33 - Nenhum pardal, caí no chão sem o consentimento de Deus.
Alex retornou do almoço e, surpreso observou que Laura parecia chateada com uma cliente e não se esforçava para disfarçar seu descontentamento, ele franziu a testa se aproximando, estava gostando da moça, era prestativa e atenciosa, para que ele pudesse almoçar com as filhas ela própria sugerira que ele almoçaria no primeiro horário, sendo assim logo que ele voltara do supermercado saíra para o almoço deixando-a sozinha novamente; no momento em que ela o viu suspirou visivelmente aliviada se despediu bruscamente da pessoa que atendia vindo ao seu encontro.
- Mais eu ainda não terminei... – Disse a mulher ressentida atrás dela, Alex achou-a familiar, mas não se recordava de onde a vira.
- Não se preocupe senhora Beth, o dono da loja chegou se a senhora quiser pode ficar e falar com ele. Eu preciso almoçar. – Disse sarcástica virando-se para a senhora, Alex fez uma anotação mental de lembra-la de que não poderia falar com os clientes daquela maneira.
- Boa tarde. – Cumprimentou sorrindo. Todo e qualquer ressentimento por parte da senhora à sua frente evaporou-se ao olhar para ele.
- Meu Deus! Disseram-me que você era bonito, mas eu não imaginei que fosse tão lindo! – Exclamou extasiada, Laura revirou os olhos. – Se eu soubesse disso teria vindo antes comprar ração para o meu cachorro.
- Até mais Alex. – Disse Laura saindo rapidamente, ele franziu a testa diante da falta de cortesia dela, ela havia sido extremamente simpática com os poucos clientes que aparecera pela manhã, por que toda essa hostilidade? Perguntava-se nervoso.
- "Será que eu me enganei em ralação a ela?" - Pensou preocupado.
- Essa menina é muito mal educada, fiquei surpresa quando me disseram que ela estava trabalhando aqui, se bem que eu nem sabia que ela havia voltado. – Resmungou encarando por onde Laura saíra. – As pessoas agem como se os mais velhos não tivessem importância.
- "Ou talvez não". - Pensou franzindo o cenho. - E em que eu posso ajuda-la? – Perguntou mudando de assunto, observara que no geral as pessoas gostavam demais de falar da vida dos outros.
- Ração para cachorro. – Disse mostrando a sacola na mão. – Eu já comprei.
- "E o que ainda está fazendo aqui?" – Perguntou-se intrigado. - O que mais a senhora queria que a Laura fizesse pela senhora?
- Nada! Aquela menina como eu disse é mal educada e não sabe respeitar os mais velhos, eu só vim aqui conversar um pouco com ela e parabeniza-la pelo emprego, afinal ela teve sorte mal voltou e está empregada, mais ela é igualzinha a irmã, mal educada e sem modos.
- Fique a vontade, se precisar de mim é só chamar... – ela o interrompeu, parecendo não ouvir uma palavra.
- A irmã dela é minha nora, uma mulher extremamente arrogante, sinceramente eu não sei o que o meu filho viu nela, mas os filhos crescem e simplesmente ignoram as palavras das mães. – Disse encostando-se ao balcão. -Você já conheceu a nova médica? – Perguntou bruscamente encarando-o, confuso ele tentou associar uma coisa na outra.
- "Seria a nora a nova médica?" – Pensou confuso.
– Vocês se mudaram para cá praticamente juntos. – Disse desconfiada, afinal não era a nora, Alex a encarou. – Você a conhece? – Tornou a perguntar.
- Não senhora eu não a conheço, graças a Deus ainda não precisei ir ao posto de saúde. – Lembrando-se da mulher de branco que vira na frente da sua loja e do supermercado, finalmente recordando de onde vira aquela senhora.
