51 - Pois tudo o que Deus criou é bom.
Alex encarava a senhora Olga com um misto de raiva e compaixão, raiva por ela ainda pensar que ele estivesse feliz com a morte da filha dela e compaixão por ela ainda não ter superado a morte da filha mais velha, ele não saberia dizer se uma mãe algum dia superaria a morte de um filho, mas precisava mesmo obrigar as pessoas a viverem a sua dor para sempre? Perguntou-se ressentido.
- Mamãe, por que a senhora faz isso? – Perguntou Valquíria com os olhos cheios d'agua.
- O quê? Você acha natural ele 'já' querer casar? – Valquíria sacudiu a cabeça.
- 'Já querer' casar mamãe! Sério isso? Já tem mais de três anos que a esposa dele faleceu! – Exclamou Valmir exasperado. – Sinceramente mãe, o que a senhora quer? Que o cara fique viúvo a vida toda.
- Vocês esquecem que a esposa dele era minha filha.
- Não esquecemos não mãe, a senhora não nos deixa esquecer-se disso. – Resmungou Valquíria.
- E diga-me qual o problema dele ficar viúvo, ele tem duas filhas para criar e dar atenção, o que acontece agora ele vai negligenciar minhas netas por causa de uma mulher qualquer?
- Jamais eu negligenciaria minhas filhas... – Ela o interrompeu friamente.
- O Rafael sim amava a minha filha ele viveu sozinho por anos, enquanto ela estava definhando casada contigo.
- Pare com isso Olga, antes que fale algo irreversível. – Pediu o esposo tranquilamente.
- A sua calma me dá nos nervos. – Retrucou o encarando, ele apenas deu de ombros. – Por que você não pode fazer como o Rafael? – Alex a encarou sem saber o que dizer.
- Talvez exatamente pelo fato de que a Valéria esteja morta! Ele não precisa esperar o casamento dela fracassar. – Resmungou Valquíria.
- Val! – Protestou Valmir. – Você sabe que o Rafael jamais desejou que o casamento dela fracassasse.
- Desculpe-me Alex, o Valmir está certo o Rafa jamais desejou isso. – Retratou-se passando a mão na cabeça. – A minha mãe tem o dom de tirar todo mundo do sério.
- E por que mesmo que a senhora está falando no Rafael agora? A senhora passou os últimos anos atormentando o pobre rapaz, se ele não fosse um homem de Deus respeitador e honrado teria mandado a senhora para aquele lugar. - Retrucou Valmir irritado.
- José agora que é o momento de você se manifestar, e aí não vai falar nada? – Perguntou encarando o marido. – Você não tá vendo seus filhos me desrespeitando?
Aquela situação estava fugindo ao controle, ele dissera apenas que iria casar e todo aquele pandemônio se formara, suspirou exasperado, imaginava que a senhora Olga iria criar caso, ela criava caso por tudo, mas não imaginava que seria nessas proporções.
- Pessoal, por favor! Parem com essa discursão. – Pediu tenso. Estava chateado com ela, mas não queria que ela brigasse com os filhos. - Vocês é a família das minhas filhas e quero que continuem visitando-as recebendo-as aqui e por isso estou informando que me casarei no dia três de dezembro, e basta de discursões por causa disso.
- Você não acha muito cedo? – Perguntou senhora Olga encarando-o, ignorando todo o mais que ele falara.
- Que cedo mulher? – Perguntou o esposo sacudindo a cabeça. – Se esqueceu de que ele casou com a nossa filha antes de um mês que ficamos sabendo da existência dele! – Disse fungando. – Meu filho está...
- Não está nada. – Ela os interrompeu. - A situação deles naquela época era delicada. – Sussurrou inclinando a cabeça. – A sua namorada está gravida?
- Mamãe! – Exclamou Valquíria exasperada. – E daí se estiver? É da nossa conta?
- Chega! – Gritou o senhor José. – Alex meu filho, sou muito grato pela sua consideração, e estou feliz por você estar refazendo sua vida, minha filha também ficaria feliz, eu tenho certeza disso. – Concluiu emocionado. – Ela soube escolher bem com que se relacionar, e imagino que você também saiba e sua escolhida será uma boa influência para as minhas netas. – Levantou-se o chamando para um abraço.
