34 - Quem ouvir ao Senhor viverá em segurança.
No dia seguinte Renata chegou no horário do almoço sem avisa-la com a ajuda de Thais contrataram um pedreiro que começaria no dia seguinte. Mandou uma mensagem para cada uma das cunhadas agradecendo pelo presente.
Jemima estava feliz com o rumo que sua vida estava seguindo, as pessoas ainda olhava estranho para ela, mas ela não se incomodava algo dentro dela mudara radicalmente depois do culto de terça-feira e, o carinho e a atenção das outras pessoas compensavam qualquer transtorno.
Ansiava pelo momento de falar com Alex e ouvir as aventuras de pai e filhas na chácara onde estavam morando e, ainda que a saudade oprimisse seu coração. Lembrou-se pela milionésima vez que nunca perguntara onde ele estava morando e nem ele a ela.
- "Provavelmente ele se esquece de me perguntar, assim como eu esqueço, mas vou perguntar hoje". - Pensou sorrindo na quinta-feira enquanto se arrumava para ir à igreja com Letícia e Bruna.
Ela não esqueceu mais também não perguntou, ele estava com a visita de um casal de amigos e ficara constrangida em monopoliza-lo, enquanto o casal estava lá.
Na sexta-feira ligou toda empolgada murchando gradualmente conforme ele não atendia. Preocupada ficou passando o celular de uma mão para outra, tensa se perguntava se ligava outra vez ou não, enquanto refletia sobre o que fazer ele retornou.
- Oi. - Atendeu timidamente.
- Desculpe-me, eu estava conversando com minha mãe. - Disse em um tom que aumentou sua preocupação.
- Está tudo bem Alex? - Perguntou com o coração acelerado, lembrando-se que o celular dele não dera sinal de ocupado. - "Ele não mentiria para mim". - Pensou com o coração apertado, não tinha boas recordações daquele tom de voz.
- Tive um problema na escola com a Laila e vim passar o fim de semana com os meus pais, para elas espairecerem um pouco. - Sentiu um misto de alivio e tensão.
- Se precisar conversar, é só me ligar. - Disse inquieta.
- Eu não estou muito bem no momento Jem, a gente pode se falar outra hora?
- Sim, mas... - começou constrangida, - tudo bem a gente se fala amanhã. - E desligou sem se despedir, aflita andou de um lado para o outro, olhou o contato da cunhada várias vezes pensando em ligar e perguntar o que acontecera, mudando de ideia todas às vezes, se ele quisesse falar teria falo.
Jogou-se na cama frustrada, lembrando-se que também não dissera a ele sobre o Bruno e ele também ficara preocupado e ela apenas desconversara, precisa conversar com ele sobre essas coisas, eles podiam confiar um no outro, então porque não dividiam suas dores e preocupações?
No sábado acordara cedo e mais uma vez sentara na varanda olhando o movimento lá fora, lamentou que logo não pudesse mais fazer isso o muro já estava quase pronto, sem muita animação levantou-se e foi cuidar de seus afazeres domésticos, antes de entrar na casa, Leticia gritou por ela do portão de sua casa, virou-se sorrindo.
- Oi, Leticia. Aceita uma xícara de café? - Perguntou alegremente.
- Eu aceito sim. - Respondeu fechando o portão. - Até porque eu tenho um convite para você. - Disse se aproximando, Jemima franziu o cenho, a outra apenas sorriu entrando com ela na casa. - Hoje a tarde vai ter um encontro de mulheres na minha casa, eu gostaria que você fosse.
- E como é este encontro? - Perguntou interessada, nunca participara de nada assim depois que casara e deixara as coisas da juventude da igreja de lado.
- Temos o momento do Louvor, da Palavra e depois temos uma roda de conversas enquanto lanchamos.
- Que interessante! Eu vou sim, que horas são?
- Às dezessete horas.
- O que eu levo?
- O que você quiser. E se não quiser levar nada também não tem problema. - Respondeu sorrindo. - Seu café é uma delicia, se quiser levar uma garrafa. - Disse bebendo seu café.
O momento com as mulheres da igreja foi maravilhoso, ela se divertiu como a muito tempo não se divertira e ainda aprendeu de Deus, ela nunca deixava de se encantar com a Palavra de Deus, não importava quantas vezes a ouvia, sempre era um renovo e uma nova mensagem para o seu coração, naquela noite conversou com os pastores e disse-lhe quem era e que gostaria de congregar ali, eles foram imensamente atenciosos com ela.
- No culto de amanhã apresentamos a senhora para a igreja, tudo bem? - Perguntou o pastor.
- Sim, por mim tudo bem. - Respondeu alegremente.
