48 - O Senhor está perto dos que têm coração quebrantado.
Jemima demorou a dormir pensando em Alex no hospital, estava feliz por ele estar bem, ainda sentia um resquício de culpa, mas compreendia também que as coisas só aconteciam com a permissão de Deus e Ele havia livrado Alex naquele acidente, não queria nem pensar no que teria acontecido se Deus não o tivesse protegido, sentiu um arrepio e passou as mãos pelos braços, queria que o dia amanhecesse logo para ele voltar para casa.
Sentia-se estranha em relação a Bruno, não estava triste pelo estado dele, mas também não estava feliz; ele a machucara tantas vezes, ainda assim não lhe desejava nenhum mal, queria apenas que ele a deixasse em paz e seguisse com a vida dele, deduziu que não iria ser fácil para ele a partir daquele momento.
Bruno era vaidoso e orgulhoso, ficar sem as pernas não seria fácil para ele, se perguntou quem cuidaria dele, não sabia nada sobre sua vida real, será que tinha irmãos, mãe e pai? Ficar invalido seria pior que a morte para muitas pessoas e ela acreditava que ele era uma dessas pessoas.
- Senhor meu Deus Bondoso e Misericordioso, eu te suplico seja o Senhor comigo, amanhã eu irei depor e não será um momento agradável, terei que recordar coisas que tenho lutado para esquecer, em Nome de Jesus Senhor não me deixe contaminar pelas lembranças ruins, tire de mim tudo o que pode alimentar o ódio que o Bruno semeou no meu coração. Eu não sei que tipo de relacionamento ele tem com o Senhor, que a Sua Vontade se cumpra na vida dele, sei que Sua Vontade é Boa Perfeita e Agradável, que o Seu Santo Espírito esteja com ele e com as pessoas que cuidarão dele neste momento. Obrigada pela vida do Alex, pelo Seu cuidado para com ele, pelo livramento que o Senhor o concedeu. Obrigada Senhor por cuidar da minha família, eu sou feliz por que o Senhor tem cuidado de mim, eu te amo Deus, em Nome de Jesus, não deixa esse amor esfriar em mim, principalmente por causa de pessoas que não temem a Ti. – Orou. E sorrindo sentiu a sonolência. – Obrigada Deus.
Ela acordou assustada com os gritos pulou da cama ao se dar conta de que vinham do quarto das meninas, encontrou com a senhora Andreia que corria na direção do quarto de Laila.
- Eu não deveria tê-la deixado dormir sozinha hoje. – Disse a avó abrindo a porta, a menina debatia na cama, Jemima correu até ela.
- Laila. – Chamou delicadamente, tocando em seus ombros. – Laila.
Confusa a menina abriu os olhos dourados a encarando, Jemima a abraçou confortando-a, com o coração quebrado, gostaria de poder trocar de lugar com ela, só para que ela não sofresse.
- Eu não quero perder o meu pai também. – Disse soluçando.
- Meu amor, você não vai perder o seu pai. – Sussurrou a avó passando a mão na cabeça da menina. Jemima afastou-se para que ela tomasse seu lugar, senhora Andreia sacudiu a cabeça negando. – Eu vou buscar um pouco d'agua para ela.
- Laila minha princesa, o seu pai está bem, ele não veio para casa só por precaução, amanhã ele estará aqui te abraçando. – Disse secando as lágrimas dela.
- Eu posso te confessar uma coisa? Eu não gosto de falar para o papai, porque não quero que ele fique triste e pense que não é o suficiente, e também não quero que a senhora pense que não estou feliz pela sua chegada em nossas vidas.
- Você pode me falar o que quiser meu amor, e não acho que seu pai ficaria triste contigo seja pelo que fosse, e quero que saiba que eu também sou muito feliz por ter vocês na minha vida. – Respondeu tirando o cabelo do rosto dela.