- Pois não pense que eu vou dar minha benção... – O esposo a encarou irritado.
- Olga peça desculpas ao Alex e não cometa o mesmo erro duas vezes, pode ser que dessa vez Deus não lhe dê a chance de uma reconciliação.
- Cala a boca.
Os três mais jovens entreolharam-se surpresos, aquele tipo de discursão era inédito para todos eles.
- Está na hora das crianças saberem por que você implicou com o coitado do Rafael por todos esses anos e está implicando agora com o Alex.
- Eu já disse para você calar a boca. – Disse furiosa levantando-se.
- Mamãe! – Disseram os filhos. Engolindo seco ela enfrentou os olhares curiosos.
- O que a senhora fez? – Perguntou Valquíria.
- Isso não é da conta de nenhum de vocês. – Disse saindo, o esposo pegou em seu braço.
- Você começou com isso, agora se sente e termine. – Frisou firme.
- Eu vou ver as meninas. – Disse Alex levantando-se.
- Fique. – Pediu o senhor José pegando em seu braço.
- Isso é um assunto de família, eu não quero me meter.
- Exatamente, isso é um assunto de família. – Resmungou senhora Olga cruzando os braços.
- Exatamente minha esposa! Você tem razão Alex é um assunto de família que também diz respeito a você, por favor, sente-se. - Pediu o senhor José. Confuso Alex sentou-se.
- Você me prometeu! – Acusou senhora Olga severamente.
- Sim, eu prometi com a condição de que você deixasse o Alex e o Rafael em paz, você não só atormentou o Rafael por anos, como está fazendo a mesma coisa com o Alex, por favor, meu amor, você vai se sentir melhor quando tirar esse peso das suas costas. – Fungando ela virou a cara para o outro lado de birra. – Diz você ou digo eu? – Perguntou ignorando-a.
- Eu falo. – Respondeu altiva. - Quero vê se alguém aqui vai ter coragem de me condenar.
Valquíria revirou os olhos e Alex abaixou a cabeça tentando não sorrir, todos deveriam estar pensando a mesma coisa, fosse o que fosse que ela fizera na cabeça dela estava certa e todos os demais errados.
- Eu tentei convencer o Rafael a casar com a Valeria, ainda que ela tivesse grávida de outro. – Disse cruzando os braços. Surpresos os três a encararam.
- E a troco do que o Rafael casaria com a Valéria nessas condições? – Perguntou Alex confuso.
- Ele era o noivo dela, nada mais natural do que ele casar com ela, além do mais como você acha que nós ficamos depois que nossa filha engravidou de um cara que não era o namorado dela de toda uma vida? – Perguntou irritada.
- E isso era a única coisa que importava, não era mãe? – Perguntou Valmir.
- Por que vocês estão com essas caras? O Rafael foi um ingrato que não se importou com a nossa vergonha, com a situação da garota que ele dizia amar. – Retrucou zangada.
- Se a sua filha não se importou com a 'vergonha' da família, por que o coitado do Rafael tinha que pagar o pato? – Perguntou Valquíria sorrindo.
- Isso mesmo! – Concordou Valmir levantando a mão que a irmã tocou ainda sorrindo. – Todos nós a amávamos e ficamos do lado dela, mas isso não significa que deixamos de lado o fato de que foi ela quem traiu o namorado de toda uma vida.
- José você está vendo seus filhos caluniando a irmã?
- E desde quando falar a verdade é caluniar?
- Eu te falei na época que não era justo jogar em cima do Rafael a culpa dos erros da nossa filha, eles têm razão, ela traiu o namorado.
- Eu lamento muito que vocês tenham passado por tamanha vergonha por nossa causa. – Disse Alex envergonhado.
- Não se preocupe meu filho, vocês nos deram dois presentes maravilhosos e somos gratos pela felicidade que você proporcionou a nossa filha, nós os perdoamos há muito tempo.
