63 - O Senhor teu Deus é o que vai contigo.
Ela se esforçou para respirar direito e assumir o controle da situação, em seu sonho ele não queria lhe fazer mal, e naquele momento em meio a todas aquelas pessoas, com certeza ele não poderia machuca-la.
- Quer ir ao hospital? Você está muito pálida, está sentindo alguma coisa? - Perguntou ele trazendo-lhe um copo d'agua, ela negou. - Por favor, pessoal afastem-se um pouco ela precisa de espaço. Você é turista? Nunca te vi por aqui. - A voz calma em nada parecia com a voz desesperada do seu primeiro sonho, ou a angustiada do segundo, mas com certeza era a mesma voz.
- Pode se dizer que sim. - Respondeu em um fio de voz.
- Logo se vê! - Respondeu sorrindo, olhando-a de cima abaixo, blusa azul de mangas longas, calça jeans e tênis. - Quer que eu chame uma ambulância?
- Não, obrigada. - Disse passando a mão direita na cabeça.
Esquecera qual a blusa que estava vestida, com este gesto a manga que era folgada cedeu mostrando a tatuagem, e ela viu o brilho do reconhecimento no olhar dele, e foi a vez dele ficar pálido e teria caído se não tivesse se apoiado no balcão.
- Afinal o que está acontecendo aqui? - Perguntou uma voz desconhecida e ela se alegrou com isso, por um momento pensou que ouviria a voz do outro rapaz.
- Dona Diana aquela moça não se sente bem, e agora parece que o Victor Hugo que está passando mal. - Respondeu o caixa, que nem mesmo havia se mexido do lugar.
- Pessoal vamos voltar ao trabalho, e prezados clientes, agradeço pela ajuda, mas se a moça teve um pico de pressão ou algo do tipo é melhor chamarmos a ambulância. - Disse a mulher olhando friamente para Claudia.
- Estou bem, eu acho que foi o calor, desculpem-me pelo transtorno. - A mulher de nome Diana gargalhou.
- Se você está achando quente agora, imagine daqui a algumas horas. - Disse com desdém. - Deveria ter procurado outro lugar para passar o feriado, o Tocantins não é lugar para pessoas com peles tão delicadas quanto a sua; e Victor Hugo qual é o seu problema? Por acaso viu um fantasma? - Perguntou irritada.
- "Mulher desagradável"! - Pensou Claudia.
- Nada! Eu estou bem. - Respondeu ele olhando para Claudia.
Ela respirou fundo, devolveu o copo a ele, e foi fazer o que o Sérgio pedira, o local estava cheio não tinha como tirar nenhuma dúvida com o rapaz naquele momento, agora ela tinha um nome, a tal Diana não parava de manda-lo fazer isso ou aquilo, e quando ela saiu ela não o viu em lugar nenhum.
Chegando à casa do pai, deixou as sacolas na mesa, e foi para a mesma espreguiçadeira que sentara na manhã anterior, fechou os olhos.
- "O que o Senhor quer de mim? Eu estou aqui, mas não sei o que fazer. Prepare-me para que eu não me perca no caminho, prepare-me para que eu Te honre, coloque o perdão no meu coração, e coloque o arrependimento no coração dele. Não permita que o medo me afaste daquilo que o Senhor tem reservado para mim". - Pensou, e continuou de olhos fechados.
Assustou-se com o telefone, procurou-o na bolsa, e respirou aliviada ao perceber que não tremia mais, sorriu radiante ao ver quem era no identificador de chamada.
- Bom dia! - Atendeu saudosa.
- Bom dia. - Respondeu no mesmo tom. - Está tudo bem?
- Sim. - Respondeu inquieta, sem saber o que falar, não queria esconder as coisas dele, mas também não poderia deixa-lo aflito com uma coisa que ele nada poderia fazer. - Estamos nos conhecendo, o Sérgio e os filhos parecem comigo mais do que eu poderia imaginar. - Respondeu com a verdade mais tranquila.
