77 - O amor deve ser sincero.
Claudia ainda tomava o café da manhã quando Michael chegou, para eles irem à escola bíblica, ficara surpresa quando ele ligara dizendo que iria busca-la, pois ela pensara que ele estaria muito cansado, três horas da manhã ele e os amigos ainda estavam limpando o salão da igreja, e mais surpresa ficou quando ouviu a campainha, arqueando a sobrancelha foi atender.
- Bom dia! - Cumprimentou ele beijando-a nos lábios.
- Bom dia! - Respondeu sorridente. - O que deu em você? - Perguntou corada diante do olhar dele.
- Nada! - Respondeu abraçando-a. - O que você me diz de irmos visitar meu pai e Lauren?
- Oi!
- Sim. Eu, você e a Katie.
- Pensei que Lauren viesse busca-la.
- Sim. Mas se nós formos ela não precisará vir.
- Você quer ver o seu pai antes do julgamento, não é? - Ele assentiu, o julgamento de Stivie seria no fim do mês, ela o abraçou.
- Eu vou amar vê-lo também. - Sussurrou no ouvido dele. - Vamos para Nova York, terei tempo de ir à biblioteca?
- Meu Deus! A Carla tem razão, se eu quiser a sua companhia em uma viagem não poderei te levar onde tem bibliotecas, principalmente se for bibliotecas famosas e importante. - Disse sorrindo, ela se afastou.
- A Carla disse isso? Que horror! Você é mais importante que qualquer biblioteca!
- Eu sei disso, principalmente se eu não ficar entre você e a biblioteca.
- Isso foi a Mariana quem disse, eu tenho que ter uma conversa muito séria com minhas irmãs, afinal o que elas querem? Te assustar? - Ele sorriu e ela também. - E a Jéssica disse o quê?
- Para eu nunca te interromper quando você estiver lendo um livro, mesmo que você já tenha lido esse livro vinte vezes!
- Ainda bem que a Lorena e o Lucas ainda não tem nada para dizer. - Disse abraçando-o.
- Na verdade... - Ela se afastou franzindo o cenho. - Ele disse: "Se ela for tão parecida com a Lorena como nos parece, seja paciente quando ela tiver com uma ressaca literária", e ela disse: "Se for assim, jamais fale mal dos romances água com açúcar, e seja compreensível quando ela quiser degolar algum personagem". - Ele concluiu gargalhando, apertando-a nos braços, ela riu.
- Estou perdida com esses meus irmãos.
- Perdido estou eu que, apesar de estar na área educacional, não sabia o que era uma ressaca literária, aliás eu nem sabia que isso existia. - Disse sério, pegando o rosto dela entre as mãos. - Isso é sério? - Ela assentiu. - Tá bom! Eu vou casar com uma mulher que não bebe, mas que eventualmente poderá vir a ter uma ressaca?
- Raramente isso acontece, mas sim é possível. - Ele a encarou de testa franzida. - Eles não te falaram o que é uma ressaca literária?
- Falar eles falaram, mas que é estranho você tem que convir comigo que é! - Ela sorriu.
- Na verdade, eu me apego muito aos livros que eu leio, já aconteceu de eu ler um livro que não é meu, seja emprestado ou de uma biblioteca, e eu comprar esse livro porque eu vou quer lê-lo novamente, com certeza! Mas nunca tive uma ressaca literária, antes de nossas vidas virar de ponta cabeça, eu passava horas comentando sobre os livros que eu lia com a Mel, o Guto, e as minhas irmãs, a Mariana e o Guto gostavam de ler, mas não eram obcecados como eu. - Lembrou com um aperto no peito. - E depois que eu soube que era adotada, e me afastei de todos eles...
- Não pense mais nisso. - Interrompeu abraçando-a. - Você já fez as pazes com as suas irmãs, e no dia em que você estiver preparada, procure seus amigos. - Carinhou seus cabelos delicadamente
- Por enquanto se você não se importar eu gostaria muito de ir à biblioteca pública de Nova York com você. - Disse beijando sua cabeça.
