10 - Os justos clamam, e o Senhor os ouve.
No momento em que Michael deitava; Claudia estava sendo socorrida pelo SAMU. Atordoada ela tentava entender o que acontecera.
- "O homem, cadê o homem?" - Tentava falar, mas a sua voz não saia.
A polícia veio com o bafômetro.
- A senhora consegui assoprar? - Perguntou cansado. Ela assoprou forte, e doeu tudo nela.
- A bolsa dela. - Alguém que parecia ser do corpo de bombeiro, entregou a bolsa para o policial.
A atenção dela voltou para os gritos de alguém.
- Aquela louca se jogou embaixo do meu caminhão, a sorte dela, foi que eu ouvi o barulho e olhei pelo retrovisor, mas ainda assim, não sei como eu não passei um pneu em cima dela. Meu Deus eu quase matei alguém!
O motorista do caminhão parecia desesperado, enquanto falava com outro policial. O paramédico conversou com o bombeiro e o policial, mas ela não ouviu nada, os gritos do motorista, a deixavam perturbada. O paramédico voltou para ela, colocou sua bolsa ao seu lado.
- Está sentindo muita dor? - Perguntou pegando seu braço, que não estava cortado, o corte do braço esquerdo pegava todo o antebraço, e ele colocou um soro nela.
- Já estamos indo para o hospital. - Disse sentando na sua frente e fechando a ambulância, bateu na lataria do carro dando sinal ao motorista para seguir.
- Cadê o homem que eu me desviei dele? Ele está bem? - Finalmente sua voz voltara.
- Quem? - Perguntou perplexo. Ele checou o pulso dela. - De que homem você está falando? - Perguntou desconfiado.
- Senhor, eu sou uma pessoa muito prudente, em especial pelas rotatórias, mas... - Ela olhou para o outro lado. - Eu estava distraída, e em alta velocidade. - Ela o olhou com olhos marejados. - Eu sei uma combinação fatal! Se não fosse aquele homem gritar na minha frente eu teria batido em cheio no caminhão, aí sim eu acho que eu teria morrido. - Concluiu pensativa.
- E você queria morrer? - Perguntou calmo.
- Não! Claro que não! Eu estava muito chateada, mas é claro que eu não queria morrer, foi mesmo um acidente. E por favor, o senhor pode me dizer como está o homem? - Perguntou aflita.
- As únicas pessoas envolvidas no acidente foi você e o motorista do caminhão. - Respondeu tranquilo.
- Mas não é possível! Eu o vi, ele estava entre mim e o caminhão, e gritou "CUIDADO". Agora pronto, além de achar que eu sou propensa ao suicídio, também vai achar que eu sou louca. - Disse com os olhos marejados d'agua.
- Não acho que você seja louca. Você talvez não saiba, mas você acabou de vivenciar um milagre. - Ela bufou apesar da dor, e ele apenas sorriu. - Com certeza você não acredita em milagres, mas você é uma garota abençoada, Deus está cuidando de você.
- Era só o que me faltava! Você também vai tentar me convencer que o seu Deus é perfeito e magnânimo? - Perguntou sarcástica.
- Hum! Não e sim. - Disse sorrindo.
- Não entendi. - Disse meio grogue. - O que você colocou nesse soro? - Perguntou confusa.
- Não se preocupe, você vai ficar bem. E te esclarecendo. Não, eu não vou te convencer de nada; ninguém convence ninguém, só o Espírito Santo de Deus faz isso. E sim, o meu Deus é perfeito e magnânimo. - Disse sorrindo.
- Não creio que ele tenha tempo para cuidar de mim. - Disse amargurada.
- Se você não tivesse desviado do 'homem' que você viu, o mais provável seria que o motorista do caminhão tentasse desviar de você, e tem ideia da catástrofe que aconteceria naquela rotatória? - Ele cruzou os braços. - Todos os outros motoristas, conseguiram parar seus carros sem bater um no outro. Você talvez não ouviu, mas ninguém sabe o que aconteceu, alguns motoristas contaram que seus pés pisaram no freio sem que eles se dessem conta do que estava acontecendo. Estavam todos dizendo que você é uma garota de sorte, mas apenas para registro, sorte não existe, existe a providência de Deus, Ele cuidando de cada um de nós.
- E você vai me dizer que eu tenho que ser grata, por não estar morta! - Ironizou.
- Eu? Claro que não. Jesus curou dez leprosos, e apenas um voltou para agradecer; e eu na minha mente humana limitada, penso que talvez Jesus ficou triste quando perguntou pelos outros; mas o Espírito que habita em mim, me diz que Ele apenas quis nos mostrar o quanto somos ingratos, mas que mesmo assim Ele vai continuar nos amando e cuidando de nós.
- Isso está na bíblia? - Perguntou desconfiada. - Essa história dos leprosos? - Ele pegou um papel e anotou algo e deu a ela.