- Graças a Deus! Fico tão feliz por vocês, a Carla disse que não vou te reconhecer de tão mimada que você está. - Disse sorrindo.
Ela fechou os olhos lembrando daquele sorriso que lhe aquecia a alma, sentiu um aperto no coração novamente por ter esquecido o telefone quando fora com o pai e o irmão ao supermercado no fim da tarde e não ter falo com ele quando ele ligara; houve uma tempestade e a fazenda da avó estava sem sinal, ele precisava ir até uma cidade próxima para ligar.
- Ela me disse, desculpe-me eu esqueci o celular. - Respondeu chateada. - Tentei te ligar quando eu cheguei, mas não deu certo.
- Desculpe-me por isso, o técnico está lá, espero que resolva logo o problema. Eu imaginei que você fosse retornar, mas não podíamos demorar, lamento não ter esperado. - Disse pesarosamente.
- Estou falando com você agora, isso que importa, obrigada! E a Katie?
- Está com a mãe, comprando, eu acho que a Lauren vai plantar o bichinho consumidor na minha filha, elas não podem vir à cidade!
- Não seja rabugento, deixe ela mimar a filha. - Disse sorrindo e ele gargalhou.
- Por que será que você concorda com tantos mimos? - Perguntou ainda rindo.
- Não tem nada haver com o fato de eu estar sendo mimada. - Respondeu alegre.
- Queria estar aí, só para ver seu rosto iluminado pela felicidade. Estou com saudades.
- Eu também. É estranho, eu estou feliz por estar aqui com minhas irmãs, por conhecer meu pai e esses irmãos tão especiais, mas parece que falta um pedaço de mim, não pareço estar inteira.
- Sei como é, me sinto assim também. Você já faz parte de mim minha doce senhora, só espero que não tenha a intenção de fugir para algum país longínquo. - Disse solenemente, ela sorriu.
- Lamento meu bom senhor, mas não existe a menor possibilidade de acontecer tal proeza, e se por ventura, o seu desígnio for abandonar-me quero esclarecer que tenho dois pais, quatro irmãs, um irmão, uma mãe, uma enteada, um sogro e uma sogra torta para te encontrar por terra ou mar. - Ele gargalhou.
- Minha doce senhora, acho que preciso pensar melhor sobre tudo isso.
- Cabeças vão rolar! - Exclamou dramática. - Meu bom senhor, o seu intuito é apenas macular minha inocente imagem? Oh! Como sofro por este amor!
- Expressei-me mal minha doce senhora, eu sozinho talvez não poderei lidar com todos os seus protetores, então segurarei em sua mão e te roubarei em uma madrugada fria... - Ela o interrompeu gargalhando.
- E deixaremos a vida de professores e escreveremos romances, desbancaremos Jane Austin fácil, fácil. - Os dois riam descontrolados.
- Quero saber qual é a piada. - Disse Mariana sentando na espreguiçadeira ao seu lado.
- A Mariana chegou aqui.
- E eu vou procurar aquelas duas; enquanto não fujo com você, eu vou cuidando de alguns de seus protetores, vai que eles facilitam a minha vida! - Disse divertido.
- Quem sabe? Eu cuidarei de alguns aqui também. - Respondeu no mesmo tom. - Não tenho a intenção de dificultar a sua vida. Beijos.
- Beijos.
Ela não queria desligar, mas não poderia ficar a manhã inteira no telefone com o namorado, contrariada desligou. Mariana encarava-a sorrindo.
- É uma pena não conhecê-lo agora, estou ansiosa para conhecer o homem que faz você ficar com esse sorriso bobo, esses olhos brilhantes, com este ar de felicidade.
- Não sou a única a ficar com um sorriso bobo ou radiante! - Disse piscando, a irmã ficou tensa. - O que foi?
- Eu o amo, e tudo o que eu queria era me tornar a senhora Charles Philip, mas agora já não tenho mais tanta certeza disso. O comportamento dele com a Carla foi no mínimo cruel, eu sei que ele não é uma pessoa fácil ou gentil, mas jamais imaginei que ele pudesse ser tão horrível com a minha irmã.