- Será um prazer! - Respondeu se afastando e beijando-o, ele passou as mãos pelas costas dela aprofundando o beijo. - Mike... - Ela sussurrou, mas continuou a beija-lo.
- Humm! - Suspirou ele, apertando-a, ela sorriu e se afastou pesarosamente.
- Preciso arrumar a cozinha e terminar de me arrumar, vamos nos atrasar. - Sussurrou.
- Verdade! - Disse olhando o relógio. - Vai se arrumar que eu arrumo a cozinha.
- Já tomou café?
- Não se preocupe, vai se arrumar. - Beijou os lábios dela e foi para a cozinha.
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Dias depois Claudia estava arrumando as malas para viajar com Michael e Katherine quando ouviu a campainha, deixou que Luciana fosse atender, e continuou a fazer o que fazia cantarolando.
- Entre. - Disse ao ouvir Luciana bater na porta.
- Doutor João, pai da aluna Cristina está te esperando na sala. - Encarou-a surpresa.
- Ele disse alguma coisa?
- Não. Disse apenas que quer falar contigo. - Ela assentiu e passou pela amiga.
- Bom dia. - Ela o cumprimentou apreensiva, o comportamento de Cristina havia melhorado bastante, ela e Katherine estavam mais próximas, e vez ou outra as duas eram pegas juntas conversando e sorrindo.
- Bom dia. Desculpe-me vir à sua casa assim sem avisar, mas eu gostaria muito de falar com você.
- Não se preocupe com isso, por favor! - Disse indicando o sofá. - Em quê eu posso ajuda-lo?
- Eu estou preocupado com a Cristina. - Disse sentando, ela sentou no sofá em frente.
- Preocupado? Mas na escola aparentemente ela estava bem. - Respondeu intrigada.
- Ela está ótima! Na verdade em casa ela também melhorou bastante comigo e com a mãe, a questão não é essa. - Ele suspirou encarando-a. - Eu pedi o divórcio, e infelizmente a Carol não reagiu bem, eu temo pelo que ela possa fazer com a minha filha, eu sou adulto e ela me fez uma lavagem cerebral, imagine o que ela não pode fazer com uma criança?
- O senhor deveria falar com a psicóloga, ela saberá lidar com essa situação melhor que eu.
- Eu falei com a Vick, mas eu gostaria que a senhora pudesse dar uma mãozinha a ela, foi graças ao seu trabalho com ela que ela melhorou.
- Na verdade foi um trabalho em equipe, a Raquel e a Vick me ajudaram. E na escola o senhor não precisa se preocupar o que estiver ao nosso alcance com certeza faremos.
- Obrigado! - Agradeceu levantando-se. - Eu a mandei para a casa dos meus pais, ela está triste com a separação, mas ela agiu melhor do que eu esperava, a minha preocupação é quando ela retornar, por isso eu gostaria do apoio de vocês.
- Estaremos lá para o que ela precisar. - Despediu-se dele na porta, ele sorriu agradecido.
Era gratificante ver essa mudança não apenas no pai, mas na filha também; lamentava que a mãe não se esforçava para melhorar pelo bem da própria família, Victória bem que tentou, mas parece que a família não é o foco principal daquela senhora.
Esse foi seu primeiro grande desafio no trabalho, e agora com o semestre chegando ao fim, ela se alegrava por ter conseguido ajudar as duas crianças a se respeitarem e a respeitarem as suas próprias famílias, e as famílias dos outros também e principalmente se alegrava por não ser mais aquela mulher assustada e desconfiada que entrara naquela escola naquele primeiro dia, naquela reunião que lhe parecia uma coisa de outro mundo.
- "Obrigada Deus, por nada em mim ser como era antes. Obrigada por esta nova mulher, corajosa, firme, decidida e principalmente Senhor por ser temente a Ti, por confiar meus dias a Ti, obrigada por tudo que fizeste por mim e para mim". - Pensou voltando para o quarto.
