26 - Àquele que só faz Maravilhas.
Jemima queria um lugar para se esconder, e poder ouvir seus próprios pensamentos, frustrada levantou-se da cama extremamente confortável do quarto onde a colocaram quando chegaram, mas de nada adiantava o conforto se era impossível um momento de paz, nunca na vida vira tanta gente para um casamento que só aconteceria na tarde do dia seguinte.
Pegou o livro que ganhara da Amanda nos dias em que estiveram em Porto Nacional, ainda nem tinha tirado da embalagem, apesar de amar ler, não era adepta de romances 'mel com açúcar', mas Amanda lhe garantira que ela iria amar aquele livro, apressadamente pegou o livro e saiu do quarto mais uma vez observando o tumulto de pessoas, avistou Adriana e Renata e virou-se para o outro lado, definitivamente precisava de um pouco de solidão.
Soubera desde o anúncio do noivado que este casamento não seria comum, os noivos fizeram suas vidas em lugares diferentes, tinham amigos para convidar, e ambos vinham de famílias grandes; surpresa ela vira familiares que não foram convidados para nenhum dos casamentos dos filhos do pastor Gustavo sendo convidados para o casamento do mais novo, nenhum dos filhos estavam ressentidos com isso, todos compreendiam que o casamento do Pedro era especial para todo mundo. Todos tiveram casamentos simples com poucos convidados, incluindo ela, e o pai ficara chocado, ela sorriu ao se lembrar da cara dele ao ver a lista de convidados.
- "Isso vai ser um casamento, ou um festival de Woodstock!" – Exclamara de olhos arregalados, ela e Felipe se encararam e caíram na gargalhada, não imaginavam que o pai soubesse alguma coisa sobre Woodstock.
A fazenda onde aconteceria o casamento, cortesia de amigos do irmão, era simplesmente fantástica, mas estava fervilhando de pessoas, e elas não paravam de chegar, arrependera por que fora na onda das cunhadas chegando logo pela manhã, elas haviam prometido à Adriana que iriam ajuda-la com a decoração e a convencera a ir com elas, os pais, os irmãos, e os sobrinhos só chegariam mais tarde, com exceção de Felipe, que viera no dia anterior com Adriana, pois era o responsável por organizar a alimentação para toda aquela gente.
Ela passara a manhã fazendo o que Adriana mandava, conhecia pessoas que gostavam de mandar, sua mãe era uma delas, mas mandar como a cunhada do irmão ainda estava por vê, suspirou esgotada física e emocionalmente.
Seu coração acelerava toda vez que pensava na possibilidade de reencontrar Alex, cada carro que estacionava era uma descarga elétrica que sentia diante da possibilidade de ser ele chegando, então dizia a se mesma que estava nervosa por que estava ansiosa pela chegada do irmão e da cunhada, e principalmente do sobrinho.
- E esses noivos que não chegam! - Resmungou olhando mais uma vez para a entrada da fazenda.
- Esperando por alguém em especial? - Perguntou Felipe a assustando.
- Sim, pelos noivos. - Disse fazendo careta, o irmão sorriu.
- Se você está dizendo! Como conseguiu fugir das decoradoras?
- Eu disse que não estava me sentindo bem e precisava descansar.
- Então te aconselho a procurar outro lugar para descansar, aqui é muito exposto e logo elas te enxergarão. - Disse beijando o rosto dela, ela franziu a testa vendo-o se afastar.
- "Pior que ele tem razão" - Pensou frustrada olhando para os lados, desanimada procurou por um lugar onde pudesse respirar sem tomar o ar de alguém, se esconder um pouco mais daquelas mulheres e começar a ler.
A única vantagem de todo aquele burburinho era que de fato ninguém prestava atenção em ninguém, seguiu pelo lado oposto que o irmão seguiu, rasgou a embalagem jogando-a no lixo, até as lixeiras espalhadas pelo quintal estavam decoradas, ficou contente por ter participado daquele trabalho.
Curiosa olhou a capa do livro, até a adolescência era conquistada pelas capas dos livros, sorriu, não pela capa apesar de interessante, ela sorriu pelo título do livro 'Porto Seguro' e pelo prefácio acima do título, 'nunca é tarde para recomeçar', gargalhou, envergonhada olhou para os lados, graças a Deus não havia ninguém por perto para apreciar a loucura dela.
- "O que você quer me dizer senhora Amanda!". - Pensou se afastando da casa até não ouvir as vozes ou as risadas.
