Prólogo - Se os teus olhos forem bons, você terá luz.
São Paulo - SP, Junho de 1995.
Em pé na janela, Michael olhava o movimento lá fora, sentindo um aperto no coração que não sabia de onde vinha. Já ligara para a irmã e estava tudo bem por lá, até pelo pai perguntara e estava tudo em ordem; mas a sensação de que havia algo de muito errado acontecendo, continuava a perturba-lo. Em um impulso saiu do quarto.
- Se alguém me ligar, por favor, diga que eu volto logo. - Pediu na recepção, e saiu na noite fria.
🌧🌧🌧
Pablo e a esposa chegaram em casa junto com a chuva, ambos riam felizes entre beijos e abraços, pois nesses dezesseis anos de casamento eles ainda conseguiam ser tão apaixonados como no primeiro dia.
- Vou ver as meninas. - Ela disse ao marido que se dirigia ao bar. - Prepara um drinque para mim também. - Pediu e subiu as escadas correndo.
Distraído enquanto preparava os drinques assustou, deixando as bebidas caírem no chão, tamanho o desespero da esposa que descia as escadas correndo.
- Meu Deus mulher o que houve? - Perguntou aflito, indo ao seu encontro.
- A Claudia não está em casa. - Ela disse desesperada, e ele correu escada a cima.
Encontrou as outras filhas no topo da escada sonolentas.
- Cadê a irmã de vocês? - Perguntou angustiado, assustando as filhas que se abraçaram.
Ele respirou fundo, e tentou se acalmar.
- Me desculpa minhas filhas, cadê a Claudia? - Perguntou mais calmo.
- Não sabemos papai. - Respondeu Carla, a mais velha das três. - Ela disse que iria dar uma volta e não há vimos mais.
Mariana e Jéssica, largaram a mão da irmã e correram para a mãe, Pablo passou as mãos na cabeça, e abaixou ao lado da filha mais velha.
- Carla querida, aconteceu alguma coisa depois que saímos? - Perguntou o mais calmo que pode.
- Não! Não aconteceu nada. O senhor sabe que desde que ela descobriu que não é filha de vocês, ela está toda sensível, querendo chamar a atenção de vocês; e vocês brigando com a gente por causa dela. - Disse ressentida.
- Isso não é verdade minha filha. As coisas estão apenas um pouco confusas, mas logo tudo vai voltar ao normal. - Disse Pablo, tentando acalmar a filha.
- Verdade meu amor, o fato da Claudia não ter nascido da mamãe como vocês não significa que ela não é nossa filha ou irmã de vocês. - Complementou a mãe.
- Mas a Carla disse... - Começou Mariana.
- Cala a boca! - Gritou Carla.
- Não grite com a sua irmã. - Pediu o pai se levantando. - O que a Carla disse Mariana?
- Ela disse que a Claudia não é nossa Irmã, e que ela é uma bastarda. - Ele fechou os olhos.
- Pai o que é uma bastarda? - Perguntou Jéssica inocentemente.
Ele abriu os olhos e olhou para a esposa pedindo socorro.
- Eu falo com elas. Você procura pelo jardim, fala com o seu José talvez ela saiu. - Sugeriu incrédula.
- Claro! Vou dar uma olhada. - Disse correndo escada a baixo.
Ele também não acreditava que a filha tivesse saído, por mais que Carla a provocasse ela jamais sairia e deixaria as irmãs sozinhas.
🚶⚡⚡
Perdido em seus próprios pensamentos, Michael já não sabia a quanto tempo estava andando, e o pior não sabia aonde estava. Só agora observava que estava em uma rua escura, olhou para os lados preocupado sem a menor ideia de como voltar para o hotel, e o tempo estava piorando, não iria demorar a cair uma tempestade.
Como fora tão tolo para ir parar em uma rua tão deserta dessas? Resolveu voltar, o pânico começava a tomar conta dele. Virou rápido e tropeçou em alguma coisa, gritou assustado. Pegou a lanterninha de bolso, e iluminou no que havia tropeçado, gritou mais alto, ao ver um corpo.
- Oh, my God! - Gritou desesperado. O que eu faço agora? - Se perguntou em voz alta.
Olhava de um lado para o outro, e não havia ninguém. Parecia uma rua comercial, no entanto mal iluminada, e tudo estava fechado.
