23 - A esperança adiada desfalece o coração.
- Bom dia, eu gostaria de marcar um horário com o doutor João. – Jemima ligou para a clínica atravessando a Ponte da Amizade e da Integração.
- Senhora ele está com a agenda lotada. – Respondeu a recepcionista. - A senhora pode vir a semana...
- Por favor, é urgente! – Interrompeu quase chorando. – Estou grávida e estou perdendo sangue.
- A senhora é paciente dele?
- Não, sou cunhada de uma paciente dele, e estou aqui a passeio, você pode falar com ele, por favor, eu não me importo de esperar, mas preciso ser atendida.
- Aguarde um momento que eu vou falar com ele.
- "Senhor que ele me atenda, ó Senhor me dê forças para largar o Bruno, eu não quero perder o meu bebê" – Pensou às lágrimas.
- A senhora pode vir agora que ele vai atendê-la.
- Obrigada, logo eu chego aí. - Acelerou, sem saber de onde o impulso vinha se da dor ou do medo.
Infelizmente quando fez a ultrassonografia não havia mais sinais vitais, não precisava ouvir o que aquilo significava, ainda assim o médico disse, e as lágrimas molhavam seu rosto, de tristeza e de raiva, sem uma única palavra passou por todo aquele procedimento como se estivesse em um pesadelo e fosse acordar a qualquer instante.
Obviamente não acordou, e devido a grande perca de sangue estava fraca, e depois da curetagem assim como o seu útero ela se sentia vazia e sem vida, não esperara por esse filho, mas estava acostumando com a ideia de ser mãe.
Além da tristeza pela perca a culpa dilacerava seu coração, talvez se tivesse procurado Regina o filho ainda estivesse vivo, fora orgulhosa e por isso o perdera, agora não tinha mais nada pelo qual lutar, Deus a estava novamente castigando por ter ido atrás de um homem que estava de casamento marcado, e como se não bastasse fazer amor com ele, ainda tentara persuadi-lo a deixar a noiva grávida, chorou copiosamente.
- Jemima você quer falar sobre a causa do seu aborto? – Perguntou o doutor João, enquanto trocava a bolsa de sangue, interpretando mal o seu choro.
- Não. Não há nada para se falar, se eu tivesse ido ao médico em Paraíso e não dirigido feito uma louca por quase uma hora, talvez... – Calou-se com a voz embargada.
- Não é disso que eu estou falando e você sabe, você deveria ter ido logo ao médico por causa do sangramento, particularmente eu acho que a única coisa que você teria evitado era estar tomando sangue agora. – Disse entristecido fitando-a nos olhos.
- Eu não teria como justificar as marcas na minha pele. - Confessou entre as lágrimas. - Por isso eu não fui.
- Entendo. - Comentou. - E também não quer falar sobre isso comigo, não é mesmo? - Perguntou triste.
- Não. É muito humilhante verbalizar essa situação, mesmo para alguém que obviamente já sabe o que aconteceu. - Ele ficou encarando-a, abriu a boca algumas vezes optando por calar-se.
- Não quer chamar a Renata para ficar contigo? Você sabe que nessas horas é bom ter alguém que nos ama por perto, você mesma a acompanhou no parto da Raquel, por que o seu irmão estava trabalhando, se lembra? – Perguntou sorrindo, mudando de assunto, ela sorriu agradecida.
- Preciso de um tempo antes de ligar para ela, ninguém sabe que eu estou aqui, eu ainda não tinha dito sobre a gravidez, nem mesmo a meu marido. – Disse envergonhada. – A Renata vai querer saber o que acontecera, eu não quero falar sobre isso.
- Entendo você não querer falar sobre isso com a sua família, mais você sabe que precisa tomar uma atitude em relação a isso, não sabe? – Perguntou carinhosamente. - Jemima, você sabe que nada disso é culpa sua, não sabe?
Ela arregalou os olhos, ele estava errado, ela fora mais orgulhosa que atenciosa com o filho, e não procurara Regina, ela sabe como o Bruno é instável e ainda assim ela o ficou provocando, deveria ter aceitado logo a viagem e dito que estava grávida. Ele não queria filhos, mas talvez mudasse de ideia quanto a tê-los, os homens sempre mudam quando se tornam pais, ele só tinha medo de ser tão ruim quanto eram os próprios pais, ela poderia ajuda-lo a ser um bom pai.
