10 - O ódio excita contendas.
No quarto que usara desde menina Jemima andava de um lado para o outro pensando no que fazer, por duas vezes discou e apagou o número do cartão que Patrick lhe dera em dúvida se deveria ou não envolver o amigo da Valéria ainda mais em seus problemas, desde que voltara a morar com os pais sentia muitas saudades da garota que um dia fora, determinada e decida, olhou o cartão e ficou imaginando o que Valéria sentira ao investigar Bruno, se ela tivera dúvidas se a ajudaria ou não, sacudiu a cabeça, em que isso importava? Ela a ajudara e confiara no amigo para isso.
- "E se ele me deixou o cartão, e disse que eu poderia ligar se precisasse de ajuda, isso significa que ainda está disposto a me ajudar". - Pensou discando o número novamente, e sem pensar em mais nada ligou e aguardou.
- Alô. - Ele atendeu no terceiro toque.
- "Graças a Deus". - Pensou. - Bom dia é a Jemima tudo bem?
- Tudo bem Jemima, e você já conseguiu similar todo aquele material?
- Ainda estou meio perdida, não sei como foi possível eu ficar casada oito anos com uma fraude, e pior ele passou dois anos me conquistando para uma vida de mentiras, ainda estou sem entender e acreditar, isso parece ficção.
- Você sabe que pode processar todas as pessoas envolvidas, as que fingiram serem pais, irmãos, amigos, todos eles.
- O advogado me falou isso, mas na verdade eu só quero a minha vida de volta e me livrar de todos eles. Você acredita que a suposta mãe dele me ligou? Ela disse que o filho está sofrendo terrivelmente, é muita cara de pau dela.
- E o que você disse a ela?
- Eu disse que estava ocupada e que conversaríamos depois, mas eu realmente não sei como agir?
- Você precisa urgentemente de um advogado que possa te orientar como proceder, para que você não se coloque em uma situação delicada, você precisa usar a mentira deles a seu favor.
- O meu advogado já queria colocar todos eles na cadeia, mas eu não quero nada disso, eu realmente só quero a anulação desse matrimônio, e foi para isso que te liguei, eu queria te pedir um favor, se for possível e se você ainda estiver no Tocantins, claro!
- Sim. Quero dizer neste momento eu estou em Brasília, minha esposa tinha uma conferência aqui, e daqui a pouco iremos para Anápolis, mas ainda hoje estaremos voltando para Palmas, se for algo que possa esperar até amanhã, e se estiver ao meu alcance eu ajudo sim.
- O meu advogado quer ir encontrar com o Bruno, e estou receosa, o Bruno é perigoso; gostaria de saber se você pode acompanha-lo, só por segurança, para ele não se arriscar mais do que o necessário.
- Sim eu posso acompanha-lo, mas acho que seria melhor fazermos isso na segunda-feira, você pode me passar o número do seu advogado e eu ligo para ele, o que você acha?
- Eu acho ótimo! Vou te passar o número dele, o senhor Henrique é muito orgulhoso e provavelmente ele vai dizer que não precisa que ele pode fazer isso sozinho, mas insista com ele, por favor! - Disse receosa.
- Não se preocupe, eu vou insistir com ele pode deixa comigo. - Disse sorrindo.
- Obrigada, Deus te abençoe!
- Amém! Ele nos abençoe a todos, e não fique preocupada tudo vai dar certo. - Ela despediu-se e se jogou na cama.
- "Esqueci-me de dizer que o senhor Henrique é sogro da Valéria, será que isso seria importante?" - Pensou se levantando e pegando o celular. - "Não! Se necessário eu falo depois". - Voltou a deitar-se.
Fechou os olhos e a imagem de Alex invadiu sua mente, dois Alex a encarava o garoto por quem se apaixonara e o homem com quem sonhava atualmente, mais não sabia nada sobre ele, o garoto que tanto amara que se tornou seu melhor amigo agora era homem desconhecido para ela, se ao menos tivesse feito o que o ele queria desde o início, talvez, só talvez, ele não tivesse caído nos braços da Valéria e ela não teria caído naquele precipício, apertou as têmporas tentando evitar as lágrimas.