Seria a primeira vez que congregaria em uma igreja que não era presidida pelo pai, no tempo de faculdade, não se interessara me procurar uma igreja para ir enquanto esteve lá, mais um sinal de alerta que ela não percebera.
Esperara pela ligação de Alex, dormiu abraçada ao celular e, acordou de madrugada com uma mensagem dele.
'Perdoe-me meu celular descarregou e eu não percebi'.
'Tudo bem. Falamo-nos depois'. - Respondeu imediatamente, com um sentimento desagradável.
No domingo pela manhã como todos os dias anteriores acordou muito cedo, frustrada afinal poderia dormir um pouco mais, não tinha nada para fazer, a não ser olhar o tempo passar, fez seu devocional, seu café e mais sentou na varanda, pensando na desvantagem do muro, naquela manhã já não tinha mais a visão que tivera na manhã anterior, para sua surpresa a construção estava bem mais adiantada do ela esperara, gostava de ver o vai e vem das pessoas na rua, suspirou encostando-se à espreguiçadeira, assustou-se com uma buzina frenética.
- Palhaçada! - Exclamou endireitando-se pronta para reclamar; surpresa arregalou os olhos Amanda e Regina saiam do carro, pulou da espreguiçadeira e correu até elas.
- Bom dia doutoras caiu da cama? - Perguntou sorrindo.
- Quase isso por mim, nós teríamos vindo mais tarde, mais sabe como é a Regina. - Respondeu Amanda puxando-a para um abraço.
- Se esperássemos por sua boa vontade para levantar pegaríamos a estrada só no horário do almoço. - Resmungo Regina puxando Jemima dos braços de Amanda.
- E o que aconteceu para que eu tenha o prazer da visita das duas? - Perguntou olhando de uma para a outra.
- Precisamos de boas razões para visitar uma amiga? - Perguntou Amanda abrindo a porta traseira e tirando um filhote de cachorro. - Se bem neste caso, nós temos uma boa razão, te trouxemos um presente. - Disse aproximando e colocando o animalzinho nos braços de Jemima.
- Para você amar, cuidar e proteger. - Disse Regina passando o braço no pescoço de Amanda.
- Vocês me trouxeram um cão de guarda? - Perguntou desconfiada encarando as duas que estranhamente continuaram a encara-la.
- Te trouxemos um cão para te fazer companhia. - Respondeu Amanda encarando Regina as duas voltaram para carro pegando mais coisas.
- Se vocês estão dizendo. - Disse encarando o animal. - Ele já tem nome?
- Não, vamos escolher juntas enquanto tomamos café. - Disse Regina cheia de sacolas. Elas entraram na casa e Jemima ainda encarava o filhote nas mãos, nunca tivera um bicho de estimação nem sabia o que fazer com eles.
- Diga-me meninas o que eu vou fazer com um pastor alemão? Não poderiam ter me dado um daqueles pequenininhos como os que você tem Amanda? - Perguntou colocando-o no canto do sofá. - Como eu vou manter esse bicho dentro de casa?
- Trouxemos tudo o que você vai precisar inclusive uma coleira e uma corrente para você leva-lo para passear e mantê-lo preso enquanto o muro não fica pronto, você precisa leva-lo para vacinar, aqui tem veterinário, não tem? - Perguntou Amanda sarcástica, ela não perdia a oportunidade de menosprezar a cidade que escolhera para morar.
- Aqui tem veterinário sim. - "Pelo menos eu acho". - Pensou franzindo a testa, imaginando se o bonitão cobiçado do momento seria ou não veterinário, sacudiu a cabeça. - Amanda você ouviu o que eu disse? - As duas entreolharam-se, Jemima sentiu um frio na espinha, conhecia muito bem o olhar daquelas duas. - O que vocês estão me escondendo? - Perguntou cruzando os braços.
- Qual o problema de querermos que nossa amiga que vive sozinha tenha um cão de guarda? - Perguntou Regina jogando-se no sofá. - Além disso, você não iria gostar de cães poste pequeno, eles são mais dependentes e dão mais trabalho.
- Não sei de onde você tirou isso! - Exclamou Amanda jogando uma almofada na amiga.
- Parem as duas de me tratarem como uma idiota. - Se havia alguém que o Bruno procuraria para saber dela seria aquelas duas. - Por que eu preciso de um cão de guarda? - Perguntou engasgada. As duas a encararam, e o olhar delas confirmou suas suspeitas.
- Foi por causa do Bruno que você trocou de número. - Afirmou Amanda sentando ao lado de Regina.