- Ela é uma moça muito estranha, é muito nova e bonita para ser médica, parece uma atriz de televisão, mais muito esquisita, - resmungou fazendo uma careta - hoje pela manhã mesmo aconteceu alguma coisa muito errada na casa dela, disseram-me que ela deu um grito tão alto que toda a vizinhança saiu preocupada, e minha nora irmã da Laura é vizinha dela, ela teve a oportunidade de entrar na casa esteve com ela, - falava freneticamente, Alex conteve-se para não rir, - mais não fala nada do que aconteceu; obviamente que eu fico preocupada, meu filho trabalha fora só está em casa nos fins de semana, ela fica sozinha com meu neto de três anos, e ela age como se fosse a coisa mais natural do mundo entrar na casa de uma pessoa estranha e não dizer nada nem mesmo à sogra. – Disse como se fosse a coisa mais natural do mundo se meter na vida dos outros e ainda ficar irritada por que as pessoas não compartilham do mesmo desejo.
- E a senhora veio aqui sondar a Laura para ver se ela sabia de alguma coisa? – Perguntou entendendo a atitude admirável da funcionária.
- Sim, a gente tem que preservar o bem-estar dos nossos moradores, principalmente da própria família, não sabemos por que essa médica tão bonita veio para cá e se ela estiver escondendo alguma coisa? E se estiver fugindo da justiça, por exemplo?
- Entendo. – Disse se afastando, a senhora o acompanhou ainda falando, frustrado ele a interrompeu bruscamente. - Se a senhora não precisa de mais nada, dê-me licença que preciso organizar algumas coisas.
- O senhor está me mandando embora do seu estabelecimento? - Perguntou encarando-o visivelmente irritada.
- De jeito nenhum. Eu realmente tenho trabalho para fazer e, sinceramente eu não conheço essa médica e não me interessa os problemas dela, sejam eles quais forem. - Disse sério. - Compreendo a dúvida da senhora ou de qualquer outra pessoa quanto a ela ou a mim... - ela arregalou os olhos, ele sorriu. – Afinal, ninguém sabe de onde eu vim ou por que vim para cá. Imagino que as pessoas também estejam fofocando sobre mim.
- Algumas pessoas dessa cidade gostam bastante de uma boa fofoca, não é o meu caso, eu odeio fofoca, por isso eu vim aqui falar com a Laura para pedir a ela que se a irmã dela tivesse dito alguma coisa para ela, ficar apenas entre nós para que não houvesse nenhum mal-entendido, sabe como são as pessoas de cidade pequena. – Disse calmamente. Alex a encarou perplexo.
- Na verdade eu não sei, mas estou começando a compreender.
- Boa tarde. – Cumprimentou um cliente.
- "Louvado seja Deus". – Pensou aliviado. - Boa tarde. – Respondeu Alex.
- Boa tarde. Ricardo como está sua mãe? – Perguntou ela tranquilamente.
- "Ah, meu Deus ela conhece todo mundo!". – Pensou exasperado.
- Boa tarde, senhora Beth a senhora não deveria estar no bazar que a igreja está fazendo na feira? – Perguntou o rapaz sorrindo. – Depois a senhora não vai falar que as pessoas não fazem o trabalho direito já que deixou tudo por conta delas.
- Meu Deus! É mesmo o bazar eu esqueci. – Disse esbaforida correndo porta a fora, aliviado Alex sorriu, que Deus o perdoasse, mas estava tentado a mandar aquela senhora ir procurar a turma dela.
- A Laura me mandou uma mensagem que ela estava aqui, - começou o rapaz sorrindo, - espero que ela não tenha te assustado o suficiente para querer arrumar as malas e deixar a cidade. – Disse em tom de brincadeira, mas Alex sentia que havia um fundo de verdade.
- Não, eu não me assusto tão facilmente. – Disse no mesmo tom. – Mais eu estava temendo perder o cavalheirismo e colaborar com a fantasia dela de que forasteiros são perigosos.
- Infelizmente ela está preocupada verdadeiramente, aqui já aconteceram algumas coisas estranhas, e ela sentiu na própria pele a dor de confiar em alguém que não se conhece, algumas pessoas confiam tão cegamente em quem está chegando que deixa de ajudar um filho daqui para ajudar alguém que acabou de chegar e, para alguns, lamentavelmente a conta chegou. – O tom do rapaz era estranho, deixando Alex desconfortável.