- Ele ficaria triste sim, desde que a mamãe morreu ele tem se dobrado nos trinta para nos agradar e nos fazer feliz, até para sair com a senhora ele nos perguntou se estava tudo bem, tudo 'é' para nós e 'por' nós, e sinceramente nós estamos felizes, mas algumas vezes sentimos saudades da mamãe. – Jemima sorriu beijando-lhe a testa.
- É normal você sentir saudades de sua mãe, e acredite-me seu pai não ficará triste por isso, ele também sente saudades dela, a gente sempre sente saudades de pessoas que são importantes para nós, sua mãe não deixou de ser importante para nenhum de vocês por que não está mais aqui, o que vocês viveram o que ela lhes ensinou, o amor que ela demonstrou tudo isso sempre viverá na memória de todos vocês.
- Verdade, né? – Perguntou sorrindo entre as lágrimas. – Desculpe por te acordar, infelizmente eu não consigo controlar os pesadelos.
- Infelizmente ninguém consegue controla-los, mas como uma menina muito especial me disse uma noite dessas, família é para esses momentos, assim como o seu pai eu estou aqui 'por' e 'para' vocês. Eu jamais vou ocupar o lugar da sua mãe, mas estarei aqui para o que vocês precisarem, e não se sinta constrangida de falar sobre ela, de dizer que está com saudades, de olhar as fotos, estou aqui apenas complementar e fazer o que estiver ao meu alcance para vocês todos serem felizes, exatamente como eu sei que a sua mãe fez.
- A senhora sabe que todos nós te amamos, não sabe? Eu e a Julia estamos mesmo felizes por Deus ter te colocado nas nossas vidas.
- Eu também estou mesmo feliz por Ele ter colocado vocês na minha, e amo muito todos vocês. – A menina a abraçou.
- Vovó a senhora vai ficar parada ai ou vai me dar água?
Jemima virou para trás surpresa, não a ouvira chegar, constrangida levantou cruzando os braços, disfarçadamente a senhora Andreia passou a mão nos olhos e sorriu para Jemima aproximando-se da cama.
- Desculpe-me querida. – Disse dando-lhe a água. - Eu vou voltar para a cama, Julia está dormindo e ainda que ela tenha o sono pesado não quero que ela acorde e eu não esteja lá. – Disse abraçando a neta.
- Tudo bem, eu fico aqui até ela dormir. – Para surpresa de Jemima a senhora Andreia a abraçou apertado.
- Obrigada. – Sussurrou em seu ouvido. Constrangida Jemima apenas retribuiu o abraço. – Boa noite minha filha. – Disse afastando-se do abraço.
- Tia Jem, a Julia está dormindo com a vovó, a senhora se importa de dormir comigo? Eu não estou com medo, só não quero ficar sozinha.
- Com certeza eu não me importo meu amor. – Respondeu deitando ao lado da menina que deitou em seu braço. –Você gosta de música? Minha mãe costumava cantar para eu dormir. – Disse passando a mão em seu cabelo.
- Eu amo música. – Respondeu a menina sorrindo, beijou o rosto de Jemima e deitou fechando os olhos.
Jemima cantarolou baixinho Recomeçar de Aline Barros, em algum momento no meio da música a menina adormeceu; ela fechou os olhos e com um sorriso nos lábios pegou no sono.
Alex estava ansioso pela chegada do médico para receber alta, já não aguentava mais ficar naquele quarto, estava ótimo; a única coisa que sofrera além do corte na testa fora o punho fraturado, não dissera nada à mãe e Jemima por que não queria preocupa-las e para seu alivio o pai concordara, a mãe iria fazer um alvoroço dizendo para o pai leva-lo a um hospital particular para examinar o punho, ela era obcecada quando o assunto era saúde.
- Você quer ver o tal do Bruno? – Perguntou senhor Henrique entrando no quarto.
- E por que eu iria querer vê essa criatura? – Perguntou confuso.
- Não sei, talvez para dizer a ele para ficar longe da sua noiva.
