30 - Os que aconselham a paz têm alegria.
A tarde foi lenta e tranquila, Claudia estava arrumando as coisas pra ir para casa, quando recebeu a mensagem da irmã.
"Venha direto para a casa dos nossos pais". - Ela franziu a testa, e releu a mensagem. Achou melhor não responder.
Mandou uma mensagem para Luciana.
"Estou indo para a casa dos meus pais. Boa aula". - Enviou a mensagem. Pegou suas coisas e foi para a casa dos pais.
Carla a esperava na sala, e levou-a para o escritório do pai.
- Desculpa, mas eu precisei dizer para o Hércules o que estava acontecendo para ele tirar nossos pais de casa. - Disse abrindo a porta do escritório.
- E por que você precisava tira-los de casa? - Perguntou entrando.
- Porque não creio que seus pais concordariam com o que você quer fazer. - Respondeu um homem com um sotaque estranho.
- Senhor Zigger! - Cumprimentou intrigada.
- Estou admirado senhorita faz tempo que não vejo uma shabba tão corajosa. - Disse encantado.
- Shabba? - Perguntou curiosa olhando de um para o outro.
- Moça! - A irmã respondeu. - Zigger pare de flertar com a minha irmã e vamos ao que interessa, meu marido não vai enrolar nossos pais a noite toda.
- Ok! A sua irmã me disse que você quer pegar esse desgraçado certo? - Disse sério. - Faz tempo que não me sinto tão empolgado com uma situação! - Disse empolgado esfregando uma mão sobre a outra.
- Certo! - Respondeu constrangida, e ele sorriu piscando pra ela.
- Pois bem! A polícia já te deu um rastreador. - Disse se aproximando e tocando o broche. - Mas isso só dará a eles a sua localização, se ele falar ou fizer algo de comprometer ficará perdido. - Dirigiu-se à mesa. - Você tem a orelha furada? - Perguntou.
- Sim! - Respondeu confusa, olhando para a irmã, que deu de ombros sentando na beirada da mesa.
- Para você. - Entregou-lhe uma caixinha. Ela abriu, dentro havia um par de brincos lindos uma pequena argola com uma pedra em formato de coração..
- Esmeralda? - Perguntou intrigada.
- Combina com os seus olhos. - Pegou os brincos e os colocou na orelha dela. - Existe duas micro câmeras, uma em cada brinco, uma grava à sua frente, e a outra à sua retaguarda. Esse prendedor de cabelo ele contém uma escuta, então se acontecer alguma coisa com os brincos, ainda teremos áudio, e essa pulseira é um GPS igual ao seu broche, mas com uma pequena diferença. Infelizmente todos esses brinquedinhos precisam de um receptor, para te ouvirmos ou vermos a sua onde você estará alguém terá que ficar na frente de um computador ou um celular. Espero que os agentes estejam usando um celular é bem mais fácil. - Disse distraído, visivelmente ele não parecia confiar muito na polícia.
- E você estará vigiando ela de qual aparelho? - Perguntou Carla preocupada.
- Dos dois! Você sabe que eu peco pelo excesso. - Disse sorrindo galanteador.
Ele foi até Claudia colocou o prendedor de cabelo, que na verdade era uma presilha com pequenas pedrinhas verdes, que ela se recusava a acreditar que fossem esmeraldas, e colocou também a pulseira em seu braço, ela pensou ser uma pulseira masculina, mas olhando bem nos detalhe, era bem feminina, apesar, do designer masculino e era pesada.
- "Que Deus não permita que eu seja roubada, esses 'brinquedinhos' devem valer uma fortuna". - Pensou sentindo calafrio.
- Aqui veja este pino. - Explicou ele tirando-a do seu devaneio. - Você o aperta. - Disse apertando o pino.
Ele pegou duas pulseiras uma igual a dela e outra ainda mais grossa, em ambas uma luzinha vermelha piscava, e apitava como um alarme, ele colocou a pulseira igual à dela no braço da irmã.
- Você aperta aqui para desligar o alarme. - A irmã olhou-o curiosa, mas não disse nada. A outra ele colocou no próprio braço, desligando o alarme.
Claudia percebeu que não aconteceu nada com a sua pulseira enquanto as outras soavam o alarme.