- Quando puder leia! - Ela pegou constrangida.
- O que significa esse Lc? - Perguntou envergonhada.
- Lucas. Evangelho de Lucas capítulo dezessete e versículos de onze a dezenove. - Disse atencioso.
- Eu não sou ingrata, só não consigo ver as coisas desse jeito. Meu primo tem tentado me mostrar, que eu tenho muitos motivos para ser grata, mas é complicado! - Sussurrou constrangida.
- Eu sei que é. As pessoas podem interceder por você, mas a transformação, a destruição de todos esses sentimentos que te destrói só Jesus pode fazer.
- Se Deus se importa tanto, por que Ele não evitou o acidente? - Perguntou esnobe. Ele apenas sorriu.
- "Por que essas pessoas que vivem falando de Deus, tem o sorriso tão lindo?" - Pensou encabulada.
- Deus vai mandar o grande peixe te engolir, para você não se afogar; e ordenará que o mesmo te cuspa fora, pois você não será alimento para ele naquele momento, mas Ele não vai tirar a água ou o peixe do seu caminho; os obstáculos que existem no caminho que você escolheu, você vai passar por cada um deles, Deus te ajuda, te ampara, mas não tira nenhum do lugar.
- Você fala igual ao meu primo. Você é uma dessas pessoas de fé, que acredita que tudo acontece pela vontade de Deus, mas se você conhecesse a minha história, você saberia que o teu Deus não liga a mínima pra mim. - Ela mexeu-se bruscamente. - Ai! - Gemeu.
- Fique quieta, já estamos chegando! - Disse atenciosamente. - Escute, eu não preciso conhecer a sua história para saber que Jesus te ama, e cuida de você e, além disso, seu primo conhece a sua história e ele parece concordar comigo.
Ela ficou olhando para ele, era um completo desconhecido, mas assim como acontecia com o Marcelo, ela sentia que ele era bom e correto, e sentia também que não adiantava discutir também, assim como acontecia com o primo, e ela sorriu.
- "Afinal o que o Senhor quer comigo? Deus do Impossível!" - Pensou seriamente, e franziu a testa. - "Seja lá o que ele tenha colocado nesse soro está surtindo efeito. Eu já estou delirando." - Pensou frustrada.
- Você tem certeza que eu não atropelei ninguém? - Perguntou mudando de assunto.
- Tenho certeza. E a propósito, eu acredito que você viu um homem. - Disse sorrindo.
A ambulância parou. E ela não teve chance de perguntar mais nada. Ela foi levada para dentro do hospital, e ficou olhando ele entrar dentro da ambulância com o colega. E ela apagou.
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Michael estava saindo do carro, quando recebeu a mensagem da dona Benta, para estarem todos na sala de reunião. Ele foi até a sala de Katherine deixa-la.
- Meu amor, não esqueça o que eu disse, não aceite provocações, e qualquer coisa, me manda uma mensagem que eu venho correndo. - Disse preocupado.
- Na velocidade em que o tio Artur corre? - Perguntou rindo.
- Não garanto na mesma velocidade, mas farei o melhor possível. - Abraçou a filha. - Fica com Deus minha vida.
Seguiu para a sala de reunião, já havia começado, e seja lá o que fosse que tenha acontecido era grave, pois o burburinho era ouvido de longe.
- É no que dá contratar uma pessoa só porque é a filha de um benfeitor da escola. - A voz de Raquel se sobreponha às outras.
- E você entende bem de ser indicada, não é mesmo Raquelzinha! - Ironizou Artur.
- Cala a boca idiota! Eu já provei o meu valor nessa escola. - Disse furiosa.
- Por favor! Parem com isso os dois. Você esta equicovada Raquel; não sei como você descobriu sobre o pai dela, mas eu te garanto que não foi o nome do pai dela, que deu esse emprego para ela. E a única razão para eu estar fazendo essa reunião, é para informa-los, e qualquer problema pedagógico, resolvam comigo, até ela voltar. E, por favor! Respeitem uns aos outros, e voltem ao trabalho. - Encerrou cansada.
- "Até ela voltar? O que está acontecendo aqui?" - Se perguntou intimamente angustiado, ele foi até Artur.
- Você pode segurar as pontas sozinho, enquanto eu falo com a diretora? - Sussurrou no ouvido do amigo, que apenas assentiu.
Ele sentou e esperou todos saírem, com exceção de Victoria que ficou sentada onde estava.
- Por que será, que isso não me surpreende? - Disse irônica levantando, e olhando para ambos, como nenhum se mexeu, ela sentou.
- OK! O que vocês querem de mim? - Perguntou desanimada.
- A verdade. - Disse Victória.
- Eu não sei! - Disse exasperada.
- A senhora sabe que pode confiar na gente. - Lembrou Michael.
- O pai dela acredita que ela tentou suicídio. - Disse rápido.