Tornou a iluminar o corpo, agora com mais atenção. Era um corpo feminino e parecia morta. Estava nua, e ensanguentada. Mas não poderia simplesmente virar as costas e ir embora. Totalmente apavorado, abaixou-se e verificou sua pulsação ainda viva. Respirou aliviado.
- Como eu posso te ajudar? Não faço ideia de onde estamos? - Tirou o casaco e a cobriu, e só então lembrou do celular no bolso do casaco. - Vou pedir ajuda.
Estava se sentindo um idiota, falando com um corpo inerte, tornou a olhar ao seu redor ninguém ainda, sentiu um arrepio, pensando nos filmes de terror que a irmã tanto gostava quando eram crianças. Claro que o aparelho não tinha sinal, de que adiantava ter uma tecnologia daquelas, se quando precisava não funcionava.
Saiu correndo e gritando por socorro, observando bem os detalhes do lugar, pois temia não saber como voltar. Avistou um bar aberto.
- "Graças a Deus." - Pensou, indo naquela direção.
- Preciso de ajuda! - Chegou gritando.
As poucas pessoas no bar, fizeram de conta que não ouviram. Indignado foi até o balcão, aonde um rapaz jovem fazia drinks, e conversava com uma garota.
- Por favor, eu encontrei alguém desacordado naquela rua. - Disse apontando na direção de onde viera.
- E o que você estava fazendo naquela rua? - Perguntou a garota observando-o de cima a baixo. - Você não tem pinta de quem frequenta aquelas bandas.
- Por aquelas bandas é perigoso moço, e sempre aparece gente morta por lá. - Disse o barman desconfiado.
Pela segunda vez naquela noite, ele entrou em pânico.
- Mas ela não está morta, por favor! Chame a ambulância, a polícia, sei lá qualquer coisa que se chama nessas horas, por favor! - Suplicou exasperado.
O casal se olhou desconfiado. E o barman saiu de trás do balcão.
- Você está é muito doidão, isso sim. - Disse ele se aproximando de Michael. - E te aconselho a dar o fora daqui, seja lá em qual encrenca você se meteu, não quero problemas no meu bar. Será que eu fui bem claro?
- Claro como água. - Disse Michael furioso.
Suspirando ele saiu do bar, sem saber o que fazer. Apesar de falar muito bem português, e de vir duas vezes por ano ao Brasil, não fazia ideia do que fazer em uma situação dessas. Foi então que Deus lhe enviou a solução, um policial entrou no bar.
- "Obrigado Deus!" - Pensou sorrindo.
- Senhor policial o senhor tem que vir comigo. - Disse eufórico.
- Como! Quem é você? - Perguntou o policial cauteloso, com a mão na arma.
- Tem um corpo logo ali, e ela ainda está viva. Bem pelo menos estava, quando a encontrei. - Ponderou pensativo.
O barman se aproximou.
- Você nem ouse ir atrás desse lunático, você sabe que é perigoso! - Alertou o barman.
O policial ficou alguns instantes olhando Michael nos olhos. Então voltou a sua atenção para o barman.
- Ele não me parece perigoso, liga pedindo reforços, eu vou com ele. - Disse batendo de leve no ombro do barman. - Não se preocupe, Deus cuida de mim. - Concluiu sorrindo.
- Você ainda vai matar a mamãe, por causa dessa farda. - Resmungou voltando para o balcão.
Michael olhou surpreso de um para o outro, vendo as semelhanças apesar das diferenças. Roupas, cabelos, tatuagens...
O policial sorriu, diante da surpresa de Michael.
- Todo mundo meio que fica com essa cara, quando descobre que somos irmãos. - Disse ainda sorrindo. - Vamos ver se a garota ainda vive.
Michael lembrou do que estava fazendo ali, e olhando para o policial como se fossem amigos de longa data, que não precisavam de palavras para se compreenderem, sairam os dois correndo do bar.
🌼🌼🌼
O condomínio Flor de Laranjeiras, estava todo acordado e alvoroçado. Ninguém vira Claudia, seu José o porteiro, garantiu que por ele, ela não havia passado. Não, ele não saiu da portaria. Não, ele não dormiu na portaria. A única pessoa estranha a entrar foi o entregador de pizza que foi até a casa da dona Margarida, e sim, ele saiu sozinho. Morador a sair, só o filho do senador Érico, com um amigo da faculdade, e sim, saiu só os dois, e voltaram só os dois, pelo menos foi o que ele viu, os garotos saíram com o carro oficial do senador, então era impossível ver lá dentro, mas os garotos se mostrou para ele, como era de praxe, por ser fora de hora e não ser o senador, e os garotos confirmaram.
