19 - Acima de tudo, guarde o seu coração.
Pela primeira vez Jemima e a família estavam em uma festa de aniversário do sobrinho Paulo que naquele ano estava fazendo quinze anos, a mãe do garoto o mantivera afastado por todos esses anos da família paterna, felizmente isso havia acabado no final do ano e todos estavam radiantes pelo privilégio de estar com um garoto tão especial naquele momento.
Paulo fora uma surpresa maravilhosamente doce para toda a família principalmente para o patriarca, o pastor Gustavo, no intimo ele esperava jogar na cara da ex-namorada do filho que o neto havia sido estragado pela má criação, mas o pai como todos mordera a própria língua, ela sorriu ao pensar no pai e no sobrinho naquele primeiro encontro, o garoto respondera ao avô à altura sem, no entanto faltar-lhe com respeito, ele era extremamente gentil mais de uma personalidade forte e determinada.
- "Os pais dessa igreja resolveram procriar todos ao mesmo tempo". – Pensou sorrindo refletindo no número de adolescentes que se divertiam, sentiu uma pontada no peito ao lembrar que um dia sonhara em ser mãe.
- Por que não se enturma? Não é bom ficar sozinha. – Disse Pedro sentando ao seu lado.
- Eu estou descansando e observando, diga-me irmão como é ser pai de um adolescente? – Perguntou sufocando a dor que queimava em seu peito.
- Até o momento tem sido maravilhoso. – Respondeu bobo, ela o empurrou sorrindo. – Estou tão feliz por te ver assim alegre e espontânea sem aquela nuvem carregada em cima de você. – Disse sentando encarando-a. – Porém, olhando você de longe me pareceu que você estava um pouco triste.
Pensou se dizia ao irmão sobre o bebê que perdera antes mesmo de saber que estava grávida, e das garantias que ela tomou sem o esposo saber para que aquilo não voltasse a acontecer, não se arrependera de ter tomado tal atitude, mas naquele momento vendo a felicidade do irmão com o filho, pensou pela primeira vez se fizera o certo.
- Eu só estava pensando na minha vida, por mais que eu esteja feliz comigo mesma, com os outros e principalmente com Deus, ainda tem momentos em que eu me pergunto como eu permiti que minha vida se tornasse nessa coisa vazia e sem propósito, por outro lado é bom estar tomando as rédeas da minha vida novamente, finalmente compreender e aceitar que eu sou responsável pelas minhas escolhas e tenho que seguir em frente com as consequências delas. – Ele a abraçou.
- Eu estou tão orgulhoso de você. – Beijou sua cabeça. - Não voltou a vê-lo depois daquele dia no restaurante?
- Não, já disse para não se preocupar eu não vou mentir para vocês. - "Ainda tem coisas que não estou pronta para falar, mas não mentirei" - Pensou olhando para o outro lado.
- Só não vai nos contar quais segredos ele esconde. – Comentou sério.
- Os segredos não são meus, logo não posso falar. E, além disso, acredite-me não é o tipo de coisa que vocês gostarão de ouvir.
- Se você conseguir se livrar dele definitivamente para mim está ótimo, ele que fique com os segredos.
- Falta pouco, e o melhor nem vou precisar vê-lo. – Disse sorrindo.
- Graças a Deus! Eu pensei que fosse demorar um pouco mais.
- Eu também pensei, mas tenho que admitir seu sogro sabe o que faz. – Disse encarando o senhor Henrique do outro lado com a esposa todo sorridente.
Desde que ele lhe confessara que sabia do namoro dela com Alex, ela não se sentia mais tão à vontade com ele, por mais que ele se esforçasse para trata-la muito bem, ela precisava de um pouco mais de tempo, não que acreditasse que fosse ele o culpado pelas desventuras que sucedera em sua vida, mas não conseguia parar de pensar que talvez, só talvez se ele não tivesse insistido em mandar o filho para Campinas sua vida teria sido diferente.
- O que está achando da festa? – Assustou-se com a pergunta do irmão.
- Oh! Magnifica. Não sei se a Ariane está gostando muito desse tumulto todo. - Comentou recordando da cunhada na cozinha.