- Eu não! Quero apenas que a polícia faça o trabalho dela, e que a justiça o mantenha bem longe de nós, e que Deus aja na vida dele conforme ele assim o permitir.
- E se ele não permitir que Deus aja na vida dele?
- Problema dele se for estupido o suficiente para não perceber que Deus lhe deu uma segunda chance. – Disse sentindo um arrepio ao se recordar das fotos do acidente. – Cadê o médico? Eu quero ir para casa.
- Ele já está vindo. – Respondeu o encarando. – Você sabe que Jemima foi exposta não sabe? A família do Bruno incluindo a outra esposa agora saberá da existência dela.
- Eu sei. – Respondeu sentando. – Eu preciso estar com ela quando essa gente procura-la, - ele levantou o olhar para o pai. – existe a possibilidade de eles apenas ignora-la. – Disse esperançoso.
- Meu filho eu gostaria muito disso, mas não creio que isso aconteça, ele está na custodia da polícia por causa dela.
- Sério isso pai? Por causa dela? – Perguntou indignado.
- Meu filho eu quis dizer que ela é a autora da ação contra ele, obviamente que ele é o único responsável pelo que está lhe acontecendo, mas a família verá exatamente isso, que ela fez uma acusação contra ele, ainda que eles sejam pessoas diferentes dele, eles irão querer saber o lado dela da história, alias espero que eles deem a ela essa chance e encerrem esse assunto.
- E se eles forem iguais a ele?
- A mãe dele não é. – Respondeu o pai pesaroso. – Ela está arrasada.
- O senhor falou com ela?
- Não. Ela está tão destruída que eu não tive coragem de me aproximar, mas falei com algumas pessoas, ela está em estado de negação.
- E a tal esposa?
- Pelo que eu soube, ela não quis vir, eles estão separados esperando pelo divórcio.
- Então isso é verdade. – Disse pensativo, na verdade duvidara que ele estivesse de fato se separando da outra esposa como dissera à Jemima.
- Mais ela será chamada para depor na delegacia de Fátima. – Disse o pai, Alex ergueu a sobrancelha, isso não era bom.
- Por quê?
- Bigamia ainda é crime nesse País meu filho.
- Eu sei disso pai, estou perguntando por que Fátima, por que não aqui? Fátima é distrito daqui.
- Por que o delegado agarrou esse caso igual cachorro em osso.
- E como fica a Jemima nessa situação?
- Ela não sabia que ele era casado, então ela não cometeu crime nenhum.
- E se ele disser que ela sabia, será a palavra dele contra a dela. – O pai sorriu.
- Eu já pensei, e para a nossa felicidade, eu sou apenas o ajudante do Advogado dela, por que o próprio Bruno nos deu a solução para isso, só precisamos encontrar os pais que ele contratou para se passar de sogros dela, e o fato de que ela não conhece mesmo os pais dele, é um ponto a favor dela.
Alex ficara aliviado com o que o pai dissera ainda assim sentia-se apreensivo, principalmente por que conhecia Jemima, se ela tivesse a oportunidade iria querer conversar com a esposa de Bruno, e ele temia que a outra a maltratasse.
- Bom dia. – O médico interrompeu a conversa dos dois.
- Bom dia doutor, eu posso ir para casa? – Perguntou ansioso. O médico sorriu.
- Sim, você está liberando. Lembrando que precisa de repouso com o punho, - ele ficou sério – nos meus anos aqui nesse hospital eu já vi muita coisa, mas nunca vi algo parecido com o que houve contigo e aquele rapaz, não compreendo como ele não morreu e você saiu apenas com quatro pontos na testa e um punho enfaixado.
- Deus, meu caro médico, foi isso o que houve, Deus nos livrou da morte. – Respondeu Alex sorrindo, sério o médico o encarava. – Se quiser experimentar o que o meu Deus pode fazer eu posso te apresentar a Ele, o senhor descobrirá que Ele pode fazer muitas coisas incríveis e o melhor pode te usar para ser seu colaborador. – O médico sorriu cético.