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Michelle foi busca-los no aeroporto, apreensiva ela entrou no carro, Katherine pediu para ir na frente com a tia, as duas falavam sem parar, Michael não parava de mandar mensagem pelo celular; distraída ela encostou no banco e ficou olhando o movimento efervescente nas ruas. Fechou os olhos era estranho pensar que morou nessa cidade por mais de um ano, e as únicas recordações que tinha dali, era que tentara suicídio e fazia um frio infernal, sorriu intimamente ao pensar na ironia da situação, quantas vezes não dissera o 'calor infernal de Palmas', agora estava pensando no frio infernal de Nova York.
- "Ainda bem que julho não faz tanto frio, apesar das chuvas, Deus criou o mundo tão perfeito, se o homem ao menos não estragasse tudo em que põe a mão". - Pensou encolhendo-se.
Estar ali de volta a deixava empolgada e nervosa, o que Nova York teria a lhe oferecer agora que não estava presa em uma clínica? Quais expectativas ela poderia ter desta viagem? Desde que deixara a clínica Life is sweet, não voltara mais ali, e prometera a si mesma na época que jamais voltaria a por os pés naquela cidade, censurou-se, o que aquela cidade poderia ter haver com os seus infortúnios passados? Foi ali que parte de suas cicatrizes físicas foram removidas, ali ela conheceu Stivie e Lauren, ali ela e Lauren se ajudaram a sair do fundo do poço.
- "Não importa o quanto a situação é trágica e má, se a olharmos com o olhar que o Espírito Santo nos dá veremos algo bom e produtivo, obrigada Santo Espírito, por me mostrar que mesmo eu sendo tola e mesquinha o Senhor estava sempre comigo". - Pensou, sobressaltando-se com Michael pegando em sua mão.
- Desculpe-me! Te assustei? - sussurrou ele.
- Eu só estava distraída. - Respondeu sorrindo.
- Sua mão está gelada. - Comentou entrelaçando seus dedos nos dela, e com a mão livre a puxou para perto e ela deitou em seu peito. - Eu estou aqui para o que você precisar.
- Obrigada por isso! Quando eu vim para cá naquela época, eu estava tão destruída, hoje eu sou uma pessoa inteira ainda assim estou um pouco assustada, eu sei que não há o que temer, mas estou um pouco apreensiva. - Disse fechando os olhos e inspirando o perfume dele, ele era o porto seguro que Deus colocara em sua vida.
- Compreensível! Só deixa Deus cuidar de você, e me deixa ajudar no que compete a mim e ficar pertinho de você, tudo bem? - Ela assentiu.
Michael olhou pelo retrovisor e sua irmã olhava para ele, e ambos sorriram. Claudia não era a única que tinha problemas em voltar à Nova York, nos primeiros anos depois que decidira morar no Brasil, era sempre um sacrifício voltar, até fazer as pazes com o pai. Às vezes as lembranças tentavam assolar sua alma, mas agora ele não era mais aquela criatura movida pelas coisas ruins da vida, ele tinha conhecimento de seu potencial diante do Pai.
Suspirou profundamente quando Michelle parou em frente ao prédio em ficava o apartamento do pai, Claudia se afastou, e como sempre acontecia quando ela estava perto e se afastava ele desejou puxa-la, e mantê-la ali pertinho dele, como isso não era possível saiu do carro, pegou a mala de Katherine e pegou na mão de Claudia que o esperava e sorrindo para ela seguiu a irmã e a filha.
🌹🌹🌹
Na manhã seguinte Claudia acordou e por impulso, pegou a bíblia e saiu do quarto, e só então se deu conta de que não estava em casa, e de que Luciana não estava esperando por ela na cozinha para fazer o devocional, murchando voltou para o quarto lembrando do fuso horário, deitou, mas não conseguiu voltar a dormir pegou a bíblia, neste momento recebeu uma notificação de mensagem. Sorriu.