- Glória a Deus! - Disse aliviada.
Geralmente gostava de pessoas, mas por algum motivo que ela não conseguia compreender aquele tumulto a estava deixando exasperada, imaginou o que Ariane iria fazer, pelo que percebera no final do ano e no aniversário do sobrinho a cunhada não era muito sociável.
Andou sem rumo parando de repente, suspirou olhando ao seu redor, encontrava-se em uma plantação de cana, um pouco mais a sua esquerda via-se várias árvores e dirigiu-se até lá sorrindo, há anos que não subia em uma árvore.
- Será que ainda levo jeito para isso? – Perguntou-se olhando para a mais alta.
Sorriu diante da sua audácia, colocou o livro dentro da blusa mordeu o lábio e começou a subida devagar, conforme subia se deu conta de que não perdera o jeito e subia mais rápido, franziu a testa imaginando o que seus pais diriam se a visse subindo em uma árvore àquela altura do campeonato, com certeza, eles voltariam ao tópico de que ela não estava preparada para viver em uma cidade onde não conheciam ninguém, ainda não estavam muito animados com a ideia de ela ir para Fátima, apesar de que depois que eles a ajudaram com a mudança eles pararam mais de pegar no pé dela, ela acreditava que Deus iria cuidar de tirar as dúvidas de seus corações e ficariam felizes por ela.
Encontrou um bom lugar para sentar e leu a sinopse do livro franzindo o cenho. - "Era só o que me faltava" – Pensou começando a leitura.
Concentrada no livro não se deu conta de que onde estava lhe dava uma visão privilegiada da entrada, apenas quando sentiu sede e lembrou que deveria ter pegado uma garrafa com água que levantou o olhar e apesar da distancia da casa, ela via toda a movimentação de quem chegava.
Distraidamente ficou observando dois carros que chegavam naquele momento, de um desceu uma mulher alta, esbelta de longos cabelos cacheados com três crianças e uma adolescente, forçou um pouco a visão, não tinha como ter certeza daquela distância mais parecia que as duas meninas eram as filhas do Alex, irritada sacudiu a cabeça, estava influenciada pelo livro que tinha nas mãos, as meninas foram na direção da casa, a mulher pegou na mão do garotinho e seguida pela adolescente foi ao encontro dos integrantes do outro carro, engoliu seco ao ver Alex sorrindo para a mulher, seu coração acelerou e sua barriga gelou.
Olhou para o livro em suas mãos, e a vontade de voltar a ler desaparecera, pensou em descer e voltar para a casa, mas como fazer isso sem ser vista? Olhou ao redor, estava com vontade de chorar, não deveria ter começado a ler um romance onde havia um viúvo chamado Alex com dois filhos, levantou novamente e eles não estavam mais lá, olhou em volta, mas onde sua visão alcançava eles não estavam.
Ela sabia que os irmãos seriam padrinhos de Ariane, soube pelo Felipe que Mariana, a nova namorada de Adriano seria a companheira dele e, apesar da curiosidade se contivera e não perguntara ao irmão quem estaria com Alex, agora a imagem da mulher de mãos dada com ele não saia de sua cabeça, frustrada desceu da árvore, hora de enfrentar a vida real.
Conseguiu entrar na casa sem ser vista, e quase correndo se jogou na cama tentou se concentrar na leitura, mas não conseguiu, e por um tempo que ela julgou curto demais ficou ali deitada olhando para o teto pensando em coisas demais e ao mesmo tempo em nada que se aproveitasse, uma batida na porta assustou-a, franziu a testa.
- "Isso significa que o meu momento de autocomiseração acabou". - Pensou consternada. - Quem é? – Perguntou indisposta.
- Seu irmão mais bonito! – Respondeu Pedro e ela pulou da cama sorrindo, abriu a porta pulando nos braços do irmão.
- Graças a Deus você chegou. - Disse alegremente.
- Eu sabia que um dia você aceitaria que eu sou o mais bonito de seus irmãos. – Disse sorrindo, enquanto a abraçava.
- Eu não disse nada, então não me comprometa! Você chegou quando? – Perguntou puxando-o para o quarto e fechando a porta.
- Já tem algum tempinho, - disse encarando-a – por que você está aqui trancada? Pensei que estivesse feliz com o meu casamento. – Disse sentando ao seu lado.
- E estou feliz com o seu casamento, estou aqui trancada, fugindo das suas cunhadas, de todas elas, graças a Deus depois do almoço elas me esqueceram um pouco. – Disse sorrindo.