Pablo já estava agoniado com a polícia, que ficava fazendo perguntas tolas e não saíam para procurar sua filha. Partia-lhe o coração, ver sua esposa abatida e encolhida no sofá daquele jeito, mas não havia o que fazer, a não ser esperar. Distraído não ouvira o telefone tocar, mas percebeu o movimento da esposa, quando ela correu para o aparelho.
- Alô! Alô! - Atendeu desesperada. Ele correu até ela, e ela olhou tristemente para ele, negando.
( ... )
- Claro Stivie, já estou passando para ele. - Ela lhe entregou o aparelho, e voltou para o sofá.
- Oi Stivie.
- Desculpa meu amigo, pelo adiantado da hora, mas estou com problemas, e é o tipo de problemas que só posso confiar a um amigo como você. O Mike está encrencado.
- O que aconteceu com ele? - Perguntou passando a mão na cabeça.
A esposa pulou do sofá, ao notar a mudança na voz do esposo ao fazer aquela pergunta, foi ficar ao seu lado. Nunca foi muito próxima do Stivie, mas sabia que ele era o amigo mais querido do esposo, e pela segunda vez naquela noite ela viu o esposo ficar pálido, pegou na mão dele que estava gelada.
- Claro! Eu estou indo lá agora. - Disse apertando a mão da esposa. Desligou e olhou-a nos olhos. - O Mike está com problemas. E eu estou indo lá para ajuda-lo.
- Pensei que o Stivie não gostasse do filho. - Disse desdenhosa.
- Imagine! Ele tem lá seus problemas com o filho, mas com certeza ele o ama. - Ele disse apertando as têmporas. - Você se importa, se eu te deixar sozinha por algumas horas? - Perguntou preocupado.
- Claro que não! - Beijou-o. - E não estou sozinha. - Disse olhando para todos os vizinhos que estavam na sua sala.
Pablo saiu pensado no motivo pelo qual haviam prendido o Mike, claro que ele jamais faria mal a alguém, mas não conseguia tirar da cabeça, que havia uma família em algum lugar, que assim como eles estavam também caçando a filha, e irião receber uma notícia terrível.
- "Já imaginou se for sua filha?" - Seu inconsciente lhe alertou.
- Que tolice, seria coincidência demais que o filho do meu melhor amigo encontrasse minha filha nessa situação, e isso que eu não sei o que eu faria, se acontecesse uma coisa dessa com uma das minhas filhas. - Ele disse em voz alta, tentando afastar o pânico, entrou no carro sacudindo a cabeça.
🚔🚔🚔
Michael estava pensando em como, ele tinha o dom para se meter em encrenca, até quando fazia a coisa certa se dava mal. Como dizia o pai, ele tinha um radar para confusão. Lembrou da avó, e no que ela diria naquela situação, sorriu ao imaginar a avó dizendo:
- "Foi Deus quem te colocou naquele lugar para que aquela garota tivesse uma chance, Deus sabe de todas as coisas, nós? Nós não sabemos é de nada!".
Quando se deu conta estava rindo às gargalhadas, e os outros presos olhando para ele estupefatos.
- "Com certeza estão pensando que eu sou louco, bem talvez eu seja mesmo afinal, quem em sã consciência iria sair por aí à pé, sozinho à noite, por lugares que não conhece em um país estranho? Acho que nem mesmo em seu próprio país." - Pensou ficando sério.
- Michael Stuart Fox! - Chamou o guarda.
- Sim! - Respondeu ele.
- Seu advogado está te esperando. - Disse abrindo a cela. - Venha comigo por favor!
- Advogado? - Perguntou confuso.
A irmã disse que iria falar com o pai, e claro que ele sabia, que o pai iria ajuda-lo, mas imaginou que ele iria dar um castigo nele pelo menos até o dia seguinte.
Acompanhou o guarda até uma sala, aonde um senhor muito distinto que ele nunca vira antes, o aguardava. Michael ficou de pé olhando-o desconfiado, havia algo estranho e desesperador no olhar deste homem, além de parecer cansado e abatido.