Inconscientemente as lágrimas inundaram seus olhos, ela os esfregou violentamente, não permitiria que aquele projeto de belzebu tirasse dela a confiança, sentou no outro sofá.
- "Eu creio que o Senhor tem o melhor para mim, estou esperando em Ti". - Pensou suspirando. - O que ele disse a vocês? - Perguntou surpreendentemente calma, as duas entreolharam-se.
- Ele foi ao meu consultório, - Começou Regina - querendo saber onde você estava morando, ele me disse que você havia mudado de número, eu perguntei se fora ele o responsável por essa mudança, ele disse que não.
- Para mim também ele disse que só queria conversar contigo sobre algumas coisas que ficaram pendentes entre vocês e que não iria procurar seus pais, porque sabia que eles estavam bastante chateados com ele e blablabá. - Concluiu Amanda com desdém indo até a janela.
- Você está bem aqui? - Perguntou Regina preocupada.
- Isso não importa, - disse Amanda interrompendo a resposta de Jemima, - ele vai encontra-la aqui, a tia dela que estava literalmente escondida fora encontrada, imagina Jemima aqui, vivendo a vida como se não tivesse um psicopata atrás dela. - Disse irritada se virando para elas.
- Meninas eu não vou deixar de viver minha vida por causa do Bruno, eu deixei muita coisa para agrada-lo, não vou mais fazer isso. Vocês não precisam se preocupar, eu estou bem e vou continuar bem...
- Por favor! - Amanda a interrompeu. - Não me venha com esse papo de crente de que Deus está no controle de tudo e não sei mais o que. - Disse alterada. - A situação aqui é grave!
- Eu sei que a situação é grave, e não estou dizendo que não tenho medo, ou que não me preocupo, eu só não vou ficar neurótica por causa dele e, sim Amanda eu creio que Deus está no controle de tudo e no fim tudo dará certo.
- Eu sei que você é uma mulher de fé Jem, mas ainda assim nos preocupamos, sua tia também era uma mulher de fé, e só sobrou o Benjamim. - Disse Regina nervosa, das duas ela sempre foi a mais próxima a que estava sempre em casa e conhecia todos os parentes.
- O que exatamente ele disse a vocês? - Perguntou tensa.
Ela sentiu um calafrio, até onde sabia Bruno não tinha as relações criminosas que o tio tinha, mas até a algum tempo atrás ela pensava que ele era uma pessoa que nem existia, suspirou e contou sobre a ligação dele, sobre as novas vizinhas e que esperava que ele desistisse dela.
- Ele não vai desistir de você, eu nunca entendi esse seu divórcio, ele concordou rápido demais. - Resmungou Amanda. - Muito me admira você acreditar que ele te deixaria em paz tão facilmente.
- Ela tem razão Jem, você precisa se cuidar. - Disse Regina sentando ao seu lado. - Sabemos que um cão de guarda na verdade não é grande coisa, mas ele pode te alertar, queremos que você se prepare para caso ele te encontre de fato.
- Eu vou ficar atenta e, sim vou me cuidar não precisa se preocupar. - Disse surpreendentemente tranquila, as duas entreolharam-se, sorrindo abraçaram-na.
- E aquele seu namorado do passado, ainda não deu o ar da graça? - Perguntou Amanda, ela revirou os olhos.
- Namorado do passado? Como eu não sei nada sobre isso? - Perguntou Regina. - O conheceu na faculdade?
Ela levantou se afastando das duas, ainda não estava pronta para todas as perguntas que surgiriam no momento que dissesse quem era o namorado do passado.
- Outro dia a gente fala sobre ele e não quero ter alguém ao meu lado apenas para me defender do Bruno. - Respondeu sinceramente.
- Claro que não! Mais ter alguém ao seu lado com certeza seria um fator importante para ele manter distância e para você ficar mais tranquila. - Lembrou Regina. Ela queria muito Alex ao seu lado, mas não como uma válvula de escape, mudou de assunto.
- Como estão as coisas no hospital? - Perguntou e, as duas entreolharam-se rindo.
Elas conversaram, tomaram café, escolheram o nome do cachorro, e o assunto Bruno foi engavetado, despediram-se depois do almoço, e a solidão invadiu o coração de Jemima.
- "Até quando Senhor eu estarei só? Acalme minha alma". - Pensou com os olhos cheios d'água.
Fora apresentada à igreja e as novas amigas empolgaram-se com a novidade, foi com elas à pizzaria comemorar, já não sentia tanto a solidão quanto sentira ao se despedir das amigas mais cedo, mas ainda se sentia meio deslocada, ela e Laura eram as únicas solteiras e Laura estava em oração pelo seu relacionamento com o amigo de infância Tiago.
