta da dor que ele me causou. Percebi que sua expressão mudou ao me ver por completo. Ao ver minhas roupas rasgadas, repletas de sangue assim como cada pedaço da minha pele, meus cabelos bagunçados e sujos, além de um corte profundo perto da área do nariz, o qual escorria sangue até meu queixo, arregalou os olhos levemente.
— Quem fez isso com você? — Ele perguntou, dando alguns passos à frente.
Por instinto, capturei rapidamente a lança pontuda nas duas extremidades, que sempre me acompanhava, e apontei para ele, encarando fixamente seus olhos enquanto o fazia. Ele não conteve uma expressão surpresa, afastando-se alguns passos e erguendo as mãos acima da cabeça.
— Kira...
— Você. — comecei dizendo, com a voz rude, ainda apontando a lança para a direção dele. — Você fez isso comigo. — Loki franziu as sobrancelhas, com a expressão confusa.
— Deve haver um mal entendido... — Ele tentou começar, mas eu não deixei.
— VOCÊ ME VENDEU, LOKI. — gritei, sem me importar com quem pudesse ouvir do lado de fora. — Me vendeu ao desgraçado do Grão-Mestre, e pra que? Pra ficar na vida boa, pelo visto. Está completamente limpo, com roupas novas. — Fiz uma pausa. — Como se sente? Como se sente traindo a única pessoa que confiava em você de verdade?
— Eu não traí ninguém... Não dessa vez. — Ele disse, ainda tentando se aproximar. Continuava o afastando com a lança.
— E como eu estou aqui? Hein? COMO EU ESTOU AQUI, LOKI? — Gritei mais uma vez. Senti as lágrimas se formarem, mas eu não as derramaria, não mais. — Você sabe o que ele fez comigo? O que ele me fez passar e sentir? — Loki me encarava atentamente, com o maxilar e todos os músculos tensos. — E onde você estava?
— Por favor, Kira, quero que me ouça...
— Por que fez isso comigo? — perguntei, ignorando sua fala anterior.
— Por que não está acreditando em mim? Kira, isso tudo foi um mal entendido, eu precisei fazer isso. — Ele tentou, erguendo levemente a voz.
Loki deu mais alguns passos para frente, fazendo com que a lança encostasse em seu peito, mas ele não pareceu se importar. Seus olhos suplicavam para que eu o ouvisse, e percebi estarem marejados.
— Você me pediu minha sinceridade, e estou lhe dando agora. — Ele continuou. — Você é a única que sabe quando estou mentindo, quando qualquer um está mentindo, por que não acredita em mim?
— Eu não sinto mais... — respondi de imediato. — Desde aquele dia, não sinto mais meus poderes, nem um pingo de energia. — Senti as lágrimas mais uma vez.
— E você resolveu acreditar nele? Simplesmente porque não sentia mais. — Ele perguntou, parecendo ofendido. — Porque é muito mais fácil acreditar que o Deus da Trapaça te trairia, não é?
— Não vire essa merda pra mim, não se atreva. — respondi, sentindo um pouco mais de raiva, mas ao mesmo tempo arrependida. — Onde achou que eu estaria, enquanto você estava deitado na cama dele?
— VIVA, KIRA. ACHEI QUE ESTARIA VIVA. — Ele gritou dessa vez. Pisquei algumas vezes, sem entender aonde ele queria chegar. — Só fiz isso porque ele me prometeu que iria manter você viva. — O silêncio se fez presente entre nós. Constrangedor e desconfortável. Um certo tipo de culpa me consumia, mas eu ainda estava nervosa e chateada.
— Doeria menos se ele tivesse me matado.
E o silêncio tornou-se um enorme abismo entre nós. Eu já não me reconhecia, e provavelmente Loki estaria estranhando, mas não me importei. Não tinha forças para mais nenhum tipo de conversa naquele momento. Suspirei profundamente antes de finalmente abaixar a lança, e encostá-la na parede, perto da cama. Virei-me de costas a ele, como se pedisse para que fosse embora.