- Não pense nisso agora, vocês terão tempo para resolver essas diferenças, o que tiver que acontecer, acontecerá, e que Deus cuide de você. - Concluiu. - Vamos preparar o café da manhã para aqueles dorminhocos! - Ela assentiu e abraçadas foram à cozinha.
Sérgio voltou do hospital ainda com tempo para o café da manhã, isso porque Claudia e Mariana decidiram esperar todos acordarem espontaneamente, algo que elas concordaram não voltar a fazer.
- Estamos de folga, vocês poderiam aproveitar um pouco mais. - Disse Jéssica, quando as irmãs lembrou a elas que não estavam em casa.
- Ela tem razão, estamos de folga, e todas vocês estão 'sim' em casa, essa casa é da nossa irmã, logo é de vocês também, é sério fiquem a vontade. - Pediu Lucas.
- Só não diga isso à Jéssica ou você se arrependerá profundamente. - Brincou Carla.
- Eu ouvi os dois comentários, digo isso para registro futuro viu maninha! - Disse apontando os dedos para os próprios olhos e mostrando para a irmã. - Estou de olho em você.
E nesse clima a manhã passou tranquila, e Claudia até esqueceu do incidente na panificadora. A cidade estava cheia de comemorações pela sexta-feira santa, Jéssica, Lorena e Lucas foram vê as apresentações e as outras ficaram em casa com o Sérgio preparando o almoço.
Cansada, depois do almoço ela deitou e pegou no sono, acordando sozinha na casa, encontrou dois bilhetes, um no quarto, das irmãs que haviam saído com outros; e o outro na cozinha, do pai, ele havia ido ver um amigo e não demoraria. Tomou um banho rápido, escreveu dois bilhetes e colocou no mesmo lugar dos outros, pegou a bolsa e saiu cantarolando.
Entrou na mesma sorveteria que fora com o pai e os irmãos na tarde em que chegaram, serviu-se e sentou observando o frenesi das pessoas, era fácil perceber quem era morador e quem era visitante, o olhar curioso do visitante, a sua tranquilidade, tirando fotos de tudo, por outro lado o morador local apressado como em qualquer outro lugar.
Quando eram crianças e viajavam muito em família, os pais costumavam dizer que ela parecia nativa de todo lugar a única coisa que despertava a curiosidade dela eram livros, e com este pensamento em mente ela olhou em outra direção e para sua surpresa o que havia bem do outro lado da rua? Uma livraria, sorriu pensando em comprar um livro para Lorena, era bom ter uma irmã que compartilhava com ela a paixão por livros.
No momento em que entrou na livraria o sensor de movimento acionou, e alguém tossindo murmurou algo que pareceu ser um 'já vou', mas ela não tinha certa quanto a isso, ficou olhando os livros, era bem diversificada, de romance água com açúcar, clássicos, religiosos, de tudo tinha um pouco, se havia um lugar em que ela sempre se sentia em casa era em meio aos livros, inconscientemente tirou o pingente que a irmã havia lhe dado, de baixo da blusa e apertou na mão, uma sensação ruim assolou seu coração, e ela ouviu o sensor de movimento e olhou para a entrada automaticamente, e sentiu o sangue sumir do seu rosto.
- "Porque eu não fiquei quietinha em casa como qualquer turista normal"? - Pensou alarmada.
Como em seu sonho, ela viu o reconhecimento no olhar dele no momento em que ele a viu. O pânico é um negocio estranho, ele te paralisa de tal modo que você se torna a vitima perfeita, passível e submissa; ele ergueu a sobrancelha com um sorriso irônico.
- Desculpe-me pela demora. - Ela fechou os olhos ao ouvir a voz atrás de si, abrindo-os, ela voltou devagar em direção a voz familiar, ele parou quando a viu, e olhando dela para o médico na porta, ele ficou pálido, mas ao contrário do que acontecera pela manhã ele não se deixou abater.