- Fale por você mesmo. Ainda acho que ela estaria viva se tivesse se casado com o Rafael. – Resmungou senhora Olga com os olhos marejados.
- Talvez por que assim você não a tivesse amaldiçoado! – Retrucou senhor José.
- Ainda tem mais? – Perguntou Valquíria sarcástica.
- Eu não amaldiçoei a sua irmã, eu apenas disse que ela iria se arrepender, e o que ela estava fazendo conosco não iria ficar barato, o sofrimento dela seria maior que o nosso. – Respondeu envergonhada.
- A senhora tem razão, foi mesmo maior, ela sofreu a perca do filho e sofreu com aquela doença maldita. – Resmungou Valquíria levantando-se. – Já deu para mim. Alex se você não quiser ficar aqui pode ficar na minha casa depois do jantar, será uma honra receber você e minhas sobrinhas. – Disse saindo, voltou-se. – A propósito, qual o nome da sua noiva?
- Jemima. – Ela gargalhou. Surpreso ele franziu a testa.
- Eu tenho uma carta para você, na verdade duas cartas. – Tchau família não se esqueçam do jantar na minha casa.
Alex olhava a cunhada desaparecer porta a fora, e recordou-se de que Valéria escreveu que havia a chance de que houvesse outras cartas para ele, ainda que nem todas chegassem a ele; sentiu um frio no estômago ao imaginar o que poderia ter nessas cartas, e por que Valquíria perguntou o nome de Jemima, sentiu um frio na barriga.
- Eu também já vou. Foi muito bom te ver cunhado, o amor está te fazendo bem. – Brincou apertando seu ombro.
- É sério? Vocês vão sair assim? Como se eu fosse uma criminosa?
- A senhora não é uma criminosa mãe, e sabemos o quanto a senhora sempre valorizou a reputação da família e talvez se eu ou a Valquíria tivesse feito algo do tipo a senhora não ficasse tão sentida, afinal a Valéria era a luz dos seus olhos, e sinto muito que a senhora tenha dito a ela coisas que tenho certeza lhe trouxe muita dor e arrependimento. – Disse beijando o alto de sua cabeça. – Eu te amo mãe. Só estou um pouco triste por saber que a senhora não apoiou nem mesmo a sua filha favorita, graças a Deus que eu e Val fomos um pouco mais comportados.
- Por que você está triste por causa disso? Vocês viviam me enchendo por que ela era a minha preferida.
- Exatamente! Se a senhora foi capaz de ser tão cruel com ela que era a sua preferida, o que a senhora não teria feito comigo ou com a Valquíria?
Alex sentiu um pouco de pena ao vê a palidez no rosto dela, sempre achou que a sogra fosse dura com ele, mais imaginara que fosse um problema apenas com ele; os cunhados tinham razão Valéria sempre teve um lugar especial no coração da mãe, e ela nunca fez nada para esconder isso, pelo contrário ela sempre fez questão de deixar claro o quanto a primogênita era especial e perfeita.
- O Rafael nunca te disse que eu o procurei? – Perguntou sorrindo sarcástica, voltando à realidade, surpreso percebera que Valmir saíra sem que ele visse. – Afinal vocês se tornaram tão íntimos! – Disse com desdém. Ele a ignorou.
- Não. Ele nunca me disse nada. – Respondeu tranquilamente. – Ele jamais exporia a senhora dessa maneira.
- Ele me prometeu que jamais diria uma palavra sobre aquilo com ninguém, mas eu tinha medo que ele te contasse mais cedo ou mais tarde, nunca entendi como do nada você e ele viraram superamigos.
- Alex eu quis que ela contasse essa história para vocês, por que desde a morte da Valeria a cada dia ela está mais infeliz e desolada, eu sei que não foi certo o que ela disse à nossa filha, mas ela só estava triste e desapontada não pensava direito nas consequências de suas palavras e ações.