Leia Colossenses capítulo três versículos dezoito e dezenove. Qualquer dúvida, estou aqui. Eu te amo, aproveite tudo de bom que Deus está colocando na sua vida.
Luciana minha amada, muito obrigada! Eu também te amo, e o seu conselho serve para você também. - Sorrindo enviou a mensagem para a amiga e abriu a bíblia no texto que ela pediu.
- "Vós, mulheres, sede submissas a vossos maridos, como convém no Senhor. Vós, maridos, amai a vossas mulheres, e não as trateis asperamente". leu em voz alta, uma vez, duas vezes.
- O que você está tentando me dizer Luciana? - Perguntou a si mesma em voz alta. Pegou o celular para ligar para a amiga, alguém bateu na porta.
- Entre! - Respondeu, Michael entrou no sorrindo. - "Como é lindo!" - Pensou, não conseguindo deixar de olhar para ele, a camisa cinza de manga longa e gola alta, e sobretudo preto o deixava extremamente atraente. - "Com certeza esse tipo de vestimenta é perfeita para ele". - Pensou levantando e o abraçando.
- Você fica muito elegante de sobretudo, meu senhor! - Sussurrou no ouvido dele.
- Sério? - Perguntou escondendo o rosto nos cabelos dela. - Você também fica muito bem de moletom, minha boa senhora. - Sussurrou sorrindo, ela ficou corada lembrando que acabara de acordar, tentou se afastar do abraço, ele a apertou. - Você também não conseguiu dormir por mais tempo? - Mudou de assunto.
- Não, e pelo visto você também não. Preocupado com a Katie? - Ela se afastou e o puxou para sentar com ela na cama.
- Até que não! Pensei que iria ficar tenso e preocupado, mas graças a Deus não, sei que ela está bem com a mãe dela e o meu pai.
- Fico muito feliz por vocês, isso é muito importante para a Katie. - Disse beijando sua bochecha, ele sorriu e beijou o canto da boca dela deixando-a tímida. - Michael a Luciana me mandou uma mensagem, para eu ler Colossenses três. - Disse pegando a bíblia corada, ele encostou na cabeceira da cama ouvindo-a ler, a voz dela o acalmava e o alegrava.
- Qual a sua duvida? Para mim está claro, você deve fazer o que eu mandar. - Falou sério, ela franziu a testa, não tinha problema nenhum em agrada-lo desde que isso a agradasse também, ele gargalhou, ela jogou o travesseiro nele.
- Engraçadinho! - Resmungou cruzando os braços, ele a puxou para seus braços, ela apoiou a cabeça no peito dele fechando os olhos.
- Mike! - Disse ofegante, sentiu o coração dele acelerar, ele acariciou os cabelos dela e beijou-a na testa.
- Eu vou me comportar. - Disse sério olhando-a nos olhos. - Voltemos à carta aos Colossenses, - Ela voltou a se aconchegar nele. - em algumas versões é "sujeitai a vossos maridos", - Ela levantou a cabeça e o encarou.
- Só piora! - Disse sentando de pernas cruzadas, ele colocou o cabelo dela atrás da orelha.
- Não exatamente! Apesar do nosso dicionário dizer que submisso é aquele que está em uma posição inferior, não era sobre isso que o apóstolo Paulo estava falando; submissão está ligado diretamente a quê? - Ela refletiu um pouco.
- Um manda e o outro obedece. - Respondeu de mal gosto.
- Sim, de certo modo você está certa; e obedecer remete a quê?
- Não sei exatamente. - Respondeu constrangida. - A Luciana me disse algo sobre "que é melhor obedecer que sacrificar", mas isso é referente a Deus não?
- Na verdade se refere a liderança de uma maneira geral. Abra a sua biblia em primeiro Samuel quinze versículo vinte e dois, vou pegar a minha que é outra versão. - Disse pulando da cama. Ela abriu a bíblia e leu. - Qual a parte 'b' do versículo na sua versão? - Perguntou voltando a sentar.