- Eu percebi que a Drica parece uma máquina de mandar. – Disse rindo.
- Só a Drica? Precisava ver aquelas outras sendo inspiradas por ela. – Disse dramática se jogando na cama, levantou-se em um salto. – Mais já que os noivos chegaram, eu acho que posso me sacrificar sendo mandada por elas novamente, e estou com saudade da minha cunhada e do meu sobrinho, cadê eles?
- A gente pode tentar encontra-los, mas te aconselho a ligar, é mais seguro. – Disse se levantando e seguindo-a.
- O papai tem razão, seu casamento é quase um festival de Woodstock. – Comentou rindo.
- Oi? – Perguntou confuso. – O papai e Woodstock na mesma frase? Eu não sei se faz muito sentido.
- Foi exatamente assim que eu e o Felipe ficamos quando ele disse que seu casamento estava parecendo com o festival de Woodstock. – Pedro riu.
- O que será que fizeram com o nosso pai? – Perguntou divertido, ela apenas meneou a cabeça, fosse o que fosse que estivesse acontecendo ela estava gostando dessa nova versão do pai. - Ele e a mamãe já se acostumaram com a sua mudança?
- Ainda estão reticentes, mas foram comigo até lá, e a mamãe ficou toda empolgada por que eu praticamente a deixei mobiliar a casa. – Disse sorrindo.
- Você induziu a nossa mãe a ficar do seu lado! – Disse puxando-a para si, - deixa o papai perceber isso?
- Eu o deixei escolher a casa. – Disse sorrindo, Pedro sacudiu a cabeça.
Como imaginara conversara pouco com Ariane e Paulo, pois logo as cunhadas a encontraram e ela passou o resto da tarde fazendo o que Adriana e sua trupe mandavam, por inúmeras vezes ela viu Alex, e para sua surpresa a bonitona nunca estava com ele; ela desejou se aproximar, mas sempre que a oportunidade de ficar perto dele aparecia, ele simplesmente sumia, ao que tudo indicava ele não queria estar perto dela, sempre que a mandavam para um lugar onde ele estava quando lá chegava ele já não estava mais lá, essa constatação a deixou mais triste do que ela imaginara ser possível.
- "Será que ele está fugindo de mim? Certo que eu fui insuportável com ele no final do ano, o afastei de mim de todas as maneiras que eu pude, não o deixei se aproximar nem mesmo pelas crianças da ONG que eu tanto amo, mas a situação era outra, ele poderia pelo menos ser simpático comigo, se ele estiver namorando eu vou compreender". – Pensou desolada com o coração acelerado.
Quando soube que ele e Luciano estavam procurando voluntários para fazer uma fogueira, voltou para o quarto que já não mais só seu, com a chegada de outros convidados, ninguém mais tinha privacidade, não estava chateada pelas moças que estavam no quarto, mais com a ideia da fogueira, a última vez que estivera perto de uma, fora no congresso em que conhecera o Bruno, e por causa disso pretendia ficar bem longe não iria permitir que as lembranças daquela pessoa estragassem seu humor e a felicidade por estar ali com sua família e pessoas que ela estava gostando muito de conhecer, suas companheiras de quarto amigas de seu irmão, eram Raissa e Regina irmãs, Lúcia e Betina cunhadas.
A noite estava maravilhosa, o local estava lindo e ela estava feliz como há muito tempo não ficava, viu Alex de longe, ele estava curtindo a fogueira e, apesar das investidas das cunhadas ela não tentou nenhuma aproximação, esperaria até o dia seguinte, se ele não a procurasse ela o procuraria, naquele momento queria apenas aproveitar o momento de paz e felicidade, viu quando o irmão deitou na rede com a noiva e sorriu imaginando o que os pais de ambos fariam se vissem aquela cena, talvez não fizessem nada, e só aproveitassem a festa que os filhos mereciam.
Ela acordou com o barulho das companheiras de quarto, sonolenta tentou entender o que acontecia sem mostrar que estava acordada, mas de nada adiantou Raissa puxou seu lençol.
- Acorda Jemima, vamos tomar banho de rio.
- O quê? – Perguntou alarmada, puxando o lençol até o queixo. – Vocês estão loucas? Aquela água deve estar doendo de gelada.
- Ah, vamos! Vai ser divertido. – Disse Regina, e Lúcia fez uma cara de cachorro que caiu da mudança fazendo Jemima rir divertida.