- O que você está fazendo aqui Jorge? - Perguntou colocando os livros que tinha nas mãos no balcão ficando entre os dois.
- Eu fiquei preocupado com você, a Diana disse que você passou mal pela manhã, mas se recusou ir ao médico. - Disse olhando para Claudia. - Desculpe-me por não ter vindo antes.
- Como você pode vê eu estou ótimo, não precisa se preocupar, pode voltar para o seu trabalho. - Disse voltando-se para Claudia. - A senhora já escolheu os livros? - Ela negou. - Tem alguma preferência? - Perguntou levando-a para as prateleiras.
- Victor Hugo... - Os dois olharam para o homem que continuava na porta, que interrompera-se olhando para o celular. - Droga tenho que voltar para o hospital, mas não pense você que será tão fácil se livrar de mim. - Ela não soube se a ameaça era para ela ou para o rapaz ao seu lado.
- Você está ficando paranoico, vai cuidar dos seus doentes. - Visivelmente contra a vontade o outro saiu batendo a porta. - Você está sozinha ou tem alguém com você? - Perguntou em pânico.
- Você quer saber se eu estou viajando sozinha ou acompanhada?
- Sim, e então?
- Estou acompanhada. - Ele respirou aliviado.
- Ótimo! Por favor! Não saia por aí sozinha. Você já sabe qual livro vai levar? - Perguntou ansioso, ela negou confusa.
- Qual o problema? - Perguntou confusa.
- A única coisa que o Jorge leva a sério é o trabalho, mas não sei para o que ele foi chamado, então se você puder deixar o livro para outra hora! - Ela parou e ficou olhando para ele que angustiado passou a mão na cabeça.
- Por que você não me fala objetivamente, qual é o problema? - Repetiu calma surpreendendo a si mesma, ele olhou-a nos olhos.
- Você sabe quem somos. - Afirmou sem nenhuma emoção. - Talvez agora esse pesadelo acabe.
- Não sei quem são vocês. Apesar de ter a impressão de que conheço ele. - Disse apontando para a porta. - De onde o conheço?
- Do condomínio onde você morava, ele namorava a Érica filha do senador Érico
E as lembranças invadiram a sua mente, por várias vezes ela vira os dois juntos, Érica era apenas dois anos mais velha que ela e as duas não se davam muito bem por causa de Melissa, Érica tinha ciúmes da amiga e implicava com qualquer pessoa que se aproximasse dela, ela costumava achar que todos eram inferiores a ela.
- E a mim, você me conhece de algum lugar? - Perguntou tenso.
- Dos meus pesadelos.
- Se eu pudesse voltar no tempo, se eu pudesse..., eu sinto tanto! - Seus olhos ficaram marejados, e ele olhou para outra direção.
- Que horas você fecha aqui?
- Às dezoito horas.
- Ótimo! Estarei te esperando naquela sorveteria às dezoito horas. - Disse apontando para a sorveteria, ele olhou para ela como se ela fosse insana. - "E talvez eu seja mesmo". - Pensou.
- Ok! Você compreende que eu não estou brincando, não compreende? Ele é perigoso, por favor, não ande por aí sozinha e não confie nele.
- Não confiarei. - Disse encarando-o.
- Desculpe-me, não quero te assustar, e eu sei que você não tem nenhum motivo para confiar em mim, mas eu prometo que não te farei nenhum mal. Tem alguém para quem você pode ligar, para te acompanhar até o hotel? - Perguntou da porta.
- Por que você tem tanto medo dele?
- Não tenho mais, mas temo por você. - Disse com um brilho estranho no olhar.
- Eu vou ligar para o meu pai, não se preocupe. Não esqueça, quando você fechar a loja...
- Irei imediatamente após fechar. - Ela acenou e foi para a sorveteria, desabou na cadeira, não percebera que estava tão nervosa, pediu uma água e ligou para o pai, que chegou minutos depois, ela ficou surpresa com a rapidez.