E assim ele foi, levando consigo todo o meu coração e deixando-me mais dor ainda, mesmo que sem intenção.
SEMANAS ANTES
Sakaar era realmente um lugar... exótico. O caos era perceptível ali, por todos os cantos, desde as pessoas até as cores vibrantes e misturadas das paredes e roupas. Desde quando chegamos, senti Kira um tanto desconfortável, e talvez fosse por isso, aliás, ela sentia tudo aquilo muito mais que eu, então provavelmente estaria sendo uma experiência nova e desgostosa para ela.
Mas, na verdade, o que mais me surpreendeu aquele dia, foi ver Kira se defender sem seus poderes. O desespero e angústia eram perceptíveis em seu olhar, quando tentou acessar sua energia mas não conseguiu. E tudo apenas ficou mais chocante quando ela demonstrou possuir uma força absurda, lançando um dos guardas longe apenas com um soco. Kira jamais havia tido tanta força assim antes, e pude perceber a surpresa, e inclusive o medo em seus olhos.
Convenci Grão-Mestre de que ela ficasse comigo no quarto, e assim ele deixou, mas me manteve na porta depois de ver que ela havia entrado, afim de me falar algo a mais.
— Quero conversar com você... a sós. — Ele disse a última palavra encarando Kira com um certo desgosto, que não passou despercebido por mim, e ferveu todo meu interior. — Espere que ela durma e venha me encontrar.
E saiu, deixando-me ali com Kira, que estava em pé no meio do quarto, abraçando o próprio corpo, completamente perdida em pensamentos. Os olhos cheios de lágrimas juntamente com o choque e surpresa. Meu coração se apertou de tal forma, que quase levei a mão ao peito em uma tentativa de amenizar a dor.
Não disse nada, apenas envolvi seu corpo e a guiei até a cama que existia ali. Ela deixou que eu a levasse, em silêncio, tensa e aflita. Conversei muito pouco com ela, já que ela não precisava de palavras, mas sim de afeto e proteção naquele momento, e foi exatamente isso que fiz. Aninhei ela em meu corpo, deitada na cama, e a envolvi de forma firme, até que pegasse no sono.
Não quis, nem por um minuto, sair daquela posição para ir atrás de Grão-Mestre como ele havia pedido. Kira em meus braços sempre seria meu lugar favorito, meu porto seguro, mesmo que fosse ela precisando de apoio no momento, ela ainda conseguia me proteger de tudo. Mas, desejando evitar quaisquer outros tipos de conflitos, desvencilhei-me do corpo da mulher, completamente relutante, e caminhei até a porta. Encarei Kira mais uma vez, dormindo tranquilamente, antes de sair porta a fora.
Um dos guardas me esperavam do lado de fora, e sem dizer uma palavra, me guiou pelos corredores daquele lugar caótico e anárquico. Chegamos em um corredor maior, com uma das maiores portas que eu já havia visto. Ela abria por um mecanismo de correr para um dos lados, automaticamente, e quando vi o interior, não precisei pensar muito para descobrir ser o quarto de Grão-Mestre.
Uma sensação ruim tomou conta do meu estômago, mas adentrei o cômodo a mando do guarda, e quando tive total visão, vi o dono do local em pé, ao lado de uma enorme e muito mal decorada cama. Aliás, tudo naquele lugar era gigante. As janelas para o lado de fora, a cama, um bar repleto as mais variadas bebidas. Aquilo parecia um palácio em um único quarto.
— Que bom que veio, Loki. — Grão-Mestre começou, caminhando até o bar e servindo-se de uma das bebidas. — Aceita? — Ele ergueu o copo que estava em sua mão.
— Não, obrigado. — respondi, de forma educada. — Preciso voltar, Kira pode ficar preocupada...