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O mês de julho daquele ano foi o mais longo que Jemima tinha lembrança, geralmente o mês de férias passava em um pulo, mas não foi isso que aconteceu naquele ano, chegava dezembro, e julho não acabava durante todo o mês ela não viu Alex, ela viajara com a família no inicio do mês e quando voltou ele havia viajado, e só retornou no domingo às vésperas do início das aulas, e naquela noite ele foi ao culto com as irmãs, dessa vez não foi possível sentar ao lado dela, e ela só pôde estar com ele no fim do culto.
Ela estava com o irmão e Ariane, quando sentiu a fragrância do perfume dele, virou-se rápido em direção ao aroma e ele estava ao lado dela com o sorriso mais lindo e radiante que ela já vira na vida.
- Boa noite! - Ele cumprimentou e ela assentiu, não respondeu por não confiar na própria voz, ele estava muito mais lindo do que ela se lembrava.
- Vamos à sorveteria? Amanhã começa as aulas e acabou nosso sucesso. - Sugeriu Adriana chegando com o gêmeo.
- Eu acho uma ótima ideia! - Disse Adriano pendurando no pescoço da irmã. - O que você acha Felipe? - Jemima surpresa olhou para o lado e lá estava o irmão com as mãos nos bolsos.
- A gente nunca sai todo mundo junto, é mesmo uma boa ideia! - Respondeu.
- O seu pai vai deixar? - Perguntou Adriana, os irmãos entreolharam-se e sorriram.
- Sim. Ele vai deixar, e o seu? - Desafiou Felipe.
- Eu não tenho muita certeza nem que o de vocês e nem que o nosso vá deixar, mas não custa nada tentar. - Admitiu Adriana.
- Na verdade os dois vão deixar, porque eles preferirão que eu e a Ariane estejamos com todos vocês do que sozinhos. - Disse Pedro sorrindo beijando a namorada.
- Então tá! - Disse Adriana empolgada.
Pedro estava certo os pais concordaram até empolgados demais, André e João não quiseram ir com eles, ambos tinham outras coisas para fazer.
- E então, eu posso ir amanhã falar com o seu pai, acho melhor falar com o seu antes de falar com o meu, ou eu devo falar com o meu pai e ir à sua casa com ele? - Sussurrou Alex enquanto os dois preparavam seus sorvetes.
- Amanhã na escola a gente fala sobre isso. - Disse constrangida.
- Ok. Só não esqueça que você disse que quando voltássemos das férias...
- Eu sei! Eu sei! – Aflita ela o interrompeu. - Aqui não é um bom lugar para falarmos sobre isso.
- Está bem, amanhã! Eu senti muito a sua falta. - Sussurrou em seu ouvido passando devagar por ela indo pesar o sorvete e deixando-a zonza.
- O que você e o Alex tanto cochichavam? - Perguntou Felipe ao seu lado assustando-a.
- Nada! - Resmungou se afastando do irmão.
Um fato curioso sobre seus irmãos, os dois mais velhos jamais se metem na vida dos mais novos, a não ser é claro que seja para defendê-los, já não se poderia dizer o mesmo dos dois mais novos, e pelo fato de serem muito curiosos eram muito atentos ao que se passava ao redor, ela pesou o sorvete e voltou à mesa, sem ao menos olhar na direção do Alex que conversava com o Marcelo.
- Essa Telma é mesmo sem noção! - Disse Adriana, e o olhar dela foi direto para o Alex, e lá estava a garota praticamente pendurada no pescoço dele, e ele simplesmente aceitando, como se não fosse o bastante ele também não fez nada quando ela na maior cara de pau pegou o sorvete da mão dele na maior intimidade, irritada ela virou a cara tentando controlar a respiração mais não deu certo, a imagem da outra grudada em seu namorado não saia da sua cabeça.
- Eu já vou para casa. - Disse desolada, se continuasse ali iria cair em prantos.
- Nós vamos te levar. - Disse Pedro.
- Não precisa. Eu sei o quanto você estava com saudades da sua princesa.
- Então fala com o Felipe. - Ela olhou para o irmão e ele se divertia com o Adriano e alguns outros colegas nas máquinas de fliperama, Adriana tocou no braço dela.
- O Alex leva a nós duas, vocês aproveitem a noite um pouco mais, só não abusem, lembrem-se amanhã tem aula, as férias acabaram e aqueles dois não vão querer deixar aquelas máquinas agora. - Disse Adriana encarando seu gêmeo e Felipe.
