65 - O que perdoa a transgressão busca a amizade.
Claudia ouviu atentamente, prestando a atenção ao menor detalhe, timbre da voz, tremor no rosto, brilho no olhar, e tudo indicava que ele dizia a verdade, e algo totalmente contra o que ela pensava que fosse possível aconteceu, ela se sensibilizou com a história daquele rapaz que estava se expondo, que verdadeiramente estava arrependido do que fizera contra ela, e por incrível que pudesse parecer ela ficou feliz, não por ele estar sofrendo, mas porque ele se arrependia, e o primeiro passo para o perdão é o arrependimento.
Pelo canto do olhar ela viu o Sérgio e o Lucas chegando, franziu a testa pensando que o pai preferira não envolver a filha naquela história horrorosa, e por isso, Lorena não estava com eles. Voltou a atenção para o rapaz à sua frente.
- O que aconteceu quando você perdeu a consciência? - Perguntou sinceramente interessada, ele sorriu amargo.
- Acordei em um hospital, e no momento em que eu abria os olhos eu começava a gritar sobre o que havíamos feito, e os médicos me dopavam de novo, fiquei por algum tempo assim, até que o tio Aziz chegou e não deixou eles me doparem mais.
- E por que chamaram o advogado?
- Não sei. Mas eles precisavam dele para pagar a conta, e como eu estava passando por alguém esquizofrênico, e era menor de idade, eles precisavam também do meu tutor legal para me internar.
- Eles internaram você?
- Não. Eles não contavam que o tio Aziz não só acreditaria em mim, como me aconselharia a procurar a polícia.
- E você foi? - Ela perguntou confusa.
- Fui. Mas antes que eu falasse com o delegado, o Jorge me convenceu a não fazê-lo, afinal você estava morta e a única coisa que eu iria conseguir era destruir as nossas vidas, e eu iria deixar minha irmãzinha sozinha; o tio Aziz acreditava que eu estava exagerando por pensar que ele poderia fazer alguma coisa contra ela, já que ele é tio dela, mas eu não tive coragem de arriscar, eu não lembrava e ainda não me lembro de muita coisa do que aconteceu naquela noite, mas eu me lembro da perícia com que ele cortou você. - Disse passando as mãos pelos braços, ela suspirou. - Ela só tinha seis anos, desculpe-me, mas eu não poderia arriscar, eu percebi que para protegê-la eu precisva estar livre, e limpo, eu precisei contar tudo para o tio Aziz sobre a dependência que eu tanto me esforcei para esconder dele. - Ele balançou a cabeça. - Eu pedi ajuda a ele, e ele me mandou para uma clinica. E estou limpo desde então, se bem que tomo remédio para dormir, isso é classificado como dependência?
- Não faço a menor ideia. - Respondeu sorrindo, ficando séria logo. - E o que aconteceu com os outros?
- Eu não sei, depois daquela manhã nunca mais voltei ao bunker, e não vi mais nenhum deles, além é claro do Jorge, e do Leonardo que me procurou pessoalmente para me entregar a fita.
- Mas você sabe quem são eles?
- Não exatamente. Quero dizer não sei se eu poderia chegar até eles hoje, ou até mesmo naquela época, eu não sabia onde moravam, e apenas alguns que eu sabia quem eram os pais. Eu realmente não me interessava em saber quem eram.
- Mas vocês eram um grupo fechado e exclusivo!
- Sim. Para entrar no grupo tinha toda uma cerimônia, mas eu estava no grupo porque era enteado da irmã de um dos sócios, e era eu quem bancava o Jorge na época. - Respondeu cansado.
- Se eu resolver procurar a polícia, você conta para eles tudo o que você me contou? - Perguntou delicadamente.
- Sim, com certeza. Tudo o que eu lembro eu direi.
- E a sua irmã?
- Ela já sabe da história, e se sente culpada, por eu não ter feito a coisa certa por ter temido pela segurança dela, apesar que ela também acredita que o tio jamais faria qualquer coisa contra ela, mesmo ela ficando tão decepcionada com as coisas que soube do irmão e do tio, ela sabe quanto a amamos, e hoje eu também acredito que ele jamais teria feito ou permitido que alguém fizesse qualquer coisa contra ela.
- Não deve ter sido fácil para ela. - Comentou olhando-o nos olhos, ele respirou fundo.