- Por favor! Mike, sente-se. Eu estou realmente muito cansado para ficar olhando para cima para falar com você em pé, e eu não tenho nenhuma intenção de ficar em pé.
Era alguém íntimo do seu pai, ou não o chamaria de Mike, ele obsevava o senhor atentamente.
- Quem é o senhor? - Perguntou desconfiado.
- Sou o Pablo, seu advogado e amigo do seu pai. - Disse melancólico.
- Que tipo de amigo você é do meu pai?
- Perguntou ignorando a tristeza que viu no olhar do homem.
Pablo respirou fundo, já imaginara esse tipo de desconfiança, ele sabia o que os filhos do Stivie, achavam dos negócios paralelos do pai. E entendia exatamente porque dos amigos que ele tinha no Brasil, apenas Pablo poderia ajudar o filho; porque Stivie sabia que o filho era capaz de desejar permanecer preso, a receber a ajuda de um advogado corrupto.
- Se você quer saber, se eu tenho negócios obscuros com o seu pai a resposta é não. E por favor, senta, e me diga o que houve, porque eu estou com um problema gravíssimo e preciso voltar para casa.
Michael encarou-o ainda mais desconfiado, mas algo em seu olhar inspirava confiança. Então suspirou e sentou, afinal estava longe de casa, em uma situação bem delicada.
- Bem melhor. - Disse Pablo. - Me diga a sua versão dos fatos. - Pediu.
- Eu já falei isso inúmeras vezes. - Gemeu. Pablo olhou-o sério. - Ok! Sai para dar uma volta e me perdi. Quando percebi que estava perdido, foi que tropecei nela, ela estava lá jogada na calçada. - Ele sentiu um arrepio só se lembrar. - E pedi socorro.
- Você tocou no corpo dela? - Perguntou folheando uns papéis.
- Só no pulso para ver se... - Engoliu seco, estava cansado de ficar repetindo essa história. - Para ver se ela estava viva, não sei de onde aquele idiota tirou que sou o responsável por aquela barbaridade.
- Você sabe que vai passar a noite aqui, porque você o chamou de idiota não sabe? - Perguntou levantando a cabeça, e encarando-o.
- Não. - Respondeu surpreso. - Ele me disse que eu iria ficar aqui até ficar provado que eu não fiz nada daquilo.
- O policial que te acompanhou e o irmão dele, eles depuseram a seu favor, e os exames preliminares indicam que o único lugar no corpo dela que tem sua digital é o pulso direito, não há sangue dela em você, exceto no casaco, mas o policial confirmou que ela estava coberta com ele, quando vocês chegaram. A grande questão são os exames de laboratório para verificar se o seu DNA está nela, e precisamos esperar pois os favores que eu cobrei não chegavam a tanto, mas se você quiser, tem amigos do seu pai que podem acelerar esses procedimentos e amanhã pela manhã teremos os resultados. - Perguntou encarando-o.
- Não! Obrigado pelo senhor ter conseguido acelerar o lance das digitais. - Agradeceu constrangido.
- Não por isso! E você não vai poder sair do país, até esses exames ficarem prontos e a justiça te liberar.
- Entendo! Mas eu vou mesmo ficar preso a noite toda? Eu só quis ajudar!
- Eu sei. Eu pedi ao policial, que venha até aqui para conversar comigo. Vou ver se consigo um acordo com ele, para ele retirar a queixa de desacato contra você.
- Você não vai suborna-lo, vai? - Perguntou assustado.
- Claro que não! Eu não faço esse tipo de coisa. Mas seu pai, é outra história; e não queremos ele envolvido nisso não é mesmo?
- É verdade! Enquanto esperamos será que o senhor poderia ver se descobre alguma coisa sobre a garota, se já sabem quem é ela, e como ela está?
- Claro! Mas o delegado disse que ainda não sabem quem é ela.
- Como não? E as digitais dela? Se já verificaram as minhas, porque ainda não verificaram as dela? - Perguntou confuso.
- Não entendi direito, mas fizeram alguma coisa nos dedos dela e não conseguiram tirar as digitais.
- Tinha mesmo muito sangue nas mãos dela. Mas eu pensei... - Ele colocou as mãos na cabeça. - Nem sei se pensei alguma coisa. - Falou distraído. - Só me lembro, de pensar que o sangue na mão dela, estava seco e escurecido o que fazia com que a rosa que ela tinha no pulso... - Pablo agarrou o outro pelo colarinho, com os olhos cheios d'agua.