Virou-se para o outro lado, sonolenta e cansada deixou as lágrimas molharem seu rosto silenciosamente, ouviu a porta se fechar e apertou os olhos, de nada agora adiantava ficar se martirizando, nunca saberia como ele reagiria se soubesse que iria ser pai, ela tirara isso dele.
Ele tinha razão, ela era incapaz de ama-lo com a mesma intensidade que amara ao Alex, e por isso não o compreendia e estava sempre o deixando irritado com ela, iria se esforçar mais para que seu casamento fosse mais tranquilo.
Acordou assustada e com medo, não por estar em um quarto desconhecido, mas por que nos últimos tempos ela sempre acordava sobressaltada, suspirou e esperou pelo médico.
- Eu quero colocar o DIU. – Disse imediatamente à entrada dele.
- Tem certeza? – Perguntou franzindo o cenho.
- Tenho. É melhor que uma laqueadura. - Ele a encarou.
- Tem razão. Vamos fazer alguns exames. Está se sentindo melhor? Pronta para ligar para a Renata? Você pode dizer a ela que preferiu vir aqui consultar comigo. – Sugeriu tirando o soro.
- Pode ser. – Disse pensativa, de qualquer jeito teria que ligar para a cunhada, dissera aos pais que estava indo para a casa dela.
Aceitou a sugestão do médico e ligou para a cunhada, ela ficou contente com a visita de Jemima e feliz por ela ser paciente do doutor João, isso significava recebe-la de tempos em tempos.
- Eu venho aqui de tempos em tempos. – Disse Jemima sorrindo.
- Não, você vem à ONG, e nos vemos quando já está indo embora.
- Sinto muito, é tanta correria! – Disse pesarosamente.
Contrariando a vontade do médico voltou para casa no fim do dia, e no dia seguinte procurou Regina e disse da perca do bebê e seguiu com sua vida, pelo menos era o que ela pensava; por algum motivo ela não conseguia dormir e acordava no meio da noite gritando por causa de pesadelos dos quais não se lembrava.
Nesse tempo apenas por não ter o que fazer no meio da noite ela começou a estudar informática e enquanto Bruno dormia ou mesmo quando estava sozinha em casa ela navegava no desconhecido e fascinante mundo da TI, qualquer coisa era melhor que dormir e acordar em pânico.
Todas as vezes que Bruno a agredia ele dizia que era a última e ela dizia que iria deixa-lo e nada disso acontecia, ela disfarçava bem na frente das pessoas, ele era cuidadoso e nunca deixava marca que ela não pudesse disfarçar com maquiagem ou roupas longas. Ela tinha muita vergonha do que acontecia, e pensava que era a única na família a sofrer violência doméstica, jamais imaginou que alguém que ela amava passava por algo pelo menos parecido.
Acordou certa madrugada com seu celular tocando, atendeu no automático acreditando ser do hospital, apenas eles ligavam fora de hora para ela.
- Jemima falando. – Atendeu sem ao menos verificar o número.
- Jemima querida é Gabriela.
- Tia Gabi! – Exclamou totalmente desperta acendendo a luz.
- O Bruno está em casa?
- Não, ele está viajando. – Respondeu atenta à voz da tia que estava trêmula e nervosa. – Tia aconteceu alguma coisa? Está tudo bem com as crianças?
- Estou na frente da sua casa, você pode me atender?
- O quê? - Perguntou-se preocupada. - Estou indo. – Disse pulando da cama.
A tia visivelmente nervosa empurrou os filhos porta adentro olhando para os lados, definitivamente ela estava fugindo de alguém, Rúben o filho mais velho carregava duas bolsas, Hadassa a segunda filha carrega Maria a mais nova nos braços, Benjamim carregava uma mochila de costa e uma mala pequena e a tia duas bolsas pouco maior que as que o filho levava.
- O Rúben me disse que você está estudando esse negócio de computador.
Rúben fazia faculdade de administração, e a ajudava quando ela precisava, ou seja, qual que fosse a questão ali o primo poderia ajuda-la, por que vir atrás dela? Franziu a testa encarando-o.
- O que ela quer eu não sei fazer. - Respondeu a pergunta muda da prima. - Ela quer sacar todo o dinheiro que há na conta conjunta dela e do papai e sumir com os rastros.
- Você me disse para eu parar com aquilo, por que era crime e eu poderia ser presa. - Lembrou Jemima receosa.
- Hadassa, leva as crianças para a cozinha e prepara alguma coisa para eles comer, por favor! – Pediu Rúben.
- Eu não sou mais criança. – Resmungou Benjamim.