- Eu entendo. – Respondeu sinceramente. – Vocês não me conheciam, e agora também eu compreendo por que a senhora voltou a me maltratar depois da morte dela. – Disse a encarando, ela engoliu seco. – A senhora poderia ter me contado a verdade, não precisava por em mim, no Rafael ou mesmo na senhora a culpa por ela não estar mais entre nós. Ela viveu uma boa vida e Deus quis recolhê-la, simples assim, não foi culpa de ninguém. Nenhum de nós tem o poder de adicionar ou subtrair um único dia em nossas vidas ou de qualquer outra pessoa.
- Ela nos disse isso várias vezes. – Disse ela abaixando a cabeça. – Ela me perdoou, mas eu nunca vou me perdoar pelas coisas que eu disse a ela. – Disse chorando. Alex pegou sua mão sobre a mesa.
- A senhora precisa se perdoar, caso contrário perderá as coisas boas que Deus ainda tem para a sua vida, como aproveitar suas netas.
- Você não está com raiva de mim? – Perguntou o encarando.
- Por causa de coisas que aconteceram há tanto tempo e que eu sei que a Valéria e o Rafael que foram os mais afetados na época lhe perdoaram? – Perguntou sorrindo. – Não mesmo, estou feliz por compreender melhor algumas coisas, - sério olhou de um para o outro – no entanto, eu admito fiquei chateado quando a senhora insinuou que eu seria capaz de colocar qualquer mulher dentro de casa apenas para não ficar sozinho.
- Desculpe-me por isso também. Mais saber que você pretende se casar foi surpreendente. Eu imaginei que um dia eu ficaria sabendo que você estivesse namorando, mas como os casais atuais fazem entende? Cada um na sua casa, e não me dizendo que já está noivo com data marcada para se casar.
- Não lhe parece hipócrita desejar para a filha dos outros o que a senhora não aceita para as suas? – Perguntou suspirando.
- Ela sabe que você não é o tipo de homem que faria isso com uma mulher, você foi bastante honrado com a Valéria, e sabemos que será com sua noiva também. – Disse o senhor José.
- Eu sei que com o tempo aprendemos a te amar, mas isso não te isenta de ter seduzido a minha filha fazendo-a trair o noivo. – Resmungou fuzilando os dois homens, Alex abaixou a cabeça.
- Por que você não fica calada mulher.
- Qual é o seu problema hoje?
- O meu problema hoje? É que estou cansado de você não dar espaço para os nossos filhos se abrirem com você honestamente.
- O que você está tentando me falar agora? Que eu não sou uma boa mãe?
- Por favor, eu realmente preciso ver minhas filhas. – Disse levantando-se, o casal nem ao menos se viraram para ele se encarando, deu de ombro saindo.
- A nossa filha quem o seduziu, ele estava bêbado e só pensava na namorada que tinha na época. – Ouviu o senhor José, parou surpreso, Valéria nunca lhe disse que contara a verdade ao pai.
- "Promete-me que aconteça o que acontecer jamais dirá a minha mãe que eu me aproveitei de você enquanto estava bêbado? Ela jamais me perdoará. Casar grávida de um homem que eu acabei de conhecer já é demais para ela". – Pedira no dia em que ele a pediu em casamento.
Lentamente ele voltou à mesa.
- O que o senhor disse? – Perguntou confuso sentando.
- Ela contou a verdade no dia em que nos disse que estava grávida. Ela temia que estivesse cometendo o maior erro da vida dela, mas ela não sabia o que fazer, o Rafael estava muito chateado, a mãe não parava de dizer que ela era uma libertina e você havia prometido casar-se com ela; o problema era que assim como ela amava o Rafael, você amava a sua namorada, como esse casamento poderia dar certo? O que seria de um casal que não só não se amavam como amavam outras pessoas? Eu nunca tinha visto a minha filha tão desesperada e desamparada.
- Você está mentindo. – Sussurrou senhora Olga. – Nunca que a minha princesinha seduziria um homem e o levaria para a cama.
- Nós prometemos nunca lhe contar, ela só nos contou por que segundo ela estava demais para suportar sozinha.
- Todo mundo sabe disso? – Perguntou escandalizada.