— É sobre isso que gostaria de conversar, Lokinho. — Contive uma careta desagradável com o apelido. Até mesmo Branca de Neve era melhor... ou então, qualquer apelido vindo de Kira era melhor. — Sabe, eu geralmente tenho tudo o que quero, querido. — Ele voltou a dizer, e parou em minha frente, puxando-me pelo braço até que eu chegasse perto de sua cama. — E fico muito irritado quando não tenho o que eu quero.
— Senhor...
— Eu quero você, queridinho, e quero que deixe aquela... mulherzinha, de lado. — Ele pronunciou mais uma vez com nojo, e novamente meu sangue ferveu.
— E se eu disser que não? — perguntei, percebendo instantaneamente que aquilo se tratava de uma ameaça.
— Ela morre e você definha nas masmorras. — Ele disse a frase com tanta naturalidade, inclusive abriu um sorrisinho irônico em seguida.
— Se eu disser que sim... Kira não se machuca. — Ele semicerrou os olhos em minha direção. — Se eu souber que ela se machucou, não penso duas vezes antes de acabar com você... querido. — disse a última frase com a voz carregada de raiva, ao perceber que ele havia ficado muito tempo calado.
— Tudo bem, tudo bem... Ela vive. — Ele finalmente respondeu, sem ânimo, fazendo um gesto com as mãos e revirando os olhos.
— E não se machuca. — completei.
— Isso, isso.
Enfim, cedi, e fora a pior coisa que eu fiz na minha vida. Meu corpo não encaixava com o dele, e a todo momento pensei em Kira, e como ela poderia estar. A cada segundo daquela tortura, quis sair correndo e abraçar e me afundar naquela mulher, mas eu não podia. Precisava ficar longe dela se quisesse que ela sobrevivesse, isso se Grão-Mestre mantivesse sua palavra.
(...)
SEMANAS DEPOIS
Sempre odiei discutir com Kira, e daquela vez havia sido mil vezes pior. Ver sua expressão fria, sem um mísero sentimento destruiu meu coração em pedaços. Seus olhos, antes mágicos, estavam vazios e completamente sem o brilho que costumavam possuir. As roupas que usava, as quais não representavam sua essência de nenhuma maneira. Além da sujeira, e machucados presente em todo seu corpo. Sangue seco, que eu não saberia dizer se era dela ou de algum outro ser, me preocupou mais ainda. Kira estava acabada, tanto externa quanto internamente, e isso destroçou cada pedaço de mim.
Queria poder abraçá-la, mas ela nem ao menos deixava que eu chegasse perto, como se eu fosse um completo estranho. Confesso que fiquei um pouco chateado por ela apenas acreditar nas mentiras de Grão-Mestre, mas eu jamais poderia culpá-la. Eu simplesmente sumi, e ela passou por... Eu nem mesmo sei o que ela passou. Eu sou um idiota, devia ter lutado desde o início para permanecer junto dela. Porém, seriam duas mortes a mais para ele, e eu jamais me permitiria ser a causa da morte dela.
Comecei a pensar em como eu poderia tirá-la dessa. Mas depois, para onde iríamos? Asgard? Hela nos mataria. Terra? Eu seria linchado... Não importava o que iria acontecer comigo, desde que ela estivesse segura e livre de perigos.
Usei os últimos resquícios de força que eu possuía para atuar como o bom moço de Grão-Mestre na frente do resto da corte. Foi então que eu vi o que poderia muito bem me ajudar, ou então me atrapalhar: meu irmão.
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Autora: ooooiii pessuuuuu, mais um capítulo aqui procêis, e simmmm quem acreditou no Lokinho estava completamente certoooo, ele não fez por ganância, mas sim pensando em apenas proteger a nossa Deusa, o que não deu muito certo mas a intenção é a que vale né?
Sera que a Kira vai perdoar ele rapidinho? O que vcs acham? Além disso, THOR CHEGOU DE NOVOOO kkkkkkkkk
Gente comentem pra mim o que estão achando, e não esqueçam da estrelinha!
Bjin procêis💚
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