- Ela ficou um tempo sem falar com todos nós, mas com o tempo ela foi nos perdoando, nós demos a nossa palavra a ela que nunca mais fizemos aquilo, acho que ela ficou mais decepcionada com os pais, por não terem me apoiado e ido à delegacia comigo, e ter passado a mão na cabeça do Jorge.
- Ela mora convosco?
- Não. Nenhum de nós moramos mais juntos, meu pai separou de Diana quando soube que o Jorge havia ameaçado a filha, mesmo que veladamente e que ele tenha dito incansavelmente que eu tinha entendido tudo errado. Eu e o Jorge moramos sozinhos desde que mudamos para cá e minha irmã foi embora quando soube do que fizemos com você.
- O que você fez com a fita que o Leonardo te mandou?
- Está com o tio Aziz, ela e uma carta minha, se acontecer qualquer coisa comigo ou minha irmã, ele leva imediatamente para a polícia.
- Como você sabe que a fita é verdadeira se você nunca quis ver?
- O tio Aziz viu, ele disse que eu deveria ver, mas eu não quis e nem quero, pra mim basta eu saber que a fita é verdadeira, ele está sempre querendo me dizer alguma coisa sobre essa fita, mas eu não quero saber.
- Você não lembra ao certo o que aconteceu, vê-la poderia te ajuda-lo.
- Eu tenho a fantasia de que eu não toquei em você até o momento em que ajudei o Jorge a te colocar e tirar do porta-malas, e se eu ver que eu participei daquilo eu vou preferir morrer.
- Entendo. - Olhou para a mesa das irmãs e do pai com o irmão, estava tarde e eles aflitos. - Eu posso te procurar amanhã?
- Sim. Mas se você for à livraria não vai sozinha. - Disse preocupado. - Eu não sei se eu poderia te defender sozinho, e amanhã o Jorge não estará trabalhando.
- Não se preocupe comigo, eu vou ficar bem. E você? - Ele tocou no próprio rosto inchado e deu um meio sorriso.
- Eu Também vou ficar bem, nunca imaginei que ficaria feliz por estar com a cara toda quebrada. - Disse sorrindo, e dessa vez o sorriso era verdadeiro.
- Por que foi mesmo que ele agrediu você?
- Porque eu não descobri nada sobre você, tipo, onde você está hospedada, se conhece alguém aqui, se vai ficar muito tempo, se reconheceu ele, se vai à polícia, coisas assim.
- Ele não perguntou se eu te reconheci?
- Você nunca viu nenhum de nós que estavamos no bunker naquela noite, com exceção do Jorge e do Leonardo, as probabilidades de você se recordar de qualquer um de nós era mínima.
- Você não me pareceu surpreso, por eu te reconhecer. - Comentou intrigada.
- Você disse que me conhece dos seus pesadelos, se levarmos em conta que o plano saiu da minha cabeça oca, acho justo Deus me mostrar em seus pesadelos.
- Deus! O que você sabe sobre Ele?
- A clínica que o tio Aziz me mandou pertence a uma igreja cristã evangélica. Eu aprendi uma coisa ou outra sobre Deus. - Disse triste olhando para o outro lado. - Mas eu sei também que Deus não é para mim, o que eu fiz com você não tem perdão.
Ele olhou para as próprias mãos, e Claudia percebeu que tremiam, por anos ela pensou que jamais perdoaria a qualquer um daqueles que fizeram aquilo com ela, e na verdade ela nunca havia pensado na pessoa que teve a brilhante ideia de usa-la como moeda de troca, ela não saberia dizer se não pensara nisso porque não levara o sonho a sério, ou se inconscientemente ela não queria pensar nesse assunto especificamente.
- Você não consegue se perdoar, por quê?
- Se eu não tivesse falado aquela estupidez para o Jorge, ele jamais teria pensado naquilo, acho que no fundo todos eles depois me culparam pelo que haviam feito. O Jorge me disse que o grupo dissipou depois daquela noite, nenhum deles superou o fato de que você havia morrido.
- Eles disseram a todos que eu havia morrido?
- Sim, segundo o que Jorge me disse hoje, a ideia foi do Leonardo, mesmo se a consciência de algum pesasse como estava acontecendo comigo, o fato de você estar morta faria com que nos sentíssemos pior, e apenas eles três sabiam quem era você, se não fosse a tatuagem eu não teria te reconhecido. - Ela olhou a própria tatuagem.
- Ela está diferente. - Comentou distraída.