- "... Ouça! A obediência é melhor que o sacrifício, e a submissão é melhor que ofertas de gorduras de carneiros".
- Veja que Samuel usou a palavra obediência e submissão na mesma frase? Por que você acha que ele fez isso?
- Que as duas palavras em sua raiz não significa a mesma coisa? - Perguntou tímida.
- Provavelmente. Ouça a minha versão, "... Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros". - Ela mordeu o lábio se concentrando.
- Ok! Vamos lembrar um pouco das insuportáveis aulas de linguística. Obedecer vem do latim que significa escutar com atenção, e submissão do latim significa abaixar o tom de voz, isso mesmo?
- Sim, e submissão do grego significa reconhecer a liderança. - Disse sorrindo, ela sorriu também.
- Ou seja, obedecer na prática seria ouvir com atenção, e submissão seria reconhecer uma liderança e abaixar o tom de voz, em outras palavras submissão está mais para respeito. - Ele sorriu.
- Pode se dizer que sim. No nosso trabalho por exemplo conhecemos pessoas que 'obedecem', pois fazem o que lhe mandam, mas não são submissos, pois não respeitam a pessoa que os lidera. Eu acredito que submissão tem haver com amor, respeito e o desejo da pessoa de servir ao outro, Samuel pedia obediência e submissão do povo para com Deus, pois Deus é o nosso Líder Supremo, e na vida terrena temos vários líderes, e o marido é o lider da sua casa, em Efésios cinco versículo vinte e três, o apóstolo diz isso e veja que o versículo dezenove de Colossenses três é uma orientação para os esposos. - Ela tornou a ler o versículo.
- Você deve me amar e não ser áspero comigo, seja sempre gentil. - Disse sorrindo.
- Exatamente. Na minha versão diz que eu devo te amar e não me irritar contra você.
- Gostei dessa versão. - Disse deitando no peito dele.
- Você só deve ser submissa a mim, se eu for submisso a Deus, se eu fizer qualquer coisa que fira a sua integridade física ou moral você não deve se submeter a mim. Haverá momentos em que eu terei que me submeter a você, pois nem sempre eu estarei certo ou estarei em um bom dia, e será o momento de você me mostrar que sujeitar-se a alguém é ajuda-lo a não se perder pelo caminho. Eu orarei a Deus todos os dias, para que ambos saibamos o momento de reconhecer a liderança do outro, eu serei o cabeça do nosso lar, mas você será a líder do meu coração, e eu não estou assustado, porque eu sei que o seu coração é cheio do Espírito Santo, seremos o primeiro sacerdócio dos nossos filhos, mas sei que você será a lider deles, e oraremos para que a família que Deus nos dará seja obediente e submissa a Ele, assim como nós seremos. - Ela secou uma lágrima que rolou por seu rosto, e o apertou.
- Eu já te disse o quanto eu te amo Michael Stuart Fox.
- Eu acho que não! - Disse a beijando. O celular dela tocou. - Eu acho que estão nos vigiando só pode! - Disse afastando-se para ela pegar o aparelho, ela mostrou a ele quem estava ligando e ambos sorriram.
- Oi Lauren!
- Estou indo para aí, vamos às compras e te levarei à biblioteca pública, mas dessa vez eu vou ficar lá contigo.
- Biblioteca primeiro?
- Não! Compras primeiro, eu te conheço e me lembro das vezes em que eu te levei lá.
- Tá bom! - Respondeu olhando o homem ao seu lado que lia a bíblia calmamente. - Lauren só um minuto. - Pediu. - Michael você tem alguma coisa planejada para nós hoje pela manhã?
- O que a Lauren está planejando? - Perguntou displicente, ela franziu a testa.
- Ir às compras e depois à biblioteca.
- Tudo bem, eu preciso fazer algumas coisas com o meu pai e a Michelle, quando vocês terminarem vocês me ligam.