- Não acho também que o Alex vai querer ir embora. - Disse Pedro olhando para os três no meio da sorveteria.
- Ele vai sim, na verdade eu não sei por que ele ainda não deu um chega para lá naquela oferecida. - Disse Adriana intrigada.
- Verdade! - Concordou Ariane. - Nós não vamos demorar, vai lá Drica salva o nosso irmão daquela oferecida.
- Vamos Jem, o Alex te deixa em casa. - Adriana saiu puxando Jemima pelo braço. - Alex nós queremos ir embora, você pode ir conosco.
- Posso sim! - Disse, finalmente tirando o braço da Telma de seu pescoço.
- O Marcelo pode levar elas, e você me leva em casa, o que você acha? - Perguntou dengosa abraçando-o pelo pescoço, Jemima engoliu seco.
- Seria uma honra deixar damas tão lindas em suas casas, mas infelizmente não é possível, preciso resolver uma coisa com o Felipe e o Adriano, boa noite. - Disse Marcelo já se afastando.
- Então você as leva e depois me deixa lá em casa. - Sussurrou quase o beijando, ele precisou afastar-se um pouco para ela não beija-lo, Adriana puxou-a de cima do irmão.
- Vamos logo! Não se preocupe, sua casa é caminho a gente passa lá e te deixa. - Disse arrastando-a para fora.
- Por que você é tão desagradável Adriana? O Alex é perfeitamente capaz de decidir como quer passar a noite dele, ainda está cedo, ele pode perfeitamente deixar vocês e voltar comigo para a minha casa, meu pai adoraria vê-lo.
- Sério! Você acha mesmo que o meu irmão vai passar na frente da sua casa, nos deixar em casa e voltar só para ver o seu pai?
- Você está se fazendo de tonta de proposito? Obviamente que ele não vai lá apenas ver o meu pai. – Replicou a garota perdendo a paciência. – Querido, você pode pegar o carro do seu pai para me trazer de volta. - Disse parando segurando-o pelo braço, todos pararam também.
- Sonha querida! - Disse Adriana debochadamente.
- Chega de discursão! Parem as duas de ficar falando como se eu não estivesse aqui, e vamos logo que está ficando tarde, Telma a Drica tem razão não tem lógica eu fazer todo um percurso de volta só para te deixar em casa, e acredite-me meu pai não me emprestaria o carro para te levar em casa.
- Emprestaria sim, ele disse que eu seria uma nora maravilhosa e ele faria muito gosto se você e eu ficássemos juntos. - Disse esnobe.
- Como que é? - Perguntaram os três surpresos, encarando-a.
- "Seria muito estranho se eu a jogasse no chão agora?". - Pensou Jemima irritada, abaixando a cabeça.
- Não sei por que vocês estão todos tão surpresos, eu sou um ótimo partido, e todo pai adoraria me ter como nora, qual o problema? E você Jemima? Por que se mete no que não é da sua conta? – Perguntou Chateada.
- Isso por que os pais não conhece sua fama por aí. - Disse Adriana, enquanto a outra fuzilava Jemima com o olhar.
- Não estou me metendo em nada, só fiquei curiosa, afinal até ontem você estava dando em cima do meu irmão. – Respondeu Jemima.
- E você claro está morrendo de ciúmes, não sabe qual é o pior, se é se tornar minha cunhada ou perceber finalmente que o Alex nunca vai olhar para você. – Jemima deu um passo na direção dela. – Alex segurou-a pelo braço.
- Vou dizer ao meu pai o belo partido que é você. – Disse Adriana segurando o outro braço de Jemima.
- Drica! - Alex chamou a atenção da irmã, indignada Jemima virou os olhos. - Ninguém está falando que você não é um ótimo partido, e a Drica não vai falar nada para o meu pai, ele não me falou nada sobre você, e sinto muito querida, mas quando eu tiver uma namorada, serei eu que a conquistarei e não o meu pai e, por favor, não fale sobre mim como se soubesse de alguma coisa, por que você não sabe de nada, Jemima é uma garota linda e ela não precisa de nenhum garoto dizendo isso a ela.