- Eu disse que estava perto, e sua voz me pareceu nervosa.
- Impressão sua. - Ele encarou-a com cara de quem não acreditou.
- Aconteceu alguma coisa que assustou você? - Ela engoliu seco, e olhou na direção da livraria. - Lorena me disse que você gosta de ler. - Disse mudando de assunto, ela assentiu. - Gostaria de ir à livraria?
- Outra hora. - Ela mexeu-se inquieta na cadeira. - O senhor conhece algum médico chamado Jorge? - Perguntou em um fio de voz, ele olhou na direção da livraria e olhou para a filha novamente.
- Filha, - Começou pegando na mão dela - eu sei que você não me conhece, e que não deva ser fácil confiar em alguém que você acabou de conhecer, mas você pode contar comigo para qualquer coisa, certo?
- Eu sei! Não é que eu não confie no senhor, é só que eu não sei o que fazer.
- Entendo! - Tornou a olhar para a livraria. - Bem, em relação ao médico chamado Jorge, sim eu o conheço, ele é dono da livraria, e irmão da dona da panificadora em que eu te deixei hoje pela manhã.
- Sério? Interessante! Então ele deve ser do tipo bom partido, o tipo que os pais querem como genro.
- Pode se dizer que sim, ele é impecável no trabalho, todos gostamos de dividir os plantões com ele, pois ele não faz corpo mole e é extremamente dedicado, mas eu não gostaria de tê-lo como genro. - Disse pensativo.
- E por que não? Ele é muito mais velho que a Lorena?
- Não, apesar de ser sim mais velho que ela, mas não se trata disso, não sei ao certo o que me incomoda nele, mas ele é perfeito demais.
- Oras! Ser perfeito não é bom?
- Ninguém é perfeito minha filha! Agora eu estou curioso, de onde você conhece o Jorge?
Ela voltou o olhar para a livraria e antes que ela formulasse uma resposta ela viu o Jorge entrando na livraria, o coração dela gelou, se ele olhasse naquela direção ele a veria com o pai, ela não queria que ele tivesse problema com aquele tipo por causa dela, virou-se para ele pronta para chama-lo para irem para casa, mas ele estava com a atenção voltada para a livraria, claro que ele desconfiou que havia algo errado, então para a surpresa dela ele levantou em um pulo.
- Afinal qual é o problema com esse rapaz? Acabei de dizer que ele era perfeito e ele faz isso! - Disse já indo para a porta, atordoada, só então olhou para fora, e viu uma cena bizarra, o Jorge vestido de médico com jaleco e tudo chutando o Victor Hugo na calçada, levantou-se e foi atrás do pai, que estava tirando o médico de cima do garoto.
- Você desgraçou a nossa vida seu idiota, eu não posso deixar nada em suas mãos que você faz besteira. - Dizia Jorge furioso quando ela se aproximava, ele tentava passar por Sérgio que era mais alto e aparentemente mais forte também.
- Eu não fiz nada, ela não sabe nada sobre a gente, você que é um maníaco perseguidor. - Disse Victor Hugo cuspindo sangue. - O tumulto de pessoas impediu que Claudia fosse vista, ela aproveitou a confusão e foi para casa.
Os irmãos estavam em casa, ela apenas os cumprimentou e foi para o quarto, ligou para Victória que ouviu em silêncio tudo o que ela disse.
- Claudia, você precisa dizer a verdade para o seu pai, esse cara vai descobrir quem é você e seu pai ficará mais seguro sabendo a verdade, se ele é mesmo perigoso como o outro rapaz disse todo o cuidado é pouco. - Alertou Victória.
- Você tem razão, eu vou falar. Tchau querida.
- Tchau. E por favor! Não deixe de me mandar notícias estarei em oração por você e sua família.
- Obrigada! - Desligou.
Tomou um banho demorado, e foi encontrar sua família, estavam todos reunidos comentando sobre as apresentações da paixão de Cristo.
- Eu não gosto de ver, acho muito triste. - Disse Mariana.