- Sabemos que você não é criança, por isso que eu preciso de você, quem vai olhar a Maria enquanto eu preparo alguma coisa para nós comermos? Não sei você, mais eu e a Maria estamos com fome. – Disse Hadassa carinhosamente, Jemima sorriu.
- Você sabe que culinária nunca foi o meu forte. – Disse Jemima piscando para o primo que sorrindo seguiu a irmã.
- E o que você aprendeu é crime, mais precisamos fugir do papai, para o bem de todos nós, principalmente dos pequenos. - Disse Rúben nervoso, encarando a mãe que abaixou a cabeça.
- Tia o que aconteceu? – Perguntou tocando no ombro da tia, ela levantou o olhar e encarou Jemima, ela sentiu um frio percorrer sua espinha, vira aquele olhar vezes demais no espelho para reconhecê-lo, seu coração acelerou e quis abraça-la, envergonhada Gabriela foi até a janela sem dizer uma palavra, Rúben fungou.
- O papai é grosso com a mamãe, não de bater nela, mas de humilha-la e falar coisas que a magoam, a envergonha no meio dos amigos, demorei muito para perceber esse comportamento dele, e comecei a investigar o que ele fazia, e descobri qual é o negócio dele, no que o meu pai que eu tanto amava e admirava trabalhava. – Disse ressentido abaixando a cabeça. – Gostaria de não ter descoberto.
- Aquelas pessoas que você me pediu para pesquisar sobre elas... – Disse preocupada. – Mais o nome do tio Antônio não estava entre eles.
- Omiti o nome dele de propósito, eu tinha esperança de não ser o que eu suspeitava.
- Ele descobriu que você sabe. – Afirmou tensa.
- Sim. – Respondeu tentando controlar as lágrimas em vão, a mãe o abraçou.
- Jemima, eu só preciso saber se você pode me ajudar. Eu tenho pouco tempo, por favor. – Pediu a tia.
- Ele bateu no Rúben? – Perguntou sentindo um nó na garganta.
- Não, muito pior que isso, ele mandou os capangas dele fazer isso. Nunca me importei com o que ele fazia comigo, por que ele sempre foi um pai por excelência, mas eu não vou admitir maus-tratos aos meus filhos.
- Ok, Rúben vai comer alguma coisa com os outros e prepara alguma coisa para a sua mãe também, tia vem comigo. – Disse puxando-a pela mão. - A senhora já sabe para onde vai com os meninos? Tia, eu preciso ter certeza que a senhora saiba o que está fazendo, se acontecer alguma coisa com a senhora ou as crianças meu pai me mata por ter colaborado com isso.
- Não se preocupe minha filha, eu só preciso garantir que ele não me encontre. A polícia disse que pode fazer isso, mas eu não confio muito.
- Entendo. – Disse sentando na frente do computador que o filho mais velho da outra havia ajudado a comprar, mordeu o lábio imaginando se ele não já planejava algo desse tipo quando a ajudou.
- Tia por que a senhora está fugindo agora, por que não fugiu antes? – Perguntou constrangida, pois se perguntava também por que não deixava de vez o Bruno antes que o pior acontecesse.
- Como eu disse, ele sempre foi um pai maravilhoso, e nunca me batia de fato, mas de um tempo para cá ele está mais agressivo, puxa meus cabelos, me morde, me queima com cigarro...
- Não sabia que ele fumava... – Comentou surpresa.
- E não fuma, mas os acende para me queimar. – Levantou a blusa mostrando as marcas pequenas de queimaduras já curadas, pena que aquelas cicatrizes nunca de fato se curavam, abaixou a cabeça triste, só não saberia dizer se estava mais triste pela tia ou por ela mesma.
- Eu sinto muito tia.
- Por favor, nunca diga isso aos meninos, não quero que tudo isso seja pior do que já está sendo para eles. – Jemima apenas assentiu não confiando na própria voz, queria gritar e pedir socorro para a tia, mas não poderia jogar mais esse fardo nas costas de sua tia amada, chorando levantou-se e a abraçou. – Perdoe-me minha filha, eu não deveria ter te falo nada disso e menos ainda te mostrado.
Antes do nascer do sol, o pastor Gustavo e a esposa despediam da irmã mais nova, para um destino que por segurança nem mesmo eles deveriam saber, e Jemima ficou se perguntando o que mais o tio fizera à tia para que ela saísse no meio da noite fugindo de um homem por quem ela lutara contra tudo e todos para ficar com ele.