- Tem certeza? - Perguntou em dúvida.
- Sim. Não se preocupe, divirtam-se, ela ficou sentida porque não teve a oportunidade de sair contigo quando esteve no Brasil. - Ela o encarou com a sensação de que havia alguma coisa errada, sacudiu a cabeça e se concentrou na ligação.
- Estarei te esperando. - Disse à Lauren e despediu-se.
- Vou deixar você se arrumar. - Beijou-a nos lábios. - Depois voltamos a esse assunto de você me obedecer. - Disse e saiu correndo, ela sorriu.
- "Devo estar imaginando coisas, igual aconteceu quando ele me pediu em casamento". - Pensou sorrindo, notificação de mensagem de Luciana.
E aí? Sem dúvidas sobre Colossenses? - Ela sorriu.
Muitas dúvidas! Kkkkk. O Michael me ajudou, mas não se alegre, quando eu chegar aí discutiremos esse assunto. - Enviou a mensagem.
- "Que eu seja a esposa sábia que o Senhor preparou para ele, e que ele seja o esposo digno da minha afeição que o Senhor preparou para mim, obrigada Deus"! - Pensou.
🌹🌹🌹
O primeiro lugar em que elas foram foi um ateliê de noivas, Claudia olhou mais desconfiada do que surpresa para Lauren que segurava na mão da filha como se fosse a coisa mais natural do mundo visitar um ateliê de noivas durante as férias.
- Eu e o Stivie vamos te dar o seu vestido de noiva, e como vocês já vão embora a semana que vem precisamos acelerar a confecção do vestido. Madame Margaret essa é a Claudia.
- É um prazer te conhecer. - A senhora olhava-a de uma maneira profunda que a deixou constrangida. - Espero que você goste do que já fiz. - Claudia encarou Lauren e depois Katherine, nos últimos dias a menina estava sempre lhe perguntando como ela gostaria que fosse o seu vestido de noiva.
- O que vocês duas estão aprontando?
- Nada! - Respondeu Lauren abraçando a filha. - Como eu disse o tempo de vocês aqui é curto, não sabemos o que acontecerá depois do julgamento, mas o mais provável é que o Stivie seja condenado, então queremos deixar tudo o mais orgabizado possível. - Emocionada Claudia a abraçou.
- Obrigada querida. - Agradeceu emocionada, a amiga também se emocionou as duas ficaram assim por algum tempo abraçadas, a estilista pigarreou.
- Você quer a saia bem volumosa, manga longa e decote imitando um 'v' raso e discreto, esse não entendi bem, seria tipo assim? - Fez um risco de um 'v' pequeno Claudia franziu a testa.
- Com licença! - Pediu pegando o lápis e riscando uma parte de um hexágono.

Foi tudo perfeito no ateliê, até falar no vestido da dama de honra, a estilista surpreendeu-se com a escolha de Katherine para desempenhar o papel.
- Ela não é grande para dama de honra? - Perguntou a estilista.
- Não. - Respondou Claudia rápido. Haviam conversado com a menina sobre isso, ela era alta para a idade de doze anos, mas Claudia não se importava com isso, sua única preocupação era se a menina ficaria confortável sendo dama de honra, e como ela mesma dissera que seria uma honra, ser a dama de honra no casamento do pai, como fora no casamento da mãe, então estava tudo resolvido.
- Eu preciso ir à clínica. - Disse Lauren saindo do ateliê. - Vocês se incomodam de irem à biblioteca sem mim?
- Não. - Responderam juntas, Lauren encarou as duas, sacudiu a cabeça sorrindo e seguiram para a biblioteca.
- Quando vocês estiverem prontas, - Começou Lauren. - pensando bem, minha filha quando você quiser ir embora me liga que eu venho busca-las, se você ficar esperando pela sua tia vocês sairão daqui quando fechar.
- Isso só aconteceu uma vez! - Disse Claudia corada.