- Não, ainda é a mesma tatuagem, apenas com uma rosa negra a mais. Quando eu te tirei do carro a única coisa que eu via era a tatuagem, não sei se pelo fato dela estar intacta, não sei. Anos depois eu perguntei ao Jorge porque ele não a danificou, ele me respondeu que não conseguiu.
Ela encostou na cadeira e fechou os olhos, pensando em sua tatuagem, foi através dela que o pai a descobriu, que o Michael e o Víctor Hugo a reconheceram, quem é capaz de compreender, os sinais que Deus usa? Agora por exemplo, não sentia mais raiva ou repulsa, sentia apenas pena de um bando de tolos, que provavelmente tinham uma vida miserável, e foram na 'onda' de pessoas que consideravam 'amigas'.
- Como vocês vieram parar aqui?
- Depois da clínica, eu comecei a ver as coisas de outra maneira, e percebi que a Diana e meu pai estavam destruídos pelo que havíamos feito, por mais que eles quisessem que fosse mentira, eles sabiam que era verdade, e todos viviam assustados, com medo de que a qualquer momento a polícia viesse atrás de nós, mas a polícia nunca veio, o que me fez acreditar que você estava realmente morta.
- A polícia nunca apareceu, porque em uma coisa o Jorge estava certo, o meu pai é mesmo muito influente, até onde eu sei o policial que ajudou no meu resgate desconfiou do Enrico, mas não era tão fácil assim investigar o filho do senador, e meu pai preferiu usar a influência dele para por o senador e a família para correr, como você pode vê não era só a sua família que queria jogar a sujeira debaixo do tapete.
- Sério? A polícia chegou a desconfiar do Enrico? - Perguntou confuso, ela suspirou.
- Sério! Está ficando tarde e minha família está ficando aflita, amanhã eu te procuro. - Disse levantando, ele olhou para os lados preocupado. - Não se preocupe, eu não ficarei andando por aí sozinha, e se cuida também. - Ela estendeu a mão à ele que pegou nervoso.
- Ok! Se for possível tente me perdoar um dia. - Ela apenas sorriu.
- Tente se perdoar também, porque Deus já perdoou você. - Disse séria, pois sabia que quando o arrependimento era verdadeiro Deus liberava o perdão.
- Não sei se algum dia Ele me perdoará, mas estou feliz por Ele ter me ouvido naquela noite e salvo você. - Respondeu sinceramente.
- Obrigada, por ter pedido por mim naquela noite, e por me contar a verdade agora. - Ela ia saindo e voltou. - Naquela noite eles sabiam que eu estava sozinha em casa com minhas irmãs, o que eles pretendiam fazer com elas?
- Eu não sei, eu não participei da elaboração do plano, não sei o que exatamente eles tinham em mente, assim como não sei como eles conseguiram te tirar de lá. - Ela apenas assentiu.
- A gente se vê.
- Moça! - Ela voltou-se para ele. - Ainda não sei o seu nome, todas as vezes que você foi mencionada era sempre a loira, não creio que seja esse o seu nome.
- Não mesmo, - Ela sorriu. - Nada contra loira, sou Claudia, é um prazer finalmente conhecê-lo Victor Hugo. - Disse estendendo-lhe novamente a mão.
- O prazer é meu Claudia. - Respondeu pegando na mão. - E obrigado a você por me ouvir.
Ele dirigiu-se para a porta e ela para a mesa onde estavam as irmãs. E as perguntas vieram como cascatas todas de uma vez.
- Meu Deus do céu! Pensei que não iria acabar essa comversa nunca. - Reclamou Mariana. - Quer nos matar de ansiedade?
- Você está bem minha filha? - Perguntou Sérgio.
- Afinal ele é ou não um dos caras? - Perguntou Lucas aflito.
- Pelo amor de Deus, senta logo e fala tudo. - Pediu Jéssica.
- Você quer sair daqui? - Perguntou Carla.
- Eu quero ir para casa, estou com fome. - Respondeu tranquilamente.
- O quê? - Perguntaram todos.
- Sim, e aí eu respondo a todas as perguntas de vocês.
- Só mesmo você para pensar em comida uma hora dessas. - Resmungou Mariana pedindo a conta.
- Pizza? - Perguntou Sérgio.
- Sim. - Foram unânimes.
- Ok. - Disse já ligando.
Encontraram Lorena deitada na espreguiçadeira que Claudia adotara.