- Não. Ela disse apenas para mim e os irmãos. - Inquieto mexeu-se na cadeira. - E quando ela soube que estava doente você se recorda que ela veio conversar com o Rafael? Até pensamos que era para contar sobre a doença, se lembra?
- Sim. – Respondeu fechando a cara.
- Pois ela veio contar a ele o que de fato aconteceu naquela noite em que mudou as vidas de quatro jovens.
- Eu sinto muito não era para vocês saberem dessa história, eu fui tolo em beber sabendo que bebida não me fazia bem, dona Olga não pense menos da sua filha por causa de uma escolha ruim, por favor.
- Eu não sei o que pensar. – Disse secando os olhos com as mãos.
- Pense que a sua filha foi uma excelente esposa, mãe e profissional. Tudo o que ela se propôs a fazer foi feito com excelência. – Disse Alex encarando o casal. – Ela não deixou nenhum motivo para ninguém se envergonhar dela.
- Quanto a isso você tem razão, eu não sei o que vocês fizeram, mas vocês encontraram a solução para um casamento feliz. – Disse senhor José sorrindo. – Minha filha foi muito feliz.
- Nós dissemos várias vezes qual a solução para fazer dar certo um casamento que tinha tudo para dar errado, vocês que nunca quiseram acreditar, DEUS, foi a solução para o nosso casamento feliz. – Disse levantando-se. – Obrigado meu sogro por cuidar da minha esposa quando eu não estava por perto.
- Será que sua nova esposa se importaria se eu continuasse sendo seu sogro? – Perguntou levantando também.
- Imagino que não, mas o senhor pode falar pessoalmente com ela. - Senhor José abraçou-o.
- Eu que sou imensamente grato por você ter cuidado maravilhosamente bem da minha filha, e nunca ter feito nada para constrangê-la.
- Que bom que os ânimos foram apaziguados. – Disse Valquíria da porta.
- Você não tinha ido embora? – Perguntou a mãe enquanto a filha ia até a geladeira.
- Estou indo agora, espero todos vocês lá em casa. – Disse dirigindo-se à porta.
- Pensei que você já estivesse preparando o jantar. – Brincou o pai.
- Eu estava com as minhas sobrinhas. Sinceramente papai, o senhor acabou de almoçar. –Sorrindo resmungou jogando beijo para o pai.
- Ela temia que eu jogasse vocês dois porta a fora. – Disse senhora Olga sorrindo num tom mais ameno, ainda estava triste mais estava tentando conter-se.
- Até eu temi que a senhora fizesse isso! – Respondeu Alex no mesmo tom sorrindo para ela.
Naquela noite após o jantar ao retornar a casa dos sogros, Alex deixou as filhas aos cuidados da avó e retirou-se ao quarto, sentou-se em uma poltrona debaixo da janela e ficou observando a lua com um envelope nas mãos.
- Diga-me Jemima era a sua namorada quando você e minha irmã se conheceram, não era? – Perguntara Valquíria lhe entregando dois envelopes.
- Sim, Valeria lhe disse isso também? – Perguntara franzindo o cenho ao ler os envelopes. PARA ALEX escrito em um e PARA JEMIMA no outro.
- Não. Na época ela disse apenas que você tinha uma namorada e a amava, mas quando ela chegou até mim com essas cartas eu imaginei que fosse ela, como mais ela poderia saber o nome da sua futura esposa? – Alex sorrira, encarando-a.
- E se eu tivesse conhecido outra mulher? – Perguntara ainda sorrindo, ela gargalhara.
- Eu perguntei a ela como ela poderia ter tanta certeza de que você se casaria com essa mulher, ela apenas sorriu e disse que sou uma mulher de pouca fé. – Ficara séria e o encarara. - Você nunca deixou de amar essa mulher, não é mesmo? – Perguntara triste encarando o envelope.
- Eu nunca desrespeitei a sua irmã.