- A senhora Beth fora uma dessas pessoas. – Afirmou pesaroso.
- Sim. A Laura me disse que você a contratou e também ao Tiago, - disse mudando de assunto, parece que nem todo mundo gostava de uma boa fofoca como a senhora Beth, - fico feliz pelos dois, principalmente por ela. – Concluiu experimentando alguns chapéus.
- Parece que você é uma das pessoas que desconfia de novatos, está preocupado com sua amiga trabalhar aqui? – Perguntou encarando o rapaz.
- Não. Eu não estou preocupado com isso, e sim, eu não confio nas pessoas facilmente, mas eu já estava esperando por você, então não creio que tenho motivos para desconfianças. – Disse olhando ao redor. – Podemos sentar e conversar um pouco? – Curiosamente Alex indicou um local onde poderiam sentar-se.
Duas poltronas fora colocado estrategicamente por Cassandra, quem entrava na loja não via quem ali estivesse, mas seria visto. O rapaz abaixou a cabeça por alguns segundos, a Alex pareceu que ele estivesse orando, mas não tinha como ter certeza, aguardou calmamente, o rapaz levantou a cabeça encarando-o e encostou ao encosto da poltrona, ficou em silêncio deixando Alex inquieto.
- Como assim você me esperava? – Perguntou mais inquieto que nervoso.
- Não sei se você vai acreditar no que eu vou falar, - disse olhando-o nos olhos, - ainda assim eu vou te contar uma história, não era para contarmos a ninguém, mas desde que eu soube do Tiago, algo aqui dentro tem me incomodado para te contar, quando a Laura me mandou a mensagem percebi que não dava mais para fugir, assim como não dá mais para não voltar. – Disse se levantando aproximando-se da janela.
- Você sabe que eu não estou entendo nada, não sabe? – Perguntou quando o rapaz ficou em silêncio. – "O povo dessa cidade vai me enlouquecer". – Pensou encostando-se.
- Esse local estava fechado há muito tempo, o dono simplesmente não conseguia alugar e menos ainda vender, fomos todos criados na mesma igreja, a igreja que a senhora Beth congrega. - Disse em tom de confidência. – Infelizmente a gente vai crescendo e descobrindo outras coisas e nos afastando de Deus, foi assim com quase todos nós, incluindo eu e o Hamilton filho da senhora Beth. – O rapaz o encarou avaliando sua reação, Alex apenas sorriu.
- Quer dizer então que o ex-dono deste lugar é filho daquela adorável senhora? – Perguntou sorrindo, estranhamente não ficou surpreso.
- Sim, a maioria dos imóveis da cidade é da família Braga. – Respondeu voltando a se sentar. – Como eu disse todos nós em algum momento de nossas vidas nos afastamos da igreja por um motivo ou outro. O Hamilton sofreu um acidente gravíssimo e quase morreu, o que o trouxe de volta para casa, para a igreja e para o seu amor da adolescência, essa parte da história é a mais interessante, mas a Leticia me matará se eu contar a história dela sem sua permissão, enfim, o pai dele lhe deu este imóvel para ele começar um negócio, mas nada do que foi começado aqui foi para frente, então ele desistiu e começou a alugar, também não deu certo. – Ricardo passou as mãos pelos braços, Alex franziu a testa o rapaz estava arrepiado. – Como todo mundo criado em berço evangélico eu comecei a duvidar de Deus, da providência Divina e de que em tudo há um propósito; em dezembro do ano passado, eu perdi o meu emprego, estava desempregado e vim para casa, minha intenção era descansar e em janeiro voltar e, continuar com a minha vida que na minha perspectiva estava ótima. Tem água? – Perguntou com a mão no pescoço.
- Quer mais alguma coisa? – Perguntou Alex levantando-se, algo lhe dizia que a história era bem mais interessante do que ele imaginara. O rapaz negou. Alex trouxe-lhe a água e ele bebeu de uma vez.