- O senhor não a levou porque não a queria envolvida nesse problema? - Perguntou Claudia.
- Não. Ela não quis ir. - Respondeu preocupado, Claudia olhou dele para o Lucas que apenas deu de ombros.
- Lorena! - Chamou o pai gentilmente, ela abriu os olhos avermelhados.
- E então? Como foi lá? - Perguntou aflita.
- Estamos como você, a esfomeada quer comer e nos matar de curiosidade. - Replicou Mariana sentando ao lado dela.
- Eu não disse que iríamos comer primeiro, eu posso ir adiantando o assunto enquanto a pizza chega. - Disse calma.
- Você está em estado de choque ou de negação? - Perguntou Sérgio preocupado.
- Não. - Respondeu sorrindo. - Eu estou bem, acho que vocês sim estão nervosos. - Ela suspirou. - Ok. A ideia de eu ser o pagamento da dívida do Enrico...
- Do Enrico? - Perguntaram as irmãs.
- Sim. O Enrico tinha uma dívida de dogras com o Jorge e o Leonardo...
- O Leonardo filho... - Começou as irmãs.
- Se vocês pararem de me interromper.
- Você está falando de pessoas que nós conhecemos, se esse Leonardo é o filho do promotor Getúlio ele é meu vizinho. - Disse Mariana.
- Sério? Ele é seu vizinho? - Perguntou Claudia empolgada. - Sim, o Leonardo que estava pressionando o Enrico para pagar a dívida, é esta praga mesmo, lembra que ele vivia dando em cima da Mel?
- Você disse Jorge? - Perguntou Carla.
- Sim. Você o conhece?
- Assim como o Leo vivia correndo atrás da Mel e fugindo do Augusto e do Marcelo, assim era o Jorge, só que ele vivia atrás de você, e aí ele começou a namorar a Érica; foi quando nos afastamos, aí eu não sei se ele deixou de te perseguir, você não se lembra dele? - Ela negou.
- Estranho! Como é possível isso? Você tem uma memória excepcional. - Estranhou Mariana.
- Memória seletiva. - Disse Sérgio baixo.
- Ela escolheu esquecê-lo? - Perguntou Jéssica.
- Não é que ela tenha 'escolhido', o seu inconsciente para protegê-la selecionou o que ela deveria esquecer, bem, não é minha especialidade, um profissional de psicologia poderia explicar melhor.
- E eu pensando que esse negócio de memória seletiva era para vender filmes. - Bufou Carla.
- A sua memória só seleciona 'cifras monetárias'. - Disse Jéssica jogando-lhe uma almofada.
- Claudia, por favor! O que o Víctor Hugo tem haver com a tragédia que te aconteceu naquela noite? - Perguntou Lorena em um fio de voz.
Só então Claudia prestou a devida atenção na irmã, e percebeu que os olhos vermelhos, não era sono como pensara, ela estava triste, e a dor no olhar dela lhe dizia que a tragédia daquela noite não era o único motivo do sofrimento de sua irmãzinha. Engoliu seco, sentindo um aperto no coração por trazer tamanha dor para aquele coraçãozinho tão gentil.
Pedindo para que as irmãs não a interrompessem, ela contou tudo o que Víctor Hugo lhe contara, disfarçadamente ela observava Lorena que ouviu tudo de cabeça baixa, e viu quando as lágrimas caiam no colo da irmã.
- É claro que você vai à polícia! - Disse Mariana indignada, Lorena levantou correndo, Sérgio levantou.
- Eu vou papai! - Disse Lucas segurando o braço do pai, Claudia segurou o braço do irmão.
- Eu vou falar com ela, por favor! Só aguarde um minuto. Sim Mariana, o mais provável é que eu procure a polícia, mais não agora. Primeiro eu quero falar com o advogado do Víctor Hugo, neste momento eu quero aproveitar o resto do meu feriado, com o meu pai e os meus irmãos. Por favor! Não vamos deixar que essa história horrorosa nos impeça de ser feliz, e nem nos cegue, para o arrependimento e o sofrimento de outras pessoas. Obrigada! Por todos vocês estarem aqui neste momento comigo. - Disse emocionada, com os olhos marejados. Todos a abraçaram, em um abraço coletivo e familiar. - Eu vou falar com a Lorena.
Bateu na porta, silêncio. Testou a fechadura destrancada, entrou em silêncio, a irmã estava sentada no chão encolhida em um canto do quarto.