- Agora você vai me dizer que todas as vidas que eu salvei foi o teu Deus que salvou e não eu! – Desafiou.
- Com toda a certeza! O senhor pode diagnosticar e medicar, até cuidar, mas não pode devolver a saúde ou a vida a ninguém. – Respondeu levantando. – Eu tenho certeza que o senhor sabe onde fica alguma igreja te convido a conhecê-Lo. Agora estou ansioso para ver minha família, posso ir para casa?
- Sim. – Disse entregando-lhe o prontuário de alta. – Entregue na portaria.
- Sim senhor. – Respondeu sorrindo, pegou o papel da mão do médico e acompanhou o pai.
Naquela manhã Jemima terminava de por a mesa quando a senhora Andreia e as netas adentraram a cozinha.
- Bom dia minha querida. – Cumprimentou beijando-lhe a bochecha.
- Bom dia dona Andreia. – Respondeu surpresa.
- Bom dia tia Jem. – Disseram as meninas, Julia a abraçou sorrindo, tímida Laila sentou com apenas um aceno de cabeça.
- Oi meus amores. – Respondeu abraçando a mais nova e franziu a testa preocupada com a mais velha.
O desjejum seria enfadonho se não fosse Julia falando sem parar, desde as brincadeiras com Freddy e os outros três cachorros de rua que ela já havia levado para casa até os pintinhos que a galinha não queria mais que eles a acompanhasse.
- Ela é uma mãe ingrata. – Disse indignada.
- Mais no mundo das galinhas é assim mesmo minha querida, algumas galinhas largam logo seus filhotes, assim eles aprendem a se defender sozinhos. – Disse a avó sorrindo.
- Quando eu tiver filhos nunca vou deixa-los ir para longe de mim.
- Por acaso você não vai deixar o papai? – Perguntou Laila sorrindo pela primeira vez desde que ali entrara.
- Eu só vou deixar o papai, por que eu vou estudar em Harvard e ele não quer ir comigo, ele não está me abandonando ainda filhote. – Respondeu irritada. – E não vou deixa-lo sozinho você e tia Jem vai ficar com ele. – Concluiu suavizando as feições. – Não é verdade tia Jem?
- Sim, minha querida eu vou ficar com o seu papai e cuidar dele, já a sua irmã talvez ela também queira ir a uma Universidade longe daqui.
- Qualquer Universidade é longe daqui. – Resmungou Julia sabiamente.
- Verdade. – Concordaram todas sorrindo.
- Já que você ainda não é adulta morando sozinha em Cambridge, vamos para a escola com sua irmã mais velha. – Brincou Laila levantando-se.
- Laila eu posso falar contigo antes de vocês saírem? – Perguntou Jemima, a menina concordou. – Com licença. – As duas seguiram até o quarto de Laila que constrangida cruzou os braços. – Laila querida o que você está sentindo?
- Vergonha. – Confusa Jemima franziu o cenho.
- Por ter tido pesadelos?
- Não, por ficar falando na minha mãe. Eu não me toquei que a senhora é a namorada do meu pai e talvez não queira que fiquemos falando nela. – Sussurrou.
- Você se recorda do que eu disse? – A menina assentiu abaixando a cabeça, gentilmente Jemima levantou o rosto dela. – É a mais pura verdade, não quero que você ou sua irmã fiquem constrangidas por sentir saudades de sua mãe ou querer perguntar qualquer coisa ao seu pai sobre ela, eu amo vocês e estou feliz por vocês existirem e me darem o prazer de participar da vida de vocês, e acredite-me sua mãe era uma pessoa excepcional e sei que vocês serão mulheres tão excepcionais quanto ela.