Puxando Jemima pelo braço dirigiu-se para a saída, sem se preocupar em verificar se alguma as outras estariam seguindo-os ou não, Jemima puxou o braço cruzando-os.
- Alex, espera. – Disse Telma ficando novamente ao seu lado. – Eu sei que você é um cavalheiro e por isso a defendeu, e eu peço desculpas por tê-lo ofendido, mas você não a conhece como eu a conheço... – Disse olhando para Jemima inocentemente.
- "Ele também não conhece a você como eu conheço". – Pensou abaixando a cabeça.
- Telma, por favor, podemos andar em silêncio?
- Como você quiser. – Abraçou-o pelo braço sorrindo. – Eu espero você quiser me conquistar.
Jemima fungou, desde criança Telma sempre teve uma implicância com ela que na verdade nunca compreendera a outra sempre foi linda e desinibida, enquanto Jemima ficava na sua, sabia que não era feia, mas não era exuberante como a outra e nada feminina, mas fora escolha sua ser daquela forma, gostava de brincar com os garotos e vestir como eles e ter os cabelos sempre trançados ajudava e muito, e por algum motivo desconhecido nos últimos tempos essa implicância havia aumentado.
- Boa noite. - Telma despediu-se de Alex beijando-o no rosto.
- Boa noite. - Ele respondeu, ficaram esperando ela entrar e seguiram para casa.
- Por que você ficou dando mole para a Telma? - Perguntou a irmã.
- Eu não estava dando mole para ela. - Resmungou mal-humorado.
- Não foi o que pareceu você sabe que ela não pode ver um garoto sozinho que ela se atira nele, e você não é do tipo que se aproveita de garotas desse tipo, então dê logo um chega pra lá nela.
- Drica qual é o seu problema? Você acabou de ofender a garota e agora está me enchendo por que mesmo?
- Eu só não quero que ela pense que você está interessado nela e comece a ofender as pessoas por causa disso.
- Eu não estou iludindo ninguém, menos ainda estou interessado nela e ela sabe disso, se ela não aceita não tenho nada haver com isso. - Gritou.
- Eu que pergunto agora qual é o seu problema? Você passou a viagem toda dando patadas em todo mundo. - Gritou também. - E parece que ainda está pior.
- Por que vocês estão gritando um com o outro? - Perguntou Jemima confusa, a família deles era extremamente unida o que estava acontecendo com aqueles dois?
- Sei lá! Ele está assim insuportável, passou as férias de mau humor. - Disse a irmã ressentida.
- Desculpa! Eu não deveria ter gritado com você. - Disse constrangido, a irmã passou o braço pelo dele encostando a cabeça em seu ombro.
- Se você confiasse em nós, talvez pudéssemos te ajudar. - Disse sorrindo, Jemima virou na direção da casa dela queria logo chegar a sua casa e chorar. - Jem, vocês me deixam em casa e o Alex te leva você se importa? - Alex e Jemima entreolharam-se.
- Se o seu irmão não se importar! - Respondeu nervosa.
- Meu irmão é um cavalheiro, claro que ele não se importa. - Disse voltando a deitar a cabeça no ombro do irmão.
- "O que deu nela? Ela fez o maior drama para o irmão não voltar e levar a Telma a casa dela". – Pensou intrigada.
Andaram em silêncio até a casa deles, Adriana correu para a porta dando tchau para Jemima, e os dois com as mãos nos bolsos seguiram para a casa dela, assim que Adriana entrou em casa.
- Você vai ficar sem falar comigo até quando? - Perguntou querendo chorar.
- Até amanhã no ginásio, lá é o único lugar que eu posso falar contigo, ou não é? O único lugar onde eu posso ser seu namorado? - Retrucou mal-humorado.
- Por que você está fazendo isso comigo? - Perguntou triste e as lágrimas inundaram seus olhos.
- Não Jemima, por que você está fazendo isso com a gente! - Retrucou parando e a virando na direção dele, e seu coração doeu em vê-la chorando. - Eu estava louco de saudades de você, estou com uma vontade louca de beija-la, mas não posso, porque o nosso namoro é mais secreto que a identidade do Batman. - Ela não aguentou e sorriu em meio às lágrimas.
- Você está nos comparando com o homem morcego? - Perguntou sorrindo, ele secou suas lágrimas delicadamente e sorriu triste.