- Ela está mais calma. – Disse sorrindo, ela acompanhou o olhar do irmão até a noiva que estava com Alex, seu coração acelerou, ainda não o tinha visto, ele estava lindo! – Já falou com ele? – Perguntou o irmão tranquilamente.
- Não. E provavelmente não falarei, não temos nada para falar.
A filha mais velha se aproximou dele e o aperto em seu coração aumentou consideravelmente, a semelhança da menina com a mãe era incrível, e o sorriso dele ao falar com a filha só lhe assegurava de que ele não se arrependia da escolha que fizera, não era culpa dele ou do pai que ela não fora sábia em suas escolhas e estragara a vida dela vergonhosamente. Suspirou tensa, talvez, não fosse mesmo para eles ficarem juntos, deitou a cabeça no ombro do irmão e fechou os olhos controlando-se para não chorar, não era momento para tristezas e arrependimentos.
Alex chegara mais tarde do que o esperado tivera problemas com o horário do ônibus de Lins para São Paulo, o que deixou as filhas chateadas, mas fosse qual fosse o motivo da tristeza das garotas tudo mudou drasticamente quando viram Adriana esperando por eles na rodoviária.
- Pensei que a Ariane viria nos buscar. - Disse abraçando a irmã.
- Ela está atrapalhada com os convidados, você não conhece sua irmã? - Perguntou sorrindo.
- Tia Drica, vamos logo que já estamos muito atrasados, vamos perder os parabéns. - Disse Júlia seria.
- Jamais permitiríamos que os parabéns acontecessem antes de você chegar. - Disse abraçando a sobrinha.
- A Júlia só pensa no bolo. - Resmungou Laila.
- Não. Eu penso nos docinhos também. - Respondeu a mais nova sorrindo, e todos riram.
Alex pensava na ansiedade das filhas para chegar logo, ele também ansiava por estar logo na casa da irmã, obviamente que estava com saudade da família que não via desde o natal, mas a ansiedade maior era para ver aquela que fazia seu coração disparar só de pensar nela, distraído ele olhava o movimento da rua enquanto as filhas não pararam de falar.
Depois de cumprimentar toda a família, e os conhecidos finalmente a vira, afastada sozinha e pensativa observava as pessoas, aparentemente estava bem, mas vez ou outra uma sombra passava por seu rosto, e ele ficava a imaginar o que poderia estar passando por sua cabeça para aqueles momentos de tristeza que logo era substituído por um sorriso, arqueou a sobrancelha confuso com suas oscilações de humor repentinas.
- "Será que o trauma a deixou bipolar?" - Pensou preocupado.
Pedro se aproximou dela e seu semblante mudou totalmente para uma alegria genuína, Alex respirou profundamente recordando-se do quanto ela amava os irmãos, principalmente o mais novo e do quanto sofrera quando o pai o mandara embora, uma pontada de dor e tristeza afligiu seu coração por não ter sabedoria na época para ajuda-la.
E sem se dar conta se estava ou não chamando a atenção ficou observando-os, vira o sorriso que tanto lhe fazia lembrar a garota que dedicou seus melhores dias a ele, o sorriso que aquecia seu coração naquelas manhãs longínquas quando namoravam escondidos no ginásio da escola e que não vira nos poucos momentos em que estivera com ela no final do ano em Paraíso.
- Vai falar com ela ou só observar de longe? As pessoas vão começar a comentar. – Disse Ariane assustando-o. – Ainda fico chocada por não ter percebido esses olhares na nossa adolescência. – Sentou ao seu lado.
- As pessoas estão muito ocupadas se divertindo para prestar atenção para onde eu estou olhando, ou estão profundamente feliz que era o seu caso quando éramos adolescentes. – Disse sorrindo. - Eu só estou dando tempo a ela, vou esperar o divórcio dela sair, ela precisa se redescobrir e ter confiança em si mesma novamente, e então se for mesmo da Vontade de Deus, eu vou procura-la.
- Por que esperar isso tudo? – Perguntou confusa. - Na minha humilde opinião, eu acho que Deus já confirmou esse amor. - Ele sorriu torto.