- Eu sei. Quando ela nos contou a situação em que ficara grávida eu não quis dizer a ela meus temores, afinal ela já estava apavorada o suficiente, mas você decidiu assumir o que ela fizera aos dois, e a fez muito feliz, também sei que aprendeu a ama-la, vocês se tornaram meu exemplo de casal, todos os dias peço a Deus para que meu casamento seja tão feliz e harmônico como o de vocês, e por isso mesmo é tão estranho descobrir que minha irmã estava certa e você nunca deixou de amar essa mulher. Como isso é possível? Como vocês conseguiram serem tão perfeitos juntos?
- Isso só fora possível, por que nós decidimos que o nosso casamento seria dirigido por Deus, quaisquer outros sentimentos, diversidades do dia-a-dia, ou mesmo incompatibilidade de gênios nós colocaríamos primeiro na Presença de dEle, não foi fácil, no inicio era doloroso e complicado eu e Valéria éramos tão diferentes que sinceramente em alguns momentos nos perguntávamos por que ainda estávamos juntos, até Deus nos moldar segundo a Sua Vontade. – Ele sorriu triste. - Só mesmo Deus para nos dar sabedoria e discernimento para viver um casamento feliz e em paz, se não fosse Ele acredite-me nosso casamento não teria sobrevivido um ano.
- Eu imagino! – Dissera sorrindo. - Seja feliz. Você merece meu irmão. – Abraçara-o. – Você ainda vai ser meu cunhado-irmão, não vai?
- Sempre. – Dissera sorrindo, beijando sua cabeça.
- Obrigada por tudo o que fizera pela minha irmã e por essa família. Eu estou ansiosa para conhecer minha cunhada. – Dissera se afastando.
- Você vai gostar muito dela. – Respondera orgulhoso.
- Ei vocês dois vão ficar aí fuxicando até quando? – Perguntara o esposo dela sorrindo.
- Oi meu amor. Precisamos combinar um dia para conhecermos nossa cunhada. – Dissera abraçando-o.
- Verdade. – Respondera a beijando na testa. – Agora vamos jantar logo, o Alex deve estar ansioso para ler a carta dele.
Sorrindo os três foram ao encontro dos outros, discretamente Alex colocara os envelopes debaixo da camisa, sentindo queimar o local onde estavam os envelopes.
Suspirou ainda olhando a lua, pegou o celular e ligou para Jemima, ela atendeu no segundo toque.
- Oi meu amor. - Atendeu sorridente; a voz dela acalmando seu coração.
- Oi. Tudo bem por aí?
- Sim. Graças a Deus tudo bem. E por aí? Como foi com seus sogros?
- Terminou bem, graças a Deus. Jem eu tenho aqui comigo uma carta que a Valéria deixou para você e outra para mim. – Disse tenso.
- Já leu a sua? – Perguntou nervosa.
- Ainda não, estou um pouco nervoso.
- Respire profundamente e leia, eu imagino que apesar do nervosismo você esteja ansioso para lê-la.
- Estou mesmo.
- Leia, amanhã a gente se fala.
- Obrigada meu amor. Eu te amo tanto!
- Eu também. – Despediu-se dela e respirou profundamente.
Suas mãos tremiam quando rasgou o envelope tirando o papel de dentro, a emoção queimou seu peito ao reconhecer a letra dela.
Anápolis – GO, 26 de janeiro de 2008.
Oi meu amor, você está dormindo inquietamente, infelizmente imagino que seja eu a causa de sua inquietude, lamento por isso. Você é tão lindo! E enquanto dorme parece que fica ainda mais lindo, desculpe-me estou fugindo do que me fez acordar no meio da madrugada. Eu procrastinei essa carta até este momento, mas infelizmente eu sinto que não posso mais fazê-lo, meu fim está cada vez mais próximo, (consigo imaginar você revirando os olhos ao ler isso), mas quando você estiver lendo essa carta saberá que eu estou certa, desde a descoberta dessa doença Deus tem sido maravilhoso comigo e despertar-me nessa madrugada é apenas mais um dos cuidados dEle.