- Lorena! - Silêncio. - Por favor! Fala comigo querida. - Disse sentando ao seu lado.
- Não posso! Você vai me odiar. - Respondeu chorando.
- Como eu poderia odiar a minha caçula loira linda? - Perguntou abraçando-a, o que fez com que ela chorasse ainda mais.
- Eu sinto muito. - Disse fungando. - Sujei sua blusa. - Mexeu-se inquieta.
- Não sinta, qual a graça de se ter uma irmã mais velha e não poder melecar a blusa preferida dela? - Disse levantando e estendendo-lhe a mão.
- Sério? É sua blusa preferida? - Perguntou sendo levada para o banheiro.
- Não! E mesmo se fosse, você é mais importante que qualquer blusa, agora vamos lavar esse rosto lindo, e se você sentir-se a vontade, então me fala o que está te incomodando.
Ela lavou o rosto e sentou no chão encostada na cama, colocou o queixo nos joelhos e sussurrou.
- O Víctor Hugo. - Em silêncio Claudia esperou pela confirmação do que estava imaginando, a garota voltou a chorar impulsivamente, Claudia abraçou-a.
- Está tudo bem minha querida! Seja o que for que estiver te incomodando, eu quero que você saiba, que estarei aqui para você, mesmo que estejamos a uma distância física de mais de duzentos e vinte quilômetros ou um alguns quilômetros a mais. - Disse sorrindo.
Lorena sorriu entre as lágrimas, e encarou a irmã.
- Eu lamento muito, mas eu o amo. E não sei o que fazer com a confusão de sentimentos que eu estou sentindo, eu sei que tenho que ser solidária a você, o que ele fez não tem perdão. - Voltou a chorar.
Ela fechou os olhos, pela reação da irmã e pelos olhares de preocupação do pai e do irmão para ela, Claudia já imaginava que fosse algo desse tipo, no entanto não sabia como confortar a irmã, não sabia dizer a ela que não havia nada de errado em ela amar alguém que errou e se arrependeu.
- "Meu Deus, eu creio que o arrependimento do Víctor Hugo é verdadeiro, mas só o Senhor conhece verdadeiramente o coração dele, só o Senhor sabe os traumas e os distúrbios que ele pode ter adquirido com tudo isso, seja o Senhor, ó Pai, a ajudar e a confortar o coração da minha irmã para que ela receba o melhor que o Senhor tem para ela, o Senhor sabe de todas as coisas, seja o Senhor também com o Víctor Hugo, e se for da Tua Vontade trate, cure e cuide desses dois corações, e para a Tua Honra e Glória, os corações de ambos sejam restaurados para testemunho do Seu Amor e do Seu Perdão, em nome de Jesus não desampare a minha irmã, e nem aquele que está arrependido, obrigada Senhor por me mostrar a verdade". - Pediu a Deus, acariciando os cabelos da irmã.
- Você está chorando? - Perguntou Lorena virando o rosto para ela, não percebeu que chorava enquanto orava. - Você está ressentida comigo...
- Não! - Interrompeu-a. - Eu chorei enquanto orava. Eu jamais me ressentiria com você porque você ama alguém, eu não tenho experiência nenhuma nesse departamento, mas pelas experiências das minhas irmãs e pelos livros que eu leio, - Piscou sorrindo. - eu acredito que existem algumas pessoas, que despertam o amor em você, mas com o tempo você descobre que aquele sentimento não era bom a longo prazo, aquela pessoa não acrescentava e, então possivelmente vai desaparecer, e com o tempo você vai descobrir que aquilo que você acreditava ser amor, na verdade era apenas um sentimento ilusório que Deus foi bondoso e tirou de você, pois Ele conhece e sabe de todas as coisas, e quando colocamos as coisas na Presença dEle, tudo se resolverá para o melhor, então eu acredito que amar é sempre bom, faz parte do amadurecimento de cada pessoa. E cá entre nós estou feliz por você amar a ele, me preocuparia bastante e acho que o nosso pai não te deixaria nem chegar perto, se fosse o Jorge. - As duas sorriram.
- Não mesmo! - Disse Lorena rindo. - O papai sempre achou que havia alguma coisa de errado com o Jorge.
- Ele me disse. 'Perfeito demais'. - Lembrou do comentário do pai.
- Sim.
- E o que ele acha do Víctor Hugo?
- Agora? Só Deus sabe! Mas ele gostava dele, ele dizia que apesar daquela tristeza eterna no olhar e das tatuagens, ele era um bom garoto.