- O seu patrão não vem mais à igreja? - Perguntou Thais, Jemima revirou os olhos.
- Depois do que aconteceu com a filha dele, ele resolveu passar o fim de semana com os pais. - Respondeu entre uma mordida e outra.
- Coitada nenhuma criança deveria passar por aquilo. - Resmungou Letícia visivelmente chateada.
Jemima franziu a testa qual a fofoca da semana que ela perdera? Tudo o que acontecia na cidade ela ficava sabendo na Unidade de Saúde, porém não se recordava de nenhum assunto envolvendo crianças.
- "Se bem que qualquer assunto envolvendo criança é muito sério para se ficar falando por aí". - Pensou concentrando-se no seu pedaço de pizza.
Para seu alívio elas passaram a outro tópico, mais interessante na opinião de Jemima, o quanto o culto havia sido impactante e abençoado e que estavam felizes pela escolha de Jemima, sorriu envergonhada.
Chegando a sua casa 'Fred', nome ganho em homenagem ao Fred Jones do 'scooby-doo' grande paixão das três quando crianças, veio correndo ao seu encontro, ela sorriu ao se recordar do quanto o achava lindo.
- Quem pode saber o que se passa em nossas cabeças quando somos crianças, né mesmo Fred? Nem nós mesmas. - Disse sorrindo fazendo carinho na cabeça do animal, ele rosnou alegremente.
Ainda não tinha certeza se seria capaz de cuidar do bichinho, mas tudo indicava que se fosse o caso levaria muito mais jeito do que imaginara para ser uma solteirona solitária cercada por animais e tendo apenas eles para ouvir seus lamentos, violentamente sacudiu a cabeça dispensando a imagem que formara em sua mente.
- Sangue do Cordeiro, ninguém merece um futuro desses. - Disse em voz alta. - Falo com o cachorro, falo sozinha, talvez eu esteja mesmo precisando de companhia. - Sorriu, pois continuava a falar consigo mesma.
Jogou-se no sofá, com o celular em mãos verificando as mensagens, haviam combinado que ele mandaria uma mensagem quando chegasse.
'Acabei de chegar. Espero que tenha aceitado sair com suas novas amigas, não se preocupe eu espero. Estou com saudades, sem pressão'.
- "Também estou com saudades, só espero que ele não tenha desistido de esperar". - Pensou ligando.
- OI. - Respondeu sonolento.
- Desculpe-me pelo atraso, demoramos mais do que o esperado na pizzaria. - Desculpou-se se sentindo mal.
- Não se preocupe. Você não pode ficar trancafiada dentro de casa por minha causa. - Algo na sua voz fez seu coração acelerar, ele ainda não estava bem. - E como foi hoje no culto? Ainda encantada com a igreja?
- Foi maravilhoso. Hoje eu fui apresentada decidi congregar lá. - Respondeu sentando-se. - Alex conversa comigo, você está tenso, triste o que aconteceu com a Laila? - Perguntou angustiada. - Fala comigo, eu estou aqui para o que você precisar.
- Eu sei, e quero falar contigo, mas hoje não. Esses dias nós temos nos falamos tão rapidamente, eu sei que a culpa é minha e quero te pedir desculpa, por favor, me perdoe por ter sido tão desagradável esses dias.
- Não precisa se desculpar, mas eu gostaria que você confiasse em mim, não precisa passar por seja lá o que for sozinho. - Sussurrou desejando mais uma vez estar com ele e poder conforta-lo.
- Eu sou imensamente grato por isso, foi te falar o que aconteceu em outro momento, agora eu quero falar sobre você. - Disse sorrindo.
Ela lhe contou sobre o filhote que ganhara e ele sobre o fim de semana na casa dos pais, quando desligou ela lembrou que se esquecera de perguntar qual a cidade que ele estava morando.
- "Se bem que isso importa, por acaso eu vou atrás dele?" - Pensou sacudindo a cabeça. - "Era bem capaz" - Concluiu o pensamento sorrindo.
Ela estava alegre como nunca estivera em toda a sua vida, seu coração não suportava tanta emoção e felicidade, no momento em que ele foi chamado ela pensou que seu coração iria explodir no peito de tanta alegria, forçou o ouvido para ouvir o nome, não conseguiu ouvir, mas não importava ela sabia quem era ele, uma moça linda veio ao seu encontro e a abraçou.
- Ele está lindo, não está? -Sorrindo perguntou a moça olhando para o rapaz que falava alguma coisa no microfone.
- Por que estou te ouvindo e não estou ouvindo ele? - Perguntou confusa encarando a moça.