- Ela precisa acreditar que é capaz, que pode andar com as próprias pernas e que é especial por si só que não precisa de um homem ao lado dela para mandar nela, mas que talvez ela precise de um homem que a ajude que a apoie, que ande ao lado dela, que se alegra com as conquistas dela.
- Você acredita que ela fosse dependente emocionalmente do Bruno?
- Eu estive conversando com o Rogério que fora parceiro da Valéria, ele disse que tem observado que a maioria dos homens que são agressivos com suas companheiras, eles usam a dependência emocionalmente delas para com eles, é claro que têm algumas que são totalmente dependentes até mesmo financeiramente, mas muitas delas não dependem deles para absolutamente nada e ainda assim não conseguem se livrar deles.
- Eu pensei sobre isso, mas pensei que fosse esperança da parte delas de que o esposo melhorasse. – Disse triste.
- A Valéria me disse uma vez que a maioria delas, apesar de ter essa esperança na verdade elas sabem que eles jamais mudarão.
- Então por que insistir?
- Porque elas também acreditam que eles estão certos e a culpa seja mesmo delas por eles tratarem elas de modo tão violento, e que provavelmente elas não conseguirão encontrar outro homem que as aceitem com toda a bagagem que elas carregam ou até mesmo que não encontrarão um homem que possa fazê-las feliz.
- Onde está a felicidade em meio a pancada e dor?
- Se você perguntar para a Jem, ela vai te falar que não havia marido melhor que o Bruno quando não estava sendo agressivo, claro, que cada caso é um caso, mas segundo o Rogério os homens bens sucedidos e aparentemente 'equilibrados', são os piores para suas companheiras psicologicamente falando.
- Não apenas psicologicamente, aquele lunático poderia tê-la matado da última vez.
- Verdade! Não gosto nem de lembrar. – Disse sentindo o coração acelerar.
- Papai! – Sorrindo ele voltou-se para a filha mais velha que o abraçou sorrindo. – Tia está tudo lindo!
- Obrigada meu amor. – Respondeu passando a mão na cabeça da sobrinha.
Alex sorriu feliz, não fora fácil, mas tinha motivos para louvar a Deus diariamente pela vida que tinha, pela vida que escolhera ter, toda escolha tem uma renúncia e ele compreendia que renunciar a algo importante não te impede de ainda assim conquistar algo tão ou mais importante, toda ação tem uma reação e ele tinha certeza que Deus o ajudaria a lidar com as reações de todas as suas ações, ele não estava sozinho e Deus nunca o abandonava não importava o quanto a noite parecia escura.
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Naquela manhã, ao contrário do acontecera com Valéria ele esperava encontra-la ao seu lado, o que iria fazer não fazia a menor ideia, ainda de olhos fechados passou a mão pela cama, mas ela não estava, abriu os olhos procurando por ela pelo quarto, pelo banheiro, mas ela havia partido sem ao menos dizer adeus, o aperto em seu coração dificultava a sua respiração, voltando para a cama encolheu-se como fazia quando era criança e chorou por tempo longo demais, a cabeça latejava e o estômago revirava como se tivesse comido alguma comida estragada.
Passou o resto do dia naquele quarto, as lembranças o atormentavam e também o deixavam feliz, sentindo-se a pior das criaturas, ficou a manhã inteira lá esperando que alguém fosse até ele dizer para desocupar o quarto, como não apareceu ninguém deduziu que ela não havia fechado a conta do quarto, com o rosto vermelho e inchado de chorar decidiu sair do quarto não poderia ficar o resto da vida ali, escondido do mundo, ainda tinha um casamento para ir, pensar em seu próprio casamento fazia a dor na cabeça e o mal-estar piorar, como dissera a Jemima, tomara uma decisão, voltar atrás não era alternativa.
- Gostaria de fechar a conta do quarto oito. - Disse na recepção entregando a chave.
- A moça que estava com o senhor já acertou tudo. – Respondeu automaticamente a recepcionista.
- Ela deixou alguma coisa para mim? Um recado ou um bilhete? – Perguntou esperançoso.
- Não. Ela apenas pagou a diária de hoje e pediu para ninguém incomoda-lo. – Respondeu secamente.