- Obrigada tia Jem. Bem que ela disse que quando não estivesse mais aqui, Deus iria nos trazer uma mulher maravilhosa que iria nos amar e cuidar de nós. – Disse com os olhos brilhando pelas lágrimas, Jemima abriu os braços e ela se aconchegou ali.
- Eu também quero abraço. – Disse Julia abrindo a porta.
- Coisa feia! Ouvindo a conversa alheia. – Sorrindo disse Laila puxando-a para o abraço.
A senhora Andreia levou as netas ao ponto de ônibus, na volta encontrou Jemima pronta para ir ao trabalho.
- Tem um tempinho?
- Tenho sim. Aconteceu alguma coisa? – Perguntou intrigada.
- Não aconteceu nada, pelo menos não nada grave ou desagradável. – Disse puxando-a para poltrona. – Eu quero apenas te agradecer e dizer que estou muito feliz por você dar uma nova chance ao meu filho. Eu imagino que não seja fácil para você, mas o que você disse à Laila ontem à noite e como conduziu a conversa com a Julia agora a pouco foi incrível, estou orgulhosa de você.
Emocionada ela sentiu os olhos arder, ficara constrangida de ela ouvir a conversa que tivera com Laila, mas estava feliz por ela se agradar de ela fazer parte de sua família. Recordava-se do quanto seus pais e os pais de Alex se implicavam anos atrás e agora dois de seus filhos escolheram os filhos do outro casal, para ela era importante ser aceita pela família dele.
- A propósito eu também estava ouvindo atrás da porta com a Julia. – Disse sorrindo, ela também sorriu já imaginava.
- Por acaso a senhora estava desconfiando de mim, pensastes que eu iria magoar a sua neta? – Perguntou dramaticamente.
- Não. Mais sabe como é: melhor prevenir que remediar. Brincadeiras à parte, a verdade é que nós também estávamos curiosas para saber qual era o problema para ela estar com aquela cara amarrada. – Disse sorrindo ficando logo séria. – Ela tinha constantes pesadelos depois que a mãe morreu. No último ano de vida a Valéria fez tudo que estava ao seu alcance para que as filhas e o esposo ficassem o melhor possível depois de sua partida, mas acho que não há preparo que faça com crianças fiquem bem sem as mães. As coisas não foram fáceis para elas e nem para o Alex, - disse abaixando a cabeça - apenas recentemente eu soube as circunstâncias reais do casamento relâmpago do meu filho e do que isso lhe custou e eu sinto muito, se não fôssemos tão intransigentes vocês não teriam sofrido muito do que sofreram.
- Vocês não são responsáveis pelas escolhas que nos trouxeram até aqui, eu sou grata a Deus por nos colocar no caminho um do outro novamente, eu realmente sinto pela morte prematura da Valéria, sei o quanto ela era importante para o Alex e que foi uma grande mulher, não tenho mesmo a intenção de tomar o lugar dela no coração de ninguém, nem mesmo no de vocês. – Disse tímida. - Obrigada, por me aceitar na sua família. Ainda que isso tenha lhes trazido alguns problemas. – Respondeu constrangida.
- Você está falando isso por causa do descompensado do seu ex-marido? Você não tem culpa do que aconteceu e, além disso, o que é a vida sem um pouco de adrenalina para nos fazer lembrar que é Deus quem nos mantêm vivos? - Ambas sorriram, e aliviada Jemima foi para o trabalho.
Entrando na Unidade de Saúde ela recebeu uma mensagem de Tobias, ele a encontraria na delegacia às onze horas, ressentida ela fechou os olhos perderia o horário do almoço por causa daquela criatura que só lhe causara problemas. Onze horas em ponto ela foi ao seu encontro, ele já esperava por ela.
- Bom dia Jemima, desculpe-me por marcar no horário do almoço, você acredita que o delegado não queria nos atender nesse horário? – Perguntou horrorizado. Jemima sorriu.
- Bem que você poderia ter marcado outro horário, não estou com pressa para falar sobre aquela pessoa. – Disse o acompanhando.