- Sim é triste, mas é real, aconteceu de verdade e foi muito mais doloroso do que os atores conseguem representar. - Respondeu Lucas.
- Oi. - Ela interrompeu se enchendo de coragem. - Preciso falar algo muito sério convosco.
- Tem algo haver sobre a sua curiosidade sobre o Jorge? - Ela assentiu.
- Eu encontrei dois, dos rapazes que participaram daquela noite horrenda.
- O quê? - Perguntaram todos juntos com exceção de Lucas e Lorena que apenas olhavam confusos para os rostos pálidos dos outros.
- Lucas, Lorena, vocês não sabem do que eu estou falando, mas se alguém puder esclarecer para os dois eu agradeço, não estou em condições de falar sobre isso agora, pode ser?
- Eu explico a eles do que se trata. - Disse Sérgio.
Ela explicou o que acontecera naquele dia, desde o momento em que Sérgio a deixara sozinha até o momento em que ela pedira para ele encontra-la na sorveteria, Sérgio queria chamar a polícia imediatamente, Claudia o convenceu a esperar.
- Eu não tenho provas, vamos precisar do Victor Hugo, e eles tem algum tipo de acordo, eu vou falar com ele, veremos o que consigo arrancar dele.
- Até porque o Victor Hugo é o elo mais fraco dessa corrente, seja lá o que eles fizeram, as ligações políticas que a Diana e o Jorge têm, é o suficiente para qualquer acusação ir parar em um fundo de gaveta. - Disse Lucas.
- O nosso pai também tem ligações políticas. - Disse Mariana.
- Sim, ele tem, mas ele as usou para que o policial não investigasse o filho do senador Érico. - Sussurrou Claudia.
- Como é que é? - Perguntaram as três juntas.
- Depois eu explico para vocês, já está quase na hora, eu preciso ir à sorveteria.
- Eu vou com você. - Disse Sérgio.
- Tudo bem, mas o senhor senta em outra mesa e fica nos observando, ele não sabe de nossa ligação então ele não saberá que o senhor está ali por mim, a Carla vai e fica comigo até ele chegar, é provável que ele queira falar comigo em particular, e assim você nos deixará sozinha, mas também não poderá sentar com o Sérgio, para que ele não desconfie.
- Nós também vamos. - Disseram as outras irmãs.
- Tá bom!
- Você sabe que isso é arriscado. - Disse Jéssica.
- Ele não me fará mal, eu tenho mais medo do Jorge. - Disse sentindo um calafrio.
- Papai pode começar a nos explicar o que realmente está acontecendo? - Pediu Lucas.
- Eu explico meu filho. - Respondeu Sérgio com a voz embargada, puxou Claudia para um abraço. - Você é o meu milagre, espero que Deus não me castigue justo agora que eu te encontrei. - Sussurrou no ouvido da filha.
- Ele nos ama, vai dar tudo certo, confie nEle.
- Estou confiando, Ele sabe o quanto estou confiando. - Disse beijando a testa dela.
- "Senhor meu Deus, minha vida pertence a Ti, tudo o que tenho e sou é graças a Ti e eu Te louvo por me amar e cuidar de mim, se possível livre-me das mãos dos meus inimigos, seja o Senhor a estar comigo e com o Victor Hugo, e que o arrependimento dele seja verdadeiro, que a Sua Vontade prevaleça em minha vida, cuide de tudo, para que o Seu Amor e a Sua Misericórdia sejam manifestados hoje, em nome de Jesus, amém". - Pensou - Vamos meninas. - E apreensivas as quatro saíram da casa em silêncio.
Ele já estava lá quando elas chegaram, as irmãs estavam apreensivas de deixa-la sozinha com o rapaz.
- Só espero que seu pai não demore. - Disse Jéssica nervosa.
- Fiquem calmas! Não acontecerá nada. - Sorriu para as irmãs e foi encontra-lo, estava com o rosto inchado, o olho roxo, o quadro não era bonito de se vê.