Ela gostaria de esconder do esposo a história da tia, mas não foi possível, dois dias depois o esposo da tia estava a procura da irmã, e por vários dias atormentou o pastor Gustavo por causa da esposa, furiosamente ele demorou acreditar que realmente o pastor e a família não sabia do paradeiro da sua própria família e se fora com a ameaça de que os encontraria nem se fosse no inferno, o pastor apenas repreendeu em nome Jesus e orou para que a irmã estivesse bem.
Os dias que se seguiram a fuga de sua tia foram desgastantes, piorando seu estado emocional ela temia que os pais ou a polícia descobrissem o que ela fizera e seus pesadelos começaram a ter forma ao acordar, sonhava com o tio a encontrando e a torturando para dizer onde a tia estava, pois ele sabia que ela os havia escondido, ora o tio e o esposo a aprendiam em um cativeiro sem comida e água.
- Você precisa de ajuda profissional, não dorme nem me deixa dormir. - Resmungou Bruno certa madrugada depois de um dos piores pesadelos que tivera.
Ela levantou-se esgotada física e emocionalmente dirigiu-se à cozinha, não havia psicológico ou físico que suportaria agressões físicas na realidade e tortura nos sonhos, fez um chá de camomila, refletia no circo de horrores que havia se tornado sua vida, quando ouviu Bruno se aproximando.
Ele massageou seus ombros deixando-a mais tensa, as imagens do pesadelo atormentando seu coração, aquelas mãos eram tão carinhosas quanto cruéis, ela tremeu diante da imagem do pesadelo que a acordara naquela noite.
- Você precisa relaxar. - Disse carinhosamente. - A sua tia vai ficar bem meu amor, o seu tio não faz ideia de onde eles estão você não precisa se preocupar.
- Você acha que ele seria capaz de fazer alguma coisa contra a vida dela ou das crianças? - Perguntou tensa.
- Claro que não! Ele me explicou que sua tia estava querendo se livrar dele há tempos, e como não conseguiu encontrar um meio de fazer isso sem mostrar quem ela é de verdade, está usando o trabalho dele contra ele. – Boquiaberta ela virou o pescoço o encarando, se perguntando por que ainda tentava.
- Ah! Então é muito comum uma pessoa trabalhar para o crime organizado, é tipo manda o currículo e depois de passar pelo RH você é chamado! - Exaltou-se estressada.
- Porque você está gritando comigo? - Disse calmamente. - O que você ou eu temos haver com os problemas da sua tia que abandonou o marido e ainda roubou todo o dinheiro dele. Serio que você está questionando a integridade moral do seu tio? E o que falar da sua tia que o roubou e fugiu no meio da noite como um rato.
Tentando conter a fúria que tomava seu interior, ela levantou-se para pegar o chá, tremendo serviu duas xícaras, ele sentara na cadeira que ela ocupara antes, entregou-lhe a xícara e sentou na frente dele.
- Ela não o roubou, o dinheiro era dela também e ela está com as crianças, como ela poderia cuidar deles sem dinheiro? - Disse fingindo uma calma que estava longe de sentir sabia que deveria ficar calada, a calmaria do marido era um mau presságio, mas a língua simplesmente não ficava quieta na boca.
- Era só ficar quieta ao lado do marido dela que não precisaria rouba-lo, isso se chama ingratidão roubar a quem lhe alimenta. - Ela sorriu sarcástica. - Espero sinceramente que você não tenha ideias como as da sua tia. - Ele a encarou fechando os olhos, sorrindo de canto. - Jemima, porque não temos conta conjunta?
- Por que você nunca quis! - Ironizou intimamente feliz por ele não ter aceitado fazer contas conjuntas quando ela sugerira, ele a encarava friamente, lentamente ele levantou ficando atrás dela.
- Você não ouse seguir os passos da sua tia. - Disse puxando seu braço para trás. - Você entendeu Jemima, eu não sou do crime organizado, mas não tenho nada a perder. Ela mordeu o lábio e inutilmente fechou os olhos tentando impedir as lágrimas. - Você ouviu o que eu disse? - Gritou em seu ouvido, ela assentiu.
Ele voltou a sentar e sorriu para ela como se nada de mais tivesse acontecido, com a visão embaçada pelas lágrimas lentamente tirou o braço das costas, tamanha a dor suspirou e tomou um gole do chá, e se deu conta de que jamais odiara alguém tanto quanto o odiava; as pessoas diziam que o ódio e o amor andavam juntos, com certeza essas pessoas nunca tiveram um companheiro que as agrediam.