- Eu imagino, mas seu sogro me pediu para ficar de olho no caso do pastor Acabe, e infelizmente eu não tenho boas notícias. – Ela parou de repente.
- Como assim? – Perguntou alarmada.
- Os advogados dele entraram com um pedido de Avaliação Psicológica.
- Você só pode estar de brincadeira!
- Não mesmo. Eles estão alegando distúrbio de personalidade e estresse devido ao encargo de carregar nas costas uma pessoa difícil como a vereadora Francisca e uma adolescente com carência afetiva paterna.
- Não posso acreditar. – Disse horrorizada. – Você disse advogados? Como assim? Quem quer defender uma pessoa dessas?
- O pai dele contratou um escritório de advogados para defendê-lo, por isso o senhor Henrique me colocou de olho nele, ele conhece os advogados contratados, e a fama deles não é boa.
- Claro que não! O que se esperar de alguém que se propõem a denegrir a imagem de uma menina violada. – Retrucou irritada.
As duas mulheres se olharam no momento em que uma ficou de frente para a outra, em qualquer outra situação ou lugar elas teriam passado uma pela outra sem de fato ver uma a outra, mas não naquela situação e local, sem jamais terem se visto ou ao menos uma foto, naquele momento elas sabiam exatamente quem elas eram.
- Jemima/Jussara. – Disseram parando de frente uma para a outra, e por algum motivo completamente alheio que elas não faziam ideia porque, começaram a rir descontroladamente.
- Era só o que me faltava. – Resmungou o advogado de Jussara. – Vamos embora, você não tem nada para falar com essa mulher.
- Pelo amor de Deus, ela é mais vítima que eu, larga mão de ser chato. – Respondeu ainda rindo. – Você é mesmo linda! É uma pena que ele não tenha aproveitado a oportunidade de viver uma vida feliz. – Disse encarando-a. Jemima podia sentir a sinceridade no olhar dela.
- Precisamos ir Jemima. – Disse Tobias.
Sem saber o que falar e sem ação ela se viu sendo arrastada por Tobias, ainda olhando para a mulher que se afastava também a encarando, finalmente caindo em si puxou o braço da mão do advogado parando onde estava.
- Espere um pouco eu preciso pensar. – Disse olhando para fora, a mulher empurrada pelo advogado entrava no carro. - Eu gostaria de falar com ela. – Disse finalmente, Tobias não pareceu surpreso.
- Tem certeza? Não sei se seu namorado ou seu sogro vão se agradar disso.
- Tenho certeza que meu sogro vai detestar, mas meu namorado vai entender.
- Tudo bem. Vou ver o que eu consigo.
- Obrigada. – E o seguiu à sala do delegado.
Alex estava rodeado pelas outras mulheres de sua vida quando Jemima voltou para casa depois do depoimento, despedira de Tobias com a promessa de que ele tentaria um encontro com Jussara e lhe manteria informada sobre o caso do impostor pastor Acabe.
Sentia-se esgotada emocionalmente, sabia que falar de seu casamento com Bruno seria difícil, mas na realidade fora pior do que ela imaginara, a cena que observava de dentro do carro do sogro aliviou seu coração, mas também o deixou um pouco apreensivo e se no final de tudo aquilo ela não conseguisse ser a mulher de que ele precisava? As marcas deixadas por Bruno eram muito mais profundas do que ela gostaria de admitir, como se sentisse que estava sendo observado, ele olhou na direção dela e sorriu, e todo o temor evaporou de seu ser.
- "Obrigada meu Deus pelo presente que o Senhor me deu; o que o Senhor prepara homem nenhum destrói". - Pensou saindo do carro.
Ele foi ao encontro dela, abraçou-a apertado, aliviado por ela estar em segurança; cheirou seus cabelos e a beijou ardentemente. Corada ela o afastou.