- O quê? - Perguntaram os dois juntos se olhando assustados.
- Mas isso não faz sentido! - Disse Victória levantando. - Dona Benta, por que a senhora foi tão dura com ela ontem? A senhora não costuma ser assim. O que está acontecendo? - Perguntou voltando a se sentar. A diretora passou as mãos pela cabeça.
- O quê? Você acha que a reunião de vocês ontem, desencadeou isso? - Perguntou Michael confuso encarando a ambas. - O que aconteceu de tão grave, nessa reunião? - Perguntou frustrado.
- O pai dela me pediu, para que eu fizesse de tudo para que ela pedisse demissão. - Disse envergonhada.
- Mas por que o pai dela pediria uma coisa dessas? - Perguntou Michael confuso. - Eu ouvi a senhora falando que ela conseguiu esse emprego por mérito próprio.
- E foi mesmo! Até o pai dela me ligar eu não sabia de quem ela era filha. Eu não faço ideia, dos motivos dele. - Disse exasperada.
- De qualquer modo, não foi culpa sua, não precisa ficar assim; o importante é que ela está fora de perigo. - Disse Victória acalmando a diretora.
- A questão é que ela teve uma grave discussão com os pais, por causa dessa situação; e ele disse que não foi a primeira vez que ela tentou suicídio; e agora ele me deixou na maior saia justa, porque agora ele quer que eu a mantenha no cargo, mas eu não posso ter uma coordenadora pedagógica propensa ao suicídio! - Concluiu exasperada.
Michael olhou desesperado para Victória, que suspirou e assentiu.
- Dona Benta vamos dar um tempo, tudo bem? Eu fico de olho nela, e eu imagino que o pai dela não quer que essa história se espalhe. - Disse Victória cautelosa.
- Exatamente! Ele me fez prometer que não contaria nada disso para ninguém, só estou contando para vocês por que não sei o que fazer, preciso de uma luz.
- Pois é, e se a senhora demiti-la, ou troca-la de cargo, vai surgir muita especulação, e eu sei que a senhora pode dar a ela uma segunda chance como deu a mim. - Sugeriu Victória.
- A sua situação era bem diferente! - Disse sorrindo, suavizando suas feições. - Está bem. Se eu tivesse cedido a pressão eu teria perdido uma excelente profissional e amiga, vou confiar na minha intuição. E se eu puder contar com os dois, vou ficar mais tranquila. E lembrem-se ninguém pode saber da tentativa de suicídio.
- Sim senhora! - Disseram juntos.
- Dona Benta, o que aconteceu exatamente? - Perguntou Michael angustiado.
- Ao que tudo indica ela se jogou embaixo de um caminhão, com moto e tudo. - Disse a diretora pesarosa.
- Houve um acidente, então não sabemos se foi mesmo uma tentativa de suicídio. - Disse Michael esperançoso.
- Eu não sei, mas imagino que o pai a conheça melhor que nós. Mas vamos esquecer isso e voltar ao trabalho. - Disse dona Benta, levantando e indo para a sua sala, os dois ainda ficaram sentados olhando um para o outro em silêncio.
- Vick liga pra ela, por favor! - Pediu desesperado, quebrando o silêncio.
- Tá bom! Você tem o número dela? - Perguntou arqueando a sobrancelha.
- Não. Mas isso é fácil, tem no RH. Melhor ainda, a Andréa tem, com certeza! - Disse eufórico.
- Tudo bem! Vou falar com a Andréa. - Disse levantando.
- E eu também já vou, Artur está sozinho com as duas equipes. Me avisa assim que tiver notícias dela, vou estar o tempo todo com o celular.
- Ligarei com certeza! - Disse olhando-o com aquele olhar, que podia ver a sua alma. Sem dizer mais nada, ele passou por ela indo direto para o ginásio. Orando intimamente.
- "Senhor, só o Senhor conhece a verdade do coração dela, e só o Senhor pode ajuda-la, seja o que for que tenha acontecido, tome-a em seus braços, e mostre-lhe o seu infinito amor, mostre-lhe o quanto ela é especial e amada, cure qualquer ferida, que possa tê-la levado a essa medida extrema, em nome do Jesus, te suplico Senhor, cuide dela, proteja-a do mal, que só destruí tudo o que toca. Obrigado, Senhor! Pois ela ainda vive. Obrigado! Em nome de Jesus, amém"
Suspirando entrou no ginásio, em meio a todo aquele barulho de adolescentes, alguns saudáveis e outros quebrados, ansiosos por outros caminhos, caminhos esses que ele esperava em Deus, que pudesse ajudar a esses garotos e garotas a escolherem melhor.
- "Mais um ano, Senhor! Estou aqui, para te Servir, use-me para a Tua Honra, e a Tua glória." - Pensou.
- E aí pessoal, prontos para mais um ano de conquistas? - Gritou sorrindo.
- Professor...
Continua...
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