- Você está adiantado. - Disse sentando.
- Fechei a loja mais cedo, de qualquer jeito eu nem queria mesmo abri-la hoje, e não quero ir para casa. - Respondeu apático mexendo no sorvete.
- Você percebeu que seu sorvete sofreu uma fusão ai né? - Perguntou em tom de brincadeira, ele levantou o olhar, e seu coração se condoeu.
- "Você quer o quê? Que eu perdoe os monstros que destruíram a minha vida"? - Perguntara à Marcelo uma vez, e agora cá estava ela sendo empática com um desses monstros.
- Eu sinto muito pelo seu rosto.
- Se levarmos em conta como ficou o seu rosto naquela noite, eu acho que isso aqui é pouco. Se você soubesse o quanto eu me arrependo, não tem um único dia em que eu não me amaldiçoe, mas estou feliz por você estar viva.
- Você acreditava mesmo que eu havia morrido? - Ele asentiu.
- Estava em todos os noticiários a tempestade que havia acontecido naquela área, houve até desabamentos, claro que a cada notícia que eu ouvia e ninguém noticiava o encontro do corpo de uma garota, eu me enchia de esperanças, então convenci o Jorge a ir ao condomínio onde você morava, e ele chegou dizendo que você estava morta, ninguém iria falar a respeito nos noticiários porque o seu pai era muito importante. Aquele desgraçado sabia que você estava viva, e me atormentou por todos esses anos. - Retrucou exasperado.
- O que você sabia sobre mim?
- Nada! Exceto o fato de que você morava no mesmo lugar em que o Enrico, e nunca me interessei em saber onde o playboy morava, e que o Jorge era obcecado em você.
- Como é possível eu não me lembrar dele? Depois que você falou da Érica foi que alguma coisa foi aparecendo, mas também não sei se realmente são lembranças minhas ou se estou criando, em função do que você me contou. - Disse confusa.
- Por alguma razão você o esqueceu, ele não podia te ver que dava em cima de você e segundo ele, você não ligava a mínima para ele. - Ela apertou a têmpora.
- Quem me tirou de casa naquela noite?
- O Enrico e o Leonardo. - Ela o olhou surpresa.
- Leonardo não era um mauricinho filho de um promotor? - Perguntou intrigada.
- Sim, e a pessoa mais sádica que eu já tive o desprazer de conhecer.
- Mais que o Jorge?
- O Jorge não é sádico, mas é perigoso, principalmente se ele se sentir ameaçado.
- Foi você e o Jorge que me deixou no beco? - Ele assentiu. - Vocês discutiram...
- Você estava consciente? O Jorge garantiu que você estava inconsciente. - Respondeu inquieto.
- Na verdade eu não sei, eu sonhei que estava em um porta-malas, e dois rapazes com as vozes de vocês me tiraram de lá, e vocês discutiram, eu não conseguia abrir os olhos.
- Claro que não! - Exclamou olhando para os lados, mas ela ainda viu as lágrimas nos olhos dele, ambos ficaram em silêncio, ela esperando a resposta dele, lentamente ele se voltou para ela o olhar vazio novamente. - Eu pedi para ele matar você. - Sussurrou, ela leu os lábios dele mais do que ouviu.
- Ele disse que a ideia daquilo era sua. - Ela também sussurrou, ele gemeu e se encolheu na cadeira, assentindo.
- Podemos começar do início? - Perguntou cruzando os braços, ela engoliu seco concordando. - Ok! Dona Maria. - Chamou a senhora que passava ela aproximou-se sorrindo. - A senhora pode nos trazer uma água por favor! - Pediu entregando-lhe a taça com o sorvete derretido. - Você tem tempo? A história é longa.
- Todo o tempo de que você precisar.
Ele sorriu amargurado, fechou os olhos, respirou fundo, e quando voltou a abri-los, ela soube que para ele, tudo aquilo era tão difícil quanto para ela. Ela assentiu tentando demonstrar o máximo de calma possível, para incentiva-lo.
Continua...
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