- Se acontecer qualquer coisa com você, você aperta o pino da pulseira, e eu irei imediatamente para a frente do computador ou do celular, e veja bem Claudia, cuidado para não apertar por engano, pois no momento em que eu receber o seu pedido de socorro eu vou ligar para o agente Patrick e vou contar a ele o nosso plano, para ele não ir atrás de você antes da hora e estragar tudo. - Esclareceu.
- Entendi! Mas como eu vou saber que a pulseira funciona? Ela não emitiu nenhum sinal. - Perguntou temerosa.
- Eu te garanto que ela funcionará, e a ideia é exatamente que quem estiver com você não desconfie que sua linda pulseira é um GPS. - Disse exasperado.
- Desculpa, mas só mais uma pergunta tola. - Começou tímida, ele arqueou sobrancelha pra ela, deixando-a corada.
- Por que a Carla tem uma pulseira também? - Perguntou preocupada.
- Eu sei que ela vai me deixar louco, perguntando por você, então ela tendo a pulseira, ela não só saberá que você está bem, como me ajudará; eu ficarei atento é claro, mas se por ventura eu não ouvir a notificação ou ver o sinal de alarme, sua irmã com certeza verá.
Claro que ele jamais deixaria de ouvir aquele alarme, ele não parecia ser do tipo que fazia as coisas pela metade, ele só queria que a irmã não se preocupasse, mas todo mundo sabia que Carla não se preocupava com ela, ela ficara realmente surpresa quando a irmã disse que se preocupava com ela. Zigger foi o primeiro cliente da irmã, então era possível que fossem amigos, e ele soubesse que mesmo ela fazendo de tudo para que a irmã pensasse que ela a odiava, na verdade ela a amava. Claudia sentiu os olhos arderem.
- Mas você ficará preocupada comigo, depois do alarme. - Constatou emocionada.
- Eu 'já estou' preocupada contigo! - Disse Carla alarmada. - Zigger não tem perigo dessa geringonça descarregar tem? - Perguntou preocupada.
- Não Carla as 'minhas' joias não descarregarão, não se preocupe! - Disse ofendido.
- São joias mesmo, não são bijuterias? Não vou sair por aí com esmeraldas! - Exclamou Claudia exasperada. - Eu nem posso te pagar por elas.
- E nem vai! São presentes para você quando tudo isso acabar, nós tiramos os dispositivos e serão joias normais, eu falei sério, a sua atitude é admirável, não é todo mundo que se arrisca por uma criança que não tem quem a defenda, e é por isso que eu estou ajudando, e os presentes serão seus, porque você merece!
Ele voltou para a mesa e pegou uma pasta, Claudia olhou assustada para a irmã, ela não estava acostumada com pessoas dando coisas para ela, Carla apenas assentiu e sorriu.
- E a ordem judicial, você conseguiu? - Perguntou Carla.
- Consegui, está tudo de acordo com as leis brasileiras. - Respondeu ele sorridente.
- Que ordem judicial? - Perguntou Claudia ainda assustada.
- Para que nossas escutas tenham valor legal precisamos que um juíz, nos autorize a usarmos essas escutas. E não se preocupe temos a autorização do juíz.
- Você não subornou o juíz, subornou? - Perguntou Claudia alarmada.
- Deus me livre! Claro que não! Nesta vida minha querida, dinheiro não é nada se você não conhecer as pessoas certas. E graças a Deus, eu conheço as pessoas certas. Vamos pegar esse criminoso, e dentro da lei.
Ele garantiu à Claudia que não iria ficar espionando ela, mas alguns homens da confiança dele, estariam colaborando com os policiais, e ficariam de olho nela, e mais uma vez pediu para ela ter cuidado com o alarme da pulseira, deu o número do telefone dele, caso ela quisesse falar com ele.
Claudia estava assustada quando ela e a irmã se despediram dele, quando ela pensou em pedir a ajuda da irmã, não imaginou que teria essa dimensão.
- Você comeu alguma coisa, depois daquele almoço que você ficou mexeu no prato? - Perguntou a irmã tirando-a dos devaneios.
- Na verdade não! E você? - Perguntou interessada.