- O que você está falando? - Gritou completamente transtornado.
- Está louco cara! Me larga. - Gritou Michael.
Os guardas entraram correndo, tirando Pablo do colarinho do Michael, que estava desesperado. Os guardas tentaram afastar Michael, mas Pablo não falava coisa com coisa.
- Não pode ser! Não pode ser! - Dizia Pablo sem parar.
- Senhor por favor, qual o problema? - Perguntou Michael preocupado. - Me desculpa, mas não estou entendendo.
- Está tudo bem senhor? - Perguntou o guarda. E Pablo se controlou o máximo que pode.
- Você verificou o pulso direito certo? - Michael olhou confuso para os guardas, ele próprio havia lido que as digitais dele estavam no pulso direito da garota.
- Sim. Como o senhor acabou de ler no relatório.
- E você disse que ela tinha uma rosa... - Engasgou, não conseguia respirar, estava tendo um pesadelo.
- Sim, senhor! Ela tem uma rosa tatuada no pulso direito. - Esclareceu confuso.
Pablo desmaiou. Por alguns instantes, ficaram todos, lá parados, olhando para ele, a surpersa de um homem daquele tamanho desmaiando deixou a todos chocados.
Michael foi o primeiro a sair do torpor, e então foi tudo muito estranho, chamaram a ambulância, e mandaram Michael de volta para a sela; sem nenhuma satisfação.
🌹🌹🌹
- Michael Stuart Fox! - Chamou o guarda. - Você é popular cara! Nunca vi isso por aqui. Espero que você não faça mais ninguém desmaiar hoje.
Michael o seguiu, pensando no que seria agora, nunca passara uma noite preso, e a experiência foi demasiado desagradável e a falta de cafeína o estava deixando louco. O guarda bateu na porta.
- Está aqui doutor o meliante. - Anunciou empurrando-o porta adentro.
- "Meliante é a mãe!" - Pensou frustrado.
O cheiro de café, fez com que ele se sentisse mais desanimado, com certeza seria perca de tempo pedir uma xícara de café ao delegado; sua barriga roncou fazendo-o lembrar que só almoçara no dia anterior e que não comera mais nada, estava faminto.
- Bem rapaz, não posso mantê-lo aqui. Ainda não temos os resultados do DNA, e a única digital encontrada foi a sua; eu não acho que você sozinho tenha feito aquela monstruosidade, mas acho sim que você foi cúmplice, mas não tenho provas, e até o meu policial, retirou a queixa de desacato contra você. Você está livre da cadeia, por enquanto mas até que eu te libere, você não pode sair do país, nem mesmo daquele hotel. Você entendeu o que eu disse?
- Entendi sim senhor, não ficarei preso aqui, eu ficarei preso no hotel! - Disse sarcástico.
- Cuidado rapaz! Eu posso te manter aqui por desacato. - Retrucou mal humorado.
- "Será que essa pessoa sabe o que é desacato?" - Pensou indignado.
- Sim senhor, lamento! O senhor tem notícias da garota? - Perguntou mudando de assunto.
- Não tenho, e não é da sua conta. A única coisa que eu sei, é que eu quero você fora da minha delegacia, já que não posso mantê-lo preso. Os dois se encararam.
- As minhas coisas Senhor. - Pediu Michael sério.
- Ah, sim! Aqui estão. - Entregou-lhe um saco plástico com seus pertences, e um sorrisinho irônico.
Michael saiu apressado.
- "Graças a Deus, estou livre!" - Pensou correndo para alcançar um táxi que estava parando do outro lado.
Agradeceu à pessoa que saía do táxi, e perguntou se o motorista sabia aonde ficava o hotel, pois não fazia ideia do endereço, o motorista confirmou, e ele se jogou no banco.
Ao chegar ao hotel, e foi pagar o táxi sua carteira estava sem um centavo
- Filho de uma... - Começou irrado, mas viu o olhar suspeito do motorista e suspirou. - Me desculpe, mas estou sem dinheiro aqui, o senhor pode ir até a recepção comigo? Ou o senhor pode esperar...
- Eu vou até a recepção com o senhor. - Disse já abrindo a porta do carro.
Os dois seguiram para o hotel.