Você acredita que eu escrevi outra carta? Mais ela está em pedaços aqui na minha frente, você deve se perguntar por que, eu te digo por que, eu a escrevi para o caso de você estar casando com uma mulher que não fosse a Jemima, mas eu creio que Deus tem o melhor para você e Ele me mostrou nessa madrugada, ela é o melhor para todos vocês e nossas filhas serão imensamente felizes ao lado de vocês; eu estou vivendo os meus últimos dias, por favor, não fique triste pelo passado, (ao ler este conteúdo Deus já terá cuidado do seu coração) saiba que neste momento eu não estou triste ou infeliz, estou radiante pelo que Deus me revelou em sonho.
Eu amo vocês e estou aliviada porque sei que Deus continuará a guiar os passos de vocês, eu temia que você não me desse ouvidos e se enfurecesse com Deus depois da minha partida, risos, Deus é muito bom para comigo, Ele não me quer com preocupações nos meus últimos dias, Ele acalmou-me e aliviou as minhas emoções. Esses dias têm sido difíceis e essa semana piorou, não foi mesmo? Mais dias melhores virão! Risos. Frases feitas não são meu forte, mas não resisti.
Mais uma vez obrigada pela vida maravilhosa com Deus que vivestes comigo, obrigada pelas filhas lindas e carinhosas que me destes, obrigada por ter me apoiado e confortado quando perdemos nosso bebê, mesmo eu ainda sendo insuportável naquela época! Risos. Obrigada meu amor por me fazer rir até quando estou tentando escrever uma carta séria e romântica. (Séria e Romântica? De onde eu tirei isso) testa franzida! Eu faltei à aula de romantismo na escola você sabe disso. Risos! Estou só piorando, Jesus socorro!
Tudo isso meu príncipe para eu te dizer, seja feliz, ame e se permita ser amado, viva o melhor de Deus para você e nossas filhas, sem culpas ou remorsos; continue a ensinar nossas filhas sobre a importância de andar nos Caminhos do Senhor e fazer Sua Vontade.
Não desautorize a Jemima na frente das meninas, (se acontecer qualquer coisa que você não concorde com ela a respeito delas, chame-a em particular) cultive o amor e o respeito entre as mulheres da sua vida e, não fique enciumado se elas preferirem falar com ela sobre as coisas de meninas e não com você, risos, em algumas situações você ficará bastante aliviado por isso, risos.
Seja apenas o pai maravilhoso e o marido exemplar que és e tudo ficará bem.
Uma curiosidade. Será que esse noivado será longo? (cara de pensador) Não! Eu acho que não, principalmente levando em conta o tempo que os noivos esperaram por esse momento, espero sinceramente meu amor, que você não tenha supervalorizado a viuvez. (cara de séria)
Acabei de me lembrar de que minha mãe pode lhe causar problemas, principalmente por que nós sabemos o quanto ela é possessiva quanto às netas, espero que a Val e o Valmir já tenha lhes dado outros netos a essa altura do campeonato, assim talvez ela largue um pouco mais do seu pé, (cara de pensador) ou não! Mas não se preocupe com ela, eu escreverei uma carta para ela também.
Eu não canso de repetir EU TE AMO, E SOU FELIZ POR TÊ-LO EM MINHA VIDA. Tenha uma boa e feliz vida.
Com amor e felicidades,
Sua para sempre Valéria.
P.S.: Não se esqueça de dar a carta a ela. Eu sei que você não a lerá antes dela, mas poderia fazer se quisesse.
As lágrimas misturavam-se com o riso enquanto lia, conseguia imagina-la sentada na poltrona que havia no quarto com os pés em cima do Puff.
Aquela semana especialmente havia sido difícil, fora quando ela começara a de fato sentir o peso da doença, seu corpo já não estava mais aguentando e eles começaram a ir ao hospital.
Uma batida na porta o tirou de seu devaneio. – Entre. – Respondeu engolindo seco. As filhas entraram correndo com os olhos vermelhos, nervoso ele as abraçou.
- O que aconteceu? Sua avó foi rude com vocês? – Perguntou tenso.
- Não. A nossa mamãe nos escreveu uma carta. – Respondeu Laila.
- Oi? – Disse surpreso encarando-as. Com a mãozinha tremendo Julia lhe entregou. – Eu posso ler?