- Porque das outras vezes eu não te deixei por sua conta e risco. - Disse sorrindo beijando as duas no rosto. - Divirtam-se, ensina minha filha a apreciar os livros, com moderação!
Claudia pegou na mão de Katherine e entraram na biblioteca lotada, havia esquecido que julho é o mês preferido da maioria dos turistas, pois apesar da chuva o tempo é um pouquinho mais quente que o normal.
Ela ficou a maior parte do tempo contando à Katherine a história da biblioteca, sobre os livros mais raros, da maravilha que era viajar nas fantasias de outras pessoas e saber dos sonhos e fantasias de mulheres que escreviam em um tempo em que elas precisavam de pseudônimo pois a literatura era um mundo masculino, e mesmo no início do século XXI ainda tinha mulheres usando pseudônimos masculinos pois as mulheres ainda não eram levadas a sério em alguns gêneros da literatura como a científica, ou mesmo séries policiais ou dramas.
- Algumas pessoas pensam que mulheres só escrevem romances? - Perguntou a menina séria.
- Infelizmente sim, há preconceitos contra a mulher em todo o meio que era predominantemente masculino.
- Quando eu for adulta eu quero ser uma sensei, meu sensei disse que não será fácil, mas se eu continuar me dedicando eu conseguirei.
- Com certeza! É difícil não impossível.
- Verdade. - Ela continuou fazendo perguntas sobre Amandine Dupin, Mary Ann Evans, as irmãs Brontë, Jane Austin. E sobre os livros favoritos de Claudia. - Tia posso ligar para a minha mãe? Eu estou com fome.
- Claro meu amor. - Ela ligou para a mãe e as duas foram esperar lá fora.
🌹🌹🌹
De cima do telhado Michael via o movimento de entra e saí das pessoas na mansão do pai, claro que ninguém morava lá e deixa-la apresentável em seis dias não seria fácil, ele sentiu um aperto no coração. Incontáveis vezes ele tentou fugir daquela mansão, não que alguma das tentativas de fugas tenha dado certo, pelo contrário todas foram tentativas frustradas e decepcionantes, e os seguranças nunca deixavam o garoto sair daqueles muros altos.
Quando finalmente foi para o ensino médio e o pai foi obrigado a envia-lo para a escola convencional, ele julgou-se livre para cuidar da sua vida como quisesse, livre da opressão e do olhar reprovador do pai, pois ele nunca o agradava em nada, até que um dia descobriu que o pai se alegrava quando não se encontrava com ele, e depois disso ele passou a evitar o pai o quanto fosse possível.
O pai amava a Michelle, tudo era para ela, ela era perfeita, e por muito tempo ele desejou descobrir o que havia de errado com ele que fazia dele tão imperfeito, não que ele tivesse ciúmes da irmã, longe disso amava a irmã mais do que conseguia amar qualquer outra pessoa, com exceção da avó a única outra pessoa que ele amava, odiava os empregados que diziam ao pai o que ele fazia só para vê-lo sendo castigado, pelo menos era o que ele pensava naquela época.
Desejou tanto descobrir o motivo pelo qual o pai o odiava, e quando finalmente soube desejou jamais saber, pois depois daquele dia o pai não foi o único a odia-lo, provavelmente a única pessoa que o odiava mais que o pai era ele mesmo, nunca teve propensões suicidas, mas por várias vezes desejou morrer, e graças a avó não virou um alcoólatra.
Conhecer Lauren transformou seu mundo cinza e sem graça em um mundo colorido e cheio de graça, ela era linda e alegre, totalmente o contrário dele, dois anos mais velha que ele e encantadoramente atraente não demorou para ele cair aos pés dela literalmente, ele se apaixonou de tal modo que ela era a única pessoa que ele via no mundo, seus desejos eram uma ordem, por mais absurdos que fossem, ele não media esforços para realizar o menor de seus caprichos; casar com ela era o mais natural para ele, e sem pensar duas vezes a pediu em casamento.