- O senhor me espera aqui? - Perguntou constrangido, odiava pessoas desonestas; aquele delegado foi desonesto com ele.
- Por favor, não demora! - Disse indo até a recepção.
Michael correu até o quarto, pegou o dinheiro e voltou; não demorou nada. O motorista o agradeceu, deu-lhe seu cartão e saiu.
- Senhor! - Chamou o recepcionista. - O gerente disse que quando o senhor chegasse era para procura-lo imediatamente.
- "Lá se foi meu café" - Pensou frustrado.
- Tudo bem! - E seguiu para a direção que o rapaz indicou.
- Bom dia senhor! - Cumprimentou Michael da porta.
- Bom dia, por favor entre. - Disse constrangido. - Eu lamento senhor, mas a polícia veio até aqui com um mandado, eu tive que permitir que eles vasculhassem o seu quarto. Ainda está do mesmo jeito, porque eu acho que seria melhor o senhor verificar se não está faltando nada. E o senhor está bem? Está precisando de alguma coisa?
- Está tudo bem! Não se preocupa, foi só um mal entendido, e já foi resolvido. Quando o senhor puder mandar alguém para arrumar o quarto pode mandar, não creio que tenha sumido alguma coisa; agora se o senhor não precisar mais de mim...
- Não! Não preciso, por favor peço desculpas em nome do hostel pelo transtorno.
- Obrigado senhor! Agora se me da licença. - Disse inclinando a cabeça.
Foi quase correndo para o quarto, que estava uma desordem sem igual. Levando em conta o dinheiro que havia sumido da sua carteira, não se surpreenderia com falta de algumas coisas, mas estava sem tempo para isso. Passou por cima de tudo e foi direto para o telefone.
- Oi. - Cumprimentou a irmã.
- Michelle...
- Graças a Deus! Não dormi nada a noite, preocupada com você. - Ela o interrompeu.
- Eu estou bem maninha! Não se preocupe, agora me diga você conhece o advogado que foi na delegacia me ver?
- Não. Não conheço por quê? Aconteceu alguma coisa? - Perguntou preocupada.
- Está tudo muito estranho, veja com o pai? E pede para ele descobrir alguma coisa sobre a garota?
- Está bem, eu vou falar com ele e daqui a pouco eu te ligo.
🌹🌹🌹
Dona Marta chorava ao lado da cama da filha. Sentiu o esposo a abraçando, e o choro aumentou.
- Porque fizeram isso com a nossa filha? - Perguntou soluçando.
- A questão minha querida, 'é quem', fez isso com ela.
- Você tem certeza que o filho do Stivie não tem nada haver com isso? - Perguntou de repente.
- Certeza absoluta! Mesmo se não tivesse os exames de laboratório, ainda assim eu acreditaria nele. Ninguém que participaria de uma monstruosidade dessas, faria o que ele fez, mesmo se chamasse a polícia, chamaria e daria no pé. E além disso, ele não sabe quem ela é, e quem fez isso com ela, sabia bem quem ela é! - Disse pegando a mão da filha e observando seus dedos cortados.
- O que será que eles usaram para corta-la? - Perguntou voltando a chorar. - Minha filhinha sentiu tanta dor!
- A polícia acredita que tenham usado gilete ou estilete devido as espessuras dos cortes.
- Pablo, eu quero ir embora. Não quero continuar aqui. Quando a Claudia receber alta, nós vamos embora, para qualquer lugar, aqui eu não fico mais.
- Que ideia mulher, e nós vamos para onde? - Perguntou exasperado.
- Não faço a menor odeia. A única coisa que eu sei, é que...
- AÍ. - Gemeu a filha, interrompendo-a.
- Minha filha, graças a Deus. - Em prantos abraçou a filha, que gemeu.
- Aí mamãe! Doí tudo. Nossa o que aconteceu comigo, eu fui... - Parou de repente, lembrando do que acontecera.
- Não! Minhas irmãs, cadê minhas irmãs? - Gritava tentando levantar, mas parou bruscamente gemendo e chorando de dor. - Oh, meu Deus! - Chorava desesperadamente.
A enfermeira veio rápido e lhe aplicou uma injeção.
- Calma meu amor, agora você está segura! - A mãe tentava acalma-la.
Pablo sentou em uma poltrona, e com as mãos no rosto começou a chorar silenciosamente, e conforme Claudia se acalmava, o seu pranto aumentava.
Continua...
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