- "Você queria o que cara? Você está de casamento marcado com outra mulher". – Pensou desolado. – Obrigado. – Agradeceu indo embora.
O casamento seria o mais intimo e discreto possível os pais de Valéria não aceitaram muito bem a gravidez da filha nem o casamento em cima da hora, e menos ainda o noivo que a fizera trair o namorado de infância, se havia sido difícil conhecê-los nas férias quando fora anunciar formalmente o casamento mais difícil ainda fora chegar lá um dia depois do combinado.
- O que aconteceu? Você disse que viria ontem com a Patrícia. – Perguntou Valéria assim que o noivo entrou no carro.
- Obrigado por vir me buscar, mas eu poderia ir de táxi. – Respondeu friamente, ela mordeu o lábio, visivelmente incomodada com sua resposta fria e impessoal. – Desculpe-me, não sei o que a Patrícia te falou...
- Não importa o que ela me falou, eu quero saber de você o que aconteceu. – Ela o interrompeu friamente. – Sua família já chegou e eu não sabia o que responder a eles sobre você e seu atraso sem nenhum aviso, e quando minha amiga chegou sem você só piorou a situação, não sei se você percebeu mais nada nesse casamento é convencional.
- "Como se eu não soubesse disso". – Pensou rancoroso. - Tem um lugar onde podemos conversar? – Ela não respondeu, parando logo depois em uma praça, saiu do carro em silêncio e ele a seguiu.
- E então, o que você tem para me falar. Não se esqueça que essa ideia de casamento foi sua.
- Eu sei disso! E não estou tirando meu corpo fora. – Disse sentando de frente para ela. – Eu vou te contar o que aconteceu porque não gosto de mentiras ou meias verdades, e não vou começar uma vida com mentiras.
- Talvez eu não queira saber o que aconteceu. – Disse baixo.
- Então não deveria ter perguntado. - Resmungou passando as mãos na cabeça.
- Perguntei por força do hábito, essa situação toda é muito estranha.
- Eu sei e me desculpe por isso. Mas eu não permitiria que a Patrícia ou qualquer outra pessoa envenenasse o que estamos tentando construir, para mim casamento é coisa séria e lamento por magoar você, mas prometo que isso nunca mais acontecerá não de eu magoar você, porque com certeza isso acontecerá outras vezes, mais te garanto que jamais será intencional, e o que aconteceu nunca mais acontecerá.
- A Patrícia não me disse nada, ela só disse que você estava estranho e perguntou se eu tinha certeza desse casamento.
- Entendo. No entanto você merece saber o que aconteceu. A Jemima me procurou... – Ela arregalou os olhos e engoliu seco.
- Por essa eu não esperava.
- E eu passei a noite com ela. – Ela fechou os olhos.
- Passar a noite com ela, foi iniciativa sua ou dela? - Perguntou encarando-o.
- Isso é irrelevante. - Disse abaixando a cabeça e voltando a encara-la em seguida - Eu lamento de verdade, mas não sei o que te falar, eu sinto muito por ter feito isso contigo, no entanto... – Não sabia como explicar a ela que apesar de lamentar o que fizera não se arrependia necessariamente.
- No entanto você gostou de fazer amor com ela, gostou de finalmente estar assim com ela. – Disse pegando em sua mão. – Eu sei como é, não se preocupe ainda me sinto assim em relação ao Rafael, mas eu não cedi e corri para a cama dele. – Retrucou ofendida. – Enfim, eu garanto que posso resistir a ele, nem que para isso eu nunca mais o veja, e você está disposto a nunca mais vê-la? Está disposto a fazer com que este casamento dê certo? – Ele suspirou.
- "Eu sei que o melhor para todo mundo é nunca mais eu vê-la". – Pensou desolado. – Não se preocupe eu sei disso.
- Ótimo! Eu vou te levar para o hotel onde sua família está, e quero te pedir apenas uma coisa, reflita bem sobre o que aconteceu, e só me apareça amanhã naquela igreja se você tiver certeza de que quer mesmo casar comigo e está disposto a ser fiel a mim, eu posso até aceitar o casamento com um homem que ama outra mulher, mesmo por que eu também amo outro homem, mas assim como eu estou disposta a deixa-lo no passado preciso ter certeza de que você também esteja disposto a isso.