- Também não. Que tal fazermos um lanche? - Perguntou puxando a irmã para a cozinha.
- Cadê a nana? - Perguntou seguindo-a.
- Pensei que você soubesse dela. - Claudia olhou-a confusa, Carla revirou os olhos. - Você não almoçou com ela ontem?
- Almocei, mas o que isso tem haver? - Perguntou confusa.
- Não sei, mas ela chegou do almoço se trancou no escritório com os nossos pais, e quando saíram de lá estavam os três péssimos, e hoje no café da manhã, ela disse que estava indo, eu perguntei mais ninguém disse nada, só sei que a mãe não gostou, e não entendo porque deixou ela ir, ainda não é férias dela. - Concluiu olhando dentro da geladeira. - E aí você sabe para onde ela foi?
- Tenho um palpite. O que você tanto olha aí dentro? - Perguntou sorrindo, e a irmã fechou a geladeira.
- Procurando alguma coisa para fazer um sanduíche? - Perguntou erguendo a sobrancelha.
- Você ainda não aprendeu a fazer um sanduíche? - Perguntou rindo.
- Eu tenho o Hércules!
- Sim, mas o Hércules não está aqui agora! - Disse afastando a irmã e pegando as coisas para os sanduíches.
- Mas minha irmã está. E fique você sabendo que eu sou uma excelente ajudante.
- Sério? Você aprendeu pelo menos a lavar a louça?
- Engraçadinha! E qual é o seu palpite do paradeiro da nana? - Perguntou mudando de assunto.
- Imagino que ela tenha ido atrás do meu pai biológico. - Disse rápido.
- Oi? - Perguntou surpresa.
- O meu pai biológico é filho dela. - Disse baixo.
- Uau! Você é neta da nana? E sua avó materna, conhecemos também? - Perguntou curiosa.
- Sim. É a sua avó materna. - Disse naturalmente.
- O quê? A mãe traiu o pai? - Perguntou exasperada.
- Claro que não Carla, a minha mãe era irmã da sua mãe. - Por alguns segundos Carla pensou no assunto intrigada.
- 'Era' irmã da mãe? - Perguntou arregalando os olhos, Claudia assentiu. - Então sua mãe era a tia Ângela. Ela morreu do que mesmo? - Perguntou franzindo a testa.
- Logo depois que eu nasci, ela teve uma hemorragia e não sobreviveu. - Lamentou.
- Eu lamento pelas vezes que eu disse que sua mãe não te quis. - Disse envergonhada.
- Não tinha como você saber. - Disse colocando os sanduíches no micro-ondas.
- E o seu pai? E a nana, por que ela não ficou com você? - Perguntou curiosa.
- Se o meu palpite sobre a nana estiver certo, ela foi dizer a ele sobre a minha existência. E a nana me disse, que achou melhor me deixar com a minha tia e fazer parte da minha vida, a comprar uma briga com o meu avô que ela jamais poderia ganhar.
- Nosso avô não queria a filha com o filho da empregada? Estranho, jamais eu pensaria uma coisa dessas dele. - Disse pensativa.
- Nem eu. - Respondeu, e foi pegar os sanduíches. Carla foi à geladeira e pegou suco de acerola.
- Eu e a mãe que fizemos. - Disse colocando a jarra na mesa, e indo pegar os copos.
- Isso explica porque a jarra está cheia. - Disse sorrindo, e a irmã empurrou-a com o ombro, e sorrindo as duas sentaram e se serviram.
- O que dá sabor ao suco é a fruta, e não o açucar. - Disse Claudia rindo.
- O Hércules disse a mesma coisa. - Disse rindo também. - Acha melhor consertar? - Perguntou fazendo uma careta.
- Que nada! Da próxima fica melhor, ninguém acerta de primeira, e além disso, nem está tão ruim. - Disse sorrindo, e Carla revirou os olhos ela fazia isso desde criança, Claudia gostou de ter este momento com a irmã.
- O que nosso avô fez para separar seus pais? - Perguntou mordendo seu sanduíche. - Hum! Está uma delícia! Você sempre teve mãos de fadas para fazer lanches.
- Deve ser a genética da minha avó! - Brincou.