- Seus pais e suas filhas estão de olho em nós. – Sussurrou tímida.
- Não exatamente, meu pai e o Adriano foram até a oficina. – Sussurrou sorrindo.
- Esqueci que o Adriano ia encontra-los, ainda bem que eles não estão aqui, eu ficaria ainda mais constrangida. – Ela sentiu o rosto arder.
Sorrindo ele pegou em sua mão puxando-a para onde estava com a mãe e as filhas.
- Meu pai está orgulhoso de você. – Disse emocionado.
- Por quê? – Perguntou confusa fazendo-o parar.
- Pela maneira como você lidou com o acidente, ele pensou que encontraria os carros no pátio da delegacia. – Ela tornou a ficar corada.
- Eu mandei para a oficina mais nem eu ou sua mãe sabíamos qualquer coisa sobre o seu seguro, por isso pedimos para mexer no seu carro só quando você chegasse.
- Eu também estou muito orgulhoso de você. – Disse tornando a beija-la.
- Alex, nós temos plateia. – Sussurrou.
- Obrigado por cuidar de tudo, principalmente de minhas filhas. – Disse pegando seu rosto entre as mãos. - A Laila me disse do pesadelo e que você cuidou dela.
- Era o mínimo que eu podia fazer; vocês também cuidaram de mim quando eu tive pesadelo, lembra?
- Sim. Eu lembro, ainda assim obrigado, minha mãe estava aqui se você quisesse poderia tê-la deixado aos cuidados dela. – Ele sorriu. – Você fica linda corada. – Beijou-a. - Eu te amo.
- Eu também te amo. – Ele a abraçou e foi ao encontro da mãe. – Eu sinto falta do tempo que você ficava corado. – Sussurrou, ele apenas sorriu beijando seu pescoço.
- Você vai voltar ao trabalhar? – Perguntou senhora Andreia.
- Sim. Eu vim apenas tomar um banho e ver o Alex, na verdade já estou atrasada. – Respondeu tímida.
- E almoçar. – Retrucou senhora Andreia tirando-a dos braços do filho. – O Tobias me disse que você não quis almoçar com ele.
Alex piscou para ela e sentou entre as filhas.
- Eu realmente não estou com fome. – Resmungou sendo empurrada na cadeira pela sogra.
- Eu sei que não minha filha. – Disse carinhosamente abaixando à sua frente. – Imagino o quanto deva ter sido difícil falar sobre seu relacionamento com aquele rapaz com um desconhecido, você está ferida como no primeiro dia que decidiu se divorciar, mas você não está mais quebrada, você não está sozinha e todas essas lembranças dolorosas, Deus as transformará em benção para outras pessoas, o seu testemunho servirá para que outras mulheres venham a acreditar que são merecedoras de uma vida melhor e de um companheiro que as ame e as respeite.
- Obrigada. – Sussurrou chorando, em que momento as lágrimas começaram a fluir ela não soube, a sogra a abraçou, emocionada ela fechou os olhos.
- Agora você vai comer afinal saco vazio não fica de pé. – Disse levantando-se. – Além disso, eu prometi a sua mãe que faria você comer assim que colocasse os pés em casa. - O celular de Jemima vibrou na bolsa.
- Falando na minha mãe! – Disse sorrindo olhando o visor do celular.
- Atenda, eu vou fazer o seu prato.
- Oi mãe.
- Como você está? – A preocupação era nítida na voz da mãe.
- Eu estou bem, um pouco cansada. Falar sobre coisas intima com estranhos é humilhante e constrangedor, mas era necessário. Graças a Deus eu acho que finalmente eu vou ter tranquilidade.
- Graças a Deus. – Disse aliviada. – Que tudo isso acabe. Você almoçou?
- Vou almoçar agora, o depoimento demorou mais do que o Tobias havia imaginado.
- Então almoça mais tarde a gente se fala.
- Tá bom. - Despediu-se da mãe encarando o prato à sua frente. – A senhora não acha que tem muita comida neste prato?