- Eu...
- Por favor, não me faça promessa que você ainda não pesou todos os prós e contras, pense e amanhã eu irei àquela igreja e entenderei se você estiver lá e também se você não estiver.
Ele suspirou e seguiu-a até o carro, e naquela noite ele chorou por um amor que por anos tomou conta de todo o seu ser, e naquela noite ele se despediu dele, tomou a decisão de que nunca mais voltaria a vê-la, mesmo que para isso tivesse que fazer como a irmã mais nova e não voltasse mais a Paraíso, e no dia seguinte conforme o combinado ele compareceu na cerimônia em que apenas as famílias e pouquíssimos amigos compareceram.
Os primeiros meses de casamento foram difíceis para ambos, em um acordo mudo eles não se tocavam e fingiam ser um casal normal na presença de outras pessoas o foco de ambos era terminar a faculdade e dar um novo rumo para suas vidas que agora era juntos.
E quando a fatalidade da perca do bebê aconteceu ambos ficaram sem chão, o bebê era a razão para a qual eles estavam juntos e ele não existia mais, por uma semana Valéria ficou de cara virada com o esposo sem se importar que estivessem na casa da avó dele, Alex até que se esforçava para concertar as coisas, mas ela estava muito furiosa com ele.
- Qual o seu problema? Você está agindo como se eu fosse o responsável por você perder o bebê! – Gritara ele em dado momento.
- E não foi? O que te custava cantar aquela música ridícula?
- Você me proibiu de canta-las porque eram músicas que a Jemima gostava.
- E por acaso não era verdade? Por acaso nós somos crentes? Para você ficar cantando música de crente? – Desanimado ele passou a mão na cabeça.
- Esquece isso! Eu fiz o que você queria, aliás, eu sempre faço o que você quer.
- Faz o que eu quero? Então por que não cantou aquela música ridícula quando eu te pedi? Eu disse que o bebê estava agitado...
- Você me acusou de traição, disse que eu estava te traindo cantando aquelas músicas, que eu ficava pensando nela fingindo estar preocupado com o meu filho, afinal qual é o seu problema?
- Eu perdi o meu filho por sua causa e da sua amante.
Ele a encarou furioso, sofrera tanto quando o médico disse que o coração do bebê não estava batendo, não tinham uma explicação lógica para isso, em seu íntimo ele se recordara da manhã em que ela disse que o bebê estava agitado e pediu para ele cantar 'é tão normal ser feliz' de Catedral ou 'só o amor' de Melissa, infelizmente ela tinha razão, Jemima amava aquelas músicas e ele sabia canta-las porque ela sempre cantava para ele, mas não era verdade que ficava pensando nela, até porque ela se tornara pensamento proibido e tudo para agradar a sua esposa, tremendo de raiva saíra deixando-a sozinha, e não voltou a falar com ela até irem embora para casa, mesmo sabendo que isso deixara a avó e a irmã preocupadas.
Dias depois de terem voltado para Campinas, ela decidiu que era hora de separarem, não havia razão para aquele casamento de fachada e mesmo contra essa ideia ele concordou, então ela recebeu uma ligação estranha e inesperada que mudou o rumo da vida dos dois, deprimida ela não fora à faculdade naquela manhã e quando ele voltou para casa a encontrou em prantos.
- O que aconteceu? – Perguntou preocupado.
- O Rafael ligou. – Por essa ele não esperava, sentou ao seu lado e esperou ela se acalmar.
- E o que ele queria?
- Nos desejar felicidades, dizer que me perdoou e quer que eu seja feliz e realizada, e também que está orando para que eu conheça a Jesus e faça com que meu casamento seja real e duradouro, que eu não preciso me preocupar que Deus vai cuidar de tudo e que tudo vai se encaixar e dará certo.
- Você falou do bebê?
- Não. Ele disse para eu não me preocupar que mesmo que eu pense que as coisas estejam ruins e pareçam difíceis demais não é para eu me desesperar que elas vão melhorar, é para eu ter fé que Deus tem um plano maravilhoso para mim e você.