- Por que este sonho é para a senhora saber somente o necessário, é apenas para que sua fé seja firmada quando for preciso. - Respondeu séria, Jemima tornou a encarar firmemente, um olhar que lembrava ouro derretido a encarava sorridente, ela tinha certeza de conhecê-la, mas não sabia de onde.
- Então isso é um sonho? Como os do meu sobrinho Asafe?
- Não. O Asafe tem sonhos proféticos, esse aqui é apenas para te lembrar de que Deus tem uma promessa para ti, e chegará o momento em que a senhora precisará se lembrar dessa promessa. - Disse a encarando.
- Eu conheço você? - Perguntou confusa a moça apertou sua mão e olhou para frente.
- Lembre-se, Deus tem uma promessa para a senhora e, algumas promessas precisam mais de fé para se cumprir que outras, sua fé será provada para que outras mulheres se inspirem em ti. - Disse sorrindo voltando a encara-la. - Eu te amo tia Jem, e somos felizes porque Deus nos enviou a senhora, agora eu preciso dar um abraço a senhora sabe em quem. - Disse piscando a apertou em um abraço que aqueceu sua alma, Jemima apertou-a e fechou os olhos.
Abriu os olhos assustada, pois não sentia mais o corpo que abraçava olhou em volta tudo havia desaparecido; confusa olhava para todos os lados, estava sozinha em um salão enorme, vazio e bem iluminado.
Acordou assustada, dormira no sofá o celular estava jogado no chão, não se despedira de Alex; dormira enquanto falava com ele, olhou a hora, três e quatorze da manhã, a sensação de alegria ainda inundava seu coração e, apesar do pesar de não ter se despedido dele, estava feliz, ela não fazia ideia do que Deus tinha para ela, mas de uma coisa ela sabia seria grande e impactante.
Na manhã de segunda-feira ela atendia uma paciente quando ouviu os burburinhos, ignorou, mas as vozes alteradas estavam incomodando mesmo com a porta fechada, terminou de atender e saiu para ver o que estava acontecendo, pessoas corriam de um lado para o outro.
- Thais o que está acontecendo que burburinho é esse? - Perguntou baixo.
- A filha da vereadora causou na escola de novo, agora foi mais grave que na sexta-feira ela feriu a menina, mas a mãe insiste que a filha não fez nada.
- A garota não quer deixar o médico ver o seio dela. - Disse Eunice passando a mão cabeça. - Não sei se ela está mais nervosa por ele ser um homem ou se pela vereadora Francisca gritando no ouvido dela.
- Me deixa ver se eu entendi, a filha da vereadora agrediu outra criança, e a tal vereadora está ai dentro com a menina que fora agredida pela filha dela? - Perguntou horrorizada. As mulheres olharam entre si e consentiram. - Isso é antiético. - Esbravejou, virou-se para os pacientes que esperavam para ser atendidos. - Vocês esperam por mim um pouco, eu vou verificar uma coisinha. - Todos os presentes assentiram. Revoltada ela dirigiu-se para a sala de emergência.
- Essa garota é uma mentirosa que pretende prejudicar minha filha. - Dizia uma mulher alta ao lado da menina.
A menina por sua vez chorava silenciosamente encolhida na maca, tinha o cabelo curto, um corte que lembrava o seu, a franja longa cobria parte dos olhos, havia sangue na frente da blusa dela.
- Qual o problema? - Perguntou Jemima tentando controlar a raiva.
- Essa menina... - Começou a mulher.
- Eu não perguntei à senhora. - Disse rispidamente. A mulher ergueu a sobrancelha. - Doutor Agnaldo qual o problema?
- Ela está com o seio ferido, mas se recusa a tirar a blusa para eu analisar o ferimento.
- "Por que será?" - Pensou indignada. - Já avisaram os pais dela? - Perguntou se aproximando da menina.
- Obviamente que sim. - Respondeu a mulher.
- A senhora se importa de nos dar licença? Apenas a família pode ficar aqui nessas situações.
- Eu sou vereadora desse município e vou ficar bem aqui.
- Então haja como tal, e nos dá licença para fazermos o nosso trabalho. - Retrucou encarando-a. - Pode esperar lá fora. Doutor me deixa sozinha com ela? Ela deve estar envergonhada.
- Ela deveria ter vergonha de ser mentirosa. - Resmungou a vereadora, Jemima ouviu o fungar da menina seu coração se compadeceu ainda mais.
- A senhora vai sair ou eu preciso chamar a policia para tira-la daqui?
- Vamos vereadora. - Disse o médico. - Eu vou atendendo os seus pacientes.