- O que faremos no seu aniversário? - Perguntou tão afetuosamente que confusa ela o encarou, nunca se acostumava com isso, em um instante em que ele a estava espancando e no seguinte era o marido mais atencioso de todos.
- Não sei, quatro meses é muito tempo para fazermos planos. - Respondeu cautelosa.
- Quatro meses passa voando e uma vida sem planos é uma vida destinada ao fracasso. - Disse sério levantou-se e saiu. Confusa ela ficou olhando a direção que ele tomara.
- "Ele deve ter mencionado meu aniversário só para fingir não estivera a ponto de quebrar meu braço" - Pensou movimentando o braço franziu a testa de dor.
E Bruno tinha razão, quatro meses passou voando, nesse meio tempo a tia fora encontrada pelo marido e a família de seu pai viveu a maior tragédia que eles poderiam imaginar, assim ela esquecera sobre seu aniversário, voltando a pensar no assunto dois dias antes quando o marido lhe ligara dizendo que só conseguiria chegar a casa a noite para o seu aniversário.
Coincidentemente era sua folga e tudo que queria era passar o dia deitada no sofá sem fazer ou pensar em nada, mas as coisas começaram a sair de seu controle quando Amanda ligou pedindo para ela cobrir a colega que estava com o filho doente, estava terminando de se arrumar quando ouviu o marido chamar por ela.
- "Este traste não iria chegar só a noite!" - Pensou cansada.
- Estou no quarto! - Respondeu contrariada, gemeu em desespero, como o "bom" marido que ele era nunca passava um aniversário da esposa longe e naquele ano não seria diferente, mas gostaria de ter o dia de paz e que pelo menos uma vez ele mantivesse a palavra.
- SURPRESA! - gritou da porta com buquê enorme de rosas vermelhas, mudando drasticamente as feições do rosto ao vê-la. - Aonde você vai? - Perguntou desconfiado, olhando-a de cima abaixo.
- Vou trabalhar a Márcia está com o bebê doente. – Respondeu secamente, para sua surpresa ele sorriu entregando-lhe o buquê a abraçando.
- Meu amor eu estive pensando, e acho que sei o que está faltando na sua vida. – Disse sorridente beijando-lhe pescoço.
- E o que você acha que está faltando na minha vida, além de uma boa noite de sono. – Resmungou cansada, sabia que era perca de tempo tentar sair dos braços dele.
- Um filho!
- O quê? – Perguntou engasgando com a própria saliva.
- Porque todo esse espanto? – Perguntou dando tapas nas costas dela.
- Já passamos por isso antes e sabemos no que deu. - Disse displicentemente, afastando-se dele com o coração acelerado.
- Só tentamos por alguns meses, eu estava muito ansioso e te deixei ansiosa, agora não, vamos esperar o tempo que for necessário eu seu que Deus tem tudo planejado, vai dar certo dessa vez.
- E se não der, e se não for da Vontade de Deus que tenhamos um filho? - Perguntou nervosa.
- E por que Deus não iria querer que tivéssemos um filho? Somos casados, nos amamos. - Disse abraçando-a novamente. - Vai para o seu trabalho, à noite falamos disso no jantar que teremos com seus pais.
- Como que é? De que jantar você está falando?
- Não se preocupe com nada, eu vou organizar tudo, quando você chegar tudo estará pronto. - Disse pegando a bolsa e levando-a até a porta.
- "Meu Deus! O que essa criatura está aprontando agora?" – Pensou saindo de casa.
Como ele dissera estava tudo pronto quando chegara a casa depois do expediente, ainda estava se arrumando quando os pais chegaram. Tensa ela pensava em um jeito de tirar da cabeça dele essa história de filho antes que ele envolvesse toda a família nisso, a única pessoa que sabia que ela usava DIU era Renata que acreditava que o Bruno também sabia, e ela pretendia que ele continuasse sem saber desse detalhe.
Para seu desespero Bruno estava empolgado demais, aprendera que isso nunca acabava bem para ela, suspirou deixando os pais na sala indo encontra-lo na cozinha.
- Querido podemos conversar um instante, por favor. – Pediu gentilmente.
- O que houve? Você está tensa. Jemima, você não está usando nenhum desses medicamentos em que esses médicos por ai são viciados, está? – Perguntou franzindo a testa.