- Óbvio né papai, - disse Julia pulando na cama do pai - leia em voz alta eu quero ouvir de novo. – Laila revirou os olhos, mas sentou ao lado da irmã com as mãos no colo.
Anápolis – GO, 25 de dezembro de 2007.
Oi meus amores, razão pela qual Louvo a Deus todos os dias por eu ainda estar aqui. Então é natal e eu estou na varanda observando os maiores e melhores presentes que Deus me deu, vocês duas. Não sei se vão se recordar, mas vocês estão jogando bola com o papai tia Ariane e o Paulo, nós estamos tão felizes, meu coração enche-se de amor por vocês.
Meus amores eu não sei qual a idade de vocês quando a tia Val lhes entregar essa carta, espero sinceramente que ainda sejam meninas, não que eu esteja apressada para o papai se casar, risos, mas não quero que vocês sintam falta de uma referência feminina, tenho certeza que a tia Cassy está fazendo um excelente trabalho, mas haverá momentos em que vocês desejarão uma mulher ao seu lado e por isso espero que o papai encontre outro amor e seja feliz juntamente com suas princesas.
Laila recorda-se quando eu disse que Deus prepararia uma mulher especial para ajudar seu papai com vocês duas? Deus É ou não Perfeito? (mamãe piscando e sorrindo)
Julia recorda-se quando eu disse que seu papai se casaria de novo, não por que se esqueceu da mamãe, mas porque nosso casamento foi tão perfeito que ele não quer ficar sozinho e quer ter uma ajudadora ao lado dele? Afinal Deus o criou para ser feliz, não é verdade?
Meninas sejam boas e agradáveis, honestas e sinceras, não esqueçam de que falar tudo que dá vontade não é sinal de sinceridade e sim de grosseria, qualquer problema vocês sempre poderão falar com o papai de vocês, e lembrem-se que há diferença entre falar o que magoam vocês e o que gera fofocas, eu confio na educação que demos a vocês e no temor a Deus que há em seus corações, tenho certeza que serão verdadeiras princesas do Senhor.
Meus amores eu quero que sejam apenas felizes, eu entrego a vida de vocês primeiramente a Deus depois ao Alex e por último à mulher que ele escolheu por esposa, confio plenamente que Deus já Planejou a família linda que vocês terão.
Não se preocupem, por ama-la e confiar nela isso significa apenas que Deus está no Controle e Cuidando de tudo, eu amo vocês e se vocês estão felizes eu também estou, e assim é com o papai também.
Meus amores não fiquem tristes, eu só quero que vocês compreendam que eu sei que nem o papai nem vocês estão me traindo estão apenas seguindo em frente, e para minha felicidade de mãos dadas com Deus.
Eu amo todos vocês.
Laila ajude com sua irmã.
Julia ajude com sua irmã.
Sejam unidas e amigas e ajudem o papai.
Para sempre mamãe, com todo o amor que meu coração pode sentir.
Os três abraçaram-se chorando.
- Eu sinto tanta saudade dela! – Disse Laila.
- Eu também. – Resmungou Julia.
- Todos nós sentimos saudades dela. – Respondeu Alex.
- E se a tia Jemima ficar triste por que a gente sente saudades da mamãe? – Perguntou Julia cobrindo a boca horrorizada, Laila sorriu.
- Ela disse que é natural a gente sentir saudades da mamãe, não se preocupe, ela não está triste com a gente. – Respondeu Laila abraçando a irmã.
- E nem a mamãe está triste porque a gente ama a tia Jemima. – Concluiu Julia.
- Verdade. Graças a Deus tudo foi exatamente ele nos disse que seria. Deus cuidou de tudo maravilhosamente bem! – Suspirou Laila aliviada.
Alex abraçou as duas. Ele sabia que o cuidado da mãe em escrever a elas gerou todo um cuidado que ele próprio não poderia fazer.
- "Obrigado Senhor por cuidar de todos os detalhes das nossas vidas". – Pensou aquecendo o coração com o riso das filhas.
Continua...
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