- Não precisa. Eles sabem que eu vou demorar um pouco. - Ele olhou para ela com um olhar de poucos amigos ela segurou o olhar. - Oi minha pequena. - Disse levantando a cabeça da criança quando os dois saíram, e um par de olhos amarelados a encararam, eram os mesmos olhos de ouro derretido de seu sonho, colocou a mão no peito, seu coração estava quase saindo da caixa torácica. - Eu te conheço?
- Não sei, mais a sua voz é familiar e seu rosto também. Meu pai vai demorar? - Perguntou chorando. Jemima sentiu-se uma ogra, a menina estava sofrendo e ela pensando em sonhos.
- Ele já foi avisado, então ele não deve demorar. Você tira a blusa para eu ver esse ferimento? - Pediu indo à porta e chamando Eunice, timidamente a menina tirou a blusa, havia um corte do ombro para o seio que estava começando a tomar volume.
- "O que se passa na cabeça dessas crianças para fazer isso umas com as outras?" - Pensou pesarosa. - Você quer me contar o que aconteceu? - Perguntou enquanto limpava o ferimento, a menina olhou corada para Eunice que entrava.
- Oi minha pequena, graças a Deus que você deixou cuidarmos de você, eu já estava preocupada contigo. - Disse Eunice ajudando Jemima.
A menina contou que na sexta-feira, Erica a filha da vereadora cortara seu cabelo no banheiro da escola usando um estilete, ninguém conseguiu encontrar o estilete e naquela manhã ela a cortou usando o mesmo estilete. As duas mulheres entreolharam-se visivelmente chocadas.
- Graças a Deus o corte não foi profundo, não precisa pegar pontos, provavelmente ficará uma pequena cicatriz, mas pode ser também que com o tempo suma, você está crescendo e algumas cicatrizes de pele somem quando a gente cresce. - Disse Jemima querendo chorar, sonhara com essa menina e agora estava ali fazendo um curativo nela. - "Meu Deus quem é essa menina, o que o Senhor está querendo me mostrar?" - Pensou tentando se recordar do que a menina que já era moça em seu sonho lhe dissera.
- Doutora! - Estivera distante em seus pensamentos que não percebera que Eunice havia saído da sala e estava agora na porta chamando-a.
- Sim?
- O pai da menina chegou, está falando com o doutor Agnaldo, quer falar com ele?
- Não. Este pai deve estar sofrendo pela filha, ele só quer ficar com a filhinha dele. - Disse tocando de leve o rosto da menina. - Te cuida minha querida. A gente se vê por aí. - Ajudou-a a vestir a blusa, impulsivamente beijou a testa dela e saiu da sala.
Dois pares de olhos perseguiram Jemima pelo resto dia, um olhar jovial e alegre de uma moça feliz e bem resolvida e o olhar de uma menina sofrendo a dor de uma injustiça e ambos lembravam ouro derretido. Naquela noite antes de Alex lhe ligar Ariane sua cunhada ligou, enquanto falava com ela lembrou-se que a família tinha olhos dourados, incluindo o Alex, mas não se recordava se os mais novos tinham olhos assim, sabia que seu sobrinho tinha olhos verdes como o do pai. Infelizmente não prestara muita atenção às filhas do Alex no final do ano, e no casamente do irmão quase não as vira.
Atendera à ligação dele no segundo toque.
- Olá, rapaz de olhos lindos! - De repente para ela não havia tom de olhos mais linda que o dourado.
- Uau! Que recepção! - Respondeu infeliz jogando um balde de água fria em sua empolgação, ele chorara.
- Alex o que aconteceu? E, por favor, não me diga que falaremos sobre isso depois.
- Lembra que eu disse que minha filha estava tendo problemas na escola?
- Sim. - "Será que as crianças estão ficando descompensadas em todo lugar!" - Pensou triste.
- Pois é hoje foi muito pior, ela... - Ele ficou em silêncio.
- Alex...
- Desculpe-me Jem, minha filha está tendo um pesadelo, eu te ligo depois. - E desligou. Com lágrimas nos olhos ela ficou olhando o celular em sua mão. Ajoelhou-se ao pé de sua cama.