- Não precisa comer tudo apenas a metade. – Disse sentando-se à sua frente.
Na verdade estava com mais fome do que imaginara, terminava de comer quando Adriano adentrou a cozinha.
- Olá cunhadinha! – Cumprimentou.
- Olá Adriano. - Respondeu sorrindo.
Apesar das proibições dos pais, Adriano e Felipe jamais deixou de serem amigos, e apesar de sempre discretos por causa dos problemas envolvendo os irmãos mais novos, eles encontraram um meio de manter essa amizade, ela se recordava do irmão sempre falar sobre o amigo.
João e André pegavam no pé do irmão dizendo que Adriano se tornara o amigo imaginário, até eles ficarem adultos e não manter a amizade tão no escuro como quando eram mais novos. Ela sorriu pensando que eles conseguiram manter a amizade deles em secreto mais que ela e Alex conseguiram manter o namoro.
- Você sabe que estamos felizes por finalmente termos certeza de que vocês tivessem um romance naquela época, não sabe? – Ela gargalhou.
- Vocês sabiam do namoro deles? – Perguntou a mãe surpresa.
- Saber, saber mesmo não sabia, mas desconfiávamos, - disse sorrindo – tentamos descobrir algumas vezes, mas eles sempre faziam cara de paisagem que não sabiam do que estávamos falando.
- O pior é que não sabíamos mesmo do que vocês estavam falando até por que tínhamos certeza absoluta de que estávamos fazendo tudo muito bem escondido e que ninguém nem desconfiava. – Respondeu sorrindo. – Para depois descobrirmos que éramos péssimos em fazer as coisas escondido. Eu estava exatamente pensando que você e o Felipe conseguiram manter a amizade de vocês em segredo melhor que nós com o nosso namoro.
- A questão é que na verdade, nossos irmãos não estavam interessados na nossa amizade, já no namoro de vocês estávamos bastante interessados. – Disse sorrindo, os passos apressados adentrando a cozinha chamou a atenção deles.
- Jemima que negócio é esse de você querer falar com a outra mulher do Bruno? – Perguntou senhor Henrique sério.
Senhora Andreia e Adriano a encararam, em silêncio Alex entrou na cozinha e sentou ao seu lado.
- Cadê as meninas? – Perguntou para ele.
- Estão lá fora com a Camila. – Respondeu pegando sua mão.
- Senhor eu preciso falar com ela, gostaria de entender algumas coisas.
- Eu acho isso...
- Pai, por favor, é o desejo dela. – Disse Alex. – Além do mais, eu tenho certeza de que o senhor não vai deixa-la ir sozinha a esse encontro, certo?
- Com certeza que não. – Disse sentando-se.
- O Tobias conseguiu alguma coisa? – Perguntou ela nervosa.
- Na verdade ela também está louca para falar contigo, no entanto o advogado dela não acha uma boa ideia, estamos ainda tentando convencê-lo, pelo Tobias falaríamos diretamente com ela, mas acho melhor resolver com o advogado, tenha só mais um pouco de paciência.
- Se já está tudo encaminhado, por que você chegou aqui fazendo terrorismo com ela? – Perguntou senhora Andreia.
- Tinha esperança de que ela mudasse de ideia. – Disse sorrindo.
- Até parece que ela mudaria de ideia! – Resmungou Alex, ela abaixou a cabeça sorrindo intimamente.
Ela sentia uma terrível dor de cabeça quando atendeu ao seu último paciente, fechou os olhos e suspirando ficou apertando as têmporas, ouviu a porta ser aberta.
- Eu sei Thais que você está louca para ir embora, desculpe-me por me atrasar e te fazer ficar aqui até agora. – Disse abrindo os olhos, surpresa arqueou a sobrancelha.
- Olá doutora. – Cumprimentou Jussara. - Lamento não ser quem você esperava.
Continua...
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