- Duas noites antes do natal, viemos para cá, trouxemos refrigerantes e batata frita, sabe aquelas que a gente compra no supermercado, - Alex assentiu, - pois é, quando chegamos aqui Hamilton nos disse que um pastor havia profetizado que neste ano ele venderia este local, nós somos cinco amigos do tempo de infância e, apenas ele havia voltado para Deus, Tiago o que você contratou disse que se o local fosse vendido e a pessoa que o comprasse lhe desse um emprego ele voltaria para Deus, Lucas disse que se ele conseguisse vender até o mês de julho ele faria o mesmo, eu disse que se Deus me mostrasse quem viria para cá eu voltaria para a igreja, detalhe, eu queria vê de alguma maneira ainda naquela noite, eu disse isso de gozação, nunca tive nenhum dom interessante, eu só ia para a igreja por que minha mãe me obrigava, todos estavam provocando o Hamilton e eu entrei na brincadeira, o Robson é o mais velho de nós ele foi o único que saiu da igreja por um motivo decente, se é que a gente pode dizer que alguém saí da igreja por um motivo decente, enfim, ele se levantou e disse para criarmos vergonha na cara que não deveríamos brincar com Deus, devido o tom dele ficamos verdadeiramente envergonhados e pedimos desculpas ao Hamilton, eu fiquei tão constrangido que pedi perdão a Deus no mesmo instante, coisa que eu não fazia há muitos anos. Terminamos o refrigerante, o salgadinho, quando estávamos do lado de fora sorrindo e nos despedindo, eu ouvi alguém me chamando e ainda sorrindo me virei na direção da voz, e a fachada da loja não era mais a mesma, meus olhos embaçaram e eu não vi com clareza, não consegui ler o que estava escrito nem ver o homem que estava na porta, mas claramente eu vi o sorriso dele, e era o seu sorriso, eu esfreguei os olhos e mostrei para os outros que disseram que estava tendo alucinação, ainda ficaram gozando da minha cara perguntando o que eu havia bebido ou fumado antes de vir encontra-los.
Alex sentiu o coração acelerar, recordava-se do dia que ele e Helder estavam procurando um local para alugar, essa era a intenção apenas alugar, ele não tinha muitas expectativas com esta cidade e, sinceramente a cada local que chegava mais desanimado ficava.
Ele e Helder entraram na sorveteria quase enfartando o calor estava insuportável, Helder dissera alguma coisa boba sobre os tocantinenses terem o cérebro mais duro que os outros, caso contrário derreteria, ele sorrira olhando ao redor o local estava cheio.
- Se a loja veterinária fracassar a gente abre uma sorveteria. – Dissera ainda sorrindo.
- Com licença. – Dissera um rapaz loiro, corado nitidamente constrangido.
- Sim! – Exclamara os dois.
- Vocês estão procurando algum imóvel comercial para comprar? – Perguntara aceleradamente.
- Oi? – Perguntara Helder confuso.
- Na verdade estamos procurando para alugar. - Respondera Alex sorrindo.
- Ah! – Exclamara Helder novamente.
- Qual o seu problema? O sol está derretendo seu cérebro? – Perguntara Alex sorrindo.
- Sem graça! – Dissera empurrando o amigo. – Mais se você souber de algum que esteja à venda não tem problema a gente compra, onde fica? Aqui pelo centro? – Perguntara empolgado.
- Como você sabe que estamos atrás de um estabelecimento comercial? – Perguntara Alex desconfiado.
- Por favor, Alex pelo tamanho da cidade, eu diria que todo mundo sabe o que estamos fazendo aqui. – Alex sacudira a cabeça e não falara mais nada, provavelmente ele estava certo e, assim eles compraram aquele lugar.
- Você se recorda do meu amigo chegando até você todo envergonhado. – Afirmou sorrindo torto.
- Sim, e me recordo também de ter achado que ele não funcionasse bem da cabeça. – Respondeu constrangido por ter pensado algo assim do rapaz.
- Ele ficou apavorado quando você perguntou como ele soubera o que vocês queriam, ele me disse furioso apontando o dedo na minha cara: 'como eu iria explicar para eles que meu amigo louco viu um homem desconhecido na porta do meu imóvel e que o tal tinha o sorriso de um deles, justamente do mais desconfiado?'. – Disse imitando a voz do amigo. - Ele estava muito zangado comigo, graças a Deus que deu tudo certo e ele me perdoou pelo mico que o fiz passar. – Suspirou aliviado. – Não espero que você acredite, mas eu precisava te contar eu não consigo nem dormir com isso queimando dentro de mim.