- Deus meu. Pai e Supremo Senhor, humildemente eu me prostro diante de Ti, para mais uma vez pedir por aquele a quem o Senhor me ensinou a amar, não sei Senhor quais problemas ele tem enfrentado, eu sei que ele não quer me preocupar e por isso ele não me fala tudo o que acontece com ele e com as crianças, mas o Senhor sabe e Te Louvo por isso, pois é melhor que o Senhor saiba por que eu sei que o Senhor pode ajuda-lo, seja qual for o problema dê a ele sabedoria e discernimento, seja o Senhor com as filhas dele, e que o Senhor os conforte e os console, e nesta noite os abrace e os faça sentir-se amparados e protegidos, eu os amo e sei que o Senhor os ama muito mais, e neste momento o Senhor pode ajudar mais que qualquer pessoa, Senhor quando for da Sua Vontade que nos aproxime eu acho que estou pronta para viver o melhor que o Senhor tem para mim. Pai nesta noite eu quero ainda te pedir pela segurança física, emocional e espiritual daquela garotinha eu não sei o nome dela mais o Senhor sabe, em Nome de Jesus seja o Senhor a curar não apenas as feridas físicas mais as emocionais também. Obrigada Senhor pelo cuidado que o Senhor tem comigo, e mais uma vez Senhor eu te peço, cuida para que a cada dia eu seja mais fiel a Ti, no Nome de Jesus eu oro a Ti clamando por aqueles que eu amo e por aqueles que o Senhor põe em minha vida para eu ser instrumento de cura na vida deles. Graças eu te dou, pois jamais me abandona. - Orou ainda chorando. Sentou no chão e escreveu uma mensagem.
'Sua filha está precisando de você, fique com ela. Nós temos um futuro inteiro para nos falar, cuide bem dela. Amanhã eu te ligo. Não esqueça que eu te amo e que tudo o que quero é que você seja feliz'. - Enviou a mensagem.
'Obrigado pela atenção e carinho, como sempre você foi fantástica e maravilhosa. Eu também te amo, e quero sim ser feliz de preferencia ao seu lado. Beijos'. - Infelizmente ela só vira a mensagem pela manhã.
'Bom dia. Tudo bem com as meninas? Qual delas teve pesadelos?'
Mandou a mensagem e foi preparar o café, assustou-se com o telefone vibrando.
- Alex? - Sussurrou preocupada. - Oi. - Atendeu imediatamente com o coração quase saltando da caixa torácica.
- Oi amor da minha vida... - Ela se derretia toda quando ele falava assim, encostou-se ao balcão, com a atenção toda voltada para ele.
Naquele dia a tarde ela teve poucos pacientes os atendera e decidira ir à escola. Recebera uma mensagem de Alex saindo do consultório.
'Vocês médicos costumam comer doces?'. - Ela sorriu.
'Sim, nós médicos também temos nossos momentos de estragar com a saúde'. - Respondeu sorrindo.
O diretor a recebera desconfiado e ficara ainda mais desconfiado quando ela perguntou sobre quais atitudes ele tomara em relação ao que acontecera dentro dos domínios da escola, nervoso ele disse que os pais das crianças envolvidas já haviam se entendido e que não havia necessidade da saúde se envolver nesse assunto, alias ele deixara bem claro que a digníssima vereadora não estava nada satisfeita com ela.
- Diretor... - Uma criança o chamou na porta ele suspirou aliviado. - Desculpe-me não sabia que o senhor estava ocupado.
- Tudo bem Erica, o que aconteceu?
- A professora Gisele precisa falar com o senhor.
- Por favor, diga a ela que eu já vou. - A garota sorriu para Jemima e saiu quase correndo. - Como a senhora pode ver a Erica é uma boa garota.
- Uma boa garota que quase acertou o pescoço da colega com um estilete, talvez seja o caso da administração da escola verificar melhor o que está acontecendo para que boas garotas se comportem pior que as meninas malvadas.
- O quê? - Perguntou confuso.
- Nada senhor. Se o senhor precisar de ajuda saiba que pode contar comigo. - Disse levantando-se. - Até mais diretor, nos veremos novamente. - Despediu-se o deixando nervoso.
Voltou à Unidade de Saúde apenas para cumprir horário, viu a garota de olhar dourado antes mesmo de entrar na recepção, a menina sorriu ao vê-la e seu coração encheu de alegria.
- "Se feche jemima, você nem sabe quem é essa criança". - Pensou sacudindo a cabeça, Thais conversava distraidamente com Laura.
- Oi doutora. - Disse a menina solene, entregando-lhe uma cesta.
- Oi minha querida. Que linda! - Respondeu recebendo emocionada a cesta.
- Não sei quais doces a senhora gosta, então coloquei de todos um pouco, meu pai disse que provavelmente a senhora não iria gostar, pois médicos presam muito pela saúde.
- "Pela saúde dos outros". - Pensou animada. - Como você está?
- Eu estou bem, graças a Deus e a senhora fez um curativo muito bom o corte não dói; meu pai não me deixou ir à escola hoje, mas amanhã eu já vou, eu espero em Deus que tudo fique bem. - Disse abaixando a cabeça, Jemima quis abraça-la. Olhou para as duas mulheres que as encaravam.