- Cadê a Tina? Aposto que ela fugiu dessa loucura. - Disse divertida, pensando se aceitava ou não aquela loucura.
- Não, ela foi com as outras pedirem aos maridos e namorados para manter as pessoas longe de onde vamos nadar. – Disse Lúcia piscando, Jemima cobriu o rosto com o lençol escondendo o riso.
- Eu vou, não quero ganhar fama de fresca desmancha prazeres. – Disse fingindo revolta.
- Ainda bem, por que eu já estava pensando exatamente isso. – Disse Regina sorrindo.
O dia estava lindo, e como previra a água estava doendo de gelada, mas maravilhosa, e toda a falta de empolgação que sentira no inicio da programação do casamento era apenas um resquício, há quanto tempo não se sentia tão feliz como naquele momento, apesar de todos os contratempos e decisões ruins ao longo da jornada, ela era uma mulher privilegiada.
- "Obrigada Deus, por me aceitar de volta, por trazer todas essas mulheres para a minha vida, e por me livrar do Bruno, que o Senhor o mantenha longe de nossas vidas, seja o Senhor a cuidar da vida dele segundo a Tua Vontade, coloque verdadeiramente o perdão em meu coração para que eu possa viver o melhor que o Senhor tem reservado para mim, obrigada Senhor pelo seu Excelso Amor e Bondade". – Pensou sorrindo.
- Temos que voltar para a casa, temos uma noiva para arrumar. – Lembrou Melissa, e elas saíram da água, todas revigoradas para mais um dia de vitórias.
O casamento fora ainda mais lindo e emocionante do que ela poderia ter imaginado, a noite André levou os noivos à Pirenópolis onde repousariam e viajariam na manhã seguinte para o Rio Grande do Sul, sentada sozinha olhou ao seu redor, as pessoas se divertiam, a ausência do casal não parecia estar sendo sentida, um vazio tomou seu coração, ela não sabia o que fazer, pensou seriamente em se trancar ao quarto e continuar com o livro que não pegara mais desde a tarde anterior.
- Por que você não vai até lá e fala com ele? – Perguntou Felipe ao seu lado assustando-a, ela suspirou, não estava com animo para fingir que não sabia do que o irmão estava falando, prometera às cunhadas que falaria com ele, mas uma coisa era prometer outra era fazer.
Ela sabia que ele estava em pé próximo onde fora o altar da cerimonia, olhou na direção dele e ele olhava para o outro lado, curiosa olhou na mesma direção ele olhava o sobrinho que conversava com uma garota ruiva.
- Quer saber? Acho que você está certo, o que eu tenho a perder! – Disse levantando se enchendo de coragem.
Conforme se aproximava seu coração acelerava, sua mão suava, e seu estômago revirava, distraído ele continuava a olhar o sobrinho e a garota ruiva.
- Ainda me evitando? - Sem pensar em nada perguntou constrangida.
- Não estou evitando você! - Disse cauteloso, ela olhou em volta, as pessoas não olhavam para eles.
- "Talvez ele queira ser visto falando comigo". - Pensou triste. - Tem certeza? Porque me parece que você está fazendo exatamente isso. - Disse tensa dissipando os pensamentos.
- Sinto muito! Não era a minha intenção. - Disse confuso, ela abaixou a cabeça ainda conseguia ler algumas reações dele.
- Pensei que quando soubesse do meu divórcio você iria me procurar. - Disse magoada, sentia-se adolescente novamente na frente dele.
- Eu também pensei! Mas eu não poderia simplesmente aparecer na sua vida novamente como se nada tivesse acontecido. – Respondeu sinceramente.
- Você quer dizer com 'acontecido' o fato de eu ter me envolvido com uma pessoa abusiva e eu ter permitido que ele abusasse de mim? - Perguntou ferida e ele a fuzilou com o olhar. – "Qual seu problema afinal de contas? Sou eu que estou aqui me humilhando vindo atrás de você" – Pensou ressentida.
- Você só pode é estar de brincadeira! É sério que pensa isso? - Perguntou irritado, deixando-a irritada também.
- Isso o quê? Que eu sou culpada pelo que me aconteceu? – Perguntou envergonhada e furiosa por não conseguir esconder o constrangimento. - Sim, eu sei que sou culpada não preciso...
- Eu sei que você se sente culpada, não sei por que mais a maioria das mulheres que sofrem violência doméstica acha que a culpa é delas, vai entender! Mas eu perguntei se você pensa mesmo que 'eu' acho que a culpa seja sua!