- Sabe o que eu acho? Eu acho que ele ainda é um bom garoto. Vir até mim e confessar tudo o que aconteceu como ele fez, não entregar para o Jorge que iria me encontrar às dezoito horas na sorveteria, mesmo sendo agredido...
- Ele foi agredido? - Perguntou exasperada. - Como assim? Ele é mestre de capoeira?
- Não tenho certeza, mas eu acredito que ele se deixou agredir como forma de punição. - Lembrou das palavras dele. - "Se levarmos em conta como ficou o seu rosto naquela noite, eu acho que isso aqui é pouco".
- Mas por quê?
- Ele nunca esqueceu o que me aconteceu, e a culpa o consome, quando o Jorge foi para cima dele por mim, imagino que ele deva ter pensando que era justo, já que foi por causa dele, que eu acabei daquele jeito.
- Então foi o Jorge? - Claudia assentiu. - Ele está muito ferido? - Ela tornou a assentir, uma lágrima desceu pelo rosto da irmã.
- Há alguma coisa entre vocês dois?
- Não. Eu o amo desde quando o vi pela primeira vez, ele estava defendendo um garoto, e eu achei aquilo tão fofo! Foi assim que eu soube que ele era mestre de capoeira, tem uma academia na outra rua atrás da livraria, e ele disse para o garoto ir lá no outro dia, ele não cobra dos garotos carentes, assim como ele faz descontos extravagantes na livraria para tem pouco, - Ela sorriu triste. - toda a cidade pensa que o dinheiro é da Diana e do Jorge, principalmente depois que o pai do Víctor Hugo foi embora, mas eu sei que é dele, ele confiava em mim. - Colocou o rosto entre as mãos. - Como eu poderia imaginar que o segredo que faria com eu o odiasse fosse isso?
- Ele te disse isso?
- Sim. Nos tornamos amigos, e como só venho para cá de férias é complicado nos vermos, ele trabalha igual a um burro de carga, mas sempre que possível estamos juntos quando estou aqui, neste feriado ele sabia que não nos veríamos porque eu iria conhecer a minha irmã. Mas nos falamos todos os dias, conversamos sobre tudo, eu já sabia que ele foi dependente químico e agora ajuda a clínica que o ajudou, quando eu soube de você eu corri para a livraria e contei para ele, ele se alegrou e disse que irmãos é sempre bom, ele sente muita falta da Fernanda, a irmã dele.
Ela levantou e foi até a janela, ficou parada olhando pra fora, pacientemente Claudia esperou, imaginando como estaria as irmãs lá fora esperando, ansiosas como elas eram! Lorena sentou no chão em baixo da janela, as duas irmãs ficaram de frente uma para a outra.
- O ano passado eu me enchi de coragem e confessei a ele que o amava, ele me abraçou chorando e disse que me amava também, mas por mais que me amasse, não poderíamos ficar juntos, ele não era digno de mim, eu disse para colocarmos na presença do Senhor, ele riu amargurado, e disse que Deus tinha coisa melhor guardado para mim, de tanto eu insistir ele me disse que havia feito algo no passado que quando eu soubesse eu iria odia-lo, eu iria sentir asco quando lembrasse que um dia eu havia desejado que ele me tocasse. - As lágrimas molhavam o rosto dela, Claudia engoliu seco visualizando a cena, conseguia imaginar o sofrimento dos dois. - Eu disse que seria impossível sentir nojo dele, e ele me disse para eu esperar, ele só precisava de um tempo para resolver as coisas com a Fernanda, quando ela saiu de casa, ele me ligou e pediu que eu tivesse um pouquinho mais de paciência que logo me contaria qual era o seu segredo mais escabroso, mas ele tinha certeza que quando eu soubesse, nunca mais iria querer vê-lo, e ele iria precisar da irmã, ele não suportaria perder a nós duas, e apesar dele não merecer perdão, ele tinha esperança de que pelo menos ela o perdoasse, e ele estava certo, os dois estão bem, mas ele disse que ainda não teve coragem de ver em meu olhar a mesma decepção e mágoa que viu no olhar da irmã.
- Acontece que você não 'só' quer vê-lo, como quer conforta-lo.
- Sim. - Ela assentiu envergonhada. - Hoje pela manhã ele me mandou uma mensagem, para eu encontrá-lo na livraria no horário do almoço, mas o telefone estava descarregado no quarto e eu não vi. - Disse passando o telefone para a irmã. - Você pode ler toda a conversa de hoje.