Ele encostou-se, e fechou os olhos lembrando-se da fé de Jemima, do amor que ela sentia por Jesus, da certeza que ela tinha de que Deus sempre tinha o melhor guardado para ela, e naquele momento ele se perguntou se ela ainda tinha essa fé, se ela ainda pensava em primeiro lugar em Deus e no que Ele tinha reservado para ela, e ali longe dela, longe de tudo o que ela representou para ele, ele desejou compartilhar da mesma fé que ela, desejou fazer o que ela acreditava ser o certo, e quem sabe assim talvez ele fosse feliz naquele caminho que ele escolheu trilhar.
- E o que você vai fazer? Foi você que pediu o divórcio.
- Se você não se importa eu gostaria de tentar para valer, de fazer nosso casamento funcionar, quem sabe essa coisa de buscar a Deus seja mesmo uma boa ideia! A sua ex-namorada é filha de pastor ela deve ter te ensinado uma coisa ou outra.
- Por que você tem que falar sobre ela? As minhas irmãs e a minha tia são cristãs.
- Elas não são filhas de pastor. - Disse cruzando os braços, ele revirou os olhos.
- Sei! Bem a Jemima acreditava que ter Deus na vida dela fazia toda a diferença, e minhas irmãs também, você viu a Ariane, ela te parece alguém amargurada por causa das desventuras da vida?
- Não, pelo contrário ela me parece bem. - Respondeu distraída. - Você acha que Deus pode fazer diferença na nossa vida também? Que poderemos um dia ser feliz de verdade? Que superaremos o que deixamos para trás? Que um dia eles nos esquecerão, e ficaremos bem com isso? - Perguntou com lágrimas molhando seu rosto.
- Se fizermos para valer, por que não? Pelo que eu me lembre de Deus, Ele não faz acepção de pessoas, desde que O busquemos de verdade, e quanto à 'eles' nos esquecerem, isso é melhor que eles continuarem a sofrer por nossa causa, você não acha?
- Eu sei, mas é tão difícil pensar que ele me ligou porque pode estar em outra. - Disse chorando copiosamente. Ele a abraçou até ela se acalmar. - O que significa exatamente busca-Lo de verdade? Depois que o Rafael se converteu a gente se afastou muito então eu não tenho base nenhuma.
- Na real? Eu também não, mas de uma coisa eu sei, não dá para fingir de cristão, você mesma vê como é a vida das minhas irmãs, elas são diferentes, são sinceras no que elas acreditam e fazem por amor.
- Acha que elas poderão nos ajudar?
- Só há uma maneira de saber. – Respondeu pegando o telefone e ligando.
- Alô.
- Oi Ariane, precisamos de ajuda. Como fazemos para conhecer esse Deus que você e a Drica tanto amam? – Sentiu o sorriso da irmã e inconscientemente sorriu também.
- Será um prazer ajuda-los nessa nova caminhada, os céus estão em festa com essa decisão de vocês. - Disse sorrindo, ele apertou a mão da esposa e desejou sinceramente estar fazendo a coisa certa finalmente.
Depois dessa decisão e de todas as orientações das irmãs e da busca por uma igreja, a vida deles mudaram, eles descobriram que amor não era apenas um sentimento, era uma decisão, e eles decidiram que se amariam e seriam felizes que honrariam a Deus com seu casamento e sua família, e assim foi, concluíram a faculdade decidiram por uma cidade que ficava longe de Lins a cidade natal dela e de Paraíso a cidade em que deixara seus sonhos.
Nunca mais soube de Jemima, raramente visitava os pais e surpreendentemente eles não pareciam se incomodar com a ausência do filho, talvez fosse natural para os pais se acostumarem com a falta dos filhos e com o tempo não sentiam mais saudades, como prometera a esposa vivia para fazê-la feliz e viver em paz.
Fácil não fora, mas ele não estava sozinho em todos os momentos o Espírito Santo de Deus lhe mostrou o caminho e desde que ele Lhe estendera a mão, Deus nunca mais a soltou e ele compreendeu o que Deus disse a Jeremias. "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer? Eu, o Senhor, esquadrinho a mente, eu provo o coração; e isso para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações".
Continua...
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