- Acho que sim, a maneira como você falou 'como se nada tivesse acontecido', eu não sou toda maravilhosa, forte, guerreira, e excepcional como a sua falecida esposa, tenho certeza que se um homem levantasse a mão contra ela antes dele abaixar ela já estava com ele no chão. - Disse enciumada, contendo a vontade de gritar, afinal o que estava acontecendo com ela? Por que estava tão furiosa desse jeito?
- Quanto a Valéria você está certa, ela era treinada para isso, era a profissão dela, e ainda assim existem mulheres que têm a mesma profissão que ela tinha e ainda assim sofrem violência doméstica. E quanto a você! O que aconteceu contigo foi uma fatalidade e eu jamais pensaria menos de você por causa disso, eu fico triste por você ter sofrido nas mãos dele, ter demorado a pedir ajuda para se livrar dele, mas fico triste também porque eu te fiz sofrer primeiro, se eu não tivesse sido tão idiota, você não estaria tão fragilizada a ponto de não perceber o lobo na pele de cordeiro e isso não foi ele quem fez, fui eu.
A fúria foi dissipando suavemente, e seu coração acelerou diante dele, como era possível que ele se sentisse culpado pelas escolhas dela? Ela sabia que ele seria capaz de ajuda-la se ela pedisse ajuda, ele deixou isso bem claro todas as vezes que se encontraram.
- Santo Deus! Você se culpa pelo que aconteceu comigo? - Disse suspirando. - Eu fui idiota em não fugir no primeiro empurrão ou palavra abusiva e preferi ficar e apostar contra todas as evidências, eu não procurei por isso, mas escolhi manter, você entende? Eu e o Bruno somos os únicos responsáveis pelo nosso casamento ter chegado aonde chegou. Bem talvez à esposa dominadora dele também, mas... – Interrompeu-se ao se dar conta que estava falando demais, prometera que não exporia a vida particular do ex-marido.
- Como é que é? Ele tem outra esposa? - Perguntou surpreso.
- Ops! Eu não deveria ficar falando da vida pessoal dele, fizemos um acordo e eu honro os meus acordos. - Ele a olhava com os olhos arregalados - "Eu e essa minha boca grande". – Pensou irritada. - É claro que um dia eu te contarei toda a história se você quiser saber, mas não hoje. - Respirou profundamente. - Desculpe, eu deveria ter ficado na minha, claro que você só estava sendo cavalheiro quando me defendeu naquela tarde na loja, naquela tarde na casa dos meus pais, enfim, eu que fiz confusão e pensei que talvez pudéssemos ser ao menos amigos.
- Sério? Você acha que fez confusão? Se você quer mesmo saber! Eu quero sim e muito ir atrás de você, eu gostaria de me ajoelhar aos seus pés e pedir que me perdoe, queria agarrar você e beijá-la até que toda a dor que você estivesse sentindo passasse, mas então eu me lembro de que eu também te feri. - Disse desolado e ela quis conforta-lo.
- "Em que momento eu deixei de ser a vitima e passei a ser a que quer consolar?" – Pensou intrigada. - Eu te perdoei há muito tempo e a ferida que você deixou em mim? Bem, eu consegui uma ferida bem maior! - Lamentou. - Tem certeza que é por isso que você não me quer? – Perguntou corada, não sairia daquela conversa com nenhuma dúvida.
- Eu não quero você? De onde você tira essas coisas? - Perguntou intrigado, o coração dela encheu de esperança. - Você ouviu o que eu disse? - Virou-se ficando de frente para ela segurando em seus braços, os pelos de seus braços arrepiou com seu toque, ela engoliu seco. - Você é tudo o que eu quero, mas eu já tive o meu tempo de luto, já me reencontrei, me acertei com Deus, tudo o que eu queria era te pegar nos meus braços e cuidar de você, te proteger de toda a dor, te mostrar o quanto a vida a dois é boa, mas infelizmente eu não posso fazer nada disso, existem coisas na vida da gente que precisamos superar sozinhos para então estarmos prontos para nos doar para outra pessoa e permitir que essa pessoa se doe para a gente. – Sem pensar em nada ela se jogou nos braços dele.
Ele a apertou em seus braços, ela sentiu o sorriso em seu pescoço e sorriu também, depois pensaria nas consequências desse ato impensado, tudo o que queria era aproveitar os braços fortes ao redor do seu corpo, como sentira falta desse homem.