- Que ideia! É claro que não, você sabe muito bem o que eu acho de qualquer tipo de drogas. - Suspirou aproximando-se dele. - Meu amor espera um pouco para falar sobre filhos com os outros, precisamos amadurecer essa ideia.
O olhar dilatado, a veia inchada no pescoço eram indícios de sua falta de controle, mas ela suspirou aliviada, os pais estavam logo ali na sala, ele jamais faria qualquer coisa para eles desconfiarem da integridade moral dele, já bastava as cunhadas que não confiavam nada nele, ela não poderia estar mais equivocada, sorrindo ele pegou em seu braço e o colocou sobre mesa, sem compreender e totalmente alheia ao que ele poderia fazer, ela ficou olhando as ações dele, como se estivesse vendo um filme, furiosamente ele bateu a tigela de cristal em seu braço, com uma rapidez surpreendente ele soltou no chão o que sobrou da tigela e tampou sua boca prendendo o grito em sua garganta.
- Por que você não quer um filho meu? – Perguntou baixo.
- Solta minha filha agora seu idiota, ou você quer levar uma surra? – Perguntou irado o pastor Gustavo da porta.
- Oh, sogrão foi mal, eu só estava olhando o corte do braço dela, não sei como ela se feriu com a travessa de cristal. – Disse sorrindo. – Mais não se preocupe vamos limpar rapidinho aqui e encontramos vocês na sala.
Com os olhos marejados ela vira o pai a encarando da porta e lembrou-se da tia envergonhada admitindo ao irmão que sofria desde que se casara, e que nunca tivera coragem de confessar a ninguém, vira a dor no olhar do pai, a sensação de impotência, não queria fazer o pai sentir-se assim por causa dela.
- Está tudo bem, eu me distraí vai ficar tudo bem. - Disse controlando a voz.
- Tem certeza? – Perguntou o pai afastando-a do marido e olhando seu braço. – Como você conseguiu cortar esse braço desse jeito? – Perguntou desconfiado encarando o genro.
- Eu fui pegar a tigela e ela escapuliu da minha mão caindo encima do meu braço, era de um material muito delicado, eu sinto muito papai.
- Você está se desculpando por ter se machucado? – Perguntou acarinhando o rosto da filha.
- Não, por tê-los assustado. – Ele beijou o alto da cabeça da filha.
- Ana ajuda o Bruno a colocar a mesa, eu vou ajudar minha filha a limpar isso aqui.
- Não precisa meu sogro eu ajudo a ela.
- Vai ajudar sua sogra, que eu cuido disso.
Constrangida diante o olhar inquisidor do pai, em silêncio ela mordia o lábio enquanto ele limpava os ferimentos em seu braço.
- Precisa se cuidar minha filha, seja mais atenta, por favor! – Pediu.
- Eu serei papai. – Sussurrou com vontade de chorar.
Ela temia pelo pior quando os pais saíssem, mas para sua surpresa ele apenas deitou e dormiu sem falar uma única palavra, ela demorou a dormir e quando finalmente conseguiu teve pesadelo. Acordou cansada e mal-humorada.
- "Será que um dia voltaria a descansar verdadeiramente? Cada pessoa colhe o fruto que planta, fruto amargo este que eu plantei". – Pensou desolada.
- Bom dia meu amor. – Disse Bruno da poltrona, assustando-a. - Você conseguiu descansar? – Perguntou levantando-se e sentando ao seu lado na cama. – Sabe o que é isso? – Mostrou-lhe seu anticoncepcional, ela revirou os olhos virando a cara para o outro lado, detestava perguntas obvias. Ele apertou seu maxilar virando-a para ele. – Diga-me Jemima o que é isso?
- O meu anticoncepcional. – Respondeu irritada.
- Pois bem, a partir de hoje você não toma mais pílulas, e você vai ter um filho meu, estamos entendidos? – Perguntou sentando encima dela. – E tem mais uma coisinha, acabou esse negócio de 'estou com dor de cabeça', 'estou cansada', 'não dormi direito', 'trabalhei demais', 'vi gente morrendo hoje', não me interessa, você é minha mulher e vai transar comigo quando, como e onde eu quiser, eu fui bem claro com você? – Perguntou apertando-lhe o pescoço.
- "Era só o que me faltava, ser estuprada pelo idiota com quem me casei, o que mais ainda me falta acontecer?" – Pensou apavorada.
- Eu não ouvi Jemima, e então você compreendeu bem o que eu disse?
- Sim. – Respondeu engasgada. E ainda apertando seu pescoço começou a beija-la.
Continua...
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