- Talvez estejamos mais para o homem aranha, afinal em todas as terras as amadas do Batman sabem que ele é o Bruce. - Ela o abraçou.
- Nesse caso então somos Batman, eu só quero saber quem eu sou nessa versão a Talia al Ghul ou Selina Kyle.
- Você esqueceu-se da mulher maravilha, da Vicki Vale, da canário...
- Pensando bem, não quero mais namorar o Batman, eu fico mesmo com o homem aranha. - Interrompeu-o sorrindo e beijou-o de leve, pelo menos era o que ela pretendia.
Ele a apertou em seus braços e a beijou com todo o desejo que havia em seu coração, ofegante afastou-se dela bruscamente.
- Desculpa, é melhor irmos antes que alguém nos veja. - Retrucou pegando-a pela mão e voltando a andar, o coração dela estava acelerado, e seu corpo tremia.
- Alex espera! - Ele a ignorou e continuou a andar. - Alex espera! - Alterou o tom de voz puxando a mão que ele segurava, ele passou a mão na cabeça.
- Desculpa, não posso andar segurado em sua mão. – Disse irritado.
- Não é só isso. – Disse constrangida. – Você não achou estranho, a Drica pedir para você me trazer sem ela?
- Não. O único motivo dela não ter gostado da ideia de eu levar a Telma, é por que realmente ela não gosta dela.
- Alex e se ela desconfiar de nós dois?
- E qual o problema se ela desconfiar de nós? O que exatamente você quer de mim Jemima? - Perguntou exasperado.
- Só um pouco mais de paciência, você não conhece o meu pai, o que você acha que vai acontecer se você for falar com ele?
- Não sei! E se eu nunca falar com ele eu jamais saberei. – Exasperado ele passou a mão na cabeça. - Mais tudo bem, vamos esperar, o ano que vem você vai para a faculdade, e no próximo serei eu, talvez quando isso acontecer nós poderemos finalmente ser um casal normal.
- Alex... - Ele colocou o polegar na boca dela silenciando-a.
- Não estou chateado com você, não é culpa sua se eu não sou o garoto que você queira apresentar à sua família.
O coração dela doeu profundamente com aquelas palavras, mas ela não sabia como fazê-lo compreender que o pai não aceitaria que ela se envolvesse com alguém que não fosse da igreja, ele não aceitaria o namoro não apenas porque ele simplesmente não gostava da família do Alex, mas porque o Alex era o que o pai chamava de mundano descrente.
- Você não entende! - Disse engasgada, ele a pegou pela mão.
- Vamos antes que seu pai ponha seus irmãos atrás de você. - Ele a beijou na testa e em silêncio saiu puxando-a pela mão, mas soltando imediatamente ela tentou de várias maneiras um diálogo, mas foi em vão, ele com as mãos nos bolsos da jaqueta e ela de braços cruzados andaram até a casa dela em silencio, constrangida ela sentiu os olhos arderem pelas lágrimas.
- Obrigada por me trazer para casa, nos vemos amanhã no ginásio? - Perguntou triste com a voz embargada, ele olhou-a e se aproximou tocando seus braços.
- Não fique triste. - Disse angustiado. - Nos veremos no ginásio amanhã antes da aula, desculpe-me, tem sido dias difíceis.
- Eu sei, só não esqueça que eu te amo. - Disse passando por ele indo direto para a porta, ele a observou entrar e só então foi para casa.
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Alex recebeu Patrick e a família em casa logo depois do almoço, ele vira o estadunidense apenas duas vezes, uma enquanto ele trabalhava com a Valéria em um caso de pedofilia em Palmas e outra no velório. A esposa dele Michelle lembrava muito o irmão Michael esposo de uma colega da irmã mais nova que ele conhecera no final do ano anterior suspirou, o final do ano havia sido complicado para ele e as lembranças daqueles dias ainda o deixavam angustiado.
- "E por que é que eu estou pensando nisso?". - Pensou frustrado.
- Enquanto os dois conversam senhora Olga, a senhora poderia me mostrar à cidade? - Perguntou Michelle os olhos escuros brilhando de empolgação.