- Eu jamais duvido das ações de Deus. Eu só espero que todos vocês tenham cumprido a palavra e mantido o que prometeram a Deus, afinal Ele fez exatamente o que vocês pediram.
- Nenhum de nós ainda voltou verdadeiramente, apesar de estarmos lá todos os domingos. Eu consegui um emprego no cartório aqui e não voltei para Goiânia, o Tiago não conseguia ficar em nenhum emprego, e o Lucas tinha um estúdio de fotografia em Palmas, houve um incêndio misterioso que não sobrou nada e a noiva o deixou, resultado voltou para cá também, no final das contas o Robson estava certo e não deveríamos ter brincado com Deus.
- Pois é, lembre a eles que Deus cumpriu com a parte que vocês deram a Ele, o imóvel foi vendido no mês de julho, você viu o comprador do jeito que pediu a Ele, e o Tiago foi contrato por quem comprou o imóvel. – Disse sorrindo.
- Foi exatamente este o sorriso que eu vi. Combinamos não contar para ninguém nem mesmo o Hamilton que vai à igreja acreditou que eu havia tido uma visão, principalmente por que como eu disse de todos nós eu sempre fui aquele que nunca teve nada de especial.
- A gente pensa que não tem nada de especial, mas Deus é Deus, e Ele usa quem quer no momento que quer. – Disse pensativo. - Nem mesmo depois da loja pronta você não conseguiu visualizar a visão com clareza?
- Sim, mas eu fico em dúvida se foi o que eu realmente vi ou se estou sendo influenciado pelo que estou vendo. – Respondeu envergonhado.
- Peça a Deus para confirmar a visão que você teve, Ele não quer que você volte para Ele com dúvidas, você fez uma promessa a Ele, cumpra a sua parte, pois Ele é fiel para cumprir com a parte dEle para contigo.
- Você não acha que eu sou louco por ter convencido meu amigo a ir falar contigo porque vi o seu sorriso em um rosto disforme, onde não havia nada? – Perguntou intrigado.
- Você pode ter dúvida quanto ao que Deus te mostrou, mas eu não tenho nenhuma dúvida de que Ele mostra o que quer a quem quer e como quer. – o rapaz gargalhou.
- Quando a Laura disse que você havia dado a ela o emprego e que queria falar com o Tiago ele me procurou para saber se eu havia dito algo a você ou a ela.
- Agora você está me contando. – Disse arqueando a sobrancelha.
- Eu não te contei antes por vergonha mesmo, mas desde o dia que você inaugurou a loja que eu sinto o desejo de compartilhar essa história contigo, eu não sei por que, do mesmo jeito que eu não sei por que eu insisti para que o Hamilton fosse falar contigo na sorveteria, naquele momento as palavras saíram da minha boca sem que eu tivesse nenhum controle sobre elas, e quando me dei conta ele estava lá falando com vocês. – Disse constrangido.
- Isso é apenas o Espírito Santo falando através de você, não se envergonhe de ser instrumento de Deus para que Sua Vontade se cumpra.
- É um prazer finalmente te conhecer e falar com você, doutor veterinário, eu sou o Ricardo.
- E eu sou o Alex.
Os dois continuaram a conversar sem se dar conta de que o tempo estava passando.
- O que vocês dois estão fazendo ai escondidos? – Perguntou Laura olhando de um para o outro. – Eu te pedi para você vir salvar meu patrão da senhora Beth, não para você também encher ele com as histórias pitorescas desse lugar. – Resmungou.
- Eu não estava fazendo nada disso. – Reclamou corado. – Céus! Já estou atrasado para o trabalho, tchau Alex, foi um prazer conhecer você. – Despediu e saiu correndo.
- O que ele ainda estava fazendo aqui? – Perguntou desconfiada.
- Ele estava falando do tempo que ia à igreja. – Disse simplesmente.