- Obrigada! Eu pensei que você não me queria porque agora eu sou quebrada porque eu tenho cicatrizes físicas e psicológicas muito feias. - Disse com o rosto enfiado no pescoço dele, ele a apertou e ela fechou os olhos. – "Obrigada Deus, por sempre ter o melhor preparado para mim, Senhor me dê sabedoria e discernimento para não por tudo a perder". – Pensou.
- Quando você estiver pronta, nós vamos juntos lidar com as cicatrizes um do outro, se você ainda me quiser, é claro! - Disse a afastando delicadamente e encarando-a.
- Se eu ainda te quiser? Eu nunca deixei de te querer. – Disse corada, ele sorriu acariciando o cabelo dela. - E você vai esperar por mim? - Perguntou insegura tremendo, sabia que Deus estava cuidando de tudo, mas tanto tempo afastada do Senhor e vivendo uma vida tão miserável, ainda estava insegura quanto às bênçãos que estavam por vir.
- Esperarei por você pelo tempo que você precisar, quando você estiver pronta para me amar e me deixar te amar novamente, eu estarei esperando por você. - Ela sorriu no pescoço dele.
Ele se afastou do abraço olhando ao seu redor e a puxou pela mão. Ambos notaram os olhares, alguns discretos, outros curiosos, e constrangidos sentaram em uma das muitas mesas espalhadas de frente um para o outro.
- Estão todos olhando para nós. - Disse ela tímida. - Incluindo a sua amiga. - Ele franziu a testa olhando as pessoas em volta.
- Quem? - Perguntou confuso.
- A mulher que chegou e também estava no altar contigo. – Disse tímida.
- A Cassy? - Perguntou surpreso, deixando-a ainda mais constrangida. - Ela é apenas minha amiga. – Respondeu arqueando a sobrancelha.
- Eu imaginei isso, ao observar vocês, mas e se ela tiver algum interesse em você? – Perguntou abaixando a cabeça.
- Você estava me observando? - Ela ficou corada.
- Não exatamente, algumas vezes vocês estavam ao alcance dos meus olhos. - Disse sorrindo, ainda corada.
- Se você tivesse olhado mais atentamente iria perceber que ela e o Vini, o louro, só têm olhos um para o outro. - Ela olhou na direção dos amigos dele e o homem louro dizia alguma coisa no ouvido dela e ela ria, Jemima riu também.
- Eles formam um casal muito bonito.
- Sim. - Respondeu distraído olhando os amigos.
- Talvez você nutra algum sentimento por ela? – Perguntou inquieta encarando-o, ele sorriu lindamente.
- Não. Pelo menos não do modo como você está imaginando, eu só estou pensando que finalmente parece que eles estão se dando conta do que um sente pelo outro, o início do ano fora meio conturbado para os dois.
Novamente ela abaixou a cabeça, ainda se recordava do tempo em que ela o deixava sem jeito, agora ela que estava toda sem jeito e constrangida.
- Alex você me perdoou pelo que eu fiz às vésperas do seu casamento? – Surpreendentemente ela mudou de assunto, e ele a encarou por um tempo que lhe pareceu longo demais.
- Eu não deveria ter permitido que acontecesse, mas sinceramente, não havia nada que eu quisesse mais na vida do que fazer amor com você, perdoe-me por ter sido tão egoísta e mesquinho, e não perceber o quanto eu magoei você naquele dia. – Respondeu aquecendo seu coração.
- Então estamos quites, ambos fomos egoístas e mesquinhos, pois também, não havia nada que eu quisesse mais que fazer amor com você e assim como você me magoou fazendo amor comigo sabendo que não poderia ficar comigo, eu insisti em fazer amor contigo sabendo que você estava se casando com outra. – Respondeu sinceramente.
- Perdoe-me! Por não ter me colocado em seu lugar, até hoje eu nunca havia pensado no quanto fora difícil para você ir até mim, fazer amor comigo e me deixar antes que eu acordasse. Nunca vou saber o que eu teria feito se ao acordar eu tivesse te encontrado ao meu lado.
- Eu também não sei o que eu faria. - Disse o encarando. - Mas nós sabemos que jamais permitiríamos que você a deixasse, estando ela grávida, então a dor de nos despedirmos depois de tudo o que havia acontecido seria mais difícil.
E naquele momento ela soube que fizera a coisa certa em sair antes que ele acordasse.
Continua...
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