Ele se sentiu o cara mais sortudo e feliz desta vida quando ela o aceitou, ele era o seu porto seguro, ele sabia de todos os problemas que ela tinha com drogas, álcool, ex-namorados violentos, traficantes perigosos, ele acreditava que o amor dele era o suficiente para cura-la assim como acreditava que ela havia sido a cura para todas as suas dores e angústias.
Não poderia estar mais enganado, antes do casamento ela engravidou, ela não queria a gravidez, e demorou para aceita-la, o casamento não foi nada do que ele pensara e a maternidade a deixou assustada e totalmente enlouquecida, ela saia de casa e ficava dias ausente, e ele não podia mais sair para procura-la porque ele precisava cuidar da filha e ele sabia que ela não conseguia lidar com a filha.
Quando ela começou a compara-lo com o pai, ele pensou que era apenas a segurança e a confiabilidade que o pai passava às pessoas, ele odiava o pai e ele jamais lhe passara qualquer sentimento de segurança, mas ele percebia que as pessoas em sua maioria se sentiam seguras com ele, a única pessoa nessa vida que o pai não tratava com amabilidade era o filho, mas mesmo assim ele jamais imaginou que o pai estivesse de caso com sua esposa.
Na noite em que pegou os dois fazendo amor, pensou seriamente em mata-los, mas ele tinha uma filha, o pai já o odiava por ele ter lhe tirado a esposa, não poderia correr o risco de que a filha viesse a odia-lo por ele lhe tirar a mãe, então fez a única coisa decente que lhe cabia, pediu o divórcio e a guarda da filha, por causa dos problemas que ela tinha com drogas não foi difícil ele conseguir a guarda, claro que o pai quis interferir, pois algo que parecia impossível para todo mundo estava realmente acontecendo, o mafioso Stivie estava irremediavelmente apaixonado pela ex-nora, foi necessário a intervenção da avó materna para que ele desistisse de tirar a filha do próprio filho.
- Está fazendo o que aqui em cima? - Perguntou a irmã sentando ao seu lado.
- Só estou pensando. - Respondeu secando as lágrimas e deitando nas pernas dela, exatamente como fazia quando eles eram crianças e ele subia para aquele telhado ou fugindo do pai, ou correndo furioso depois de uma surra.
- Você está bem? É a primeira vez que você vem à essa casa desde o dia em que você os pegou juntos, você pode escolher outro lugar, até o papai concordou com isso.
- Eu estou bem, além disso eu os perdoei, não será as lembranças impregnadas nessas paredes que vão me derrubar, eu só preciso coloca-las em seu devido lugar, no passado. - Respondeu levantando a cabeça das pernas dela . - E, além disso esse lugar é perfeito para o que vamos fazer. - Lembrou saltando e estendendo-lhe a mão.
- Eu não gosto de te ver sofrendo menos ainda por causa do passado, não esqueça que eu te amo, e não sou a única a ama-lo. - Disse pegando na mão dele.
- Eu também te amo. - Disse abraçando-a. - Não se preocupe, eu estou bem mesmo, foi só um momento de recordações. Vamos temos muita coisa para fazer. - Os dois desceram de mãos dadas.
- Lauren ligou, houve um problema com a confeitaria, eles estão tendo dificuldades com os doces brasileiros. - Disse Michelle. - Ela deixou as duas na biblioteca e foi para lá, a Vick e a Carla estão indo ajuda-la.
- E como foi no ateliê?
- Lauren acha que ela está desconfiada de que estamos aprontando alguma coisa. - Ele sorriu orgulhoso.
- Eu ficaria surpreso se ela não estivesse desconfiada de nada. - A irmã apenas olhou-o e sorriu, o tumulto de gente trabalhando na casa os impedia de falar de assuntos pessoais. - Será que tudo ficará pronto a tempo? - Perguntou preocupado.
- Claro que ficará! - Respondeu abraçando-o.
Continua...
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