- Sério? O sonho da mãe dele é que ele volte para a igreja, o dela e de várias outras mães também. – Disse suspirando.
O restante do dia foi tranquilo, dois cães para banho, algumas pessoas comprando ração para cães, gatos e até hamster. No final do dia olhou suas mensagens nenhuma nova mensagem interessante; ainda estava intrigado, com a mensagem que recebera de Jemima, queria acreditar que ela trocara de número por algum problema no chip, ele sabia que isso era possível ele próprio teve que trocar de chip quando a Brasil Telecom deixou de existir e do nada o chip dele deixou de funcionar, aflito ele sentia que ela estava lhe escondendo algo.
- "Será que o Bruno a está importunando"? – Pensou tenso. Ligou para o pai.
- Oi meu filho. – Atendeu o pai.
- Oi pai, tudo bem por aí? – Laura acenou com a mão saindo, ele respondeu com um aceno se despedindo.
- Graças a Deus tudo na santa paz de Deus, e minhas netas como estão? – Respondeu o pai animado.
- Estão bem graças a Deus. – Respondeu passando a mão na perna, tirando uma sujeira que na real não existia. – Pai o senhor tem visto a jemima?
- Não meu filho, ela não mora mais aqui, se esqueceu? – Na verdade havia esquecido, falava com ela todas as noites e nunca se lembrava de perguntar onde ela estava morando, franziu a testa intrigado, ela também sabia que ele havia mudado e não perguntara onde ele estava morando.
- Ela mudou de número e não sei, fiquei preocupado de o Bruno a estar perturbando. – O pai ficou em silêncio por algum tempo. – Pai?
- Oi meu filho, ela me mandou uma mensagem, mas disse apenas que houve um problema com o chip.
- O senhor não achou estranho?
- Sim, mas isso acontece, não há motivos para preocupação.
- Não sei pai, vocês confiam demais em um homem que agredia a própria esposa. – Disse nervoso, não compreendia por que o pai e Jemima tinham tanta certeza de ele iria cumprir com a palavra não a procuraria mais.
- Ele tem mais a perder do que você imagina meu filho, de qualquer modo eu vou falar com ela.
- Eu só espero que ela te diga se isso estiver mesmo acontecendo. – Disse duvidoso. – Pai eu vou fechar a loja, quando o senhor conseguir falar com ela o senhor me liga?
- Por que você mesmo não liga para ela e não pergunta?
- Por que é mais fácil ela falar para o senhor como advogado dela do que para mim. – Lamentou.
- Verdade. – Qualquer novidade que eu tiver eu te ligo. – Despediu-se do pai, fechou a loja e dirigiu-se para casa.
O melhor momento do seu dia sempre fora com suas filhas, elas completavam seu dia de maneira que ele sentia-se completo e feliz, infelizmente desde sua ida à Paraiso no final do ano, um vazio se alojara em seu peito que o incomodava diariamente, e naquele dia este vazio estava preenchido por angustia, infelizmente não tinha culto na igreja, naquela noite seria culto das mulheres, deveria convidar o pastor e os garotos para fazerem um lanche.
- O que vocês acham de irmos à pizzaria com o pastor e os garotos? – Perguntou às meninas.
- Boa ideia, hoje é culto só das mulheres. – Respondeu Júlia. – Pai, a mamãe levava a gente ao culto das mulheres?
- Algumas vezes sim. – Respondeu passando a mão na cabeça da filha.
- Ao invés da gente ir à pizzaria poderia ser naquele lanche perto da rodoviária. – Sugeriu Laila.
- Vou ligar para o pastor e fazer a sugestão.
Ligou para o pastor que gostou muito da ideia de Laila, assim combinaram de se encontrar lá as dezenove e trinta, ajudou as filhas nas atividades escolares, ouvira o que haviam feito durante a tarde com Camila, as filhas amavam a garota e mais uma vez ele agradeceu a Deus pela intromissão da sogra.