- Fico feliz por você estar bem. Você veio com quem?
A menina abriu a boca para responder, mais não teve tempo a ambulância chegou com um acidentado de moto. Despediu-se dela rapidamente desejando que quem estivesse com ela não estivesse longe.
Naquela noite após o culto das mulheres, Jemima fora à sorveteria a cesta de doces da menina lhe abrira o apetite por doces e o calor noturno estava propicio para sorvetes, as mesas estavam todas ocupadas, a alternativa era pegar um copo descartável ou casquinha, mas estava com vontade de tomar sorvete na taça como fazia quando criança suspirou analisando as alternativas; sorriu ao vê a menina sozinha na mesa, montou seu sorvete e foi até ela.
- Boa noite, eu posso sentar contigo? Todas as outras mesas estão cheias. - A menina olhou em volta.
- Sim, pode sentar. - Disse de má vontade.
- Lembra-se de mim? Eu te vi hoje na escola.
- Eu sei, o diretor disse que você foi lá pedir a minha cabeça. - Disse furiosamente.
- Oi? - Perguntou surpresa. - Eu não fui lá fazer nada disso. Eu só quero ajudar.
- As pessoas que querem ajudar são as piores. - Disse sem nenhuma emoção.
- Erica, por que você a agrediu daquele jeito?
- Ela mereceu. Como eu disse, as pessoas que querem ajudar são as piores.
- E ela quis ajudar quem?
- Isso não importa. - Disse depois de alguns instantes olhando seu sorvete derretendo. - E você não precisa fingir interesse em mim, - disse levantando o olhar, - eu seu que você está do lado dela, como todo mundo.
- Não é que estejamos todos do lado dela e contra você, mas o que você fez foi grave. Você tem consciência disso, não tem?
- Você é esquisita. - Disse encarando-a. - Ninguém fala comigo assim.
- Assim como?
- Como se estivesse realmente interessada, como se estivesse se esforçando para que eu compreenda o que eu fiz, não sei explicar, mas estranhamente, você está me dizendo que eu fiz errado, mas não sinto vontade de pular em seu pescoço como acontece na maioria das vezes.
- Ah! Você tem problemas com controlar sua raiva, é isso?
- Se não controlar minha raiva você quer dizer que as pessoas me irritam e sinto um desejo incontrolável de partir para cima delas, então sim eu tenho este problema. - Respondeu desafiadoramente.
- A sua mãe é muito compreensiva contigo, ela não pode te ajudar com isso? - A garota a encarou e gargalhou chamando a atenção das pessoas para elas.
- Por favor, doutora! Eu realmente gostei da senhora, não me diga que minha mãe já conquistou a senhora. - Disse desdenhosamente.
- Eu não conheço a sua mãe, mas a vi na Unidade de Saúde te defendendo. - Disse cautelosa.
- Ela só me defende por que é isso que a igreja espera dela, ela não quer que as pessoas vejam quem ela é de verdade. - Disse cobrindo a boca com a mão de olhos arregalados em pânico. - Desculpe-me, por favor, desconsidere o que eu disse, foi apenas uma idiotice de uma garota idiota. - Concluiu pegando suas coisas e levantando-se.
- Erica! - Ouviu uma voz masculina chamando, a garota que já estava amedrontada começou a tremer deixando o sorvete cair.
- MERDA! - Exclamou apavorada.
- O que significa esse palavreado Erica? - Perguntou o homem alto ao lado da garota, Jemima estava tão concentrada nas ações de Erica que não vira o homem se aproximando e por isso mesmo vira o pavor no olhar dela.
- Desculpe-me pai, desculpe-me doutora por falar palavrão na sua frente.
- Foi um acidente, e crianças são assim mesmo, meus sobrinhos por mais que meus irmãos falem vez ou outra eles falam uma coisinha ou outra que os deixam irritados. - Disse se levantando também, arqueou a sobrancelha quando o pai de Erica passou o braço pela cintura dela, ela teve a nítida impressão de que a garota tremeu.
- A Erica sabe que não deve falar certas palavras em hipótese alguma. Nos dê licença doutora a mãe dela está nos esperando. - Disse saindo puxando-a. - O que você ainda estava fazendo aqui? Eu disse que quando chegássemos era para você estar lá. - Jemima ouviu e sentiu um calafrio percorrer sua espinha.
- "Há algo de muito podre neste reino". - Pensou olhando em volta, aparentemente apenas ela achara tudo aquilo muito estranho e suspeito, e com um aperto no peito fora para casa.
Continua...
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