Meio contrariada a senhora Olga concordou, pois as crianças ficaram muito animadas com a ideia de dar uma volta, assim saíram todas deixando os dois.
- O que te trouxe aqui Patrick.
- A sua esposa. - Respondeu sério encarando-o, surpreso Alex ficou em silêncio esperando. - Quando ela descobriu que estava doente ela me mandou algumas encomendas com instruções muito específicas do que eu deveria fazer e quando. - Ele tirou um envelope de uma maleta que Alex nem percebera que ele carregava. - E esta é para você. - Ele recebeu intrigado.
- Eu soube que você esteve em Paraíso. - Comentou naturalmente olhando o envelope e reconhecendo a letra perfeita da esposa. - "Para Alex, o homem que Deus me deu de presente". - Leu em silêncio.
- A senhora Jemima te falou?
- Não. O irmão dela, ele está preocupado com ela, ele disse que ela está mais triste e estranha depois que falou contigo.
- Compreensível! - Respondeu pensativo.
- A Valéria mandou você até ela? - Perguntou intrigado.
- Sim. A única coisa que eu posso dizer é que a senhora Jemima tem motivos para estar triste desapontada e extremamente ressentida e magoada, mas ela está iniciando o processo de cura, ela vai ficar bem! A Valéria deixou um material que vai deixa-la livre do Bruno e só dependerá dela por a vida em ordem outra vez.
- Eu espero que ela fique mesmo bem. - Disse pensativo encarando o envelope em sua mão, sabia que ele não lhe diria nada que Valéria não quisesse, por isso preferiu deixar para lá. - E quais eram as condições para este envelope chegar a minhas mãos?
- Quando eu levasse a encomenda à senhora Jemima, se você ainda estivesse solteiro sem nenhuma pretendente à vista, eu deveria te procurar e entregar este envelope.
- E quais eram as condições para você procurar Jemima?
- Ela decidir pelo divórcio ou ele passar dos limites. - Alex encarou Patrick por alguns instantes.
- A Valéria sabia que a Jemima sofria violência doméstica? E não fez nada?
- Alex, porque ela não fez nada ou não te disse talvez a carta te explique, por que eu mesmo eu me fiz essa pergunta, não combina com o perfil dela.
- Eu não entendo, se você tinha um material que pudesse fazê-la se livrar dele por que esperar que ela tomasse essa decisão? Por que deixa-la sofrer dessa forma?
- Porque a decisão de se separar tinha que partir dela, não poderíamos interferir na vida dela dessa maneira e, além disso, a sua esposa deveria ter os motivos dela.
- Vocês deixaram que uma mulher fosse humilhada, espancada...
- Chega Alex! A Valéria investigou, sofreu para tomar uma decisão que ia contra os seus princípios, para não tirar o livre arbítrio de uma pessoa que tinha toda a consciência do que estava se passando com ela. Você sabia que ela faz parte de um grupo de mulheres que ajudam outras mulheres que sofrem violência doméstica? Que ninguém nunca descobriu pelo que ela passava? Que você foi a primeira pessoa a presenciar um ato violento dele? E você também não fez nada. - Alex corou envergonhado, ele estava certo.
- Você estava vigiando ela. - Afirmou tenso, Patrick mexeu-se inquieto assentindo. - Você tem certeza que essas informações pode ajuda-la a se livrar dele?
- Sim.
- Ela quase morreu Patrick... - Levantou-se e foi até a varanda. - Você só estava cumprindo com as ordens da Valéria e eu entendo, mas e se ela tivesse morrido?
- Eu estava cumprindo com as ordens dela, mas as ordens dela também eram que se ele passasse dos limites com ela eu deveria intervir, eu lamento pelo que aconteceu o mês passado, mas a decisão deveria ser dela, e eu esperava mesmo que ela tomasse essa decisão antes que o pior acontecesse, e ela até cogitou essa possibilidade no final do ano, mas deu para trás. E sempre estivemos em oração para que nada de pior acontecesse com ela, eu sinto muito Alex, e espero que a Valéria tenha uma boa explicação para você nesse envelope porque sinceramente, eu não tenho. - Alex voltou à poltrona.
- O que você acha que aconteceu para que ele fizesse aquilo com ela? Ele nunca havia machucado ela daquela forma.