Recebeu uma mensagem de Jemima dizendo que iria à igreja e seu coração acalmou-se um pouco, qualquer que fosse o problema que ela estivesse enfrentando, ela estava buscando ajuda no lugar certo, então, o pai tinha razão não havia motivos para preocupações, não que ele confiasse na bondade do Bruno, mas ele confiava na Justiça de Deus.
- "Eu creio em Ti ó Deus, e sei que Seus Planos para todos nós são melhores que os nossos, seja o Senhor com ela onde quer que ela esteja ou do que ela esteja precisando seja o Senhor a ampara-la". – Pensou.
Voltaram para casa mais tarde do que o que imaginara, ficara conversando com o pastor enquanto as crianças brincavam na pracinha que não percebera o tempo passar e conforme as horas passavam seu coração se acalmava.
Vinte e uma horas e trinta minutos ele organizava as filhas para dormir e quando finalmente ligou para ela, o telefone estava ocupado, porém não ficou aflito, franziu o cenho sempre que ligava e o telefone estava ocupado ou ela não atendia ele ficava aflito e angustiado, mas naquela noite ele apenas deitou olhando o teto e pensou no testemunho do Ricardo, e na importância dele saber, se Deus queria que ele soubesse havia uma razão para isso.
Tivera dúvidas quanto mudar-se para o Tocantins, Deus sabe que ele não queria de fato aquela mudança para sua vida e de suas filhas, no entanto ouvindo o testemunho do Ricardo ele percebeu que Deus planejara para ele aquela mudança muito antes do que ele pensara, recordou-se do natal, da viagem de volta a Paraíso, da ida à ONG em Palmas para levar os presentes às crianças que eram atendidas pela instituição, do orgulho que sentira pela iniciativa de Jemima, e da frieza com que a tratara, apesar de seu coração queimar por não poder se aproximar.
Naquela ocasião ele sentira um misto de admiração, raiva, saudade, amor, desejo, que era demais para ele suportar. Ela era uma mulher casada, ainda que com um traste, mas era casada, proibida para ele, como era possível ele sentir tantos sentimentos controversos a respeito da esposa de outro homem? Por isso ele a tratou daquela maneira com frieza e distancia.
Finalmente ele compreendia o que ela quis lhe dizer naquela primeira vez em que ele fora atrás dela na igreja, ele nunca disse a ela o quanto ficara triste o ofendido com o que ela dissera, mas compreendera quando se converteu e começou a estudar a Bíblia, e naquele final de ano, ele a compreendeu tão perfeitamente, que seu coração não cabia dentro do peito.
- "Mas diz que eu devo fugir." – Dissera ela olhando-o nos olhos, ele se sentira horrível, pois claramente ela estava dizendo que deveria fugir dele, e só bem mais tarde que descobrira que era um pouquinho pior do que ele pensara, a Bíblia diz que devemos fugir da aparência do mal, se ela tivesse lhe dito isso claramente naquele momento teria sido pior, pois obviamente ele não teria entendido como entendia tão claramente agora.
Assustou-se com o celular vibrando.
- Oi. – Atendeu rapidamente.
- Oi, desculpe-me quando você ligou eu estava falando com o seu pai. – Ele sentou-se constrangido.
- Sei, e está tudo bem? – Perguntou nervoso.
- Está tudo bem, assim como minha mãe ele está preocupado por que eu troquei de número, e minha mãe coitada, eu disse que ligaria quando chegasse do trabalho e fui para a igreja e esqueci, ela estava quase enfartando. – Comentou suavemente acalmando seu coração.
- Você me parece muito bem. – Disse alegremente.
- E estou mesmo. Lembra que eu te disse que havia ido a uma igreja que se Jesus se fizesse presente faria o mesmo que fez no Templo de Jerusalém?
- Lembro. – Respondeu desejando que ela tivesse encontrando uma igreja tão cheia do Espírito Santo quanto a que ele encontrara.
- Pois é hoje minha colega de trabalho me convidou para ir à igreja com ela e tudo foi maravilhosamente impactante, o Louvor, a Palavra, tudo hoje foi direcionado a mim, saí de lá renovada e fortalecida.
- Louvado seja Deus por isso. – Disse com o coração transbordando amor e paz.
Continua...
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