E enquanto elas lanchavam, Claudia contou à irmã a história trágica de amor dos seus pais. Claudia lavou a louça e Carla secou, as duas choraram e se abraçaram, e também riram das histórias cotidianas uma da outra, e estavam tão distraídas rindo que não ouviram os outros chegando.
- Nossa! Vocês duas juntas, e sorrindo? O que está acontecendo aqui? - Perguntou a mãe surpresa. Carla abraçou o esposo, e Claudia abraçou os pais.
- Ora mãe! Estamos tendo um momento de irmãs, qual o problema? - Perguntou Carla sorrindo.
- Você disse a verdade a ela, não disse? - Perguntou a mãe à Claudia acusadora.
- Sim mãe, ela me disse! Aliás, vocês deveriam ter feito isso, nós teríamos ajudado, e não complicado ainda mais as coisas! - Esbravejou Carla furiosa.
- Nós queríamos proteger, você e suas irmãs. Você não faz ideia do inferno que foi aqueles dias. - Gritou a mãe.
- E nem vamos saber, porque vocês tiraram isso de nós, eu fiquei atormentando ela dizendo que os pais não a queriam, e vocês deixaram, aliás, se eu me lembro, a senhora disse, que o pai não queria nem a ela e nem a mãe dela! E aquela noite horrorosa só aconteceu porque eu fui um monstro com ela. - Disse chorando. Claudia abraçou a irmã.
- Já conversamos sobre isso, não foi culpa sua. E se para manter a sua segurança e das meninas, eu precisava estar lá fora, então estou feliz por ter estado lá fora. Por favor, você não teve culpa, entendeu? - Hércules abraçou a esposa.
- O que está acontecendo Claudia? - Perguntou ele preocupado.
- Depois ela te explica. Eu estou indo pra casa. - Disse quase chorando.
- É bem a sua cara! Fazer o estrago e depois cair fora. - Resmungou a mãe furiosa.
Só então Claudia se deu conta de que o pai estava afastado e silencioso, silencioso demais! Alguma coisa estava errada, seu pai não estava bem.
- Não estou caindo fora mãe! Estou dando espaço para vocês se entenderem. Com licença! - E foi até o pai. - Pai? O senhor está bem?
- Oi filha! - Disse abraçando-a. - Você sabe que eu te amo, não sabe? - Disse tocando o rosto dela.
- Claro que eu sei pai! - Disse sorrindo. - O que está te incomodando? - O pai suspirou e tornou a abraça-la.
- Você sabe que tudo o que eu já fiz e ainda faço, é só para te proteger, não sabe? - Perguntou aflito.
- Pai, o senhor está me preocupando. - Disse afastando-o, ele sorriu triste.
- Depois conversamos, tudo bem? Agora vou falar com a sua irmã. Não se preocupe, eu estou bem. - Beijou o rosto da filha. - Boa noite querida.
- Boa noite pai. - Virou para a mãe, mas ela ainda discutia com Carla. Ela puxou o braço do cunhado. - Eu vou pra casa, quando ela se acalmar pede pra ela me ligar.
- Peço sim. Mas Claudia, o que está havendo? - Perguntou aflito.
- Ela vai te explicar, mas não se preocupe, não é nada grave. - Disse com um meio sorriso. Beijou o rosto do cunhado e foi embora.
Sentia um vazio no peito, um mal estar no estômago; desde que os pais disseram a ela a verdade sobre os pais biológicos, a mãe não a tinha tratado mais daquela maneira, sentiu as lágrimas queimando seus olhos.
Chegou em casa, e o silêncio e o vazio a atingiram como um golpe no estômago, há tempos não se sentia tão sozinha e abandonada. Estava tão feliz, em se dar bem com a irmã outra vez, que não pensara no motivo para os pais não terem dito a verdade às irmãs, mas também como ela poderia saber que havia um motivo para eles não dizerem a elas a verdade? Se eles também nunca disseram a ela? Até aonde ela sabia, eles não disseram a ninguém sobre aquela noite porque eles não queriam passar atestado de que a filha era uma qualquer. E quanto aos pais biológicos, ela também não compreendia porque não dizer a verdade. Deitou chorando no sofá, em meio as lágrimas, adormeceu.
Continua...
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