- Eu realmente não sei. Eu tinha um detetive atrás dele e um atrás dela, e não tenho nenhum relatório que indique o motivo para toda aquela violência. Ele a teria matado se o irmão não chegasse a tempo.
- Como assim? Pensei que ele não estivesse mais na casa quando o Felipe chegou.
- Ele saiu da casa depois que o Felipe chegou o investigador não sabe como o portão estava aberto.
- Estranho por causa do portão aberto o Felipe deduziu que ele havia saído antes dele chegar.
- Acha mesmo, estranho? Não acredita que tenha sido um milagre? - Alex recordou dos sonhos, Deus a salvara naquele dia.
- Se você sabe onde ele está, por que não manda a polícia atrás dele?
- Ela quer resolver isso de modo que ela não tenha mais nenhuma ligação com ele, ela só quer se livrar dele.
- Você acha que ela conseguirá se livrar dele assim tão facilmente?
- De imediato sim! Eu só não sei se em longo prazo.
- Como assim?
- O advogado dela vai procura-lo, ela pediu para eu acompanha-lo, com certeza ele vai conseguir um arranjo satisfatório, mas o problema de homens possessivos como ele, é que ele nunca esquece o objeto de sua possessão. - Alex mexeu-se inquieto, seu pai estaria cara a cara com essa criatura.
As mulheres chegaram e eles mudaram de assunto, e focaram toda a atenção às narrativas das filhas sobre o passeio. Naquela noite depois de voltar do culto com as filhas e a sogra, ele se fechou em seus aposentos e finalmente leu a carta de sua amada esposa.
Anapólis - GO, 10 de Outubro de 2006.
Oi meu amor...
Como eu disse talvez houvesse uma carta para você, e na verdade essa não é a única, mas existe uma chance de que algumas delas nunca chegue em suas mãos, todas elas tem uma condição associadas a elas para serem entregues a você; e se você está lendo esta carta significa que você ainda está sozinho e solitário, lembre-se meu amor, o homem não nasceu para viver só, não se entregue à solidão. Não sei o que o Patrick te disse sobre as minhas condições para que esta carta fosse entregue em suas mãos, mas além da sua solidão está associada a outra entrega, e espero sinceramente que você me perdoe por não te dizer que a conheci, lamento, mais eu não sabia como te dizer sem confessar algo que eu imagino que ela não quisesse que chegasse até você. Você lembra-se de um caso que eu estava trabalhando em Gurupi - Tocantins? Pois bem, eu conheci a Jemima naquela viagem, o esposo dela expulsou-a do quarto e eu a ajudei a ir até a rodoviária. Nós não dissemos uma palavra à outra sobre sabermos quem éramos, agimos como se não tivéssemos nos reconhecido, mas eu sei que assim como eu a reconheci ela também me reconheceu, eu não quis entrar em detalhes na época, a situação em que nos conhecemos não eram favoráveis para ela, eu nunca quis humilha-la, perdoe-me por não ter dito nada a você sobre esse encontro ou que eu a procurei quando procurei pelo Rafael, perdoe-me por não ter dito a ela as barbaridades que eu descobri sobre o marido dela, informações que dariam a ela força para pedir o divórcio e se livrar dele; não posso te falar sobre isso o segredo não é meu, mas a verdade é que eu não sei com certeza porque eu não fiz isso, eu te amo e sei que você me ama, mas eu sei que você a ama também, talvez eu tenha ciúmes, mesmo sabendo que você jamais me deixaria, mas eu sei que você sofreria horrores se soubesse do inferno em que ela vive. Se possível, por favor, não pense mal de mim, mesmo eu não tendo uma justificativa para deixar que uma mulher continue a sofrer nas mãos de um doente. Se você ainda não a viu procure-a, acredite-me ela vai precisar de toda a ajuda possível, não a deixe sozinha, nenhuma mulher merece sofrer o que ela tem sofrido. Eu te amo e quero que você seja feliz, não fique apenas em função das nossas filhas esquecendo-se de si mesmo.
Com imenso amor da sua Valéria.
P.S.: Se puder diga a ela que eu nunca quis que ela sofresse, e que eu espero que em algum momento ela me perdoe por eu não ter dito a ela tudo o que já sabia naquele dia em que fui à casa dela.
Beijos!
Valéria.
Continua...
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