- Você tem certeza? É pessoal! - Disse constrangida.
- Tenho, e não tem nada demais. - Voltou para a janela.
A primeira mensagem pelo horário, deve ter sido logo depois do encontro dos dois, na panificadora.
Raio de sol, você pode se encontrar comigo no horário do almoço na livraria?
Perdoe-me meu querido! Não vi a sua mensagem, meu telefone estava descarregado aqui no quarto. Por que não ligou no fixo? Eu posso ir para aí agora.
Não liguei porque imaginei que estivesse ocupada, caso contrário eu sei que teria vindo. Não precisa vir, não teria como conversarmos, sabe aquela conversa que eu estou te devendo? Pois é, acho que se eu não quiser que você saiba da pior maneira possível eu preciso te falar logo, graças a Deus que a Fernanda já me perdoou.
Você me deixou preocupada, eu vou te ligar ou vou para aí, você escolhe!
Sério, raio de sol. Não será uma conversa rápida e nem fácil, com o movimento que está aqui é impossível.
Você está bem?
Não! Mas eu vou ficar, finalmente as coisas estão se encaixando. Pena que talvez com isso eu perca a melhor pessoa que já apareceu na minha vida.
Você não vai me perder, seremos amigos para sempre.
Eu sempre te amarei, se possível lembre-se de que você foi a única garota que eu amei, e sempre amarei.
Eu também te amo, se serve de consolo, você também é meu primeiro e único amor.
Eu tenho um compromisso às dezoito horas, não sei que horas sairei de lá ou qual será meu estado de espírito, se eu estiver razoavelmente bem eu te ligo.
Esperarei. - Nenhuma mensagem mais.
- Por isso você não foi para a sorveteria?
- Eu não iria ajudar em nada, pelo contrário ele iria ficar nervoso com a minha presença lá, e eu também iria ficar muito nervosa, e apesar de eu ter pedido muito a Deus que ele não tivesse nada haver com aquilo, em meu coração eu sabia que tinha.
- Eu acho que você deve ouvir o que ele tem para te falar. - O telefone vibrou na mão de Claudia, inconscientemente olhou o visor. - Fernanda ligando. - Lorena em uma rapidez incrível pegou o telefone. - Depois continuamos. - Ela pegou o braço da irmã.
- Por favor! Fique. - Pediu atendendo o telefone no viva-voz. - Oi Nanda.
- Graças a Deus, pensei que não fosse me atender. - Disse a outra nervosa.
- Por que eu não te atenderia?
- Você sabe que eu saí de casa por causa de uma coisa que o meu irmão me contou, certo?
- Certo.
- Ele está desesperado, ele acha que perdeu a chance de te contar pessoalmente, você está me entendendo?
- Estou sim. O que não estou entendo, é por que ele pensa que perdeu a oportunidade de me dizer pessoalmente.
- Esse assunto diz respeito a uma moça, ele esteve com ela hoje, e quando eles se encontraram na sorveteria da dona Maria, ela chegou com três moças, preocupado ele ficou observando se elas iriam direto para o hotel, só que elas saíram da sorveteria com o seu pai e o seu irmão e a moça em questão entrou no carro do seu pai, meu irmão é muito bom em somar dois mais dois.
- Logo ele já sabe que a moça em questão é a minha irmã.
- Exatamente.
- E o que você quer de mim?
- Eu sei o que você está sentindo, porque eu quis morrer quando eu soube dessa história, não foi fácil para mim, e ele é meu irmão a pessoa que eu mais amo nessa vida, e sou capaz de imaginar o que você está sentindo sendo a sua irmã a vítima do meu irmão, então eu quero pedir à garota cristã, que tem equidade e sabedoria no coração para não deixar ele fazer nenhuma bobagem até eu chegar, não tem mais ninguém em quem eu confiaria a vida do meu irmão. eu estou indo pra aí, mas não consigo chegar em menos de duas horas, se eu provocar um acidente não vou ajuda-lo. - Ela olhou fixamente para Claudia que assentiu.
- Ok. Estou indo para lá.
- Leva a sua chave, ele está trancado. Qualquer coisa me liga imediatamente.
- Ok. - E ambas desligaram. - Perdoe-me mana, mas eu preciso ir.
- Eu sei. - E abraçadas saíram do quarto.
Continua...
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